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“Jogos Vorazes: A Esperança – O Final”: Último capítulo da saga abandona bases do anterior em prol da ação

Francis Lawrence extrai valor da parte política do material, mas atropela carga moral e emocional em busca de urgência

por Virgílio Souza

⚠ AVISO: Pode conter spoilers (principalmente dos três filmes anteriores)

Há pouco menos de um ano, o penúltimo capítulo da série “Jogos Vorazes” foi lançado e recebido com relativo entusiasmo. Sem estabelecer uma relação de dependência com o par de filmes anterior, “A Esperança – Parte 1” foi capaz de preparar o terreno para um desfecho no mínimo imaginativo em função das bases sólidas de sustentação ali estabelecidas. O poder da propaganda e a força dos principais símbolos da franquia eram os elementos dominantes. Além da construção de um longa eficiente tanto em si quanto como elo de ligação entre as partes, permitiam que os acontecimentos seguintes fossem explorados com maior segurança, abrindo espaço para que a ação ganhasse ainda mais corpo.

Nos primeiros minutos de projeção, o interesse de Francis Lawrence nas questões citadas acima dá sinais promissores. Diretor desta e das outras duas continuações, ele aposta em uma lógica de continuidade, em vez de articular um novo ponto de partida. A confusão de Peeta Mellark (Josh Hutcherson) com relação a Katniss Everdeen (Jennifer Lawrence), os ataques contra os distritos restantes e o planejamento da missão para eliminar o Presidente Snow (Donald Sutherland), alguns dos aspectos abordados inicialmente, são ligados de maneira íntima à guerra de manipulação ideológica travada entre os rebeldes e a Capital.

O diretor Francis Lawrence no set

O diretor Francis Lawrence no set

Hunger Games

Por mais caça-níqueis que a divisão do último segmento em dois pareça, no contexto de uma busca excessiva dos gigantes da indústria (aqui, a Lionsgate) por extrair quantos centavos forem possíveis de seus produtos, existe sustentação suficiente para que se reconheçam nela certos méritos. Do ponto de vista narrativo, a fragmentação oferece a possibilidade de preparar o terreno para o embate derradeiro, delineando trajetórias e encerrando arcos sem pressa. O problema, neste caso, é que as demandas por ação constante e a dependência da figura da protagonista atingem níveis insustentáveis, e o filme opta por seguir esse caminho, abandonando muito do que havia construído anteriormente.

Sob tais condições, uma série que preza tanto o poder do discurso não se pode dar ao luxo de rejeitar princípios tão decisivos no instante final. Francis Lawrence, baseado no roteiro de Peter Craig e Danny Strong (autores também da parte um), parece ansioso em levar Katniss novamente ao campo de batalha. Assim, o longa abandona argumentos e decisões que haviam sido apresentadas no capítulo prévio, reduzindo o espaço para, entre outras coisas, os desdobramentos da fúria de Peeta contra a garota. As consequências dessa opção são várias: o rapaz, figura já pouco expressiva, se torna ainda mais apagado, assim como seu contraponto, Gale (Liam Hemsworth), que sequer recebe a oportunidade de uma despedida mais impactante — o mesmo pode ser dito sobre Cressida (Natalie Dormer), Finnick (Sam Claffin) e Primrose (Willow Shields), os dois últimos tendo ao menos seu caráter inesperado como justificativa.

As demandas por ação constante e a dependência da figura da protagonista atingem níveis insustentáveis

É verdade que o texto espalha, aqui e ali, lembretes dos bastidores, como o ataque/presente de grego que daria inveja ao cavalo de Troia e intervenções pontuais via canais de comunicação do governo e dos rebeldes. No entanto, a presença dos tomadores de decisão, como Alma Coin (Julianne Moore) e Plutarch (Philip Seymour Hoffman), embora compreensivelmente reduzida, serve mais para explicar detalhes e impulsionar a trama do que para demonstrar a importância da propaganda, tão cara ao filme anterior.

Hunger Games

Hunger Games

Uma série que preza tanto seus símbolos (O Tordo, as rosas brancas, a trança, o fogo, o arco e a flecha, o pesadelo — de enorme importância em “Parte 1”, mas recuperados dos dois primeiros filmes) tampouco pode torná-los tão banais no momento decisivo. Há aparições de todos eles, facilmente capturáveis pelo público mais dedicado à franquia, mas a falta de imaginação com que são trabalhados surpreende, sobretudo em comparação.

Este é, visualmente, o capítulo menos impactante dos quatro, com um ar de esterilidade sobrepondo qualquer resquício de surpresa. A sensação é de que a simplificação em prol da ação eliminou aquilo que diferenciava “Jogos Vorazes” de produções semelhantes. A própria concentração na Capital, um ambiente absolutamente asséptico, talvez seja um dos fatores para que isso tenha ocorrido, mas a monotonia do ambiente contamina o restante dos cenários.

Mesmo no que diz respeito aos conflitos psicológicos de Katniss e a ambiguidade que pairava sobre alguns coadjuvantes, “O Final” fraqueja. O recurso ao contraste óbvio que pinta todas as coisas de preto ou branco, determinando vilões e heróis, anula qualquer sombra de dúvida sobre as intenções dos personagens. Na busca por urgência, diretor e roteiristas caem em uma lógica de resolução de problemas objetiva demais, que atropela certos trechos de reflexão e perde tempo com repetições e idas e vindas exaustivas — é como se, consciente desde o início do objetivo de matar Snow, se esquecessem da carga moral/emocional de tal decisão, mencionando os pormenores dessa discussão apenas de passagem, em conversas tão breves quanto desinteressantes.

Hunger Games

Visualmente, este é o capítulo menos impactante dos quatro, com um ar de esterilidade sobrepondo qualquer resquício de surpresa

É espantoso notar, ainda, que o realizador de três dos quatro episódios da franquia tenha decidido abrir mão de tantos elementos de destaque cultivados por ele ao longo de outros dois filmes para se concentrar em um aspecto — a ação — que remete primordialmente ao longa de estreia, comandado por Gary Ross.

Retratada entre close-ups de menor duração e planos abertos mais longos, sempre com a câmera na mão, a ação parece emular a dinâmica da trilogia Bourne, de Paul Greengrass, como fazia “Jogos Vorazes”, mas jamais transmite a mesma intensidade. Entre tremores e respingos, resta apenas uma movimentação confusa e genérica, que sequer faz jus às habilidades de combate da protagonista — a exceção seria a perseguição subterrânea, infelizmente isolada entre sequências não tão boas, como o segmento na praça, bastante problemático em termos de ritmo.

No lado positivo, Francis Lawrence consegue extrair valor da parte política do material. Embora exageradamente maniqueísta e dono de um arsenal limitado de conceitos, o filme demonstra maturidade ao encadear referências e provocar reações.

Nesse sentido, a aposta em um tom mais sombrio, que sabe quando desviar o olhar ou prender a atenção, é certeira. É de se lamentar, portanto, que o conjunto tenha abandonado as principais qualidades anteriores — aparentemente, uma boa mudança não é suficiente em meio a tantos desacertos.

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