Transcrição: Mamilos 89 - Trump, e agora? • B9
Mamilos (Transcrição)

Transcrição: Mamilos 89 - Trump, e agora?

Capa - Transcrição: Mamilos 89 - Trump, e agora?

Jornalismo de peito aberto

Esse programa foi transcrito pela Mamilândia, grupo de transcrição no Mamilos

Início da transcrição:
(Bloco 1) 0’ – 10’59”
Ju: Bem vindos ao Mamilos, seu espaço para fazer sentido dessa admirável mundo novo que nos cerca. Eu sou a Ju Wallauer, essa é a…
Cris: Cris Bartis.
Ju: Serve o vinho e vem com a gente pra um papo sem alarmismo sobre o resultado das eleições americanas.
Cris: Caio e o som do Mamilos? Bota aí na vitrola um som animado, esperançoso, ensolarado para nos embalar?
Caio: Olá personas. Corraine aqui novamente para trazer a vocês os responsáveis por dar mais cor ao Mamilos dessa semana. Lembrando sempre que se você quiser colaborar com o conteúdo musical deste programa pode nos recomendar bandas ou artistas independentes no email [email protected]. [email protected].’brrr’. E facilita e muito a minha vida se vocês enviarem os links do site oficial do artista ou então onde nós podemos buscar o download direto das músicas dele para utilizar no episódio. Nessa edição nós iremos ouvir o álbum solo da Summliz, a paraense antiga vocalista do Madame Saatan faz um som que une inspiração regional, rock e um pouco de música eletrônica. Então fiquem aí com a Summliz no Som do Mamilos.

[Sobe Trilha]
Música
O quanto amo e morreu
com magnólias em você
Magnólia é você
Magnólia é você

[Desce Trilha]

Ju: Um beijo para as quatro cearenses morando na Inglaterra que criaram o podcast Chá com Rapadura.
Cris: Para Edna em Goiânia que eu esqueci semana passada. Desculpa Edna vai aqui um beijo com o dobro de carinho.
Ju: Para São Gonçalo no Rio de Janeiro. Em especial pra Iane Filgueiras que vai se casar com o Mamileiro Ronaldo Rodrigues esse final de semana e ele pede: “Para garantir a felicidade desse casamento, ouça Mamilos”. Vai Iane, dá uma chance!
Cris: Para Sorocaba em São Paulo.
Ju: Paar Curitiba em especial para Raissa Sophia.
Cris: E para Taboão da Serra também em São Paulo. Vamo falar com o Mamilos galerinha? Você pode falar com o Mamilos no Twitter, no Facebook, na página do B9, no nosso e-mail [email protected]. Menos mensagens no Soundcloud que a gente nunca lê e ó, fale também com a equipe cheirosa do Mamilos: Edição e Som do Mamilos com Caio Corraini. Redes sociais com Luanda Gurgel e Guilherme Yano e Luiza. Apoio a pauta – Taty Araujo e Transcrição dos programas – com a diva Lu Machado.
Ju: E no merchand, nesse fim de semana estarei em Fortaleza pra fazer uma edição cearense do Workshop9 graças ao convite e parceria da Agência Caramelo. Infelizmente, muitos mamileiros entraram em contato pedindo: “Ah, vamos fazer um encontrinho no Mamilos e tal”. Gente a minha passagem vai ser meteórica, eu vou ficar o dia todo em curso no sábado e domingo às 11 eu já volto pra São Paulo. Então realmente não dá tempo pra um encontrinho, mas quem quiser dar um cheiro e tirar foto no aeroporto Tamo junto, vamo lá. Eu entro às 10 horas provavelmente na sala de embarque então 9:30 a gente se encontra lá.
Cris: Eu queria fazer um merchand especial. Talvez vocês não saibam mas esse programa hoje é possível somente com a minha participação porque Oga Mendonça se dispôs a ser babysitter de Tamires e nesse momento está lá em casa com ela. Então fica ai um merchan. Excelente viu? Um preço ótimo. Tá lá cuidando da Tatá enquanto eu gravo aqui. Oga eu já tô voltando.

[Sobe Trilha]
[Desce Trilha]

Ju: E o Fala que eu te escuto. a gente pinçou alguns comentários mas foram bastantes e olha, que orgulho dos melhores ouvintes viu? Por que quando a gente tava gravando a gente falou “Olha, saiu um Mamilos de raiz. Esse aí vai desagradar a gregos e troianos.” Porque ele ficou bem polêmico, com informações difíceis de ouvir para ambos os lados. E qual foi o nosso espanto, que já não deveria ser espanto nesses dois anos de convivência, do quanto que vocês foram maravilhosos e acolheram as reflexões e realmente fizeram muito bom proveito desse programa e fizeram críticas construtivas. Vamo lá, o Jonas Prado disse: “Sou contra a PEC por motivos parecidos com os da Ju, mas o Pedro me apresentou argumentos muito bons a favor dela. Era isso o que eu mais queria aqui no programa. Tragam ele pra outros programas, pessoal. Programa fabuloso, como de costume.”
Cris: O Lucas Couto: “Estava bem complicado entender um pouco sobre essa PEC, sem uma discussão com opinião forte estabelecida ou linguagem tão difícil que simplesmente não dava pra acompanhar. Muito obrigado pelo programa, vocês sabem falar muito bem com quem sabe e quem não sabe muito sobre política. Achei o programa bem tenso e vocês também estão de parabéns pela forma que conduziram a pauta, sempre focando nos assuntos importantes, explicando as perguntas feitas e garantindo a ordem na casa.”
Ju: O Henrique Siqueira disse: “A função da PEC ter um prazo longo é na realidade de suavizar o ajuste fiscal ao longo de vários anos… Discutindo ano a ano seria preciso de um ajuste muito mais brutal agora. 10 anos para um país é na verdade um prazo bastante curto. Ter esse indicativo de 10 anos permite taxas de juros mais baixas sem tanto sacrifício, o acordo é com o mercado financeiro”.
Cris: Fernando Siqueira: “O que eu acho que Pedro quis dizer, que não ficou muito claro, é que todos que recebem algum rendimento da caderneta de poupança é credor da dívida pública (o rendimento da poupança é pago pela dívida pública) e que fundos de pensões (previdência complementar) são grandes credores da dívida (ex: PREVI) que são usados para pagar aposentadoria complementar para funcionários aposentados do Banco do Brasil. É claro que tem banqueiro ganhado muito dinheiro e andando de iate às custas da dívida pública, mas a enorme parte do pagamento da dívida acaba voltando para o bolso do povo. Então esse discurso que a dívida pública vai só para o bolso de banqueiro malvado é muito errado e o não pagamento da dívida afetaria uma grande parte da população de pessoas não ricas. Outro ponto que não foi bem explicado sobre dívida é que ela, por si só, não é problema, a dívida do Brasil é relação ao PIB é de 60%, o da França é 83% e do Japão são incríveis 225%. A diferença desses países é que o juros são baixos e a dívida é gerenciável, e não compromete outros investimentos, ao contrário do Brasil.
Ju: O Bruno Miné disse: “Quando o Pedro diz que vários países tem políticas de controle de gastos está confundindo essas políticas com a estrutura da PEC 55, que para além de tudo, é algo que será anexado a uma constituição. Se a PEC for sancionada a constituição de 88 entrará em um parafuso, já que a mesma estipula um gasto mínimo com saúde, educação e seguridade social. Explicando mais detalhadamente, até 2026 a meta é que os gastos sociais sejam reduzidos de uma maneira proporcional para cerca de 14% do PIB. Hoje o investimento do PIB na seguridade social é de 22,47%, ou seja, até 2026 a seguridade social terá de passar por uma reforma tão profunda que resultará no seu desmanche por completo.”

[Sobe Trilha]
[Desce Trilha]

Cris: Vamos então pro bloco 2. A gente tá meio teta, meio trending topics. Tá uma bagunça isso aqui, mas vamos lá porque hoje essa mesa tá muito redonda, tá muito bonita. Vamo começar com quem é novo na casa? Tai, prazer te receber aqui. Queria que você se apresentasse pro público.
Tai Nalon: Oi eu sou a Tai Nalon do ‘Aos Fatos’. A gente checa o discurso dos políticos, o que eles falam, o que eles propagandeiam e é um prazer tá aqui.
Cris: E o ‘Aos Fatos’ vocês já estão cansados de ouvir aqui no Mamilos, então a gente trouxe a dona da bagaça pra poder ajudar na discussão. Vamo pro segundo convidado que é um queridíssimo, que todo mundo adora. Depois da primeira participação dele volta hoje pra nos ajudar a entender esse imbróglio. Boa noite Terto.
Terto: Olá mamileiros e mamiletes! Estamos aí de volta ao deserto do leão.
[Risos da Ju]
Ju: Excelente. Adoro ter poeta no programa. Muito bom, Terto.
Cris: E do outro lado do ringue nós temos uma pessoa gripada. O nosso mamileiro dançarino nas horas vagas, Marco Túlio.
Marco Túlio: Oi gente! Eu sou o Marco Túlio, eu sou jornalista, trabalho na escola de dados e tamo aí.
Ju: E veio pra explicar porque que os dados erraram tanto e nos iludiram tanto esses dados safados.
[Risada da Cris]
Cris: Olha a cara dele.
Ju: Então vamo lá!
Cris: Vamos aos fatos.
Ju: O que que aconteceu né? Vamos pro show da realidade gente? Na madrugada dessa quinta-feira 9/11, um dia bem cabalístico, o empresário republicano Donald Trump foi eleito o 45º presidente dos Estados Unidos, contrariando apostas de institutos de pesquisa, contra a força da mídia unida e sem o apoio do establishment. A vitória após campanha polêmica, que quebrou todas as regras da política, interrompe 8 anos de democratas no poder e confirma a tendência histórica da alternância no poder do governo americano. Apesar de ter angariado menos votos que sua oponente, Trump assumirá no dia 20 de janeiro, após retumbante vitória que também assegurou aos republicanos, maioria no Senado e na Câmara, abrindo o caminho para as reformas profundas prometidas. O resultado foi recebido com choque e trombetas do Apocalipse, muito medo, muita confusão, muita incredulidade e uma realidade teimosa que não se conforma à nossa expectativa. Menos de 24 horas depois do ocorrido vamos fazer um primeiro esforço de sentar na mesa, pra tentar entender esse resultado e os impactos que ele trará pros Estados Unidos, pro mundo e pro Brasil. Vamo lá gente é uma primeira conversa tá? Com certeza depois que a gente gravar esse programa, amanhã vai aparecer um monte de link, na sexta-feira um monte de link, nos próximos 4 anos mais milhares de análises.
Cris: Na verdade esse programa se auto destruirá em uma semana. Então ouve logo.
[Risada da Ju]
Marco Túlio: Ou menos.
Cris: Bom a Juliana começou jogando a bomba de fumaça né? Teve mais votos. Ganhou mas não levou. E aí começa aquela mesma conversa de sempre “Gente mas né? É meio complicado esse negócio das eleições americanas.” E ai óbvio, a gente vai pedir ajuda pro coleguinha. O Diogo do ‘Me Explica’ tá aqui pra quê? Pra explicar pra gente um pouquinho desse sistema eleitoral. Fala aí Diogo.
Diogo: Alô Cris, alô Ju. Aqui é o Diogo Rodriguez, editor e criador do ‘Me Explica’. Bom, a pergunta é: Como é que um candidato à presidência dos Estados Unidos pode ter um número maior de votos no total, no chamado voto popular e mesmo assim não ganhar a eleição? Bom, a primeira coisa que a gente precisa entender para isso fazer sentido é que a eleição por lá não é direta como é aqui no Brasil. Pois é, aqui no Brasil ganha quem tiver o maior número de votos e ponto final. O maior número, certo? Lá nos Estados Unidos não, para ser eleito o candidato precisa conseguir no mínimo 270 votos do colégio eleitoral. O que é o colégio eleitoral?

(Bloco 2) 11’ – 20’59”
Diogo: Olha vou explicar de um jeito bem simples: o colégio eleitoral é uma pontuação que cada estado tem, o peso que cada estado tem. Isso varia de lugar para lugar o Texas, por exemplo tem 38 pontos, Nova York 29. Então por que que isso acontece, esse fenômeno de um candidato que tem muitos votos, a maioria dos votos, não ser eleito? Por que não importa quanto próxima for a corrida eleitoral naquele estado, todos os pontos daquele determinado lugar vão pra um só dos candidatos. Não importa se foi por um milhão de votos, a diferença, ou se foi apenas um voto. Quem ganha no Texas, por exemplo, como foi o caso do Trump, levou todos os 38. Apesar da corrida ali ter sido, até que não ter sido, tão díspar. Isso quer dizer que, na hora de contabilizar os voto do colégio eleitoral, você tá só contabilizando o número que cada estado vale e não, todos os votos que cada candidato teve. É por isso que acontece esse fenômeno estranho, que só aconteceu 4 vezes na história dos Estados Unidos, contando agora com a Hillary, que é o candidato vencedor ter menos votos do que o candidato que perdeu. Tá bom gente deu pra entender?
Ju: Tá, agora que a gente já entendeu como funciona e, porque que ela pôde perder mesmo tendo mais votos, mesmo assim eu ainda preciso te perguntar Marco Túlio, você que é o menino dos dados. Todas as pesquisas e a gente acompanhava alguns sites aqui, aquele Ff… como que chama Five Thirty Eight , eu via tipo uma vez por semana pelo menos, para ver as projeções e tal…
Marco Túlio: [interrompe] É tinha gente que via todo dia né, era..
Ju: [interrompe] Risos. Virou Tok.
Marco Túlio: [interrompe] era o jeito de você se tranquilizar, assim. “Não, tá tudo bem”. “Tá tudo bem”. “A Hillary tá vencendo” “O Five Thirty Eight tá dizendo que ela vai vencer”.
[Risada da Ju]
Ju: E a gente colocava uma crença muito forte nesses institutos e eles erraram. Todos os institutos davam vitória para ela. Nos criaram uma falsa sensação de segurança que não se confirmou, o que que aconteceu?
Marco Túlio: Tem um pouco de erro das duas partes, começando pela gente, por a gente depositar demais confiança em algo que é naturalmente errático, assim né. A estatística ela é uma probabilidade.
Ju: [interrompe] Ela fala de passado e não de futuro né?
Marco Túlio: A gente tá falando de chance, né. Então você tem uma chance de algo acontecer, a chance pode ser maior ou menor, e eu acho que um pouco é culpa nossa de achar que pela probabilidade da Hillary ganhar ser mais alta a gente dá por certo que ela vai ganhar, a gente não trabalha com o contrário. Isso eu acho que é uma questão. A outra questão é bem sensível porque essas pesquisas de opinião, principalmente num lugar como Estados Unidos, elas são muito diversas. As pesquisas podem ser feitas por telefone, elas podem ser feitas pela internet, poucas são feitas pessoalmente. E você tem pesquisas que são feitas em estados e pesquisas que são feitas com uma amostra nacional. E todas elas são diferentes. As pesquisas pessoalmente, por exemplo, cê pode ter estados em que você não tem tantas pessoas que vão porta-a-porta pegar opinião, em outro estado cê tem mais. Então só aí já, já começa um erro. Você tem o próprio ruído estatístico. Você tem estados com mais pesquisas recentes ou menos pesquisas recentes. Então, todos esses modelos de sites, né, o New York Times fez isso, o Five Thirty Eight fez, eles construíram modelos para projetar. Eles pegam todas essas pesquisas, entendem quais são as forças e as fraquezas delas, fazem um modelo para poder projetar qual que seria o resultado mais provável, dada a qualidade dessas pesquisas e as fraquezas que elas possuem. Então.. Mas erros podem acontecer. E esses erros eles podem apontar em direções diversas e aí as pesquisas acabam se cancelando ou esses erros podem apontar nas mesmas direções em locais diferentes. Então você vai ter um grupo de fraquezas que subestimam determinado fator no país inteiro. Deixa eu dar um exemplo para ficar claro, a gente pode ter, o que… e isso aconteceu dessa vez. Foi subestimado o número de pessoas brancas sem um diploma de graduação que votariam no Trump. Então quanto mais isso se verificou depois do resultado da eleição, as pesquisas diziam uma coisa e aí nos locais, nos bolsões de população onde tinham mais pessoas brancas sem diploma, o Trump ele teve uma performance maior que as pesquisas apontavam, ele teve 7, 8, às vezes 10 pontos mais que as pesquisas diziam.
Ju: Tem uma questão técnica que talvez ajude a explicar isso, tá sendo analisado ainda, e que tem a ver com os modelos que você falou. Qual é uma das questões difíceis de prever quando você faz pesquisa nos Estados Unidos. A primeira variável é: quem vai votar? Porque se você sair perguntando na rua, você vai ter a opinião das pessoas sobre os candidatos, mas você não vai ter necessariamente o resultado de votos, porque não é obrigatório o voto e as pessoas vão pouco as urnas. Então como saber quem de fato vai votar ou não? E um dos modelos que eles usam, por exemplo, que eles usaram e que se provou falho, pra esse momento da história, é pegar pra democrata, pra quem dizia que ia votar nos democratas, era quem votou, a base era, quem votou na eleição do Obama…
Cris: [interrompe] Os dois últimos anos né?
Ju: E Obama não repetiu, a Hillary não conseguiu repetir o mesmo chamado do Obama pras urnas. E em relação aos republicanos o voto do Bush, as duas vezes do Bush. Eles pegaram o universo do Bush e isso também não se repetiu, o Trump teve mais apelo do que o Bush.
Marco Túlio: [interrompe] E tem t…
Ju: E isso também é difícil, não é uma questão, é engraçado quando a gente fala de erro e fala de numérico, porque quando você fala de número parece que tudo é exato e não é exato são inferências que se fazem.
Cris: [interrompe] A metodologia conta muito né;
Ju: [interrompe] São escolhas, né.
Marco Túlio: E tem uma outra coisa muito importante também, que é um dos fatores que pode fazer uma pesquisa ou modelo estatístico dar errado é você ter um número de pessoas de um lado responder menos que do outro. Então você tenta chegar aos eleitores republicanos pra que eles respondam em quem que eles vão votar e você tem uma amostra do lado Republicano e depois tem uma amostra do lado Democrata. E uma das teorias que estão surgindo e uma das explicações dessas pessoas que fazem pesquisa é que principalmente as mulheres, elas se mostraram mais relutantes em revelar quem era o candidato delas. Então as mulheres que votaram no ‘Tramp’, no Trump..
Ju: [interrompe] É o voto da vergonha né..
Marco Túlio: Elas não diziam para os pesquisadores em quem elas votariam ou falavam que era indecisa, ou era um outro candidato, ou então até mentiam e isso de certa forma escondeu parte do eleitorado do Trump nas pesquisas.
Cris: [interrompe] É bem interessante falar isso do voto da vergonha né que as pessoas que abertamente tavam falando que votariam no Trump não estavam sendo tão aceitas. Então é aquele né, pros coleguinhas cê fala que vai votar em um ou que nem vai votar e chega lá na hora você faz aquilo que realmente é o que você gostaria de ter feito, mas não faz abertamente por não ser socialmente aceito.
Marco Túlio: Tem um outro fator que isso também tá claro assim dentro do eleitorado do Trump, é que o eleitorado do Trump ele é anti-establishment né. Então ele é anti as instituições, são.. é um eleitor também que não acredita nas pesquisas eleitorais, porque o Trump falava isso o tempo inteiro né, “Não acredite nas pesquisas.” “As pesquisas estão erradas”. “O sistema ta manipulado”.
Tai Nalon: [interrompe] É err
Marco Túlio: “A eleição tá manipulada”. E aí as pessoas não respondiam.
Tai Nalon: É eu, é exatamente isso que eu ia comentar, eu ficava, eu ouvi essa teoria hoje, que enfim, a gente possivelmente só vai ter uma noção se isso se confirma possivelmente com as próximas eleições, e as eleições seguintes….
Marco Túlio: [interrompe] Daqui muito tempo né!
Tai Nalon: … e assim por diante. Exatamente. Quão desse voto envergonhado significa de fato uma vergonha do eleitorado do Trump, porque isso não se reflete no eleitorado do Hillary, uma vez que o próprio eleitorado do Trump rejeita muito o voto na Hillary, né, quer dizer são universos que não convivem. É isso. EE.. mas.. é o que me parece, e isso é totalmente opinião minha, de orelhada, aqui …
Cris: [interrompe] Feeling
Tai Nalon: É realmente assim, existe um ceticismo contra a mídia de modo geral, o jornalismo de modo geral e os institutos de pesquisa que fazem parte todos do mesmo universo. O jornalismo eleitoral digamos assim, a cobertura eleitoral, isso aqui no Brasil, nos Estados Unidos, no mundo que a gente conhece mais perto, durante as eleições ele é muito pautado por pesquisa e humor de eleitor e como as campanhas reagem estrategicamente nisso. Existe uma crítica muito grande, sobretudo entre os checadores, e eu falo isso como fonte interessada, mas é de que é preciso mudar esse tipo de cobertura que é muito pautada em pesquisa de opinião e, unicamente pesquisas de opinião. Sem entender direito as metodologia sem levar em conta seus critérios e tudo mais. Quer dizer..
Cris: [interrompe] tamanho de amostra, né,
Tai Nalon: Exato!
Cris: Vai tudo pro mesmo pacote
Tai Nalon: Exatamente!
Tai Nalon: Você comparar pesquisas com metodologias diferentes, olha o perigo, sabe assim? Você…
Ju: A gente já falou aqui, o NPR Politics fez um episódio inteiro sobre pesquisa. Ele é muito bom para a gente justamente aprender a ler a pesquisa, entender, não aceitar como números absolutos como o Marco tava falando, entender o que tem por trás como você tá falando e como isso pode definir os rumos da conversa, que é o que você tá falando. Mas Marco eu queria que você falasse, na verdade eles não erraram tanto assim né?
Marco Túlio: É eu, era uma coisa que eu ia falar agora e você adivinhou o que eu tava pensando. Não é que a pesquisa errou muito, cê tem uma margem de erro de três, até quatro pontos, assim, é algo aceitável. E a pesquisa ela foi muito certeira em prever a quantidade de votos para Hillary Clinton. Então as pesquisas previam por volta de quarenta e sete, quarenta e sete ponto dois por cento, e a Hillary acabou com quarenta e sete ponto sete. O que aconteceu de errado foi que eles subestimaram a quantidade de votos que o Trump ia levar. E aí eles colocavam o Trump com quarenta e quatro, quarenta e cinco por cento e ele acabou com quarenta e sete, então de dois a três pontos aí, percentuais, que na escala nacional é muita coisa né, são muitos votos. E aí o que se tenta entender é: onde que tá o buraco do Trump? Onde que ele foi melhor? E porque que ele foi melhor? E as pesquisas erraram tanto pra baixo? E aí são esses fatores que a gente elencou assim, de pessoas que não queriam responder, pessoas que tavam com vergonha ou estas pesquisas que são mais fracas e ai cê acaba não levando em consideração uma parte da população e assim por diante, eles tão começando a entender porque que as pesquisas deram errado agora.

(Bloco 3) 21’ – 30’59”
Marco Túlio: E aí cê tem diversos especialistas já publicando na internet e nos jornais, e eles tão falando o seguinte, olha, a gente não sabe ainda o quê que deu errado. Que todo mundo sabe que pesquisa é falha, todo mundo sabe. Não é a primeira vez que as pesquisas falham, elas falham mesmo…
Tai Nalon: O Brexit, ele foi um exemplo bastante contundente, né…
Cris: Gente, quarta, tá? Ó, Brexit, na Colômbia, no Brasil e nos Estados Unidos. Não é pessoal… Dá errado em todo lugar.
Marco Túlio: E eles vão entender, daqui a um tempo eles vão entender, e eu acho que cabe, vale colocar também, que é muito importante considerar margem de erro, e todas as pesquisas diziam que a Hillary e o Trump estavam muito próximos. E eles estavam tão próximos quanto a margem de erro permitia, então se for pensar que uma pesquisa tem 3 pontos de margem de erro, ela disse que ela tá com 47 e ele com 45, a diferença de dois pontos…
Tai Nalon: É um empate técnico.
Marco Túlio: É um empate técnico, né.
Ju: Mas aí a gente vai entrar no papel da mídia, que não apresentava isso como um empate técnico, e na nossa vontade de ler os dados conforme a nossa necessidade, que a gente também não fez essa leitura porque a gente tinha informação pra isso e não quis fazer. Eu queria entrar agora um pouquinho, tá, nos demográficos que elegeram o Trump. Então já saíram as primeiras pesquisas de boca de urna e elas mostram uma diferença que aí sim não aparecia nas pesquisas anteriores. Quais são as maiores diferenças do eleitor do Trump e do eleitor da Hillary?
Tai Nalon: Nossa, é um pouco difícil medir isso, porque algumas certezas a gente já tem e já tem como tirar de barato. Que é, e que não se alteraram ao longo do percurso. A Hillary teve votos majoritariamente entre… Entre a população branca, os mais escolarizados e com a renda maior nos grandes centros urbanos no país, a população branca menos escolarizada e dos rincões agrários e do Meio-Oeste americano votaram majoritariamente no Trump, isso é um fenômeno comum. Os Estados Unidos vota tradicionalmente, o meião dos Estados Unidos ali volta tradicionalmente em republicanos, quando você vai olhar o mapa eleitoral dos Estados Unidos parece um recorde republicano, um banho republicano sempre, porque são estados gigantescos, mas cuja população é muito pequena, então eles têm poucos delegados, né, no colégio eleitoral, mas de qualquer maneira você tem uma quantidade muito grande de estados republicanos ali no meio-oeste, e o litoral é mais tendendo a votar nos democratas. Qual é a questão, a gente tem uma região que é ali, é o Wisconsin, Michigan, a região dos Grandes Lagos, que é a região que da fronteira com o Canadá, ironicamente…
Ju: Michigan, Ohio, Pensilvânia e Wisconsin.
Tai Nalon: Exato. Que foram estados que viraram, swing states, pra essa eleição, os swing states são os estados que você não tem exatamente certeza se vai votar…
Cris: E muitos, né…
Tai Nalon: É. E a Hillary perdeu em estados que era favas contadas que ela ia vencer, tipo Pensilvânia, Michigan não era favas contadas mas é um estado que elegeu o Trump, se não me engano, 99% de certeza na última, na última eleição…
Marco Túlio: O Wisconsin tava com…
Tai Nalon: É, Wisconsin. E isso foi uma surpresa, eles tiveram mais votos, os delegados republicanos levaram, no caso, esses estados, e são estados muito populosos, com muitos delegados, que fazem no cômputo final do colégio eleitoral muita diferença. Esses estados, eles têm uma população branca muito forte. Se eu não me engano o Wisconsin tem uma colonização alemã muito forte. Então assim, e tem uma working class muito grande, porque são estados industriais, e distritos industriais mesmo, que sofrem…
Ju: É, essa palavra é muito importante. Mais… Eu acho que até mais do que branco, é a questão de pessoas quebradas, né.
Cris: Exato.
Marco Túlio: A classe trabalhadora foi quebrada.
Tai Nalon: Então assim…
Ju: Quebrada pelo quê?
Tai Nalon: Uma das promessas mais contundentes do Trump durante toda a campanha foi promessas não, né, acusações… Em forma de promessa, na verdade. Que ele iria solucionar o problema do desemprego nessas regiões industriais manufatureiras, né, que são os manufacturing jobs, dificultando a contratação de mexicanos e chineses, basicamente. Então americanos seriam mais privilegiados com empregos nessas áreas, ele geraria incentivos para isso. Essa é uma das promessas mais recorrentes do Trump ao longo dessa campanha de quase um ano. Então é…
Cris: E faz todo sentido, né. Em estados, em regiões que estão completamente quebradas, chega um cara lá e fala que vai trazer fábrica de volta…
Ju: Trabalho de volta…
Cris: Que vai taxar produto de quem fabrica fora, que vai fazer todo esse movimento, leva um ar de esperança para essas pessoas.
Marco Túlio: É o que eles querem ouvir.
Ju: O que é importante é falar assim, que é engraçado pra quem estudou, vai, quem tava na escola estudando globalização e que todo mundo que era os Estados Unidos era a vanguarda da globalização e que todo mundo que era contra era porque era periférico, pobre e burro, né, e agora a eleição americana sendo resolvida basicamente muito por conta desse voto antiglobalização, desse voto do medo, que a gente já sentiu esse cagaço…
Cris: E populista, né?
Ju: Que é de você perder o seu emprego porque o seu emprego foi terceirizado pra China, pra Índia, pra outros lugares do mundo, né.
Tai Nalon: Tem uma parcela da demografia americana, os Estados Unidos, também é fato que ele é um país cada vez mais latino. O espanhol é a segunda língua, fácil, nos Estados Unidos. Um dado que a CNN trouxe ontem, bastante relevante, a partir dessas pesquisas de boca de urna, que mostram que pelo menos 29% dos hispânicos, que eles chamam de hispânicos mas são latinos de um modo geral, votaram no Trump. Então assim, declararam voto, né, não votaram efetivamente porque a gente não tem como saber, o voto é secreto etc, declararam voto no Trump. 29% é uma parcela, de latinos, é uma parcela muito significativa dentro de um universo crescente de latinos. A especulação porque a gente, novamente, jamais vai saber isso de pronto, é: é uma geração nova ou uma geração antiga de latinos? São latinos que estão sendo substituídos por latinos? São latinos que estão sendo substituídos por chineses ou alguma outra nacionalidade imigrante? Islâmica, enfim, refugiados, sei lá… É uma especulação. Quer dizer, existe uma resistência crescente, pelo visto, porque isso é algo sem precedentes, de latinos em relação a um discurso democrata, que sempre foi extremamente favorável aos próprios latinos; os democratas não tão conseguindo dialogar com essas minorias também, eles tão perdendo espaço também junto às minorias, quer dizer, é uma série de problemas que se você contar um a um numa disputa extremamente acirrada, lá no final vai fazer diferença, né.
Cris: É muito interessante a similaridade que tem com o que aconteceu com a gente, né, com quem conversava abertamente com determinado público e contava com os votos dessa parcela da população e de repente não, não recebeu. Então tem uma dissonância entre o que você fala, acreditando que as pessoas querem ouvir, né, e não é necessariamente aquilo que elas esperam, o que mostra o distanciamento do discurso político das pessoas que realmente seriam ali os governados.
Marco Túlio: É acho que aqui foi até mais intenso, né, porque aqui o pessoal virou as costas mesmo, e lá cê teve uma redução do número de latinos que votaram pelos democratas, mas eles votaram pelos democratas ainda em maioria, né.
Tai Nalon: Sim.
Ju: Grande maioria.
Tai Nalon: É uma coisa que não muda de uma hora pra outra.
Cris: Mas é uma mensagem bonitona, né.
Ju: Mas o grande demográfico que ajudou a eleger o Trump é a classe média trabalhadora que viu seus empregos evaporarem com esses grandes acordos, então assim, isso é plataforma de campanha de Trump maciça…
Marco Túlio: Brancos sem curso superior.
Ju: Exatamente. Então assim, quando cê vai ver os demográficos, não aparecia que era tão forte a questão de… a diferença de brancos e não-brancos no voto, e isso faz muita diferença. Então o Trump ganhou majoritariamente entre brancos, e brancos sem escolaridade. Isso é conjunto de demográficos que mais importa pra ele. E aí claro que se faz a leitura do quanto isso é a volta do pêndulo, porque você tem, nesse momento nos Estados Unidos, a discussão do black lives matter, você tem nesse momento nos Estados Unidos a discussão sobre por que que as mulheres ganham menos do que os homens, você tem nesse momento nos Estados Unidos discussão de latinos e imigrantes em geral, refugiados, então você tem uma classe que já tá pressionada por problemas reais de perder a casa, de uma crise recente, de perder o emprego, de que foi traído pelo sonho americano, e tendo que ao mesmo tempo, no mesmo momento, de crise, de dificuldade, ter que discutir o espaço. Dividir espaço e dividir poder. Então é uma volta do pêndulo também.
Cris: Além de perder dinheiro eu tô perdendo poder, né. Terto, como que você avalia as similaridades que a gente tem com essa diferença, ou mesmo o olhar que você tem sobre esse banho de hoje?
Terto: Então… Eu acho o seguinte, o que facilita muito chegar esse outsider, esse cara não-político, esse cara que é empresário, que é administrador, e ele prometer algo e as pessoas comprarem o discurso, começa na ideia da autenticidade. O que o Trump, ele tem de diferente em relação à Hillary? Ele tem a suposta autenticidade, então ele fala mesmo o que as pessoas estão pensando. Então sou um carinha que eu tô lá no meio do estado, no centrão, sem emprego, e tem um outro, o outro é o inimigo, quem é esse inimigo? Ah, são essas feministas aí, são os imigrantes, entendeu, é esse pessoal moderno, esse pessoal de Nova Iorque, que tem essas ideias progressistas, eles tão lá…
Ju: Que inventam um aplicativo e tiram o meu emprego…
Terto: Tiram o meu emprego… Eles são os inimigos, né. E aí tem esse cara que fala, ó, nós temos todo o direito de levantar um muro mesmo, e os mexicanos vão pagar esse muro… “Nossa, que absurdo”, mas, é um absurdo, mas olha, pelo menos ele tá sendo autêntico.

(Bloco 4) 31’ – 40’59”
Terto: tá fora do status quo. Eu acho que não é só você chegar e fazer uma promessa absurda ou uma promessa que não sabe se vai se cumprir ou não, o personagem narrativo, a narrativa do personagem é composta primeiro pela questão da autenticidade, da suposta autenticidade. Mas qual que é a diferença de lá pra cá? Ó, aqui em São Paulo a gente teve essa figura do político que veio de fora, mas o Dória ele é bastante ponderado, né. Ele segue ali o roteiro dele, basicamente. Ele pegou o vácuo, porque ficou uma disputa interna entre qual é o candidato, inclusive existe essa discussão recente da esquerda de fazer umas prévias, né, é uma discussão que chegou agora. Começou a chegar no Brasil de ter prévias, né, a esquerda escolher qual é o seu candidato pra evitar que aconteça o que aconteceu em São Paulo e no Rio de Janeiro também em certo ponto, que é você ter uma disputa, uma divisão, né, dos votos entre dois candidatos supostamente, enfim, de esquerda, progressistas, enquanto alguém passa no vácuo, perde-se votos numa disputa interna, enquanto isso não vai pros votos importantes de fato. Agora, o outro ponto também é que quando você tem hoje, cada vez mais forte o discurso da antipolítica, quem são os personagens que vão conseguir chegar com destaque, esses heróis, acho inclusive essa questão de você começar por baixo nas pesquisas…
Ju: [interrompe] É, o mito do herói, né? Ele é o underdog, né?
Cris: O storytelling tá pronto, né?
Terto: Foi a primeira coisa que o Bolsonaro postou no Twitter depois que o Trump ganhou.
Ju: É, verdade.
Terto: “Contra todos ele chegou lá, isso vai acontecer no Brasil.” Então isso faz parte da narrativa, né? Agora, o que eu acredito também que perdi paralelamente entre os Estados Unidos e o Brasil é: existe um movimento que ainda não surgiu ainda, não veio com força, de pessoas que querem novos candidatos representantes progressistas, que eles sejam mais contundentes em pautas de esquerda e existe essa esquerda status quo, que ela dá os mesmos nomes e os mesmos rostos que as pessoas não confiam mais, ai… sabe? Então, a pessoa que vota, por exemplo, na Hillary é um voto anti-Trump, mas ela não vai…
Ju: [interrompe] Ela não gera amor, né?
Terto: Ela não vai gerar aquela vontade de ganhar novos votos pra outros, sabe?…
Cris: [interrompe] Tanto que muita gente fala que o Sanders, os votos que eram dele não migraram pra ela, né?
Terto: E se migraram, migraram timidamente.
Marco Túlio: Não necessariamente.
Ju: É, até migraram mas não trouxeram novos votos… E eu queria que você falasse um pouco sobre isso, Marco, a Hillary, ela é bem polêmica né? Ela tem bastante análise hoje falando que qualquer outra pessoa teria ganhado… Que ela tem uma rejeição muito forte.
Cris: Vamo partir do seguinte?…
Marco Túlio: [interrompe] Ela não é querida. [risos]
Cris: Ninguém que chega a ser presidente dos Estados Unidos ou um forte candidato a presidente tem uma historinha flor por trás, vai? Não existe isso…
Marco Túlio: [interrompe] Eu acho, assim…
Cris: [interrompe] O mundo da política até pra poder chegar até lá é feito uma série de coisas… é criado um personagem, esse personagem é forte… Então assim, não é um lugar pra você procurar uma história bonitinha.
Marco Túlio: No caso da Hillary é especialmente ruim, né?
Tai Nalon: O problema é exatamente esse, você mencionou exatamente qual é o grande problema da política. Parte-se do princípio de que todos mentem.
Ju: Todos se corromperam pra chegar até lá.
Tai Nalon: E todos se corromperam pra chegar lá. Quem a gente sabe que não se envolveu com política até agora e que portanto não tem um passado duvidoso na política e que pode ser um farol de integridade, ou de não necessariamente isso, mas…
Ju: [interrompe] Talvez não de integridade, mas o “cachorro louco” mesmo, porque como não fez amarras suficientes ela já se comprometeu, ela tá há 20, 30, 40, 50 anos lá… Ela já deu tanta promessa, ela já se amarrou tanto que ela não pode mudar as coisas como são, então assim, o que ficou muito claro nessa eleição é que as pessoas queriam mudança, e mudança não vem de dentro, mudança não ia vir de uma pessoa que já tava comprometida com todos os setores. Então um voto já era muito definido por conta disso, mas eu acho que assim, mesmo isso sendo verdade contra qualquer pessoa, seria contra o Obama, por exemplo, se a gente tivesse discutindo uma segunda eleição dele e ele não tivesse fora do páreo, seria contra qualquer pessoa, mas eu acho que ela tem algumas questões que são independentes do establishment que são questões dela de ter 70% de rejeição… As coisas que a gente discutiu muito tempo nessas prévias e que nada colava nele, no Trump, e as coisas colavam nela porque as pessoas não confiam nela.
Cris: Por que ninguém quer ser amiguinho de Hillary?
Marco Túlio: Não, eu fico pensando o seguinte, que como é que me espanta a nossa priorização de valores, né. O que é que a gente, a gente eu digo humanidade, no caso aqui, os americanos, o que é que eles priorizaram nessas eleições, né. Porque você teve um cara que disse tudo que podia ter dito, assim… de gravação ou não, tudo que podia ser dito na televisão e ele não foi penalizado no fim das contas, né? Então ele disse, ele assediou mulheres, ele fez chacota de repórteres, ele… Enfim, e nada pegou nele, como a Ju falou.
Tai Nalon: E prometeu processar todos se fosse eleito e se não fosse eleito também, depois da campanha.
Marco Túlio: Eu acho que no caso da Hillary sim, ela já vem com um histórico grande que ela carrega um sobrenome pesado, né, pras pessoas que são republicanas, que é o Clinton. Então, o Bill Clinton, apesar dele ter sido um presidente considerado largamente como um presidente de sucesso, ele teve as polêmicas dele também… e a Hillary tava lá do lado dele… Então quando ele teve lá o caso dele com a Monica Lewinsky e ele sofreu o processo de impeachment, mas não foi impedido e a Hillary Clinton ficou do lado dele, foi aí que começou a carreira política dela no Senado, né, foi mais ou menos naquela época, aí já começa a confusão. Ela começou a tomar porrada nessas eleições também porque ela estava com o marido agressor, o marido infiel dela naquela época.
Ju: Porque ela foi conivente…
Marco Túlio: Porque ela foi conivente… Então ela também, uma coisa que é horripilante pra uma parcela dos americanos é que a Hillary Clinton foi investigada pelo FBI e por várias agências por causa da opção dela de ter um e-mail, um servidor de email na casa dela. Então, rapidinho pra quem não sabe…
Ju: [interrompe] Não só por isso, mas também por coisas da Fundação Clinton.
Marco Túlio: Da Fundação Clinton, do que aconteceu em Benghazi…
Tai Nalon: [interrompe] A partir disso, né. A partir dos emails muita coisa surgiu.
Marco Túlio: Só explicar rapidinho porque essa questão do e-mail é falada muito, mas eu não sei se todo mundo sabe do quê que se trata…
Cris: Ela tinha email no Hotmail, né… [risos de Cris, Ju e Tai]
Marco Túlio: Acontece o seguinte, o funcionário do governo americano, assim como em outros lugares, ele tem o e-mail no telefone dele, que é lá o state.gov.tralalá… E aí a Hillary, ela tinha um e-mail pessoal também, só que aí ela queria receber os -emails do governo num único celular junto com os e-mails pessoais dela. Só que isso não era possível porque os e-mails que eram do servidor do Estado, eles só podiam ir pra um tipo específico de dispositivo, se passasse pelo servidor do governo americano tinha que ir pra aquele dispositivo. Aí o que é que ela fez? Ela falou assim “não, eu não quero usar dois celulares, eu não quero ter um celular pra conta do governo e um celular pra minha conta pessoal, eu quero a conveniência de ter só um celular”, e aí o que é que ela fez? Ela fez uma coisa que já havia sido feita antes, então outras pessoas já tinham feito isso e isso era na margem da lei, não é ilegal. Aí o que é que ela fez, ela pegou um servidor de email, basicamente um computador, colocou na casa dela e do Bill Clinton…
Cris: [interrompe] É muito tosco isso…
Marco Túlio: Em Arkansas e ela começou a receber e-mails como Secretária de Estado Americano num computador que ela própria configurou. E a questão toda…
Cris: [interrompe] O sobrinho dela configurou. [risos]
Marco Túlio: A questão toda em volta disso é a fragilidade do sistema, que o pessoal pensou o seguinte…
Ju: [interrompe] Mas ela era só Secretária de Defesa, né? Que não é nada muito assim, complexo…
Marco Túlio: Ela é a Ministra de Relações Exteriores mais Secretária de Estado, que a gente não tem a figura de Secretário de Estado no Brasil, mas ela era basicamente a Ministra de Relações Exteriores dos Estados Unidos e ela recebia muito material confidencial, muito e-mail sensível pras comunicações americanas. E aí você tem um servidor de e-mail que não é validado pela infraestrutura do governo americano, isso pra muitas pessoas é uma ofensa imperdoável.
Tai Nalon: Eu queria só um parênteses que é: por muito menos houve uma crise diplomática entre Brasil e Estados Unidos em 2013 com a Dilma e o Obama, que foi o escândalo da NSA, da espionagem de e-mails e telefonemas, enfim.
Ju: Perfeitamente.
Tai Nalon: E muito do problema levantado naquela época no governo brasileiro era como que os celulares do Palácio do Planalto não são selados, digamos assim, pelos sistemas de informação do próprio governo? Como que é possível a NSA furar um suposto bloqueio, que no caso não existia…
[Risos da Cris]
Ju: Sim…
Tai Nalon: Então, enfim, gerou um escândalo diplomático muito sério.
Ju: A questão é que eu acho que o Marco, ele tá convenientemente apresentando o caso sob a melhor luz, como se fosse coisa pouca o fato de você colocar dados altamente confidenciais do governo em risco por mera comodidade sua.
Marco Túlio: Isso.
Cris: Não fecha na minha cabeça isso.
Ju: Entende? Então assim, é bizarro isso, mano.
Cris: Vocês querem me dar um Android? Eu gosto é de iOS, então eu vou fazer um só pra mim.
Ju: Não, e a gente não tá falando de coisa pouca, a gente tá falando… Assim, você quer receber os dados do Estado de qualquer jeito, do jeito que ‘cê quiser porque você não achou conveniente o jeito que o técnico de TI resolveu, que eu sei como que a galera de TI sempre complica nossa a vida, tô com você, Hillary! Mas assim, não dá pra diminuir a questão. E o que eu acho que ficou mais forte pras pessoas, independente do real fato, em termos de narrativa como o Terto tava falando é “ela pensa que tá acima da lei, e sabe o que é que a gente diz? Que ela tá mesmo, ela pertence à uma das famílias mais poderosas dos Estados Unidos, então ainda que o FBI investigue ela, ela não vai ser punida.” Então mesmo que nessa história específica não fosse um caso de injustiça grande, a história contada, a maneira de que ela foi lida pelo povo tem muito disso, de que ela é uma princesinha e que nada vai tocar ela.

(Bloco 5) 41’ – 51’50”
Cris: Eu acho que tem responsabilidade de informação, sabe? Isso queima o filme. É perceber o quanto você não está sendo responsável com informações que envolvem a vida de milhares de pessoas. Inclusive, dentre essas, de pessoas que servem o exército americano. Que os americanos amam isso, né? Eles são super patriotas, então… a vida dos soldados americanos.
Marco Túlio: A ofensa não foi ter configurado o e-mail como, né? Já havia acontecido antes. Então, o crime dela não foi ter feito essa… Digamos assim, esse capricho aí, essa comodidade…
Cris: [interrompe] Esse cambalacho.
Marco Túlio: Esse cambalacho de colocar… Então, a ofensa foi que quando descobriram que não era ilegal, eles falaram assim “Não, então a gente precisa verificar os seus e-mails porque a gente precisa garantir que nenhum documento considerado sigiloso, né? Classificado aí como secreto ou ultrassecreto foi parar nas mãos de pessoas que não deveria parar. Então a gente precisa de todos seus e-mails. A gente gostaria de verificar todos seus e-mails”. Aí depois que a justiça emitiu essa ordem, um subordinado dela apagou 33 mil e-mails. E aí, essa…
Ju: [interrompe] Faça a conta.
Marco Túlio: Essa é a questão, entendeu? Porque aí eles… 33 mil e-mails não… não são todos e-mails que ela tinha. Eles ainda investigaram muitos e-mails e não encontraram nada. Mas o Trump bateu nessa tecla a eleição inteira “A Hillary Clinton deletou 33 mil e-mails depois de ter sido indiciada…”
Ju: Ela foi pega com a boca na botija e não vai pagar. Essa é a questão. Todo mundo viu, a boca dela tá molhada ainda do leite que ela roubou e ela não vai pagar, mano. Não vai pagar.
Marco Túlio: E teve o lance em Benghazi também, que é aquela embaixada americana em que teve um atentado terrorista. Pessoas… Soldados americanos e embaixadores, funcionários da embaixada, morreram. Teve uma investigação, imediatamente ela não classificou o ato como ato terrorista. Ela só, né? Foi uma coisa violenta e tal. E quando investigaram, descobriram que sim, foi um ato terrorista e foram investigar se teve alguma displicência da parte dela, alguma irresponsabilidade e tal. E aí as pessoas fizeram um julgamento precipitado no sentido de que “Cara, você não falou que foi ato terrorista. Você tentou esconder. Então é porque você tá me escondendo alguma coisa. Então você é culpada pela morte das pessoas lá, lá na embaixada em Benghazi”. E aí tem essa questão em cima dela também. Que ela é considerada uma traidora por ela ter tido descuidos durante o secretariado dela na… na… sei lá, na parte Estado Americano, entendeu? Então tem essas questões que fazem o pessoal tipo, ter…
Ju: [interrompe] Desconfiança.
Marco Túlio: Gastura. Olhar pra Hillary e falar assim “Cara, ela é corrupta, não…”. E aí sem falar também do ponto que você levantou sobre a fundação Clinton…
Cris: [interrompe] Exato.
Marco Túlio: Que foi a fundação que o Bill Clinton montou depois que ele saiu da presidência. Que é o que os presidentes fazem mesmo. Depois que eles saem, eles usam a influência dele para angariar recursos e…
Tai Nalon: Aparentemente não tá muito vantajoso abrir fundações… Ex-presidentes abrirem fundações se tiverem algum interesse político posterior… Recomendo… Alô, Temer! Recomendo não abrir a fundação Temer….
Cris: Não abrir…
[risos]
Marco Túlio: O maior problema, que eu ainda acho que é um problema não só da Fundação Clinton, mas do governo americano como um todo. E aí, eu vou falar um pouco disso mais no… nas nossas recomendações no fim, de coisas para assistir. Que é o tipo de apoio que a Fundação Clinton recebeu ao longo dos anos e de quem. E um dos principais atores aí no caso é o governo da Arábia Saudita. E aí o pessoal fala que a Fundação Clinton recebe dinheiro da Arábia Saudita e tal. E a Arábia Saudita é um país que é completamente controverso, né?
Ju: Não… E os próprios discursos dela pro Goldman Sachs, é isso?
Marco Túlio: E tem, e tem também os discursos que ela fez depois que ela saiu…
[risos]
Ju: Miga, você não tá se ajudando, miga…
Marco Túlio: Mas aí, olha só, eu não vejo isso como um problema não, sabe? Você ser pago para dar palestra em banco e tal, isso não é um problema intrínseco.
Ju: [interrompe] Não é problema. Mas a questão é como as pessoas lêem…
Marco Túlio: [interrompe] O problema é que eles queriam… Eles queriam…
Ju: Que você tá deitando na cama… É um jogo muito incestuoso, Marco. Você vai fazer a regras pro sistema financeiro, você vai deixar a classe operária se ferrar, mas vai garantir a grana que vai salvar os bancos de quebrar. Então, o que essas pessoas…
Marco Túlio: Não, mas quem fez isso foi o Obama.
Ju: Ok. Que pra eles é a classe dos políticos. É essa gente que dorme com o inimigo.
Marco Túlio: Sim, sim. Mas o problema foi que ela não abriu o roteiro das palestras que ela deu. Esse foi o problema. Descobriram que deu um tanto de palestra, aí falou assim “Então beleza…
Cris: [interrompe] Hillary não quer contar nada pra ninguém.
Marco Túlio: …A gente quer os scripts, os roteiros das palestras”. Então ela “Ahn… ahn ahn… não vai rolar”. E aí quando começou a vazar…
Cris: [interrompe] Deletaram junto com o e-mail.
Marco Túlio: Começou a vazar nessas eleições por causa do nosso amigo Julian Assange, que é persona non grata, né? Odeia ela. E realmente ele fez de tudo que ele podia fazer pra influenciar a eleição. E ele fez e acabou conseguindo. Então ele foi abrindo, publicando coisas que diziam, dentre elas, inclusive, discursos dela… Um discurso que ela deu aqui no Itaú, um discurso que ela deu lá nos Estados Unidos e tal. E um dos que ela deu no Itaú, ela fala que um dos sonhos dela era que o mundo não tivesse fronteiras, né? Que fosse tudo livre e tal…
Tai Nalon: Sem fronteiras…
Marco Túlio: E aí… [risos] Enfim, todo mundo caiu em cima dela e todo mundo odeia ela até aí…
Tai Nalon: Esse discurso em específico é muito paradigmático, assim. Ele foi citado em todos os debates. Nos três debates americanos, mas sobretudo, o último, que teve uma cobertura ostensiva. O PolitiFact, que é um site de checagem de fatos… O principal site de checagem de fatos nos Estados Unidos. Ganhou o Pulitzer pela cobertura de 2008, do Obama. Eles checaram essa afirmação do Trump “Hillary quer fronteiras abertas nos Estados Unidos”. E o que eles descobriram, basicamente, nessa palestra do Itaú. O Brasil entrando no circuito…
Cris: Olha como é que a gente entra nas coisas… Olha isso…
Tai Nalon: Exato. É que ela queria um mercado comum para o hemisfério, com livre comércio e fronteiras abertas e em algum momento no futuro, com energia verde sustentável. Basicamente, o discurso dela, que não foi revelado, era sobre energia verde. É lógico que isso se contrapõe também totalmente à agenda do Trump. O Trump tem uma agenda ambiental bem complicada. Inclusive, é uma das grandes questões da campanha dele. Mas, quer dizer, você não presta contas pra sociedade sobre o que que você falou, em que circunstância, quando, como, quem eram os partícipes dessa reunião, dessa palestra, enfim. Você abre margem pra um outro candidato, seu oponente usar aquele… aquela declaração como quiser…
Cris: É esse que é o problema. Você percebe… A Hillary, ela é muito mais criticada pelo que ela não fala do que pelo que ela fala. Então, ela esconde os e-mails, ela esconde a palestra. Aí, a relação bizarra que tem na Fundação Clinton, que atinge, até pulou aqui… Mas o fato de ser Arábia, de ser Qatar que alimenta muito aquilo que é o mesmo dinheiro que muita gente fala que alimenta o Isis, criou e alimenta o Isis. Então, é tudo meio nebuloso. E vem compactuar com a ideia de que políticos não são transparentes.
Ju: E ela tá há muitos anos servindo como política. Então, assim, se as pessoas tão cansadas da situação como ela está, ela sim responde por isso. E ela pode até virar para você e dizer “Mas não fui eu que fiz tudo isso. Eu não fiz tudo sozinha. Eu tava lá lutando contra várias coisas que as pessoas estão reclamando”. Mas ela carrega esse peso de ser parte da aristocracia política, de ser uma daquelas pessoas que sempre esteve lá, que sempre fez parte disso.
Marco Túlio: Gente, mas como, que isso… assim… Já puxando para um lado bem pessoal, porque isso me revolta mesmo. Mas como que isso pode ser pior. Tudo bem, né? Você vai colocar uma pessoa ali que ela é… Ela é a pessoa ali que vai manter as mesmas coisas. Como que isso pode ser pior dum cara que diz que ele agarra mulheres pela genitália, sabe?
Cris: Então…
Marco Túlio: Como??? Como?? Não dá pra entender! Sério!
Ju: Deixa eu dar uma resposta que eu achei muito boa…
Marco Túlio: Eu fico revoltado, não tem jeito.
Ju: A analogia da caixa de chocolate do Forest Gump. Que é, você não vai saber o que você tem até você abrir pra comer. Então… A gente sabe exatamente o que a gente vai ter se a Hillary assumir. Mais corrupção, possivelmente mais inquéritos, senão dela, dos aliados próximos. Uma continuação da agenda do Obama, junto também com o establishment republicano. Porque eles… tem uma parte de que votou no Trump desconfia igualmente da Hillary e dos republicanos.
Cris: Então, acho que a Hilary tá pagando por muita coisa que ela fez, e o Trump pagando pelo que ele falou.
Tai Nalon: Eu…. É…
Marco Túlio: Ele tá pagando que ele foi eleito. Ele não tá pagando nada… ele tá…
Cris: O que eu to querendo dizer é… Uma coisa é pôr na balança o que é fato, o que foi feito. E é outra coisa colocar na balança o discurso histriônico que ele tem.
Marco Túlio: Não, mas gente, ele não abriu as contas dele. Ele admitiu no debate que ele não paga imposto, que ele não paga imposto e que…
Cris: [interrompe] “Quem paga imposto é só otário.”
Marco Túlio: E ele ainda deu um jeito de apontar o dedo e falar “A culpa é sua, Hillary, porque você estava lá no senado e você não fez nada. Então eu não pago mesmo”. Gente, não! Sério…
Cris: É surreal.
Ju: Marco inconformado, hashtag inconformado.
Tai Nalon: Tem uma pesquisa, um instituto que tem ganho cada vez mais espaço nos Estados Unidos que é o Pew Research Center, que eles têm uma… um braço de tecnologia supergrande e tal, monitora a internet de uma maneira sem precedentes, no mundo, talvez. E, na semana que antecedeu… Na semana que antecedeu, não, no dia 7 de novembro, ou seja, um dia antes do início do fim das votações.
Cris: Anteontem.
Tai Nalon: Do último dia das votações nos Estados Unidos. Divulgaram a pesquisa que mostra que, alguns usuários de mídias sociais são mais suscetíveis a mudar de opinião, ou de formar sua opinião, ou de ter alguma visão crítica a respeito dos candidatos nas eleições. E que esses usuários de redes sociais, se identificavam muito mais como democratas. Ao que a gente deduz, e isso é uma dedução, que estão menos inclinados à informação consumida nas redes, os eleitores do Trump. Por quê? Porque você tem uma série de veículos trazendo cotidianamente denúncias de assédio…
Cris: O cara é um escroto.
Tai Nalon: Ele foi processado por ter retirado à força famílias de um prédio, né? Que era administrado pela corretora.
Marco Túlio: Racista também.
Tai Nalon: É, exatamente. O Pew Research Center basicamente mostrou que essas pessoas estão menos inclinadas a mudar de opinião mesmo. Então, assim, você tem um olhar muito cético sobre a Hillary porque os democratas têm uma tendência a olhar com mais ceticismo as informações que são passadas por ela. Os eleitores do Trump nem tanto. Isso já tinha sido revelado há algum tempo atrás, isso antes do começo da campanha propriamente dita. Ainda na pré-campanha, nas corridas, dentro dos partidos, nos Estados Unidos. Que democratas, nos Estados Unidos, né? Eles tendem mais a se informar através de plataformas de checagem. Novamente, fazendo lobby pelo Aos Fatos. É um perfil mais liberal mesmo. O liberal que se informa por meio de veículos tradicionais, The New York Times, Washington Post, é… Os semanários americanos… New Yorker… enfim. Quer dizer, é… Existe um problema de diálogo aí das redes com uma parcela muito significativa da população americana e isso, acho que não seria extrapolar, dizer isso em relação ao Brasil e que é um fenômeno que a gente possivelmente… Essas bolhas, né? Criadas, sempre existiram e eu acho que agora tá ficando visível pra gente porque a gente tem um Facebook que mostra isso cotidianamente. Reafirma pra gente cotidianamente. “Olha só, a gente vive em bolhas. É difícil furar”.

(Bloco 6) 51’50 – 1:00’59”
Cris: [interrrompe] O que cê tá querendo dizer é que essa escrotice toda que a gente viu day after day, a gente viu todo dia discurso de racismo, homofobia, xenofobia, intolerância, uma agressividade excessiva, eu vi… eu, Cris, vi tudo isso, em videozinhos de YouTube. Em videozinhos que rolaram na minha timeline de redes sociais diversas. Ou seja, quem não está nesse universo, talvez nem tenha tido acesso a essa informação.
Ju: Eu vou fazer só uma afirmação pra responder isso, mas depois eu vou pegar o gancho, aproveitar que a gente tá falando da bolha de quem votou no Trump, pra falar da nossa bolha: que talvez as pessoas vejam e entendam e valorem – não necessariamente elas não valorem essas coisas – mas que as promessas dele têm um valor maior. Então quando ele fala “eu vou acabar com essa palhaçada de Wall Street”, o cara é misógino, tudo isso é ruim, a gente vai resolver isso aí em algum momento, mas, cara, isso é maior! E aí é escala de valores, porque você não vota exatamente na proposta que você quer, cê não tem essa opção. Uma pessoa que seja assim, assim, assim do jeito que cê quer. Então você é obrigado a escolher. E o que ele falou foi muito claro, ele prometeu emprego pras pessoas. O quanto dessa discussão sobre machismo, racismo interessa pra pessoa que não tem pão na mesa? Quando você tá falando de emprego das pessoas, o quanto essas discussões que a gente ficou tendo durante muito tempo sobre o Trump, sobre quem ele é e a capacidade que ele tem de ser uma pessoa com ‘perfil presidenciável’, que se falava muito dele: “não, ele não tem envergadura moral pra ocupar a cadeira mais importante do mundo”, o quanto essa discussão tava longe da discussão que as pessoas queriam ter, que era: “eu quero que acabe com essa palhaçada”. E aí eu acho importante o input que você deu, Tai, de mostrar que: “ah, que democratas são mais suscetíveis a ser céticos em relação a informações e buscar checagem de dados”, mas eu acho importante aproveitar isso para falar sobre como a nossa bolha nos enganou, que a gente achou que é, quando a gente viu, está no Mamilos gravado, dito, quando a gente tava falando de corrida das primárias: “o Trump nunca passa das primárias”. Está gravado lá! Cê pode ouvir! E assim, era impensável que um bufão que nem o Trump…
Marco Túlio: Quem nunca, né?
Ju: É uma piada, gente, cês tão de brincadeira…
Cris: [interrompe] Não foi só uma vez, não, tá? Não é só uma vez…
Ju: “Tão de brincadeira! Isso é impensável!” Então, assim: Qual é a nossa distância da realidade? Porque a gente tão crítico, não é? Lê as coisas tão bem… a gente que detêm toda a inteligência e boa vontade…
Marco Túlio: [interrompe] Nós que estamos do lado certo da história, né…
Ju: Com certeza! Então agora qual é a autocrítica que a gente tem que fazer? Que a gente errou feio mesmo!
Marco Túlio: Teve um texto que rodou hoje, que tava.. uma autocrítica bem interessante assim sobre essa questão do lado liberal, é… que falava como a gente tá acostumado com essa ideia de que a gente tá no lado certo da história, de que nós já decidimos como vai ser o futuro e que o futuro tá determinado por essa busca desses valores, que…
Ju: [interrompe] que são universais…
Marco Túlio: que o nosso lado já definiu quais vão ser, né? E que essas pessoas que tão do outro lado são pessoas burras e…
Ju: [interrompe] que se atrasaram no trem da história…
Marco Túlio: …e a gente já assumiu uma posição que a gente nem discute, sabe? Tipo assim: “cara, se você não entende, eu não vou nem conversar contigo, cê tá tão atrasado, cê precisa se atualizar, a gente já tá em 2016.” Né, qual foi a frase ano passado do [Justin] Trudeau, quando ele assumiu lá no Canadá? #coração aí pro Trudeau, que é magnífico, mas ele falou gente, perguntaram pra ele: “Por que que o seu gabinete, por que que o seu ministério é tão diverso?” e ele falou “Ah, porque é 2015”. E aí isso reflete uma sensação de que a gente já assumiu que 2015, ou 2016 ou o ano em que a gente está, é o ano em que determinadas questões que, pra gente, são odiosas, elas já não deveriam existir, e todo o resto tem que acompanhar.
Ju: [interrompe] Não é só isso. Elas não deveriam ser discutidas. “Eu não me digno a discutir”, tipo: por que que seu gabinete tem tantas mulheres quanto homens? “Meu gabinete tem tantas mulheres quanto homens, porque eu busquei os melhores profissionais, e quando eu busquei os melhores profissionais, vieram tanto mulheres quanto homens, …”
Marco Túlio: [interrompe] Representatividade… Sim, sim.
Ju: .. não, eu não me digno, porque é 2015, gente, vamo lá!
Marco Túlio: [interrompe] Porque a gente já tá numa situação e aí esse texto, a gente pode até colocar nas referências; eu consegui traduzir só metade, mas a gente coloca nas referências, ele fala de um momento em que, depois que o muro de Berlim caiu, depois que a União Soviética ruiu…
Ju: [interrompe] Foi desmantelada.
Marco Túlio: …foi desmantelada, assumiu-se uma postura no ocidente de que a vitória do capitalismo foi completa. Então não é uma questão de que nós precisamos alcançar esse futuro grandioso e próspero que estamos buscando…
Ju: [interrompe] Não é uma construção contínua, foi feito em algum momento e agora é dado.
Marco Túlio: …é uma questão de manter. Conseguimos, a gente venceu, agora a gente tem que manter isso. E aí, a questão toda desse texto é que assim: a gente tem que parar, já que estamos em 2016, a gente tem que acordar, olhar pro lado, e identificar e reconhecer essas visões divergentes que ainda existem; aceitar que a intolerância ainda existe sim, que ela é um aspecto real…
Ju: [interrompe] Sempre vai existir.
Marco Túlio: … que é uma luta constante, arregaçar as mangas e partir pra discussão. Partir, que o jogo não tá ganho.
Ju: [interrompe] E sem arrogância. Sem prepotência, sem achar que “bom, a gente que faz checagem de fatos, a gente que é mais crítico…” Não, a gente não é. Todo mundo tem ponto cego também. Todo mundo aceita de dado a sua parte de explicação do mundo, né? Então, tem um texto bem legal também que eu vou colocar pra vocês a referência, que fala sobre o nosso cérebro de lagarto. Que, em situações de incerteza, a gente fica inseguro e reage baseado no medo. Então, como que a gente toma decisões baseado em cenários de incerteza que nos deixam ansiosos? E aí é o medo que manda. E também é o medo pra gente. A gente não é diferente. A gente não é uma superclasse de ser humano, que raciocina melhor do que os outros, entendeu?
Marco Túlio: É.
Cris: É, mas eu volto um pouco nas redes sociais, porque o fato da gente morar um pouco alicerçado nisso nos dá a impressão que todos também estão. Eu volto de novo pro Brasil, onde 50% da população não tem acesso à internet. 50% é tipo… metade! Então, quando a gente fala assim: “ah, mas todo mundo viu! Todo mundo sabe!” Quando a gente fala assim: “Hoje, os meios de comunicação tão aí. Todo mundo tem acesso à informação!”. Não é bem assim. Têm lugares que a informação chega de maneira muito escassa. E nem é uma questão de querer reforçar o próprio ponto de vista. Essas pessoas não tem, elas não conseguem ter um gancho de apoio pra nivelar o certo e o errado, onde o discurso que chega é um só. E principalmente nesses lugares dos EUA onde as pessoas estão clamando, sabe, quando cê tem uma necessidade tão emergencial quanto pagar a conta básica de casa e colocar comida na mesa, eu acho que importa muito pouco o que o Trump tenha dito que seja homofóbico, xenófobo, porque na verdade as pessoas tão mais preocupadas em sobreviver. E se esse cara vai ajudar a sobreviver, eu pago o preço, entendeu? Então, não é uma questão, assim, necessariamente de um ser humano egoísta. Ele tá falando com um cara que tá passando falta de necessidade básica, sabe.
Terto: E aí você chega nesse cara e você fala assim: “Olha, é isso aí, vamo comigo! Tem muita gente que quer tocar também, eu acho, quer ver o circo pegar fogo, pra ver se sai dali alguma coisa, né?
Ju: É, eu até tinha pulado isso, mas é legal que cê trouxe, que a gente… é, dificilmente você analiiiisa, em análises políticas, o cachorro louco, né? E a gente até falou isso no último programa, de eleição municipal, que é assim: tem uma parte dos números, que é difícil de você mensurar, que é o quanto as pessoas, na hora que chegam ali na frente, querem é botar o circo pra pegar fogo! “Eu vou é jogar merda no ventilador!”
Cris: [interrompe] Esse voto tem um nome, esse voto chama: “agora vocês vão veeeeeer!”
Terto: É… [risos]
Ju: Não, sabe, tipo… “eu tentei, eu tentei, eu não gosto das escolhas que tem, quero ver o que é que acontece, vou pegar pipoca, vou sentar e vou assistir. O que que acontece se entrar esse cara aí?”
Cris: Eu gosto muito disso que a gente tá falando, “nós, que estamos do lado certo e vamos te explicar”, tem uma coisa muito interessante nisso, que passa até pela educação, né? Que quando eu chego e falo assim, “peraí, deixa eu te ensinar isso; né, deixa eu te educar”, eu já tô propondo que eu tenho mais que você, que eu tenho o certo e que você não tem. E aí que, mesmo gentilmente, eu estou vindo aqui te colonizar. Então a gente não trabalha…

(Bloco 7) 1:01’00” – 1:11’44”
Terto: [interrompe] Colonização gentil… [risos]
Marco Túlio: [interrompe] “Tô te fazendo um favor”, né.
Cris: Né? “Tô te fazendo o favor de te colonizar com essa verdade tão maravilhosa que eu trouxe pra você, que é universal”. E que na verdade, a gente deveria tá trabalhando com troca de conhecimento, né? Porque conhecimento todo mundo tem. É uma aprendizagem mútua. Então, eu acho que a gente tem alguma coisa pra aprender com esse recado, com essa eleição aí… Quem são, onde nascem os votantes de Trump, o que eles desejam, porque até hoje ninguém sentou pra conversar. Essa falta de diálogo entre os dois espaços – que existe hoje no Brasil, existe nos EUA – tá posto aí à prova e qualquer tentativa de consertar a sociedade é uma tentativa colonizadora.
Ju: É, eu queria deixar bem claro, um pouco mais claro aquilo que eu falei do cérebro de lagarto, né. Vou só ler uma frasezinha só, falando assim: “E se eu dissesse que a totalidade da sua visão de mundo não tem qualquer relação com informação ou fato? A política não é simplesmente matéria de julgamento. O posicionamento político de cada um, inclusive você, progressista, raça pura e iluminada, provém das suas necessidades psicológicas. Indivíduos ansiosos, devido à incerteza que os cerca, serão atraídos por mensagens que oferecem a certeza. Esse é um comportamento enraizado em todos nós como mecanismo de defesa, de repúdio às incertezas, ainda que o preço a pagar por isso sejam escolhas erradas, que acabem, inclusive, por aumentar as mesmas incertezas que buscamos extirpar”.
Tai Nalon: Freud explica.
[Risos de todos]
Cris: “Narciso acha feio o que não é espelho.” Pra mim, é uma grande decepção o Trump ter sido eleito. Não era uma coisa que eu queria, não era uma coisa que eu desejava. Acho que tem um outro salzinho pra jogar aí, já que a gente tá falando sobre isso… Eu acho que realmente essa eleição municipal e essa eleição nos EUA, definitivamente nós estamos entrando na era da desinfluência. Pra mim, isso ficou muito claro. Porque: não foram pesquisas, não é o político que convence…
Terto: Não foram os vingadores.
Cris: e não são os atores de Hollywood. Isso, isso me deixou assim… pasmada. Porque tava toda aquela classe artística, maravilhosa, todos aqueles atores maravilhosos, inclusive agora tô esperando ver o…
Ju: Mark Ruffallo.
Cris: …nu!
Ju: Não vai ver, era só se ela ganhasse!!
Cris: [Risos] Mas, aquele tanto de gente ali fazendo aquelas músicas que eles sempre fazem, né? A Lena Dunham, todo mundo que é tão inteligente, tão… famoso, apoiando, endossando a Hillary…
Ju: [interrompe] Ganharam os votos que eles tinham que ganhar, que é da galera do litoral, mas o cinturão do meio…
Cris: Não adiantou naaaada pra mobilizar.
Marco Túlio: [interrompe] Mas agora, agora pode rolar um movimento contracultural aí de reação ao Trump, eles vão ter a criatividade deles estimulada pra compor.
[Risos da Cris]
Ju: [interrompe] Eu conheço um movimento aqui bem cultural de reação ao Impeachment que deu o que falar…
Cris: [Rindo] Vamo lá, Tai.
Tai Nalon: Não, eu queria, na verdade, fazer uma defesa desses pressupostos que a gente tá especulando aqui, que estão superados ou que existe uma crise de interlocução. Os atores, Hollywood, a mídia, os institutos de pesquisa… é bastante normal que no day after de uma eleição a gente busque os culpados pelo fracasso do outro lado. Certamente, se a Hillary vencesse, estaríamos aqui dizendo: “Não, porque o Trump… ele é um louco, né?
Cris: [interrompe] “É o mínimo que eu esperava…”
Tai Nalon: …ele é um misógino racista, agressor de mulheres, que, enfim, óbvio, deu a lógica, né?
Ju: [interrompe] E teria dado a lógica, se fosse.
Tai Nalon: … e foi por uma margem muito pequena, então, não é… qualquer especulação que a gente for fazer neste momento, a gente não pode esgotar as grandes instituições democráticas… honestamente, a gente não pode deixar esgotar mesmo as grandes instituições democráticas, como o jornalismo, por exemplo. E isso eu falo, assim, a gente só sabe que o Trump mente enlouquecidamente, porque existiam checadores que iam lá, atrás das coisas que ele falava, e investigadores e uma série de outros profissionais envolvidos, que diziam: “olha só, a gente sabe que ele mente, porque pessoas foram atrás da verdade”. Ou que a Hillary tem problema com os seus e-mails e com a sua Fundação e com o atentado de Benghazi, porque foram pessoas lá e investigaram. Então, assim: calma! Assim:/// não entremos em pânico. As coisas, elas se assentam, eventualmente. E o Obama disse algo, que é algo que, inclusive, o Temer já disse isso, recentemente: “a presidência da República, e a vice-presidência da República e no caso, dos EUA, é muito maior que um indivíduo”. E isso, ainda mais nos EUA: é o 45º presidente deles num período de democracia…
Marco Túlio: [interrompe] Sem interrupção.
Tai Nalon: … sem interrupção. Então assim: é esquisito? É. É sem precedente? É. Mas a gente tá falando de uma instituição secular. E isso se dilui durante quatro anos. Lógico, a gente tá num momento de aceleração de crise, mas… né? Quatro anos atrás, o que é que a gente esperava? A gente não sabia nem se o Obama ia ser reeleito. E hoje ele surfa na onda de uma popularidade sem precedente. Acho que é uma…
Cris: [interrompe] Não é uma ciência exata.
Tai Nalon: Existe um chavão na política, que é um chavãozaço, assim: “a política é dinâmica.” E, de fato, não há nada mais verdadeiro do que isso.
Ju: Sim, porque você vai ser submetido à realidade. Tudo o que ele falou, ele podia falar e tinha frescor para falar, e tinha credibilidade para falar… as críticas não aderiam à ele porque ele não tinha experiência, não era responsável por nada, entendeu? Agora, ele vai entrar no mesmo joguinho que as pessoas odeiam. Porque, pra fazer as coisas acontecerem, ele vai ter que jogar pela cartilha. Mesmo que ele roube no jogo, como o Marco tava falando antes, de usar o populismo e o que ele sabe de fazer como um apresentador de televisão, de usar as massas que votaram nele, pra fazer o sistema político girar do jeito que ele quer. Então ele fala: “olha, eu não só ganhei como presidente, como eu elegi o [a] Câmara Legislativa e o Senado, e eu vou votar o próximo juiz”, as pessoas sabiam disso. Quando o juiz Scalia morreu, a gente até falou no Mamilos sobre isso, porque isso era muito importante.
Marco Túlio: [interrompe] Ministro do Supremo, né?
Cris: É. “O pêndulo”.
Ju: É, Suprema Corte, é o poder maior às vezes até do que o do presidente. Então, assim, “eu tenho o poder de fazer as leis, de julgar as leis e de executar as leis, tudo na minha mão! Então, vocês vão fazer o que eu prometi em campanha”. Claro que ele vai usar isso a favor dele, isso é um poder que, antes, o Obama, por exemplo, nunca teve. Então, é uma situação sem precedentes. Mas de igual maneira, ainda assim: é o jogo. Ele vai jogar o jogo e vai sofrer reveses do jogo. E as pessoas não vão ter paciência com ele. Muito provavelmente, não vão ter paciência.
Tai Nalon: É, ele é um outsider no Partido Republicano, né?
Ju: É, mas não é ‘O Aprendiz’, entendeu? Que ele faz o que ele quiser. Não é. O jogo não é esse. Ele não vai conseguir fazer… levantar muro do dia pra noite… as dificuldades e a realidade vão se impor.
Cris: Não, e ele tanto sabe disso, que bobo é nóis, que tamo aqui falando disso… mas ele tanto sabe, que o discurso dele já foi tão apaziguador, foi tão ‘vamos lá’, eu acho que…
Marco Túlio: [interrompe] é, mas aquele discurso ali foi muito QLN ali… a campanha dele que…
Cris: …eu acho que precisa-se aguardar agora pra ver quem vai governar: se é o Trump do discurso estriônico, lá, agressivo e que falou muita porcaria ou se é o cara que sabe que tem uma cartilha, “peraí, o mercado responde”, “peraí, o que é que vai acontecer?”, e vai abaixar o tom. Até porque ele tem por trás – pelo lado, não sei bem como que é aquela relação ali – mas ele tem um vice-presidente que tem looooonga data de histórico político pra trabalhar ali com ele.
Marco Túlio: Eu queria fazer um contraponto, Tai, em relação ao que cê disse, pelo seguinte: eu não sei até que ponto vai ser diluído mesmo, essa coisa do Trump e tal, a gente tá… realmente a gente tá nesse frenesi assim pós-eleição, um dia após do que aconteceu,…
Ju: [interrompe] Não, “dia após” não, aconteceu hoje, gente, de manhã!
Marco Túlio: É, a gente ainda tá nas 24 horas…
Ju: Nos deem um desconto, que a gente tá… digerindo isso aí!
Cris: Acordando com o Trump no cangote!
Ju: A gente não tinha nem tomado café quando isso aconteceu, sabe?
Marco Túlio: Não vamos esquecer o seguinte: de algumas promessas que ele fez. Ele prometeu reforçar a indústria do carvão, por exemplo. Que vai contra os ditames dos acordos internacionais; inclusive, o país é signatário, Estados Unidos é signatário e que ele pode inclusive recuar, causando um efeito em cascata em outros países, de acordos que visam o bem-estar do planeta aí. Queria dar só um exemplo, assim: como que ele representa um perigo real mesmo…
Ju: [interrompe] E imediato.
Marco Túlio: …e imediato. Tem uma matéria da Scientific American que mostra quem que ele ia indicar pra Agência de Meio Ambiente; que lá dos EUA, que é a EPA, que é a Environment Protection Agency
Ju: [interrompe] Katia Abreu.
Marco Túlio: … que é a Katia Abreu… [risos]. Não, não é a Katia Abreu no Brasil.
Ju: [interrompe] [Risos] Não, mas é um bom exemplo.
Marco Túlio: …foi, foi a Marina Silva durante um tempo e tal… E aí ele iria colocar, ele disse em setembro, no fim de setembro, que ele iria colocar um cara que é negacionista das mudanças climáticas.
Ju: Tipo a Katia Abreu.
Marco Túlio: Não, não sei se a Katia Abreu é, mas assim, ele colocaria um cara, que ele não concorda…
Cris: Não acredita no efeito-estufa…
Marco Túlio:…com 99% do que a comunidade científica tá dizendo em relação à intervenção do homem nas mudanças climáticas. E aí, coloca isso em perspectiva, gente. Que a associação de rifle americana tá por trás dele também, que ele tá apoiando. Os posicionamentos científicos dele são altamente controversos, ele vai contra a comunidade científica. Ele é uma pessoa que não sabe e não faz a menor ideia de como usar tecnologia. Ele não usa computador; ele não lê. Então, a gente tem uma pessoa no assento da nação mais poderosa do mundo, com poder de caneta pra dar ordens executivas, pra… ele pode causar estragos muitos grandes, sim, sim!
Ju: Então, isso foi uma das coisas… quando eu tava estudando pra pauta quais são os impactos da eleição dele, um subproduto é essa discussão, que obviamente, cê imagina qual é o círculo em que isso tá sendo considerado positivo, que são os liberais, considerando que de uma maneira ruim, mas talvez a única maneira que realmente colocaria isso em pauta, os americanos vão ter que se voltar pros princípios de equilíbrio de poderes, de como que uma pessoa só detém tanto poder. Porque, agora vai ficar muito claro como um cachorro louco tem um poder de caneta gigantesco nos EUA.
Marco Túlio: Não, não só isso, Ju, pelo seguinte: ele tá montando uma equipe de pessoas que tão falando sim pra ele, tá? Ele tá colocando ali pessoas que concordam com as visões dele: generais e tal. E aí ele falou coisas muito perigosas, por exemplo, em relação à OTAN, que foi essa organização que foi criada no pós-guerra pra manter o controle e a estabilidade ali na Europa. Ele mencionou também que ele recuaria do acordo de não-proliferação nuclear. Né, permitindo que Japão desenvolvesse bomba nuclear, Coréia do Sul, que os países se defendessem, caso a Coréia do Norte atacasse eles com a bomba atômica, que os EUA não iam pagar essa conta. Então eu fico pensando assim: gente, esse cara,…
Ju: [interrompe] Ele é um bronco, né.
Marco Túlio: …se ele monta uma equipe de pessoas que concordam com essa visão, a gente vai recuar em coisas… a gente tá falando de guerra nuclear, a gente tá falando de desestabilização da Europa, a gente tá falando de mais catástrofes naturais, a gente tá falando de uma série de coisas que são perigos reais. Então, não é essa coisa assim “ah, ele é um cachorro louco”; ele representa um perigo real, sim, e tem que ficar de olho. Essas coisas podem… [acontecer]. A gente tem que ter um tom de seriedade maior, porque essas promessas que ele fez, as pessoas vão cobrar dele.
Ju: Vão!
Marco Túlio: As pessoas que colocaram ele lá, cê tem grupos extremistas que apoiaram ele, e eles vão começar a cobrar, então o perigo de ele estar lá na presidência dos EUA é real, sim. É só um contraponto.

(Bloco 8) 1:11’45” – 1:20’59”
Cris: [interrompe] A Klu Klux Klan apoia ele…
Ju: E outra, uma ameaça bem real e bem próxima pra os primeiros cem dias de governo: ele se propôs… Eu não sei como é que chama, desautorizar, enfim, retirar, abolir, apagar, voltar atrás todos os atos executivos do Obama. Ele se propôs a isso, isso é promessa de campanha, tá? E aí, o que a gente tá falando é que ele tem uma agenda clara de retrocesso em direitos LGBT.
Marco Túlio: [interrompe] Por exemplo.
Ju: Porque o Obama no último ano… Aproveitou no último ano pra promulgar uma ordem executiva, criminalizou o preconceito baseado em sexo, orientação sexual, identidade de gênero em todas empresas federais e órgãos federais e eles já falaram que eles vão revogar isso. E, além disso, tem um ato que eles chamam de primeira emenda, um ato de defesa da primeira emenda, que é justamente pra dizer assim: “olha, tudo que você fizer em nome da sua religião, isso tá protegido.”
Marco Túlio: É, é uma lei. É a lei de defesa da primeira emenda.
Ju: [interrompe] Emenda. E aí, isso é bem polêmico e isso foi defendido essa semana ainda em entrevista pelo vice do Trump, falando que, assim “Ah, as pessoas que têm religião… Ué, se você, por suas crenças enraizadas, não quer atender um homossexual, você não tem que ser obrigado a isso”. Então, é esse tipo de retrocesso imediato que a gente tá enfrentando. Isso é uma ação que requer organização das pessoas, mobilização, um trabalho de…
Marco Túlio: [interrompe] Demora um tempão, né…
Ju: Um trabalho de conscientização. Uma coisa que eu achei uma dica interessante pra gente… Dica, não, né, mas um gesto interessante pra gente pensar… É que ele fala assim, ó, o vice-presidente: “Washington não deveria se intrometer na operação das nossas escolas” porque é aquela lei que fala sobre os banheiros…
Cris: [interrompe] Isso.
Ju: Que as crianças não deveriam ser constrangidas e tal… Isso é só mais um exemplo da mão pesada dessa administração e o Donald Trump… E nós vamos defender que o senso comum, que o bom senso das pessoas deve-se prevalecer quando a gente tá falando do bem estar das nossas crianças, de como operar nossas escolas. Essas decisões deveriam ser feitas em nível local…
Cris: O mesmo bom senso que colocou ele lá, né…
Ju: O que que eu acho? É, mas… Eu não acho tão errado. Porque a questão é a seguinte: cara, a gente já falou muito aqui no Mamilos, sobre o problema de progressista resolver as coisas na canetada. Se você acordar, se você convencer as pessoas, você não vai precisar disso. Agora, quando você quer fazer o bonde da história avançar mais rápido do que as pessoas estão prontas pra isso, o risco que você corre é que você tá numa democracia e elas podem gritar mais alto do que você. Então, eu acho que, assim, aqui existe espaço, sim, pra mobilização, pra que se mostre que a maior parte das pessoas pode ser favorável a ele em alguns aspectos e nisso não e pra que sensibilize pessoas que talvez sejam a favor desse tipo de coisa e que entendam do que a gente tá falando. Então, assim, acho que a agenda, por exemplo, a agenda transgênero, por exemplo, a maior parte das pessoas nem sabem do que você tá falando!
Cris: [interrompe] Então…
Ju: Então, calma, vai ter que explicar, e tá sendo muito goela abaixo, sabe…
Marco Túlio: [interrompe] É, mas é… Mas é…
Cris: É, mas tem que ser um meio termo, né, porque o mundo é grande demais, tem gente demais…
Marco Túlio: [interrompe] Quem tem fome, tem fome agora, gente, vamo lá.
Cris: Se você esperar explicar pra todo mundo e convencer todo mundo da importância disso, morre. Porque hoje a média de idade é trinta e três anos…
Marco Túlio:[interrompe] E você faz o que com o menino que tá sendo discriminado?
Cris: Morre-se com trinta e três anos. Se você for esperar todo mundo entender isso pra acolher, aí a gente tem um problema quase de dizimar essa população, que é o que gente sabe que acontece, é gentrificar o lugar…
Marco Túlio: [interrompe] E é uma decisão… E é uma decisão, né, que que você quer fazer? Se você vai esperar, você vai abandonar o pessoal…
Cris: [interrompe] Então, assim, eu acho que é o meio termo. O bonde da história acontece, sim, quando você tem um número mínimo de pessoas que já compreendem esse processo, elas precisam trazer outras, mas precisa acontecer uma intervenção em meio tempo para que isso se acelere ou, pelo menos, pra garantir a integridade humana.
Ju: O que que eu acho que é um exemplo bom que a gente já falou no Mamilos? O referendo que teve… Irlanda? Pode ser a Irlanda? Que é um país majoritariamente católico…
Cris: [interrompe] Sim.
Ju: E que aprovou através de referendo o casamento gay. Que isso, pra mim, vale mais do que uma suprema côrte.
Cris: [interrompe] Só que a Irlanda é do tamanho de Pinheiros. Aí é mais fácil contar pra todo mundo…
Ju: [interrompe] Ofendendo a gregos e troianos. [Risos]
Marco Túlio: Como ofender, com Cris Bartis.
Tai Nalon: Eu queria trazer… Isso me fez lembrar… O referendo na Irlanda. Existiram plebiscitos dos EUA durante o processo eleitoral e houve contrastes absolutamente impressionantes. Estados, como a Flórida, votando a favor do uso medicinal da maconha e elegendo o Trump.
Cris: [interrompe] Uhum.
Tai Nalon: E são agendas que são contraditórias, certo?
Ju: Certo.
Tai Nalon: Talvez… Não sei… Assim…
Marco Túlio: É, no caso do Trump, eu não sei, gente. Estudiosos falarão…
Tai Nalon: É, eu veria isso como a agenda pró legalização de drogas é uma agenda progressista, a agenda Trump não é.
Marco Túlio: [interrompe] O que que é o trumpismo agora, né?
Ju: [interrompe] É.
Tai Nalon: Exatamente… Por isso que eu vejo com algum ceticismo, cinismo, enfim, o que você quiser, o real perigo. É indiscutível que ele tem uma agenda extremamente polêmica, conservadora, no limite criminosa.
Marco Túlio: Explosiva, misógina, intolerante.
Tai Nalon: Exato. Porém, existem várias camadas por debaixo do voto do Trump que a gente desconhece. Então, quer dizer, será que os mesmos movimentos que na Flórida o elegeram – a gente tem uma experiência de 2014. Será que os mesmos eleitores que elegeram o Trump na Flórida, por exemplo, vão apoiar, de fato, cegamente a agenda dele? Será que vão apoiar ele se mudar de ideia? Será que vão pressionar ele a ser um pouco mais moderado? Porque, enfim…
Ju: [interrompe] A gente não sabe exatamente…
[Todos falam]
Tai Nalon: Porque, beleza, aí ele chega lá e fala “não, a gente vai ter uma política muito restrita de drogas, especialmente da maconha” e os caras da Flórida vão falar o quê: “Ãh?”
Cris: Epaaa!!!
Ju: Não, mas eu acho isso mesmo, é aquilo que a gente tava falando: você tem uma série de coisas e você não tem um candidato que te ofereça tudo, então pode ser, por exemplo, que a galera da Flórida votou nele apesar do medo do que ele ia fazer. Falou assim: “na hora que chegar pra mexer em direito adquirido, aí a gente faz um barulho infernal que o cara não vai conseguir”.
Marco Túlio: É porque lá tem uma diferença grande também entre o que o governo federal faz e o que o governo do estado faz, então…
Tai Nalon: Não, e vocês hão de convir que a agenda das drogas é muito mais palpável pros americanos e ocidentais de forma geral do que a agenda verde.
Cris: [interrompe] É. Não põe a mão no meu baseado!
Tai Nalon: Inclusive, os próprios verdes se reconhecem como sendo uma espécie de campeões de uma causa que quase perdida porque não é palpável, tá sempre no futuro. A ameaça do aquecimento global… Está sempre no futuro, mais lá pra frente a gente resolve, a gente ainda não tá sofrendo totalmente as consequências disso…
Marco Túlio: [interrompe] Mas o baseado é aqui, né.
Cris: [interrompe] É.
Tai Nalon: Mas o baseado, a gente vai apertar no fim da noite.
Ju: Vamos falar mais coisas que ele vai interferir na vida das pessoas. Então, a gente falou um pouco sobre imigração, né, então, como é aquilo? Ele não tem um compromisso de falar coisa com coisa? Ele pode falar mil coisas diferentes.
Cris: [interrompe] Gente, eu fico pensando em quem foi embora do Brasil, porque a Dilma ganhou e foi pra tipo esses lugares aí agora, hahaha.
Marco Túlio: Foi pra Miami, não vai dar, né, imigração agora vai complicar…
Cris: [entre risos] Não vai rolar! Eu vi um meme muito bom hoje: “espero que você já tenha renovado seu visto” e é o Trump, assim…
Ju: É, então, assim, o que ele falou é que ele vai suspender a imigração de regiões propensas ao terrorismo, onde a análise não pode ocorrer de forma segura. Então, não é que ele falou que vai fazer um muro, ele fazer um muro na fronteira do México, onde tem, entre aspas, violadores e traficantes, que a gente sabe que a galera que vem é isso mesmo…
Cris: [interrompe] Olha, que perigo, né, gente…
Marco Túlio: E estupradores!
Ju: E estupradores. Então, né, é isso. Então, e isso deve ser complicado e aí entra aquela análise que a gente falou no início de, mesmo pessoas que vieram, que são imigrantes, mas que estão vendo o número de empregos reduzir, podem ser favoráveis a uma barreira maior pra que a competição diminua.
Cris: [interrompe] É o latino votando nele.
Tai Nalon: Lembrando que já existe uma espécie de cerca, muro, enfim… É uma cerca, na verdade, né, que foi inclusive patrocinada pelos republicanos do Bush.
Ju: Ah, mas a dele é melhor porque os próprios mexicanos vão pagar, né.
[Risada da Cris]
Ju: Bem melhor, né?
Tai Nalon: Alguém fez uma piada falando a respeito disso que o desespero é tão grande no México, que os próprios mexicanos vão construir muro…
[Risos]
Tai Nalon: Pra impedir que os americanos progressistas se mudem pro México e roubem os empregos deles…
Ju: Aliás, saiu em um site grande, mas eu não tive tempo de pesquisar a veracidade de que o site da embaixada canadense saiu do ar na madrugada justamente pelo excesso de acesso de americanos…
[Risos da Cris]
Marco Tulio: Mó cheiro de troll isso!
Cris: [interrompe] É muito…
Ju: Tem, não tem? Mas eu achei muito bom, deu no Sensacionalista e eu acreditei…
[Risos]
Ju: O que mais que ele falou? O que mais que ele tem de proposta pros EUA? A gente falou bastante de reforma de Washington, isso é uma das grandes bravatas dele. Vamos ver o que ele, de fato, consegue fazer. Sobre imposto: aí que se… Aí que eu queria ver, mas eu queria ver mesmo ele cumprir essa promessa. Porque é uma promessa boa de quem fala porque sabe que não vai ganhar, né. Fala : ”vou promover a maior reforma de impostos” e ele dá números, sabe, Tai? Não é uma coisa muito… Ele fala que ele vai baixar o teto máximo de imposto que é de 35%, pra 15%.
[Risada da Cris]
Ju: Pensa comigo se é fácil fazer isso.
Tai Nalon: Eu quero ver isso acontecer.
Ju: [interrompe] Claro! Óbvio!

(Bloco 9) 1:21’00” – 1:30’59”
Tai Nalon: Porque é uma agenda que, honestamente, ela é popular com o PIB, né? Enfim, a gente ta no meio de debate de PEC 241, 51, enfim, escolha o número que você quiser, sem uma reforma tributária aqui no Brasil porque o discurso é mais ou menos o mesmo. Nós não vamos aumentar impostos, a ideia é diminuir, só que a gente não vai diminuir aqui porque a gente não tem como pagar a previdência e tal. Nos Estados Unidos você não tem uma previdência pública tão robusta como o Brasil, mas você tem um problema de financiamento de um sistema de defesa muito grande, um exército gigante, um desenvolvimento científico de guerra..
Ju:[interrompendo] Mas ai que as coisas não batem..
Tai Nalon:…que é uma agenda republicana. Exatamente.
Ju: Como é que cê vai manter a defesa, e cê vai diminuir impostos? Onde vai vir esse dinheiro, bem?
Tai Nalon: Pois é.
Ju: Ele não precisou fazer sentido nunca, né? Então agora, na realidade..
Tai Nalon:[interrompendo] Bom, ele não tem exatamente muita experiência tributária, né? Como a gente vinha falando anteriormente. Então ele mesmo..
Cris:[interrompendo]Como os impostos dele provam..
Tai Nalon:É. A gente precisa saber que que ele quer dizer com isso, e como ele vai fazer isso. Lembrando que, assim, essa é uma das principais propostas de campanha dele. O Obama se elegeu, oito anos atrás, com uma proposta que era igualmente vista com ceticismo, que era o ObamaCare, que demorou muito tempo pra ser aprovada no congresso americano. Tudo bem, o Obama tinha um congresso muito mais complicado do que o Trump vai ter, tudo indica, né? Assim, o Trump é um outsider no partido republicado. A gente não sabe como vai se dar a interação dele com o próprio partido, porém sabe-se que o Obama teve muitas dificuldades no primeiro mandato, e no segundo mandato, sobretudo, para aprovar o ObamaCare que era a principal bandeira de campanha dele. Então, quer dizer, tudo que mexe de maneira extravagante com o sistema americano vai ter sérios problemas porque a regulação é muito pesada, você mexe com interesses muito maiores do que simplesmente o PIB local.
Ju: É, a gente também falou das promessas dele de comércio externo e ai você tá batendo em coisas que já são acordo dos assinados, então, parceria transatlânticas de troca e investimento, TTP, NAFTA, tudo isso ele falou assim “vamo voltar atrás e vamos fazer só o que é bom pra gente”
Cris: São todos acordos de livre comércio..
Ju: Vamos rever todos os acordos e o que continuar sendo bom pra gente, que mantiver os empregos aqui nos EUA ok. Só que, uma coisa que é pouco falada quando se fala nisso: porque que a gente compra de fora?
Marco Túlio: Não ele vai.. ele ta olhando preço e qualidade ué.
Ju: Preço, gente.
Marco Túlio: É, ué.
Ju: Então esse sonho americano que você vai na Ross e você compra tudo que você quer e que qualquer pessoa tem acesso a todos os bens de consumo, ele é permitido justamente porque você ta usando mão de obra..
Marco Túlio:[interrompendo] Pela globalização né.
Ju: Mão de obra que não paga a hora americana. É trabalho que você não quer fazer. É trabalho que você não pode fazer pra ter o nível de vida do sonho americano. Então quando você fecha as barreiras desse jeito que ele ta propondo, “vamos manter os empregos aqui”, não é esse emprego. Então se a gente tiver que pagar a mão de obra americana pra fazer um tênis da Nike, quanto que vai custar o tênis da nike?
Cris: Achei muito interessante isso, porque já tem essa discussão lá, né? Mesmo dentro do RA tem lojas onde tem sabonetes fabricados pelo pessoal de lá e tem todo um incentivo de consumo de produtos fabricados internamente, só que, tipo, custa quatro vezes mais. Então não se sustenta. É muito caro. E é ai que implode a economia…
Ju: [interrompendo] Mas pra quem que não se sustenta? Pra galera que votou na Hillary que ta com o dinheiro novo, que é o dinheiro de tecnologia, ou pra galera do cinturão lá do meio que votou nele que ta empobrecida? É essa galera que vai ser mais impactada, entendeu? Porque a gente compra o orgânico, a gente fica comprando produto de origem e tal, mas a galera que votou nele, ela que vai ser mais impactada por essas decisões. É isso que eu to falando, tipo, são discussões que a gente não conseguiu ter nas eleições porque você fica falando no agarrador de.. mulheres, vamos deixar assim pra ficar melhor pra audiência, porque você ficar falando nessas coisas e não fala, assim, a grande questão que elegeu ele foi o “eu vou fazer a américa grande de novo”. O projeto dele não para em pé! Mas a gente não discutiu o projeto dele.
Cris: Porque ele mesmo ajudou a desviar o foco, colocando todo esse discurso agressivo, gritante, ai as pessoas começaram a entrar nessa pilha.
Marco Túlio: Mandrake. Cortina de fumaça.
Cris: Meio isso.
Ju: Quais são os grandes impactos pro Brasil?
Cris: Principalmente, ai falando em economia, tirano.. né. A gente tem avançado no caso de não ter visto pra entrar no país e vários acordos de livre comércio, a gente faz muita exportação pros Estados Unidos. E ai o que acontece..
Marco Túlio:[interrompendo] Importa também. E troca de tecnologia.
Cris: Importa também. E inclusive de..
Ju:[interrompendo] Ah, mas isso eles deixam. Vender eles vão vender a torto e a direito.
Cris: E inclusive de muitos insumos científicos. Muita gente sai do Brasil pra estudar lá, então tem muito essa troca. E, claro, quando o cara fala “vou fechar fronteira” “não vou comprar, vou produzir tudo aqui dentro” “não vou fazer mais essa troca, porque eu vou beneficiar única e exclusivamente as pessoas que moram aqui” você deixa de ter um monte de tratado de comércio de geração de..
Marco Túlio:[interrompendo] Cê cria ansiedade, cê cria antipatia, cê vai criando uma série de de incertezas. A Grã-Bretanha ta passando por isso agora, né? Ninguém sabe o que vai acontecer ao certo e ta deixando.. não é a toa que o mercado ta reagindo mal à eleição do Trump, né? Por causa das incertezas.
Ju: É, isso que eu ia falar. O principal temor do mercado em relação ao Trump é a incerteza. Esse é o excesso de dúvida que ele traz pro mercado, talvez assuste mais do que qualquer outra coisa.
Marco Túlio: e a Bovespa caiu hoje, também.
Ju: E o dólar subindo? Porque vai ficar mais escassa a moeda.
Marco Túlio: Ta todo mundo querendo comprar, né?
Ju: Tudo isso interfere na nossa dívida, tudo isso interfere nos produtos que a gente compra, commodities são todos negociados em dólar. Então o dólar subiu porque um cachorro louco tomou o poder e não se sabe o que esperar, isso afeta a vida de todo mundo. A Cris tava falando pra mim quando a gente começou a discutir essa pauta, de que “ah, quer saber? As pessoas mesmo, as pessoas reais, não tão preocupadas com isso. Porque elas tão lá trabalhando pra conseguir fechar o mês.” Eu falei, cara, o preço do feijão é impactado por isso.
Cris: O que eu to querendo di.. o que eu quis dizer
Ju:[interrompendo]Seu emprego é impactado por isso, sabe?
Cris: Né? Vamo lá. O que eu quis dizer é: eu acredito que grande desistência, até descrença, quer dizer que as pessoas estão tão cansadas de não se sentirem representadas que elas falam “Azar pra quem entrar, eu vou é me virar aqui. Vou me virar aqui com meu dinheiro, com meu trabalho, com a minha vida, e deixa quem tiver lá em cima porque isso não me diz respeito, porque não me representa.” e ai o que a Ju tava falando é “Não, de uma forma ou de outra afeta todo mundo.”
Ju: Todo mundo vai pagar essa conta, entendeu? É [engasgando] por isso que se.. você fala assim:
– Ju, mas vocês discutem a eleição de todos os países?
– Não, a gente discutiu a americana.
– Poxa, porque vocês só discutem eleição americana?
– Porque no final do dia eles impactam o mundo inteiro.
Tai Nalon: Pegando isso que a Cris acabou de dizer, que o famoso deputado de São Paulo foi eleito usando o seguinte bordão: ‘pior do que ta não fica’; eu acho que isso vale.. isso é bastante atual, apesar dele ter sido eleito com esse bordão em 2010. Eu só queria trazer pra conversa a China, porque é um player, dos emergentes, talvez, o que teja em melhores condições no momento.. não, a Índia ta em uma condição bem ok, assim, é só porque a gente não fala muito da Índia.
Ju: Deveria.
Tai Nalon: Mas ta, a China é um player, é o segundo player mundial, existe uma perspectiva de declínio da economia chinesa pra o ano que vem, já esse ano ela já ta desacelerando, mas isso iria atingir um auge bastante problemático a partir de 2017 que, com a eleição do Trump, fica uma especulação um pouco obscura. Porque se os Estados Unidos tende a diminuir sua participação no comércio mundial de alguma maneira pra reajustar sua economia, o dólar tende a escaciar.. como que fica a China? Ela vai preencher esse vácuo? Ela vai ter capacidade de preencher um vácuo que eventualmente os Estados Unidos deixe de absorver porque sustou o NAFTA e o TPB e todos os outros tratados de livre comércio que nos últimos vinte/trinta anos ele assinou. Quer dizer, isso deve ser levado em conta.
Alguém fez uma piada no Twitter nessa madrugada, eu fiquei firme até às quatro e meia da manhã acompanhando a apuração, depois eu vi que a coisa ia pro Trump e resolvi dormir, mas basicamente o tweet foi o seguinte: vivemos um tempo em que o líder mundial com maior estabilidade emocional é o presidente da China. Que é uma incógnita. Os chineses sempre foram vendidos como extremamente agressivos e mesmo, né, alheios ao resto do mundo e é uma grande incógnita sempre pro mundo ocidental, porque é inexplicável como que a China tem tamanha influência econômica sem uma identificação cultural com o ocidente de maneira de alguma e, enfim, eu acho que olhos na China, porque pode ser que eles preencham uma lacuna importante, ou afundem junto com o barco. Evidentemente, análise acertada. Hashtag análise acertada nesse momento. Mas é isso, entendeu?
Cris: Mas que um buraco vai ficar, vai.
Tai Nalon: Existe um vácuo. Vácuos normalmente são preenchidos pelos oportunistas. O maior oportunista que a gente viu nos últimos 10/20 anos foi a China. Será que essa tendência, né, vai se confirmar em 2017? Apesar da desaceleração chinesa.

(Bloco 10) 1:31’00” – 1:40’59”
Ju: Temos uma primeira conversa, que não consegue cobrir nem a pauta que a gente fez em um dia só, que não vai dar conta de todas as angústias, que não vai dar conta de todas as análises possíveis, que não vai dar conta de todos os cenários, e, se existe uma certeza sobre essa conversa é que a gente deixou muita coisa passar e que a gente falou muita bobagem, né, porque a gente vai ser provado errado muito no futuro.
Cris: Eu volto a repetir, esse programa vai se autodestruir em uma semana.. Escute enquanto é tempo esse monte de opinião jogada aí… com um pouquinho de sal e alho…
Marco Túlio: [interrompe] Hashtag análise acertada.
Cris: [interrompe] Isso aí.
Ju: E eu eu espero que tenha ajudado… o objetivo da gente muito mais do que fazer análises acertadas e explicar o universo é que… tenha organizado um pouco as idéias e tenha ajudado o resultado a parecer menos caótico. Então assim, mesmo que a gente não concorde com o resultado… ele vem de algum lugar, ele representa alguma coisa, ele diz alguma coisa, ainda que a gente não entenda muito bem…
Cris: [interrompe] O mundo.. O mundo tá menos louco do que cê imagina, as coisas faz… tem sentido..
Ju: [interrompe] Mesmo que…
Cris: [interrompe] Tem sentido, cê pode não concordar com o sentido..
Ju: [interrompe] Mesmo que… é, mesmo que você não goste.
Cris: [interrompe] Mas elas têm sentido.
Ju: [interrompe] E assim, isso manda uma mensagem pra onde você quer ir e onde que tem que ir o seu esforço, né, e o nosso esforço coletivo.
Cris: Vamo então para o farol aceso?
Ju: Bora.
[Sobe trilha]
[Desce trilha]
Cris: Vamos então para o Farol Aceso. Vamos começar então pela visita da casa, a Tai. Tai, quê que cê indica pra gente?
Tai Nalon: Eu indico um texto da Vanity Fair publicado hoje, que mostra basicamente… um relato de como a mídia cobriu, principalmente a mídia televisiva, o processo de desidratação, digamos assim, da Hillary ao longo da contagem de votos. E é um relato bem interessante, bastante crítico inclusive. Basicamente eles dizem, a Vanity Fair diz que a mídia melted down, que é basicamente derreteu ao abrirem as urnas e verem o que tava lá dentro, né. É bem interessante mas é em inglês então enfim.
Cris: Joga no tradutor…
Ju: [interrompe] Apertem os cintos o piloto sumiu.
Cris: É, joga no Translator, funciona. Vamos chamar uma outra convidada que ficou aqui quietinha esse tempo todo ouvindo a gente falar, mas cês já ouviram falar dela aqui mas a gente gente trouxe ela mesmo pra falar de um projeto. Natália, vem cá, faz a sua indicação.
Natalia: Só para indicar… a ‘Gênero e Número’. Gênero e número ponto mídia é o site, é uma revista digital que trabalha com temas relacionados a gênero sob a perspectiva jornalística, sei que não tá muito em alta né, mas enfim a gente continua acreditando, e a gente fez uma edição recente sobre eleições, né, no contexto brasileiro, tá lá disponível para quem quiser.
Ju: Marco Túlio, que que cê indica?
Marco Túlio: Eu vou indicar um documentário da BBC que saiu no mês passado, aliás, saiu esse mês chamado HyperNormalisation, tem no YouTube, em alguns lugares, dá pra achar legenda também na internet. É um documentário que fala sobre… bastante coisa do que a gente conversou aqui hoje na verdade, fala de bolhas, fala de onde começou essa crise, fala da relação dos Estados Unidos com a Síria, como que tudo foi caminhando até a gente chegar no que a gente tá vendo hoje, na super simplificação de eventos muito complexos, pra tentar entender essa realidade ou até criar – ou hiper normalizar – a realidade. É um documentário muito foda, recomendo fortemente. HyperNormalisation da BBC.
Ju: Terto?
Terto: Bom, vou indicar… puxar uma sardinha, mas que… porque é um projeto muito legal, que é o Deco, é um Chat Bot, o primeiro Chat Bot do Brasil pensado diretamente pro Messenger e para o terceiro setor, né. A ideia é o seguinte: é conversar com jovens da periferia, falar sobre sobre empreendedorismo mas sem ser aquele empreendedorismo de palco, empreendedorismo numa linguagem não acessível, né. Então o Bot conversa com a pessoa, ele traz dez conteúdos, os conteúdos são dez vídeos contando histórias de pessoas, empreendedores de periferia, por exemplo do Capão, Toni Marlo, e é um projeto muito legal, muito interessante, e eu acho que é isso aí, de repente, vai lá no Messenger, digita Deco.. Pense Grande e aí cê começa a conversar com o robozinho lá. Foi um cara muito legal que escreveu o robô, não vou dizer, pra ficar na imaginação de vocês quem foi essa pessoa que escreveu esse robô.
Cris: [risos] Boa! Ju, que que cê indica?
Ju: Bom, eu tive com a Cris no Meca Festival em Inhotim e além de conhecer pessoas muito legais, e além de passar um tempo muito legal, conhecer o lugar que eu não conhecia, a gente ouviu um show do Caetano para pouquíssimas pessoas. Foi no final da noite, então tava todo mundo bem cansado assim, e eu tô essa semana ainda sob a influência daquele show, ele me levou para um lugar que não consegui aterrisar ainda. Então para vocês que tão confusos, talvez perdidos, talvez muito angustiados, eu acho que o Caetano fez um show profundamente político, que a escolha do set list dele foi muito… peculiar… ele cantou músicas que ele nunca canta, ele tava muito feliz de estar ali, tava muito presente ali naquele momento… e uma das músicas que mais me tocou foi Força Estranha. Então… assim, esse cara ele tem uma presença assim de pegar só um violão e não precisar mais nada, e a voz dele ser pura e cristalina e provocar coisas na gente que outras pessoas nunca conseguiriam nem em milhões de anos e porque a gente precisa acreditar no belo, no bom, e na inspiração, então escutem Força Estranha, eu acho que ela fala muito por esse momento que a gente tá vivendo. E saindo da inspiração e abraçando o escapismo, eu indico a série Luke Cage, que é uma série com um roteiro impressionante que eu nunca prestei atenção; que ela tem plots twists assim incríveis – que eu nunca percebi – mas eu assisto mesmo para ver o trabalho e atuação do Luke Cage, que é muito boa! E eu acho que vocês deveriam realmente conferir, tá? Então é isso, né, pra dar um up na galera essas são as minhas duas indicações. E você, Cris?
Cris: Bom, é, a Juliana já falou, a gente teve em Inhotim, é um lugar que eu amo, sou apaixonada, e foi uma grande felicidade poder apresentar esse lugar pra Ju, espero que a gente volte lá outras vezes… E nesse mesmo festival a gente teve a oportunidade de conhecer os rapazes do Ernesto. Ernesto se desdobra em três projetos. Ele é um centro de inspiração, é um prédio ocupado no centro de Belo Horizonte que trabalha arte para pessoas de baixa renda, ele é um marmita no museu. Eles convidam pessoas que trabalham e vivem na região central de BH pra irem até o prédio, ocuparem o prédio, para assistirem palestras ou verem exposições e em troca eles dão marmita. Então essas pessoas almoçam enquanto elas ouvem ali sobre a arte, sobre a vida contemporânea, sobre música e, por fim, a revista Ernesto. Eu achei muito legal o jeito que eles definiram isso, eles falaram que Ernesto é um cara muito tosco, muito bronco e ao passo que ele vai lendo a revista ele vai se tornando um cara mais legal. E a revista ela é extremamente poética, e artística, desde a capa, passando pelo índice e até o final, é tudo muito lindo, muito bem cuidado, você pega e percebe como é feito com amor. Então por favor acessem a Ernesto ponto com e vejam que lindeza, como tem gente produzindo coisa legal no Brasil para inspirar outras pessoas. Então fica aí a inspiração do Ernesto pra todos nós. Temos um programa?
Ju: Super!
Cris: Então fica a gostosa sensação de ter tido, como disse a Juliana, uma primeira conversa sobre esse assunto. A gente volta ao tema lá mais pra frente, e vamo ver o que se afirma e que o que que se dissolve com o tempo. Brigada, gente!
Ju: Beijo.
Cris: Beijo.
[Música]