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“A Qualquer Custo” é um ótimo faroeste moderno

Indicado ao Oscar em quatro categorias, filme comenta questões atuais do sul dos Estados Unidos a partir de elementos típicos do gênero

por Virgílio Souza

⚠️ AVISO: Contém spoilers

Na primeira aparição de Chris Pine e Ben Foster em “A Qualquer Custo”, ambos estão mascarados. No meio da ação, é difícil diferenciá-los. Não é possível reconhecer muito além de suas vozes, que ordenam que funcionários de um banco passem o dinheiro das gavetas, e seus olhares, que oferecem um vislumbre de suas reações durante o assalto. Toby e Tanner pertencem ao mesmo universo, têm em comum mais do que a criação compartilhada. Aquilo que os motiva, no entanto, depende de experiências particulares e tem reflexos específicos na maneira como cada um deles age.

A forma como o diretor David Mackenzie (de “Encarcerado”) constrói essa cena de abertura merece atenção especial. Várias dinâmicas vistas aqui se repetem ao longo de todo o filme. A câmera segue o carro azul da dupla do início (imagem 1) ao fim da operação sem cortes e, com um movimento lateral simples, registra também os elementos que considera mais importantes: o protesto no muro, de um veterano que depende de ajuda do governo, e a caixa do banco que será assaltado (imagem 2); o caminho percorrido e as possíveis rotas de fuga (imagem 3); e a abordagem na porta giratória (imagem 4).

O diretor David Mackenzie parece estar sempre atento para como os espaços se organizam em torno dos personagens

Não há nada de revolucionário ou complexo demais nos recursos utilizados, mas trata-se de um exercício de paciência e controle digno dos melhores faroestes modernos (ou neo-westerns) recentes. Mackenzie parece estar sempre atento para como os espaços se organizam em torno dos personagens e como os personagens se movem dentro desses espaços. Por essa razão, e em muitos casos pela força de seus intérpretes, sua direção acerta ao dar tempo para que as cenas se desenvolvam — a sequência citada acima é apenas uma de várias que ocorrem de forma semelhante com duração relativamente longa.

Os irmãos dirigem por estradas empoeiradas, assim como os oficiais Hamilton (Jeff Bridges) e Alberto (Gil Birmingham) atrás deles. Escrito por Taylor Sheridan, de “Sicario”, o roteiro encontra diversos meios de alongar a trama a partir dessa expectativa de que, eventualmente, mocinhos e bandidos se encontrarão. Ao mesmo tempo, o longa aprofunda as divergências entre os irmãos.

O ato derradeiro se desenrola como uma verdadeira caçada humana

A frequência com que Toby e Tanner são retratados um à sombra do outro, como nas duas imagens acima, é enorme. Os dois estão quase sempre juntos em cena e, nos raros momentos em que se separam, o intuito parece ser sempre destacar o abismo entre suas intenções. É o caso, por exemplo, da longa montagem paralela no meio do filme: um conversa com a garçonete, o outro rouba um banco. Reunidos, eles combinam segurança e instabilidade e, partindo do Texas para Oklahoma, mergulham de vez nesse embate. No caminho, o texto coloca os personagens em contato com aspectos muito próprios da cultura local, em suas manifestações tradicionais ou típicas do século 21.

Uma queimada, por exemplo, espalha uma boiada no meio da pista. Por um instante, os detetives param o carro, e a conversa com os caubóis acaba oferecendo uma perspectiva desoladora sobre a vida na função nos dias de hoje. Já uma pausa no posto de gasolina leva Toby e Tanner a interagir com dois rapazes intolerantes em um carro verde-limão. Inserções gritantes de itens modernos ocorrem em algumas outras ocasiões. No caso em questão, como vemos nas imagens abaixo, o cavalo sai de tela e dá lugar ao automóvel, o rural se mistura ao urbano.

A inclusão de detalhes como esses faz parte de um entendimento fundamental para Mackenzie: o de que os acontecimentos não precisam ser explicados, mas vistos em curso. O diretor sustenta a trama nas imagens que cria, e por isso sua noção de espaço é tão valiosa. Saber exatamente onde os assaltantes estacionaram o carro e conhecer a distância dali até o banco e de volta, por exemplo, são questões importantes para inferir (e, em alguma medida, sentir) o grau de urgência de determinadas cenas sem que isso precise ser dito em texto.

Essa lógica é importante ainda porque permite certos desvios da trama principal. Dados sobre aquele lugar e aquele contexto partem da atmosfera que nos alerta para o que está em jogo a cada novo desdobramento, mesmo quando os personagens apenas dirigem em silêncio ou acompanhados pela trilha musical de Nick Cave e Warren Ellis. Muitos dos fatos mais relevantes sobre a dupla de protagonistas emergem ainda em conversas e reflexões banais com figuras secundárias e em lembranças de infância aparentemente não relacionadas à trama principal.

Como visto anteriormente, paciência parece ser uma virtude para Mackenzie. Por essa razão, as motivações de Toby e Tanner se revelam aos poucos e se provam mais atuais e consistentes a cada nova camada. O horror está sempre à espreita, acompanhando a cultura das armas (o momento em que Tanner se surpreende ao notar que um senhor de idade está armado é primoroso) e os discursos de ódio dirigidos contra mexicanos, negros e comanches.

Quando a violência ganha corpo, o destino mais uma vez cobra o preço pelas decisões tomadas por eles. O ato derradeiro se desenrola em três etapas: como uma verdadeira caçada humana, depois como uma vingança contra o sistema e, finalmente, como um encontro em que se discutem as razões para tudo aquilo, bem como as possibilidades do futuro. Nesse último momento, assim como na sequência de abertura, o que define tudo está em um olhar, em uma troca de palavras. Após ver o filme alçar voos tão altos e distantes de seu eixo central, é fascinante vê-lo colocar de novo os pés no chão e se voltar para o que há de mais simples em jogo.

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