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“A Travessia” empolga pelo visual em 3D e riqueza temática

A meia hora final é gloriosa por concentrar os melhores atributos de Robert Zemeckis

por Virgílio Souza

⚠ AVISO: Pode conter spoilers

O primeiro terço de “A Travessia” causa estranhamento por um trio de razões que, felizmente e em sua maioria, se normaliza no restante da projeção. O primeiro incômodo decorre do sotaque afrancesado de Joseph Gordon-Levitt, que interpreta Philippe Petit em sua trajetória da Europa para o coração dos Estados Unidos. O ator parece sofrer de um mal semelhante ao de “Looper: Assassinos do Futuro”, quando incorporava um Bruce Willis jovem e carregado de maquiagem frente a uma audiência ciente de que a semelhança física não se confirmava (ou confirmaria) na realidade — conhecíamos os traços do astro de “Duro de Matar”, lançado há quase trinta anos, e sabíamos que eles não se pareciam com aquilo.

Aqui, sabendo a origem do ator, é inquietante vê-lo representar um francês que ainda se esforça para pronunciar corretamente as palavras em inglês e articular frases em certos tempos verbais. O problema é superado, porém, por sua habilidade em manter os cacoetes e pela relação que a trama estabelece com o próprio aprendizado do idioma, apagando a desconfiança inicial, como no projeto de Rian Johson. A aproximação e a integração do equilibrista ao país, que se apresentam como temas caros ao filme, são sinalizadas pela língua.

Robert Zemeckis, à esquerda

Robert Zemeckis, à esquerda

The Walk

O segundo elemento deslocado é a narração dos eventos pelo protagonista. Assim como o documentário vencedor do Oscar “O Equilibrista”, de James Marsh, o longa de Robert Zemeckis se baseia em “To Reach the Clouds”, livro escrito pelo próprio Petit. É natural, portanto, que a voz do autor se manifeste, inclusive, em primeira pessoa. Soma-se a isso a ideia de que a obsessão do rapaz por um objetivo construído internamente segue a mesma linha trabalhada historicamente pelo cineasta — “Forrest Gump: O Contador de Histórias” talvez seja o exemplo mais claro dessa lógica.

O caráter pessoal da história e o ineditismo da travessia das Torres Gêmeas em um cabo não justificam, contudo, as intervenções frequentes de Gordon-Levitt, cuidadosamente acomodado no topo da Estátua da Liberdade. O fato de Nova York ser personagem da narrativa é um aspecto que se beneficia dessa estrutura, pela sombra dos pelos edifícios agora já inexistentes, mas todo o resto é coberto por uma máscara um tanto artificial, e os trechos ditados pelo personagem acabam por repetir certas questões e explicitar pontos já feitos claros anteriormente pelo simples decorrer dos eventos.

Há um traço de nostalgia muito forte em relação ao World Trade Center, sobretudo porque o que se discute é a construção dos prédios no imaginário coletivo dos novaiorquinos

Visualmente, o ato introdutório também deixa a desejar. São poucos os acenos do diretor com o uso das três dimensões, parte do desenvolvimento do projeto desde sua concepção. Zemeckis integra uma tradição recente muito voltada para a manipulação da tecnologia, em especial a imagem digital, em prol de suas histórias essencialmente americanas — não é de se estranhar que uma das aparições decisivas de Philippe, refletindo sobre o processo, seja enquadrada através das lentes de um canal de televisão, parte significativa da realidade dos EUA. Capaz de conciliar cenas criadas inteiramente em estúdio e pós-produção com planos de seus atores em locações reais, é o diretor quem afirma encarar um fundo verde de chroma key e um close-up com a mesma naturalidade.

Walk

The Walk

Em “A Travessia”, há um traço de nostalgia muito forte em relação ao World Trade Center, sobretudo porque o que se discute é a construção dos prédios no imaginário coletivo dos novaiorquinos, mais do que o feito arquitetônico e de engenharia em si. Por essa razão, o filme só parece engrenar a partir do momento em que Petit chega à América, o que enfraquece o segmento voltado para sua origem francesa e, em algum grau, limita a importância de suas relações pessoais construídas ali.

Quando o longa finalmente solidifica suas bases e abraça esse plano aventureiro, as ideias em pauta ganham força. A vontade de alcançar o impossível é incorporada pela câmera, que se movimenta constantemente e se posiciona em locais inalcançáveis — mais um componente do arsenal de seu diretor, sempre pioneiro em termos de efeitos visuais, que aqui investe fortemente na profundidade do 3D.

São os casos das duas cenas em que ela atravessa folhas de papel para filmar o olhar do protagonista e dos trechos em que rodopia pelos ares acompanhando sua apresentação nas alturas. Zemeckis se utiliza do valor simbólico das torres, observado em retrospectiva, para articular o surgimento desse mesmo valor, com cores distintas, no imediato de sua inauguração. A relação entre tempos diferentes, manejada por recursos essencialmente cinematográficos, é também característica de sua obra (“De Volta para o Futuro” é exemplar ímpar dessa manipulação temporal).

The Walk

A tecnologia 3D empolga, sobretudo porque há méritos de sobra ao seu redor

O cineasta ainda se dedica a construir um esboço de resposta sobre a identidade estadunidense e o que significa ser americano com base em um elemento material, as torres, indicando um câmbio interessante em sua trajetória. Em outros filmes ele se valia com maior intensidade de símbolos abstratos e/ou socialmente construídos, como em “O Voo”, seu último projeto, que discutia ideais de masculinidade e heroísmo muito particulares, ou “Contato”, que tratava da imensidão do espaço dentro de pequenos cômodos. É ainda importante a forma como a performance de Petit, que parte de uma obsessão pessoal, ganha reflexos nos novaiorquinos passantes por meio de reações pontuais (“Eu nunca verei algo assim novamente” é uma das falas registradas), que indicam gradualmente a produção desse imaginário comum.

Essas questões são trabalhadas de forma constante ao longo de toda a preparação para o clímax. O ar de grandiosidade só falha quando exagerado pela trilha sonora de Alan Silvestri (que já havia se aliado a Zemeckis algumas vezes, tendo obtido duas indicações ao Oscar nessas colaborações), que tenta forçar um clima de superação que não parece coincidir com o objetivo da narrativa. De todo modo, a meia hora final é gloriosa por abandonar os principais problemas e concentrar os melhores atributos de seu diretor em sequências esteticamente complexas e tematicamente ricas. A tecnologia 3D empolga, mas apenas porque há méritos de sobra ao seu redor.

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