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Cooper Black, a personagem oculta em “Dear White People”

Como a série da Netflix explora um dos tipos mais comuns da cultura pop, já chamado de “a ameaça negra”

por Johnny Brito

Se você já assistiu “Dear White People” (o filme de 2014, ou a série da Netflix, ambos dirigidos por Justin Simien) e se interessa por tipografia, deve ter percebido a presença de uma personagem conhecida: a Cooper Black.

Ela está por todos os lados, do logotipo da série, aos títulos, créditos e boa parte do que é textual, até mesmo nos materiais impressos que aparecem na trama. Dá uma olhada:

Cartazes do filme (2014) e da série (2017)

Na verdade, além da fotografia primorosa, atuações sólidas e uma temática corajosa e relevante, todo o uso de tipografia na série me parece muito caprichado. Preste atenção nas cenas que exibem textos com algum destaque, sempre tem uma coisinha ou outra para observar.

Mas antes de seguir falando sobre a série, vale a pena voltar um pouco para conhecer mais sobre esse tipo clássico.

Cooper Black foi projetada em 1921 por Oswald Bruce Cooper e lançada no ano seguinte pela fundidora de tipos Barnhart Brothers & Spindler. Na verdade, ela foi encomendada como sequência da fonte Cooper Old Style, criada alguns anos antes.

“For far-sighted printers with near-sighted customers”

Ela não foi a primeira fonte desenhada com serifas arredondadas, mas com certeza ganhou muito destaque na época e se tornou uma precursora das chamadas “fat faces”. Por conta do impacto que causa, quase autoritário, em equilíbrio com suas formas amigáveis e divertidas, além da boa legibilidade, Cooper Black logo se tornou uma febre no meio publicitário da primeira metade do Século XX e foi utilizada à exaustão, atraindo também uma série de cópias e obrigando fundições concorrentes a lançarem fontes com o mesmo apelo.

Para saber mais sobre Cooper Black e seu criador, recomendo a leitura desse artigo na Eye Magazine.

Voltando a DWP, uma pergunta não saia da minha cabeça:

Por que a Cooper Black?

Um uso tão contundente e cuidadoso não parecia aleatório. Pesquisando por aí, não achei nenhum texto que ligasse filme/série à fonte, então fui atrás de perguntar para os responsáveis. O IMDB me forneceu apenas dois nomes: Kody Wynne, responsável pelo design no filme e Blair Strong, responsável pela série.

Wynne trabalhou no cartaz do filme em 2014, mas me contou que o logo, que já utilizava a Cooper Black, foi desenvolvido por outro designer, então não foi ele o responsável pela escolha. Ele também não soube me dizer quem foi esse designer.

O mistério continuou porque Blair Strong, designer responsável pela série da Netflix, também seguiu a linguagem que já vinha do filme, onde o uso da Cooper Black já era abundante. Mesmo assim, ela foi muito gentil e me contou um pouco sobre o desenvolvimento dos elementos de design gráfico dentro da série:

Eu pesquisei as universidades da Ivy League e organizações de estudantes para achar padrões de ornamentos e iconografia.”

Strong conta que praticamente toda casa ou campus na ficcional Winchester University recebia uma história de fundo, incluindo a data de sua fundação. Então, ela pesquisava fontes populares na época que essas organizações foram fundadas para compor seus logotipos e identidade visual.

Por exemplo, como Winchester deveria ser uma universidade americana histórica, eu frequentemente usava Baskerville para placas e sinalização “permanente” no campus.

Como a maioria das organizações de alunos negros no campus foi estabelecida décadas atrás, eu desenvolvi ornamentos clássicos e logos mais contemporâneos para cada uma delas, como imaginei que os estudantes fariam. Foi muito divertido desenvolver esse mundo! Foi muito legal imaginar quais organizações teriam seus logos desenhados profissionalmente e quais teriam sido feitos por pequenos grupos dirigidos pelos próprios estudantes.”

Ela ainda me mandou algumas imagens bem legais do que foi desenvolvido para esse universo. Dá pra ver o cuidado com que tudo é imaginado e projetado.

Justin (Simien) tinha uma visão muito específica a respeito do visual e do estilo do programa. Ele foi muito bom em comunicar isso para mim e para minha equipe, atentando-se a detalhes como fontes e cores de Pantone.”

Como nem os próprios designers que trabalharam no filme e na série (pelo menos os que consegui contato) sabiam me dizer se a escolha da Cooper Black foi intencional, ou não, continuei minha busca. Depois de ler um pouco, cheguei em algumas hipóteses:

1. Uso na publicidade e na Cultura Pop

Como disse antes, a Cooper Black (e suas variações posteriores) tornou-se uma das fontes mais usadas na publicidade entre os anos 1920 e 1940. Depois de um hiato nos anos 1950, ela voltou com bastante força na metade dos anos 1960, agora na Cultura Pop. Há quem diga que esse revival se deve à capa do seminal “Pet Sounds”, dos Beach Boys. O fato é que nos anos seguintes muitos artistas lançaram álbuns cujas capas eram protagonizadas pela Cooper Black, o que mais uma vez a firmou como um ícone do design no Século XX.

Dada a trama da série, onde estudantes negros lutam para se fazerem ouvidos em meio à uma esmagadora maioria de estudantes brancos, faz sentido que a tipografia escolhida tenha um vínculo claro com a publicidade e a Cultura Pop (ainda que esse vínculo seja mais evidente para o público estadounidense). Afinal, muito do que se vê na série é uma espécie de guerra publicitária, enquanto ferramenta para propagação das mensagens (tanto de um lado, quanto de outro).

Cooper Black sendo utilizada em propagandas e capas de álbuns ao longo do século XX

Para ter uma ideia melhor do vasto uso desse tipo na publicidade e na música, recomendo o Fonts in Use – um dos meus sites favoritos.

2. “The Black Menace”

Quando a Cooper Black surgiu na década de 1920, ela não expressava propriamente uma herança visual de nenhuma tipografia já consagrada e tradicional na época, embora incorporasse alguns aspectos de Art Nouveau, Art Deco e tipos manuscritos (com os quais Oswald tinha vasta experiência).

Somando isso com as formas pouco pretensiosas dos tipos, Cooper Black não foi bem recebida pelos críticos na época, embora o uso publicitário fosse um sucesso. Tipógrafos e donos de fundições tradicionais a chamavam de “the Black Menace” (A Ameaça Negra).

Não consegui descobrir exatamente o porquê desse apelido, imagino que tenha a ver com a densa “mancha” de tinta preta que ela deixava no texto, por se tratar de uma fat face. O que parece claro é que o apelido era pejorativo (talvez até racista) e refletia um certo desdém, até mesmo medo do que era novo e “negro”.

Parece familiar?

3. Cooper Black e Contracultura Negra

A Cooper Black atingiu o auge do seu uso nos anos 1970 e se tornou também a fonte mais popular para quem quisesse produzir suas próprias camisetas, bonés e várias outras coisas DIY (do it yourself – faça você mesmo). Ela podia ser vista nos uniformes de vários grupos de street dance entre os anos 1970 e 1980 e teria até mesmo influenciado a estética “inflada” das letras de graffiti.

Ligada às origens do movimento, a Cooper Black permanece até os dias de hoje no Hip Hop, aparecendo em capas de álbuns icônicos e vestuário.

Esse artigo da Complex me deu as pistas para fazer essa ligação e explora bem a conexão entre Hip Hop e Cooper Black. Vai lá que vale a pena!

Talvez eu nunca saiba ao certo se essa escolha dos responsáveis foi consciente ou não. Mas a verdade é que é muito interessante notar como essas coisas de Zeitgeist ficam no ar e vão (re)criando conexões que as vezes podem passar despercebido, mesmo para quem cria.

Essa conexão faz sentido para vocês como fez para mim? Seria muito legal continuar essa discussão nos comentários. Se alguém tiver uma informação nova, eu vou adorar saber.

E para quem ainda não assistiu “Dear White People”, recomendo muito! A primeira temporada já está disponível na Netflix. Aproveite e veja também o filme que, além de divertido e sagaz, serve como prelúdio à série.


Texto publicado originalmente no blog do Vertentes Coletivo

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