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Sem Tim Burton, continuação de “Alice no País das Maravilhas” é inofensiva

Agora sob a direção de James Bobin, de “Os Muppets”, a série parece ter pretensões modestas — com resultados modestos — em comparação tanto com o filme anterior quanto com outros exemplares de fantasia

por Virgílio Souza

Lançado em 2010, “Alice no País das Maravilhas” arrecadou mais de um bilhão de dólares mundialmente, tornando-se o longa de maior rendimento da carreira de seu diretor, Tim Burton, a segunda mais lucrativa adaptação cinematográfica de um livro infanto-juvenil até hoje (atrás apenas do último capítulo da série “Harry Potter”), e a quarta maior bilheteria para um filme de fantasia em todos os tempos (sendo o único dos dez primeiros não pertencente aos universos criados por J.K. Rowling ou J.R.R. Tolkien).

Além disso, a despeito da recepção mista por parte da crítica, acabou indicado ao Oscar em três categorias, faturando duas estatuetas e ampliando suas credenciais, que já incluíam a promessa de uma experiência visualmente impressionante e um elenco bastante renomado. Assim, mesmo que Lewis Carroll não tivesse escrito “Alice Através do Espelho”, que em diversas traduções aparece como “Alice no País do Espelho”, uma continuação das aventuras da personagem no cinema seria inevitável.

O diretor James Bobin com Mia Wasikowska no set

O diretor James Bobin com Mia Wasikowska no set

Alice

Seis anos depois e com as expectativas deixadas de lado, encarar esse universo sem tanta resistência soa como uma tarefa mais fácil. Agora sob a direção de James Bobbin, de “Os Muppets”, a franquia parece mais perto de se assumir como espetáculo primordialmente visual, aproximando-se de outros longas medianos do gênero, tais como “As Crônicas de Nárnia”. Nesse sentido, trata-se de uma produção inofensiva, dona de pretensões modestas em comparação tanto com a obra de Burton quanto com exemplares renomados de fantasia, como as clássicas animações da Disney e do Studio Ghibli ou as criações de Jim Henson.

Novamente convocada ao seu universo mágico depois de alguns anos explorando os oceanos no antigo navio do pai, Alice (Mia Wasikowska) tem como missão salvar o Chapeleiro (Johnny Depp), que sofre de perda de loucura e, consequentemente, de energia. O plano envolve viagens no tempo e a colaboração dos antigos amigos, que retornam para participações bem específicas.

A premissa simples é quase um disfarce para a total falta de construção dramática. Do mesmo modo que Alice, o filme salta de cenário em cenário sem a menor preocupação em afirmar as relações com os demais personagens e os espaços que eles ocupam. Existe pouca ou nenhuma variação na forma como as criaturas se comportam em cada um desses mundos, por mais diferentes que eles sejam em termos de composição.

A premissa simples é quase um disfarce para a total falta de construção dramática

Acompanhados por uma tela verde durante todo o tempo, os atores dizem suas falas e cumprem suas atividades em cena de maneira burocrática, com raras exceções. O roteiro de Linda Woolverton também não oferece muito suporte para as atuações: as interações estão dadas desde o princípio, como se o fato de os personagens já se conhecerem previamente desobrigasse o filme de dar a eles contornos novos e mais sólidos. É uma pena, pois os momentos mais valiosos são aqueles em que as ações de ambos os episódios têm impacto real na evolução dessas criaturas, dando alguma força mesmo às mais problemáticas, como Mirana (Anne Hathaway).

Alice

O maior incômodo em “Alice Através do Espelho” é que derive mais de outras obras genéricas e do anterior do que do próprio livro de Lewis Carroll

De todo modo, é interessante ver Alice como protagonista da própria obra. Ela é impulsionada em direção às maravilhas não apenas por inocência ou por uma vocação de sonhadora, mas pelo completo inconformismo com uma realidade cruel e machista. A relação com a mãe (Lindsay Duncan), estabelecida em um punhado de breves momentos, é fundamental para a formação dessa resistência, que a torna muito mais complexa.

A fantasia representada pela antes lagarta, agora borboleta Absolem (voz de Alan Rickman em seu último crédito como ator), que abala a monotonia do mundo real logo no início do filme, só é possível pela fantasia do cinema, articulada como válvula de escape da realidade pela Walt Disney Pictures por meio de um conjunto de ferramentas já estabelecido — computação gráfica, três dimensões, gags visuais etc.

Por essa razão, é ainda mais incômodo que tudo em “Alice Através do Espelho” seja tão derivativo, e que derive mais de outras obras genéricas e do anterior do que do próprio livro de Carroll, de quem pega emprestado apenas o conjunto mais básico de características. As constantes viagens no tempo funcionam como desculpa para que o longa não desenvolva os intervalos entre ação. Se o visual parece saído de um videogame de uma ou duas gerações atrás, o roteiro se organiza como um jogo em que a opção de ignorar as passagens menos interativas está sempre disponível.

Alice

Em outra comparação, significa dizer que essa é uma montanha-russa que diverte moderadamente, mas que não cria ansiedade antes nem surpresas durante a corrida — e que tampouco é memorável quando a experiência termina, ficando apenas no campo das aparências. Não se trata de uma crítica à estrutura episódica, em si, mas à falta de uma linha narrativa que crie algum senso de consequência e conduza a ação sem mudanças de tom e ritmo tão bruscas.

É uma montanha-russa que diverte moderadamente, mas que não cria ansiedade antes nem surpresas durante a corrida

Por outro lado, vale notar que esse é um filme muito mais consciente de suas limitações que seu antecessor. Um dos reflexos mais curiosos disso é a forma como trabalha um de seus elementos basilares: como se incorporasse a ideia de que o tempo é um vilão, anunciada nos primeiros instantes de projeção, “Através do Espelho” se encerra quando está prestes a perder seu (já pequeno) fôlego. Assim, se estende por apenas uma hora e meia — em duração oficial, dezoito minutos mais curto que o antecessor; em sensação, o que parece ser uma eternidade muito bem-vinda.

Apesar de boa parte de seus méritos consistir em recuos com relação a “Alice no País das Maravilhas”, em termos de escala e volume, um aspecto da continuação parece subvalorizado: o personagem Tempo. Sacha Baron Cohen se torna menos do que poderia, repetindo algo que já havia ocorrido em dramas e comédias anteriores, sobretudo aqueles não concebidos pelo próprio ator. Encarando o copo como meio cheio, porém, vale observar que seu coadjuvante e as criaturas que o auxiliam são mais divertidos que aquele interpretado por Depp no original, e ainda servem para colocar o Chapeleiro em uma posição mais atrativa, ainda que sem tanto destaque.

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