Facebook: Não curti, não cliquei. [Parte 1] • B9

Facebook: Não curti, não cliquei. [Parte 1]

por Marcio Paes

27 de junho, 21:57 – Uma noite tranquila de quarta-feira. Estava eu procrastinando calma e alternadamente afazeres domésticos e profissionais, chutando latas web afora, quando subitamente (ping!) uma velha amiga pipoca no chat do Facebook.


Distraído, olhei e não entendi imediatamente, até olhar de perto o printscreen que ela havia me enviado.

E então seguiu-se o curso normal de qualquer conversa contemporânea digital entre duas pessoas abismadas com um absurdo em comum.

Um dos únicos e principais jeitos dessa bagaça gerar lucro é totalmente fundado em mentira e enganação.

Daí, ao imediatamente espalhar o ocorrido pelos meus amigos(as) de Twitter e da timeline do próprio canalha virtual, fazendo coloquialmente o devido uso de palavras de baixo calão como tão dignamente nos convém no legítimo exercício de nossa indignação imediata diante de situações tão disparatadas, apareceram outros(as) camaradas que, estranhando o fato em si, prontamente começaram a me enviar printscreens de suas timelines com essas minhas aparições fantasmas. Fui recebendo, documentando, postando as imagens e expondo o caso lá no próprio salafrário digital.

Pelo resto da noite e dia seguinte, o assunto se estendeu em diversas conversas online, telefônicas e analógicas, levantando tanto pontos de coesão e raciocínios coerentes quanto graves distensões que até então conhecia, mas não havia exatamente me dado conta de como essas proposições nefastas estão disseminadas e enraizadas como senso comum entre usuários ditos web-thinking-savvy.

Então, além dos absurdos moral, ético e legal que o caso esfrega publicamente na fuça de qualquer criatura pensante, foram certas ideias preocupantes que me levaram a estas letras. Foram questões distorcidas que brotaram tanto em grupos de discussão de publicitários e de analistas de social-mídia onde meus posts acabaram replicados, quanto levantadas por alguns amigos(as) e conhecidos de forma assustadoramente natural, como se fossem a base de uma lógica perversa, universal e irrefutável:

O usuário é o novo mordomo, a culpa é sempre dele.

Não, a culpa não é nem sempre e, nesse caso, nem nunca do usuário.

Ironicamente, o único motivo dessa venda/exposição/golpe de uma curtida não-curtida-nem-clicada ter iniciado toda essa sequência de fatos e raciocínios foi justamente algo que a tal velhacaria internética explana de bocarra marketeira cheia como sendo a sua principal razão conceitual e prática de existir: a ligação entre as pessoas.

Ou seja, a Clara só me chamou porque me conhece bem, e estranhou a divulgação de uma pretensa ação cometida por mim (curtir uma fanpage de marca de cerveja) em termos que ela sabe que NUNCA poderia ter acontecido justamente porque ela me conhece bem. Assim como vários amigos próximos, Clara tem familiaridade com três características minhas básicas (não necessariamente nessa ordem):

1. Não sou hacker ou ultra-tech-sabichão, mas além de fazer parte da geração que literalmente cresceu com e utilizando a rede mundial de computadores, sou curioso, chato, bem informado (descobri que mais até que um monte de gente que ganha dinheiro com essa rede) e obsessivo em relação a tudo que clico, copio, salvo, leio, favorito, habilito, rodo, e/ou instalo, seja off ou online. Resumindo, não sou retardado pra clicar coisas sem saber o que são, ou como diz meu sócio não saio “clicando doida” por aí;

2. Sempre achei, acho, e sempre vou achar estúpido curtir páginas de corporações, e nunca, em nenhuma hipótese, curtiria página de empresa, banco, marca, produto e muito menos, é claro, de bebida;

3. Não bebo absolutamente nada alcoólico, de espécie alguma e em nenhuma circunstância, desde abril de 1997.

E ainda assim, a despeito de tudo isso, lá vinha/vem eu aparecendo assim, exposto como garoto propaganda involuntário nas timelines de várias das algumas centenas de amigos que tenho no estelionatário digital.

E lá estou novamente, minha imagem sendo apropriada à revelia para fazer propaganda de algo que eu jamais endossaria.

E obviamente nesses nossos tempos modernos, não poderiam deixar de me expor de forma dolosa também em plataforma mobile.

São minha cara e pessoa enfiadas publicamente no golpe que é justamente aproveitar-se das nossas relações interpessoais e vínculos afetivos.

Usando nosso nome, nossa imagem e nossa vida de forma fraudulenta para vender produtos que não endossamos, curtimos ou com os quais não tivemos qualquer relação, para nossos amigos, familiares e amigos e familiares destes.

Os números apresentados para as agências e para os clientes não batem uma vez que, se não todos, no mínimo uma grande parte é artificialmente produzida.

E a partir dessa exposição é que começaram a aparecer os argumentos de lógica perversa que eu e alguns amigos(as) ouvimos, lemos e retrucamos assustados pela quantidade e por nosso desconhecimento do grau de institucionalização deles no senso comum: “É-assim-mesmo-você-clicou-sem-ver-foi-algum-aplicativo-que-você-instalou-você-sabia-disso-quando-entrou-no-facebook-você-aceitou-isso-estava-nos-disclaimers-é-isso-mermo-não-tem-conversa-calaboca-e-aceita-aí”. São discursos repetidos roboticamente em vozes monocórdicas, sem absoluto conhecimento de causa ou informação legal, e assim refutados:

– Não, não é assim mesmo não;

– Não, não assinei nem aceitei nada, nem termo de responsabilidade, nem aplicativo, nem porra nenhuma que possa envolver e expor meu nome e imagem à revelia, privada ou publicamente, afirmando e propagandeando que fiz coisas que não fiz;

– E sim, no planejamento dessas ações escusas é contabilizado e esperado o ovelhismo plácido dos usuários e social-medias-experts-desavisados em repetir discursos sem nenhum embasamento além de telefone-sem-fio e senso comum convenientes a estas ações, em um fenômeno de papagaismo discursal gerado por falta de conhecimento, interesse e/ou noção.

Um adendo lindo em sua perversidade quase perfeita ao absurdo do Facebook envolver de má fé seus usuários em suas ações escusas de publicidade: a criação da figura da autoridade corporativa, da entidade site-rede-social infalível e inquestionável que é enfiada no imaginário do usuário, tanto do desinteressado casual quanto, mais insidiosa e quase que sarcasticamente, dos antenados social-mídia-analistas-gurus-publicitários-digitais-e-congêneres que creem que são os únicos que se interessam e dominam o assunto dos modi operandi, funções e condições de uso (constantemente mutáveis a cada cagada corporativa).

Planta-se no senso comum da turba leiga e da “especializada” a estúpida e primária crença de que todo usuário rigorosa e desavisadamente clica em todos os links que lhe aparecem pela frente, que instalam tudo que é aplicativo que lhes é oferecido e que a responsabilidade de todo e qualquer backlash é única e exclusiva do pobre sem noção. A própria corporação gera uma mentalidade em seus consumidores que age total e apenas a favor dela mesma. Beira algo que poderíamos batizar de uma ação de engenharia social psicológica perfeita.

É claro que esse fenômeno de inversão de responsabilidades não é exclusivo nem de rede social nem do mundo virtual, e repete-se em diversas situações nas esferas de relação público x privado, mas nesse caso do Facebook a coisa fica explicitamente mais patética quando abre-se o olho e percebe-se que essa falcatrua é um dos alicerces de um dos poucos, possíveis e desesperados fiascos de modelos de geração de renda dessa rede social capenga, em clara estagnação e com visível perspectiva de curva descendente. Ou seja, um dos únicos e principais jeitos dessa bagaça gerar lucro é totalmente fundado em mentira e enganação.

Diante dessa permanente bruma de tem-sempre-alguma-coisa-errada-vindo-aí que cerca essa rede social não é à toa que a bolsa reagiu tão mal a abertura de capital desse troço.

A coisa toda no fim das contas é braba de ruim e de má fé. Na esfera empresarial é como meu amigo Marcelo Macedo muito engenhosamente levantou a questão de lógica sobre os números fantasmas de marketing gerados por essas ações falsas e a falta de noção dos social-media-experts envolvidos:

“Já compartilhei e amigos já compartilharam. Aproveitei e avisei aos amigos que fazem estratégia digital. Isso fode com qualquer número que eles apresentam. – E a tremenda bola fora é que o teu perfil de não consumidor fez eles gastarem algum $ – por menor que tenha sido – em um público alvo que não vai nem consumir a cerveja nem tão pouco influenciar os amigos, afinal eles sabem que você não bebe nem nunca endossaria algo do tipo. É o anti-marketing. Tremenda bola fora.”

No final das contas, não há contas. Os números apresentados para as agências e para os clientes não batem uma vez que, se não todos, no mínimo uma grande parte é artificialmente produzida. Debatendo com minha querida dona joaninha, Lú Freitas, profissional de web de primeira hora, de visão límpida e analiticamente casca-grossa de da grande rede, vimos que todo o blábláblá sobre monetização, marketing digital e campanhas publicitárias nas mídias sociais cai como uma fileira de dominós.

Tão vendendo o recheio de queijo, mas o pastel é de vento.

Se elevarmos um pouco mais o queixo e estendermos a visão um pouco além, a picaretagem não fica só na seara do Facebook. A empresa Stella Artois e todas as outras que participam desse serviço também tem responsabilidade nessa história. Uma empresa que contrata um serviço desses é no mínimo conivente, mesmo a despeito do mote de inocência-desconhecimento-de-caso que sem dúvida alegarão em sua defesa. Se usam um serviço desse, a obrigação legal, moral e ética mínima é saberem onde estão metendo sua marca e produto e assumirem todas as responsabilidades decorrentes.

E por fim, na esfera do indivíduo, a questão não é se eu assinei ou aceitei participar de promoções nas letras miúdas dos disclaimers da vida, mas sim o simples, direto e incontestável fato de estarem afirmando e divulgando fraudulentamente que fiz algo que não fiz: eu não cliquei, eu não curti.

——

PS: Esse artigo é assim mesmo, do jeito que estou me sentindo como indivíduo, com sangue vermelho correndo nas veias, diante desse abuso: adjetivado, adverbial, beirando o baixo calão, coloquial e hiperbólico.

PS.2: Só pra desanuviar, caso ainda haja algum argumenteiro dessas distorções de clicou-em-app-sem-saber-etc, se alguém achar alguma coisa aqui que seja o causador dessa parada e que eu tenta clicado desavisadamente, eu peço desculpas nos mesmos moldes da irritação-reclamação que postei e ainda pago pro(a) achador(a) um jantar japonês no melhor restaurante de sua cidade. Detalhe: vários desses como “Aplicativos e Jogos”, “Feed de jogos” e “Gerenciador de anúncios” são categorias default, não tendo como deletar e não tendo absolutamente nada instalado ou diretamente ativo dentro delas.

PS.3: E agora, depois que “deu no New York Times” a turba de sem-noção-cheio-de-certezas-web-noobies parou de falar abobrinha e passou a, pelo menos por hora, entender que corporação é corporação e que, além da culpa não ser do usuário, nem todo usuário é abobalhado, gado e cego como os eles: “Gizmodo – No Facebook, às vezes aparecem posts que nenhum amigo seu curtiu, de uma página que você não curtiu. O que acontece?”.

PS.4: Os mesmos argumenteiros de clicou-sem-ver perguntaram: por que ao invés de reclamar e reclamar a cada aparição da minha imagem eu simplesmente não fui na fanpage e simplesmente “descurti”?. Por uma simples questão de princípios: eu não curti esse embuste, então não sou eu quem vou descurtir esse embuste.

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