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“A Teoria de Tudo”: Ótima atuação não salva retrato romântico da vida de Stephen Hawking

Direção de James Marsh é incapaz de oferecer qualquer compreensão significativa sobre a carreira e a obra do protagonista

por Virgílio Souza

[AVISO: Contém spoilers menores]

A decisão de levar para as telas do cinema a biografia do físico e cosmólogo Stephen Hawking, um dos mais revolucionários nomes da ciência em toda a história, parecia ter caído bem nas mãos de James Marsh, anteriormente responsável por um par poderoso de documentários – “O Equilibrista” e “Projeto Nim” -, apesar de certos deslizes em sua carreira na ficção.

Soava natural e coerente a ideia de um filme afetuoso, em alguma medida suave, que retratasse com precisão o casamento do protagonista com Jane, o grande amor de sua vida. Afinal, ela talvez tenha sido a figura mais importante para que ele seguisse firme, superasse e ultrapassasse em décadas os dois anos de vida esperados pelo médico que inicialmente o diagnosticou com uma doença degenerativa.

O grande equívoco de “A Teoria de Tudo” (indicado ao Oscar em cinco categorias, incluindo melhor filme), porém, é conduzir sempre sem maior grandiosidade, no plano terreno e ordinário, a vida extraordinária de um homem extraordinário. Incomoda notar que, nem mesmo no que diz respeito ao retrato dessa relação pessoal e tão íntima, o filme consiga produzir algum senso de profundidade.

A impressão é que a narrativa paira na superfície, incapaz de oferecer qualquer compreensão significativa sobre a carreira e a obra de seu objeto de atenção – tampouco sobre seu foco primordial, um casamento de quase trinta anos, entremeado por uma relação extra-conjugal e por todas as dificuldades intrínsecas às condições de saúde de Hawking.

O diretor James Marsh, à esquerda

O diretor James Marsh, à esquerda

A Teoria de Tudo

É evidente que Eddie Redmayne, no papel principal, oferece uma atuação de enorme qualidade, mas que sofre prejuízo em função dos recursos utilizados por Marsh para retratar sua constância como gênio apesar da debilidade física. Em termos visuais, o longa não acerta o tom, dando a impressão de não haver um senso estético coerente ou minimamente capaz de acompanhar a atmosfera daquilo que é filmado. Somente um trabalho de cores grosseiro (e que aposta no convencional, sem a menor intenção subversiva) explica a transição entre a frieza da sequência inicial, quando o casal se conhece, e o amarelado de uma porção de outros instantes díspares e desconectos, espalhados ao longo de 123 minutos.

Nem mesmo o recurso a trechos que simulam imagens de arquivo, com um granulado falso, alternados com momentos em que vemos os personagens se filmando, respeita alguma ligação lógica, variando entre o cafona e o simplesmente repetitivo. Soma-se a isso uma sucessão de imagens que pouco significam além da óbvia metáfora sobre o Big Bang e a origem/fim do universo – é o caso dos círculos que surgem na xícara de café, na escadaria do prédio de apartamentos da universidade, na pupila do protagonista e em diversos outros segmentos.

É evidente que Eddie Redmayne oferece uma atuação de enorme qualidade, mas sofre prejuízo em função dos recursos utilizados por James Marsh

Ainda, é importante notar que a performance do ator principal parece centrada em seu caráter gestual, mais marcante até que a distorção da voz e igual em relevância à postura de início encurvada e a seguir trôpega. O problema é que a câmera de Benoît Delhomme filma gestos de maneira atabalhoada, apostando todas as suas fichas na proximidade apenas pela proximidade, e depois os entrega ao montador Jinx Godfrey, tão habilidoso nos documentários citados anteriormente, mas que os fatia sem critério claro.

Há um enquadramento sucessivo das mãos trêmulas de Hawking, que surpreendentemente não é acompanhado por qualquer senso de progressão, tampouco impacto ou choque, em sua instabilidade e posterior limitação de movimento. O gesto, o tremor e o toque, quando repetidos à exaustão, não são valorizados na narrativa – e o efeito devastador dessa falha se manifesta a minutos do fim da projeção, durante uma palestra, quando a lembrança de uma caneta caída no chão provoca a cena mais constrangedora e inexplicável de todo o filme.

O processo de maquiagem de Eddie Redmayne

O processo de maquiagem de Eddie Redmayne

Estruturalmente, “A Teoria de Tudo” segue um caráter formulaico, que pontua episódios sem se preocupar em criar uma noção de naturalidade na trajetória. Assim, o incômodo de Jane (Felicity Jones) com o abandono de suas pretensões (inclusive acadêmicas) em função da dependência integral do marido surge do inesperado, como se aquele não fosse um sentimento construído gradual e cotidianamente.

Há alguma competência do diretor ao não transformar a vida de Hawking em um conto de fadas

Um simples corte leva o espectador à absoluta impaciência da personagem, antes aparentemente inexistente, frente às brincadeiras fora de hora do marido com os filhos, a resistência dele em buscar ajuda especializada para cuidados diários e sua dificuldade em se dedicar à própria individualidade – elementos que afetam até mesmo a atuação da atriz, presa a duas ou três características essenciais. Esse aspecto brusco aparece de forma semelhante na pouco inspirada seleção de faixas da trilha sonora, a todo tempo tentando induzir e ratificar emoções que já transbordam da tela e da interação entre os personagens.

Há, por outro lado, alguma competência de Marshal ao não transformar a vida de Hawking em um conto de fadas. Se não existe o peso dramático de filmes como “Meu Pé Esquerdo”, por exemplo, com o qual, grosso modo, este projeto carrega algumas semelhanças, nota-se certa serenidade ao tratar dos capítulos que, de maneira mais direta, conduziram ao fim do casamento.

Teoria de Tudo
O grande equívoco de “A Teoria de Tudo” é conduzir sempre sem maior grandiosidade, no plano terreno e ordinário, a vida extraordinária de um homem extraordinário

Novamente, o problema é depositar nas costas de Jane – uma figura, tal como o filme, terrena e ordinária a despeito de todos seus esforços – a responsabilidade por levar a trama adiante. Sua interação com o amigo/amante/futuro marido, o músico Jonathan (Charlie Cox), possui o intuito até legítimo de humanizar Stephen – mesmo esta não sendo uma necessidade em si, dada sua explícita condição -, mas naufraga pela forma como é conduzida, esquemática e quase mecanicamente.

Sobretudo em um filme que se estabelece e organiza ao redor de uma ideia de amor e dedicação inabaláveis, que posteriormente se remodelam e configuram como amizade e respeito mútuo, é estranho observar que os dois elos mais importantes – os que compõem o casal – sejam tão falhos e desinteressantes sob um ponto de vista mais particular.

A decisão do cineasta de promover um recorte essencialmente romântico para um filme dedicado a trabalhar a imagem de um gênio da ciência fracassa por não obter êxito sob nenhuma das perspectivas. A sensação de incompletude ocasionada pelos letreiros finais, quando se revela a busca sem fim de Hawking por uma explicação geral para o universo e a vida é, portanto, consequência direta desse olhar desviado para o outro lado, pessoal e, infelizmente, igualmente inacabado.

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