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“Mulher Maravilha” é um enorme avanço em um gênero saturado

Olhar da diretora Patty Jenkins aproveita as principais qualidades da heroína

por Virgílio Souza

Pouco antes de deixar a ilha de Temíscira pela primeira vez, Diana (Gal Gadot) ouve um alerta de uma guerreira mais experiente: “Cuidado no mundo dos homens”, ela diz. “Eles não te merecem”. O aviso é importante para a heroína, uma criatura determinada e cheia de bondade, mas, também por isso, inocente demais para o conflituoso universo masculino que está prestes a conhecer. Guardada sua função na trama, descrita acima, o recado ganha outro sentido quando encarado num contexto mais amplo, relacionado ao processo de realização do próprio filme.

Isso acontece em diversos momentos de “Mulher Maravilha”. O roteiro constrói situações e prepara diálogos que, embora falem sobre o que se desenrola em cena, acenam também para questões mais amplas. Assim, nas várias ocasiões em que a protagonista é desafiada pelas posições dos homens ao seu redor, a sensação é de que dinâmicas semelhantes se desenrolam também atrás das câmeras com a diretora Patty Jenkins. Mal comparando, é como se a partida da filha pródiga para a guerra e a submissão do projeto ao crivo dos treze produtores (dos quais onze são homens) não fossem histórias assim tão distantes — aqui, filme e extra-filme dialogam constantemente.

A diretora Patty Jenkins, à esquerda, no set

Em grande parte do tempo, o trabalho de Jenkins se desenvolve de modo mais tranquilo do que o visto em produções do tipo lançadas recentemente. A meia hora inicial assinala traços importantes da mitologia e da personalidade de Diana com rara paciência e, se por vezes contém certo tom expositivo, ao menos passa longe de ser redundante em suas observações. Aqui, o ineditismo joga a favor: nunca vistas no cinema até então, as origens da heroína se diferenciam dos demais títulos da DC também pela perspectiva assumida.

O aspecto ensolarado desse segmento inicial representa o princípio de uma virada significativa na trajetória da empresa, marcada nos últimos anos pelo tom solene e sombrio de produções como “Batman vs Superman” e, mesmo antes, em exemplares de maior sucesso como a trilogia comandada por Christopher Nolan, por um forte cinismo diante das relações humanas. As duas coisas não dão as caras dessa vez, e o resultado se aproxima mais de uma combinação (estranhamente precisa) de algumas das principais qualidades dos filmes de estreia de figuras como Thor, Capitão América e Homem-Aranha — os dois primeiros pelas dinâmicas em jogo (ela é um peixe fora d’água no contexto da guerra) e o último, pela energia e o modo como o interesse amoroso é desenvolvido.

A diretora Patty Jenkins compreende o material à disposição e, na prática, dá ao filme um visual único

Comparações à parte, parece difícil negar que romper barreiras e tradições é a ordem do dia. Elementos secundários até saltam aos olhos (“Sem cena pós-créditos?” e “Onde estão todos os easter eggs?” são perguntas comuns no pós-sessão), mas são as mudanças no olhar que afetam a maneira de filmar e definem o conjunto. A câmera lenta, por exemplo, é um recurso frequente nas sequências de ação, mas não se resume a repetir os truques de Zack Snyder, outro entusiasta da tecnologia. Em vez de evidenciar os choques e a força bruta dos personagens, como costuma fazer o colega, Jenkins reduz a velocidade em pontos específicos para dar destaque à coreografia dos movimentos de combate. Decisões como essa indicam que a diretora compreende o material à disposição e, na prática, dão ao filme um visual único.

A atenção para o que há de especial nas amazonas influencia ainda o peso de acontecimentos posteriores da trama. Apesar de o treinamento na ilha não ser especialmente inovador, ele permite acompanhar a relação entre a heroína e sua tia e mentora, a valente Antíope. O limitado tempo de tela não impede que Robin Wright (a Claire, do seriado “House of Cards”

) se imponha no papel, e as lições deixadas por ela são relevantes mais à frente.

O relacionamento responsável por mudar tudo, porém, é aquele entre Diana e Steve Trevor (Chris Pine), um espião americano que abala o paraíso quando chega a Temíscira seguido por soldados alemães. Novamente, “Mulher Maravilha” subverte a lógica consolidada ao assumir a condição do rapaz como figura secundária. Ele tenta proteger a garota sempre que julga necessário, mas é ela quem efetivamente consegue salvá-lo em inúmeras situações, desde o primeiro contato entre os dois.

“Mulher Maravilha” se esforça para preencher até seus capítulos mais óbvios com um pouco de novidade

Quando embarcam juntos para Londres, a inocência da protagonista se desdobra de outras formas. Boa parte do miolo do filme é ocupada pelo humor, que o roteiro sabe dosar para trazer leveza a um cenário desolador. Mais importante, contudo, é a decisão de colocar à prova as habilidades — e mesmo as qualidades essenciais — da heroína. Evitando apelar para a violência gráfica, o longa mostra suas consequências nos corpos dos soldados que retornam da frente de batalha e, assim, emplaca a ideia de que ali não há vencedores, apenas vencidos.

Os problemas surgem no terceiro ato em função de decisões que vão na contramão do que havia sido apresentado até então. A estética que diferenciava a produção em um gênero bastante saturado dá lugar a algo parecido, em termos de tom e escala, com o desfecho de “Batman vs Superman”. Os vilões se empilham e, diante da força do oponente, a batalha se desenrola sem grandes surpresas — não há espaço, por exemplo, para um momento glorioso como aquele nas trincheiras, deixado para trás na trama.

Nem tudo é repetição, no entanto. O entorno bem construído confere maior peso aos sacrifícios realizados e, ao menos uma vez depois de tantos anos, conseguimos nos importar com o destino dos envolvidos num combate desse porte. É verdade que os inimigos deixam a desejar, não extrapolando tanto das características básicas que costumam definir seus colegas de gênero. Ainda assim, escolhas específicas — como a decisão de Diana com relação à doutora Maru (Elena Anaya) — são capazes de fazer transparecer o espírito da heroína mesmo nos trechos mais complicados. Se a maioria dos blockbusters recentes se contenta em inovar somente até a página cinco, é de se elogiar que “Mulher Maravilha” se esforce para preencher até seus capítulos mais óbvios com um pouco de novidade.

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