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Sete homens, um destino e nada de novo a oferecer

Sob o comando de Antoine Fuqua, refilmagem - ainda que não seja um desastre - traz o que existe de mais banal no cinema americano de grande escala

por Virgílio Souza

⚠️ AVISO: Contém spoilers (especialmente pra quem não viu o original)

De tempos em tempos, novos filmes de faroeste surgem na tentativa de (re)conquistar um público que parece cada vez mais desinteressado pelo gênero. As investidas recentes de maior sucesso em Hollywood devem mais às grifes de autores como Quentin Tarantino (“Django Livre” e “Os Oito Odiados”) e Joel e Ethan Coen (“Bravura Indômita”) e ao poder de um estúdio de animação (“Rango”), ao passo que os fracassos de longas como “O Cavaleiro Solitário” e “Cowboys & Aliens” se explicam facilmente e de diversas maneiras.

Quando pensamos no caso de “Sete Homens e um Destino”, uma questão se torna fundamental: como despertar o interesse da audiência para além da atração óbvia do marketing e da ampla oferta que ocupa centenas de salas mundo afora? Tratando-se, ainda, de uma refilmagem (que, por sua vez, é fruto de outra refilmagem), ganha relevância a busca por elementos que justifiquem a “atualização”, termo frequente em discussões dessa natureza.

A inovação mais evidente diz respeito ao elenco, que aposta na diversidade de origens consagrada na última década e meia pela franquia “Velozes & Furiosos”. As dinâmicas entre os personagens principais repetem as bases estabelecidas pelo longa original, dirigido por John Sturges e lançado em 1960. Alguns deles, veteranos de guerra, já conhecem o líder do grupo de batalhas anteriores; outros são apresentados a ele e convencidos, de formas variadas, a libertar um pobre vilarejo dominado por Bart Bogue (Peter Sarsgaard).

O diretor Antoine Fuqua, à direita, no set

Antoine Fuqua, à direita, no set

Seven Poster

Parece desnecessário afirmar que todos eles são tipos, figuras com apenas uma ou duas características definidoras que, em conjunto, formam algo maior. Não é esse o problema. O que importa, no fim das contas, é o que o filme faz com cada um deles, como lida com semelhanças e diferenças, vontades particulares e coletivas. Infelizmente, a resposta não é nada animadora.

Sob o comando de Antoine Fuqua (“Dia de Treinamento”) e com base no roteiro de Richard Wenk (“O Protetor”) e Nic Pizzolato (“True Detective”), o elenco tem desempenho apenas correto, no melhor dos casos. Em contraste com o original, em que os sete se comportavam seguindo um bom-mocismo raro em caçadores de recompensas, aqui as motivações são mais complexas, mas ainda menos convincentes. Se a batalha contra a opressão do capital é estranha, dado que o pagamento é que leva os personagens a agir em primeiro lugar, a luta como uma questão moral é especialmente questionável. Quer dizer, mesmo o que a refilmagem busca corrigir não encontra o sucesso esperado.

Quem reúne o bando é Sam Chisolm, conduzido por um Denzel Washington quase sempre no piloto automático, sendo exceção o ato final, quando ele definitivamente incorpora a condição de herói de ação. O primeiro a se juntar à jornada é Faraday, um Chris Pratt aquém de suas performances em “Guardiões da Galáxia” e “Jurassic World”. A sensação é de que o texto subaproveita o ator, falhando na maior parte dos momentos de humor (algo um tanto óbvio quando se conhece o histórico dos roteiristas) e apostando unicamente em seu inegável carisma.

Magnificent Seven

Sob o comando de Antoine Fuqua, e com base no roteiro de Richard Wenk e Nic Pizzolato, o elenco tem desempenho apenas correto, no melhor dos casos

Os personagens que funcionam melhor são Goodnight (Ethan Hawke) e Billy (Byung-hun Lee), que têm em eventos do passado e na amizade variáveis importantes para definir suas ações. Os demais aparecem aqui e ali sem grande destaque, com frequência abandonados pelo roteiro à própria sorte para, em seguida, surgirem de outra parte e cumprirem seus papéis de maneira protocolar. Vincent D’Onofrio, interpretando o problemático Jack Horne, até ensaia roubar a cena pela via da comédia, mas a recusa do filme em desenvolver seu personagem, ou ao menos de questionar suas contradições, impede maiores avanços.

Em termos mais amplos, porém, o filme consegue fluir. Wenk e Pizzolato seguem os mesmos passos do original, dividindo a trama em blocos menores (prólogo, reunião do grupo, preparação e combate) que se enfileiram naturalmente. Menos paciente, a versão de 2016 mantém o ritmo e evita o risco do tédio construindo pequenos focos de tensão antes do desfecho, quando os personagens estão reunidos apenas aguardando o confronto derradeiro — por comparação, vale notar que é nesse momento mais frágil do filme de 1960.

Sem pesar as mãos tanto quanto em “Nocaute”, seu longa anterior, Fuqua preserva a iconografia do gênero e, em especial, de seu referencial mais direto. O modo como torna recorrentes certas imagens e sons pertencentes a esse universo (os cata-ventos, o badalar dos sinos, as crianças), modelando-as ao tom mais leve desejado, é seu grande mérito. É também digna de elogios a reaparição de alguns dos trechos mais preciosos do filme de Sturges, geralmente em forma de diálogo. Falas como aquela sobre as ovelhas e anedotas como a do homem que cai do quinto andar, por exemplo, soam melhor na refilmagem.

Magnificent Seven

É impossível reagir positivamente à narração em off que pontua o fim dessa refilmagem

“Sete Homens e um Destino” não é, portanto, um fracasso completo, bem como a experiência passa longe de ser extenuante. O que se espera de seu autor, o que sua filmografia ensinou a antecipar de seus próximos capítulos, está ali: uma ideia de masculinidade à moda antiga, sempre posta à prova em grandes tiroteios, mas que pode se revelar pelo silêncio (aspecto relevante das personalidades de pelo menos três personagens) ou pela explosão.

O principal equívoco de Fuqua não é de tom ou direção de cenas, mas de subtexto. Há uma tentativa bastante clara de trazer o filme para uma discussão maior sobre os Estados Unidos da América e o que o país representa para aqueles que estão às margens do poder. No limite, o septeto busca reivindicar um espaço que sempre lhes foi negado pela própria sociedade, desconfiada de suas intenções ou determinada a manter essa ordem excludente.

Incomoda, porém, ver tais questões lançadas ao ar e abandonadas em prol de sequências de destruição longas, confusas e amparadas em computação gráfica — o que existe de mais banal no cinema americano de grande escala e que sequer explora as possibilidades do gênero. Mesmo que não se cobre uma inventividade aos moldes do cinema asiático, que hoje experimenta com o western melhor do que em qualquer outra parte do planeta, ou um discurso político consistente, é impossível reagir positivamente à narração em off que pontua o fim dessa refilmagem. Aqui, diferente do que afirma o título original, quase nada é magnífico.

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