Transcrição - Mamilos 85: Colômbia, SUS e Separatismo • B9
Mamilos (Transcrição)

Transcrição - Mamilos 85: Colômbia, SUS e Separatismo

Capa - Transcrição - Mamilos 85: Colômbia, SUS e Separatismo

Jornalismo de peito aberto

Esse programa foi transcrito pela Mamilândia, grupo de transcrição do Mamilos

Início da transcrição:
[Vinheta de abertura]
Esse podcast é apresentado por b9.com.br
[Sobe trilha]
Cris: Mamileiros e Mamiletes, bem vindos ao bonde da polêmica. Passe um café, puxe a cadeira e vem prosear. Eu sou a Cris Bartis e comigo está aqui essa gaúcha paraguaia:
Ju: Ju Wallauer ou que sobrou dela. Gente, eu tô só a capa da gaita, então me ajuda, me dá um abraço e vem comigo.
Cris: Então vamos começar com o Som do Mamilos pra agitar a parada. Caio, hit parade dos nossos corações e das nossas vidas, menino mais ponta firme das galáxias, o que você escolheu pra tocar hoje?
Caio: Olá, personas. Corraini aqui novamente para trazer a vocês os responsáveis por dar mais cor ao Mamilos desta semana. Lembrando sempre que se você quiser colaborar com o conteúdo musical deste programa pode nos recomendar bandas ou artistas independentes no email [email protected], [email protected].’brrr’. E facilita, e muito, minha vida se vocês enviarem os links do site oficial do artista ou então onde nós podemos buscar o download direto das músicas dele para utilizar no episódio. Nessa edição as coisas vão funcionar um pouquinho diferentes, a gente está aqui abrindo o programa com a MC Carol e a Karol Conká. Entretanto, no restante da edição, quem vai sonorizar as transições desse belo podcast é a banda Supercombo, lá do Espírito Santo. Então fiquem agora com a ‘100% Feminista’ da MC Carol e Karol Conká e depois a Supercombo no Som do Mamilos.

[Sobe trilha]
Música: 100% Feminista
Desde pequenas aprendemos que silêncio não soluciona
Que a revolta vem à tona, pois a justiça não funciona
Me ensinaram que éramos insuficientes
Discordei, pra ser ouvida, o grito tem que ser potente

Eu cresci
Prazer, Karol bandida
Represento as mulheres, 100% feminista
Eu cresci
Prazer, Karol bandida
Represento as mulheres, 100% feminista

[Desce Trilha]

Ju: E o beijo para: primeiro, pro Robson que me contou a minha nova alcunha. Aparentemente, quando eu digo Ju Wallauer na abertura do programa, tem gente escutando: Diva Laura. Ok!
[Risada da Cris]
Ju: Eu adorei, inclusive eu voto para que seja a abertura oficial. O que é que vocês acham?
Cris: Pronto, tá decidido. Um beijo para o Fábio, do ABC paulista.
Ju: Para a Dani, que sugeriu uma pauta sobre mulheres no sistema prisional.
Cris: Petrópolis, na do Rio de Janeiro.
Ju: Para Ilha Solteira, em São Paulo divisa com o Mato Grosso. E, olha, essa eu tive que procurar no mapa, viu?
Cris: Para Montanha, no Espírito Santo. E um beijo pra Brumadinho, em Minas Gerais, em breve teremos notícias.
Ju: E Fale com Mamilos. Temos uma equipe maravilhosa, que não para de crescer e uma equipe de voluntários. Na edição e no Som do Mamilos, o Caio Corraini; nas redes sociais, a Luanda e o Guilherme Yano, que aliás, prestigiem, tem que ver os shows de posts que eles fizeram essa semana para divulgar o programa de eleições. Ficou muito bom.
Cris: [interrompe] Tá subindo muito o sarrafo, não tá?
Ju: Se vocês não seguem o Mamilos, sigam, compartilhem, mostrem na timeline de vocês o nosso conteúdo porque, assim, às vezes as pessoas não vão escutar duas horas de programa, não tem o hábito de consumir podcast, mas eles podem saber que o Mamilos existe através dos nossos posts. Tá muito legal. Vão lá e compartilhem! No apoio à pauta está a Tati Araújo, que nos salvou essa semana de correria; e na transcrição dos programas, a Lu Machado. Cris, tem muita coisa para falar de transcrição, né? Você botou a casa em ordem.
Cris: Não sei falar, só sei sentir.
[Risada da Ju]
Cris: Porque cada transcrição que eu vou publicar, eu fico muito maravilhada com o carinho que a galera tem. É uma equipe de várias pessoas, a Lu coordena isso como um maestro e aí ela está sempre me mandando… Inclusive, vou publicar mais programas amanhã de transcrição. É de uma belezura, assim, absurda, o carinho e a forma como as pessoas se organizam, né, pra poder fazer isso.
Ju: Patronos, amores dos nossos corações, a gente ‘tá muito em débito com vocês, mês passado não teve o tradicional agradecimento nominal durante a Teta, mas a gente vai colocar as recompensas em dia. Palavra de escoteira. Gente, se você é um alucinado pelo Mamilos e ainda não é nosso patrono, entra lá. Com um dólar você já contribui para edição e a divulgação deste podcast que traz tanta informação para todos nós, tantos debates tão importantes, não é mesmo?

[Sobe trilha]
Música:
Não fui eu que fiz
[Desce trilha]

Cris: E Fala que te Escuto. Vamos começar com o Luis Felipe Curtolo. “Preciso de colo, quiçá de um abraço, das mamileiras para me lembrar que preciso ser empático e não odiar aqueles que me rodeiam. Que sentimento de incapacidade que sinto. Sou arquiteto e urbanista, logo quero minha cidade como aquelas que estão indo pra frente ou que são ícones mundiais. Estudei para isso, sei o que é melhor, assim como um médico estuda para tratar de um enfermo e vejo que aqueles nos rodeiam preferem mascarar a doença a procurar tratar as causas. É assustador, desanimador, frustrante. Preciso ouvir vocês falando que vai da certo um dia. Tô desacreditado”.
[Risada da Ju]
Cris: Ô, Luiz Felipe, um beijo. Deita aqui no ombro.
Ju: Um abraço.
Cris: Um abraço apertado.
Ju: Meio que respondendo não respondendo, mas, né, na mesma linha, na mesma toada, vem o André do Valle falando que: “as coisas vão piorar em São Paulo a partir do ano que vem? Vão. Haverá retrocessos na Educação, na Saúde, na Cultura? Sim. E é nessa hora que teremos de fazer a melhor política! Muito além da resistência institucional (que, claro, deve acontecer), é termos a maior compreensão e compassividade para com aquelas pessoas que se deixaram convencer pela grande mídia, a fim de iniciarmos um diálogo calmo, lento, SEM IRONIAS e SARCASMOS. Pensa comigo: o casal se separa e a criança fica muito mais tempo com a mãe do que com o pai. A mãe é que pega no pé, ela é que dá limites, briga quando acha necessário. O pai só pega a parte boa. Saudades, tempo sem ver, pouca convivência… Aí você pergunta pra criança, não de quem ela gosta mais, mas quem ela acha mais legal. Pois é, vem um apresentador super simpático e, pela tela da TV, com um sorriso na voz e carisma nos olhos, no cenário, na trilha sonora, paga de amigo de quem assiste. Aí você chega lá, perde a paciência: ‘nossa, gente, não é possível tanta burrice, tanta alienação!’ e maltrata quem precisa, muito mais do que você, de alguém que converse, que compreenda e que respeite os pensamentos, que sabemos, não são dessa pessoa, só que ela pensa que são. Eu fui um adolescente bem alienado e não fui salvo por militantes esquerdistas. Quem me mostrou que os pensamentos e as opiniões que eu tinha estavam errados (digo errados porque não eram meus) foi um grupo de professoras e professores que jamais me constrangeram pela falta de mim mesmo que havia na minha personalidade. Não é discutindo com taxistas, numa corrida que jamais voltará a acontecer, que você vai salvar o mundo. Não é dando risadas cínicas que você vai melhorar o nosso país. É sim com o contrário disso. O que nos torna humanos é a expansão; o alongamento do que somos. E alongar é muito saudável, mas se for de uma vez, com o peso duma força bruta, pode romper os tendões e anular o membro”. Eu gostei muito deste e-mail justamente por trazer uma tônica diferente do Fla-Flu que fica normalmente após eleições justamente por ele falar assim “cara, a gente… Baixa a bola, senta pra conversar, senta pra entender o que a pessoa está falando, quais são os motivos dela”. Aqui ele está dando como dado que a pessoa está errada…
Cris: [interrompe] E que tudo vai piorar.
Ju: É que é só uma questão de como você vai mostrar para ele. Tudo bem, não que eu concorde exatamente com isso, mas acho interessante o ponto que ele coloca de falar assim ‘cara, não vai ser com ironia que você vai conseguir convencer alguém então porque que a gente está levando o debate pra esse ponto?’. Porque foi o que a gente mais viu, né? Só o que rolou foram [foi] a gente fala tudo por ironia… A gente já falou isso um pouco no Mamilos… Um debate ruim…
Cris: [interrompe] Em 2016 você vai querer desacreditar alguém também pela roupa que ele veste é meio tenso, né? Então, assim, vai tudo pro sarcasmo, pra ironia e pro deboche sendo que a gente precisava realmente de conversar sobre as questões sérias. A Camila Castilhos disse “Vai morrendo um dos maiores memes do Mamilos: ‘Beijo, Haddad’ RIP 2016”.
[Risos]
Ju: Era bom demais, eu tinha que colocar aqui porque, né…
Cris: [interrompe] É, era bom mesmo. O Alex Brum ainda disse “Não entendi metade do que vocês explicaram, mas a metade que eu entendi já é o dobro do que eu sabia. Mamilos é muito amor no coração”. Muito fofo isso.
Ju: Muito.
Cris: E, ‘ó’ quem deu o braço a torcer, minina?
Ju: Não, eu achei que quando você vê um cara desse dizer que aprendeu alguma coisa com uma coisa que você falou…
Cris: [interrompe] Fecha esse podcast?
Ju: Poxa.
Cris: Então o Ulisses, nosso querido amigo do podcast NBW, disse “Confesso que o último Mamilos deu uma chacoalhada nas minhas convicções sobre as coligações locais. Já não sei mais o que eu acho do assunto”.
Ju: Ulisses, se te consola, eu é que saio daqui sabendo menos, quer dizer, com menos convicções do que eu entrei. Eu saio sabendo mais, mas com menos convicções.
Cris: [interrompe] Exato.
Ju: A gente já fez vários programas sobre o política, sobre reforma eleitoral, para discutir justamente como funciona, quais são as regras e como ser estratégico, como votar e eu saí do programa sem saber em quem votar e fiquei até domingo sem saber em quem votar.
Cris: É, eu acho que pra mim é legal falar isso do programa passado, eu começo duvidar que na verdade a gente precise de grandes reformas porque não existe método certo. O que eu acredito, muito mais, depois de alguns programas sobre isso, hoje, no dia atual, é que nada vai mudar enquanto não tiver engajamento. Não importa o tipo de reforma ou o que se coloque lá, não é bem as regras que estão erradas, é como nós estamos usando as regras. Bom, isso é para outro café, né, vamo em frente.
Ju: [interrompe] Outro… A Fernanda Mayumi Kobayashi trouxe um olhar bem diferente do que a gente tinha colocado, complementar, né?. “Há uma semana foi inaugurado em São Paulo o Observatório do Eleitor com Deficiência, no prédio do Ministério Público Federal. Trata-se de um espaço voltado a receber todo tipo de sugestão e crítica de pessoas com deficiência no que diz respeito a acessibilidade eleitoral. Esse Observatório é muito importante, pois somente por meio de informação os procuradores conseguem formular enunciados para encaminhar ao Tribunal Superior Eleitoral, de modo que determinados temas virem regra em nosso sistema. Só para ter uma ideia, a inclusão da linguagem de libras na propaganda eleitoral veio por intermédio de uma dessas reivindicações, e depois de muita insistência de determinados profissionais lá de dentro. Um exemplo do tipo de demandas atendidas pelo Observatório, por exemplo, que aconteceu agora nessas eleições, teve muita reclamação de pessoas surdas no sentido de que alguns “intérpretes” de libras que aparecem na propaganda eleitoral tavam só fazendo mímica, sem nenhum sentido, colocadas apenas para cumprir a determinação judicial”.
Cris: Gente eu desacreditei muito disso.
Ju: Não é?
Cris: Sério. É, tipo, o inferno tem subsolo. Como assim?
Ju: Sim. E assim eu achei muito legal porque eu sinto que uma coisa você fazer um programa sobre acessibilidade que se faz um recorte e aí de repente você passa a enxergar isso em todas as esferas da vida…
Cris: Né…
Ju: Porque assim se você não consegue fazer parte plenamente do momento de eleição você não é o cidadão pleno…
Cris: Ahn! E é excluído Total…
Ju: É então é muito legal, assim gente, sempre tragam pra gente qualquer assunto que a gente falar, se vocês não se trouxerem recortes de acessibilidade como que a gente deveria fazer diferente para ser sensível para mais pessoas, a gente sempre vai prestar atenção nisso, a gente vai trazer para os ouvintes escutarem. Porque eu acho que isso amplia muito a nossa visão não é?
Cris: Antes de entrarmos de vez no programa… Juliana, pagamos peitinho no programa passado, menina…
Ju: Pagamos?
Cris: Juro. Tinha um tempo que a gente não pagava peitinho né?
Ju: É.
Cris: Também com esse frio… A gente falou que a biometria não era obrigatória. E realmente ela não era em São Paulo, mas em outras cidades sim. Então em cidades menores que parece que o cadastramento foi feito até como um projeto-piloto, era sim, obrigatório! E quem não tinha a biometria no dia da eleição não foi possível votar. Teve ali o título de eleitor barrado e vai precisar fazer isso para a próxima eleição. Fica aí o nosso “Me desculpe!” sobre essa informação.
[Sobe trilha]
tenho em mãos
Oh, oh, oh, ooooh

[Desce trilha]
Ju: Vamos sem mais delongas para o trending topics. Vamos começar apresentando quem tá aqui. Primeiro quem é de casa. Michelle, quem é você na fila do pão?
Mi Sopper: Primeiro, porque importa para esse programa: Sou gaúcha [Risos] e depois advogada…
Ju: Porque também importa muito para esse programa.
Mi Sopper: Por que também importa e sempre importa, na verdade.
[Risos]
Mi Sopper: Mas também uma pessoa apaixonada pela liberdade e pelas letras. E é isso que eu vim fazer aqui.
Ju: E por Jazz.
Mi Sopper: Jazz…
Ju: E por viajar também…
Mi Sopper: Oh!
Ju: E por cozinha muito bem.
[Risos]
Mi Sopper: Tá, vamos parar?
Ju: Uma pessoa cheia de predicado, inclusive. Temos também um convidado novo apresentado pelo Oga que vocês já amam e nesse momento escorre uma lagriminha de vocês, pensando na voz do Oga. Eu sei. Conheço vocês. O Léo veio representar muito bem o Oga. Leo apresente-se. Quem é você? Da onde você vem? Do que você se alimenta?
[Risos]
Leonardo Veras: Eu me alimento de sol… [Risos] E ideias, coisas assim. Eu sou jornalista eu trabalhei com o Oga a muito tempo na Abril [Editora Abril] na Info. Então isso basicamente deve me denunciar como Nerd inveterado. [Risos] Só que eu também nas minhas horas vagas eu gosto de me meter em protesto. Sou fotógrafo de protesto. Já cheirei muito gás lacrimogêneo na minha vida.
[Risos]
Ju: Então você é um esquerdopata petralha é isso?…
Leonardo Veras: Olha…
Ju: Resumindo.
Leonardo Veras: É o que me chamam né. [Risos] Eu não costumo acreditar nos outros, mas é assim que me classificam.
Ju: Gente! Que lindo, a gente tem uma mesa super equilibrada.
Mi Sopper: Total.
Ju: Adorei a composição da mesa de hoje. Estamos diversos. Você é daqui mesmo, Leo?
Leonardo Veras: Sou, sou de São Paulo.
Ju: Isso é muito importante para o tema dessa semana também.
[Risos]
Leonardo Veras: Sim.
Ju: Estamos equilibrados gente! Vamos para o giro de notícias, Cris.
Cris: Número 1 – Eleições municipais: O PT foi o grande perdedor das eleições de 2016, enquanto PSDB foi o maior vencedor. O PMDB também teve bom desempenho, REDE não decolou e PSOL continua lutando para conquistar espaços com boas chances de disputa pela Prefeitura do Rio de Janeiro. Tivemos em 2016 um aumento da fragmentação partidária nas eleições. Até o momento, das 35 legendas registradas no país, 31 vão administrar ao menos uma cidade. A Câmara São Paulo terá mais que o dobro de mulheres em 2017, mas o grande vencedor dessas eleições foi Ninguém. Chamamos de Ninguém a soma dos brancos nulos e abstenções. “Ninguém” foi eleito foi eleito em São Paulo, Rio de Janeiro, Porto Alegre, Belo Horizonte, Curitiba, Belém, Sorocaba, Ribeirão Preto, Uruçuca na Bahia e em diversas outras cidades. Cidades pequenas e grandes. Então fica aí esse pensamento, ao longo das próximas semanas muitas análises vão ser publicadas. É importante tentar esclarecer o que o povo de fato disse nas urnas e o motivo desse comportamento. O que a gente espera é que vocês como sempre busquem informação e conhecimento e não se contentem com explicações simplistas; existem mensagens extremamente profundas nessas eleições. E mais do que chorar o leite derramado, é importante refletir sobre elas.
Ju: E principalmente uma coisa que a gente consistentemente criticou em relação às eleições de 2014, que foi das pessoas falarem que “Ah, quem não votou como eu é burro, mal informado, morto de fome ou tal…” Não faça a mesma leitura do oposto, do espectro oposto, né. Então assim, quem não votou como eu necessariamente não sabe votar, é burro, não votou com a cabeça ou é elitista, coxinha… Enfim. Tem mais mensagens, tem mais camadas, tem mais coisas interessantes para serem analisadas além dessa primeira esfera mais óbvia, né. Então vamos fazer essa lição de casa e a gente não quis falar sobre isso no calor da hora até porque uma boa análise política vai demorar um tempinho para ser feita mas devemos evidentemente falar sobre as eleições no futuro.
Ju: Segundo ponto: A cura da AIDS pode estar próxima. No Reino Unido um paciente portador de HIV usou uma combinação de medicamentos que erradicou o vírus em poucas semanas. Por enquanto, cientistas falam em cura temporária porque outro tipo de tratamento já apresentou o sucesso inicial e depois de um tempo a pessoa voltou apresentar o vírus HIV. Esse paciente vai ser acompanhado por alguns anos para que a cura seja considerada definitiva. Mas é uma excelente notícia! Vamos ficar de olho.
Cris: Esse tipo de coisa eu fico pensando será que o cara misturou o negócio mesmo sem querer? [Risos] É muito interessante essa viagem.
Cris: Número 3: Depois de 30 anos Miss Brasil é negra. Depois de bater um recorde de candidatas negras – seis candidatas, representando 25% das participantes – o concurso de beleza mais tradicional do Brasil elegeu uma negra para ser Miss Brasil 2016. A Paranaense Raíssa Santana foi a segunda Negra a ganhar o concurso depois da Pioneira Gaúcha Deise Nunes. Tem muita gente falando: “Oh meu Deus! Eu não acredito que vocês estão batendo palma para um concurso de beleza em 2016.” Que é um processo de opressão de valorização da aparência física… Isso só mostra desigualdade e as camadas que tem dentro do próprio feminismo. Tem gente lá na frente falando que a gente não precisa de concurso de beleza enquanto tem gente que ainda tá tentando se reconhecer como bonita. Então é um grande passo sim! O movimento feminista negro tá extremamente feliz com essa conquista e isso não tira as outras pautas da discussão, mas só tem uma coisa realmente importante nisso: A Raíssa é linda! Ela é muito bonita e ela é uma negra muito bonita e esse reconhecimento, ele é tardio, mas tá aí para acontecer.
Ju: Vamos para o Trending Topics 1: E o primeiro tema vem com mea culpa. É esse o programa 85 e em 85 programas a gente nunca falou de algum país latino. A gente já falou de Síria, a gente já falou de vários países europeus, né, de crise de refugiados vários temas que começam lá, atentado, Charlie Hebdo, e tal. Já falamos de eleição nos Estados Unidos e a gente nunca falou dos nossos vizinhos. A Mi realmente sempre sugere pautas, já sugeriu Venezuela várias vezes…
Mi Sopper: [interrompe] Venezuela…
Ju: E sempre parece que tem alguma coisa mais importante mais quente e prioritária para a gente, tá na nossa frente. Então assim, com esse atraso de 85 programas vamos falar sobre: O plebiscito de acordo de paz com as FARC. O que aconteceu: mais de 260 mil mortos, dezenas de milhares de desaparecidos, quase 7 milhões de pessoas tiveram que deixar suas casas a força, estupros, sequestros e inúmeras vidas foram marcadas para sempre. Uma guerra que sangra o país há 50 anos e deixou de herança a dianteira, junto com Afeganistão, no ranking de número de vítimas de minas terrestres, já que 80% dos municípios colombianos tem minas enterradas. A Colômbia enfrenta a guerra interna mais antiga do hemisfério ocidental, um conflito onde a maioria dos mortos são civis. Neste domingo os colombianos foram às urnas para decidir através de um plebiscito se legitimavam o acordo de paz fruto de 4 anos de difíceis negociações entre o presidente colombiano Juan Manuel Santos, e o líder das FARC, Timochenko. Apenas 37% dos cidadãos aptos a votar foram às urnas, dando vitória para o “não”, com uma margem muito pequena, só 60 mil votos. Esse é o décimo processo de paz com o grupo armado na Colômbia. O governo já tinha tentado um acordo em [19]89 com as FARC, mas os guerrilheiros que fizeram entrega de armas e conseguiram espaço político no Congresso foram assassinados, três mil e oitocentas pessoas assassinadas. O partido que eles formaram, a União Patriótica, foi eliminado literalmente. Por esse massacre o Estado colombiano recebeu condenação da Corte Interamericana de Direitos Humanos. E aí a primeira coisa que eu queria perguntar: Mi, conta pra mim como é que a América Latina entrou no teu radar? Como é que você passou a se interessar mais pelo o que acontecia nos países vizinhos?
Mi Sopper: É aquela clássica “dá um rosto para a realidade”, né. E eu conheci amigos. Fiz uma porção de amigos no curso que eu fiz fora, com vários países da América Latina, e eu comecei a ouvir as histórias deles. E as histórias deles eram parecidíssimas com a minha ou muito piores ou muito recentes em termos de terror, de guerra, né. E eu comecei a me impressionar como a minha ignorância era a incrível. E agora, com esse assunto do acordo de paz, eu comecei a realmente investigar essa questão das FARC e todo o drama de guerrilha e de conflito armado que a Colômbia passa há tantos anos e fiquei impressionada que é muito pior ainda.
Ju: É que a gente não tá acostumada. Eu não sei, mas a gente fica na nossa bolha no Brasil. O Brasil é muito grande; e a gente fica nessa bolha de que conflito, quando a gente escuta, é Oriente Médio, é a África; Conflito não é aqui, né? Então você pensa que um país vizinho é campeão em mina terrestre… que brasileiro que sabe disso, né? Não é senso comum, não cabe no senso comum, né?!
Leonardo Veras: Sim, é aquela coisa do… o Brasil ele tem uma espécie de separação total com a América Latina por questões históricas e também por conflitos que a gente já teve com esses outros países. E até pelo fato de que a maior parte da nossa população fica ali no litoral, quase fica a milhares de quilômetros…
Ju: [interrompe] Isolada, né.
Leonardo Veras: Do outro lado da América, que é ali a Colômbia, né.
Mi Sopper: E é impressionante como uma coisa meio simples como o Português é uma barreira…
Leonardo Veras: [interrompe] Sim.
Mi Sopper: O Português e o Espanhol, faz a gente ter músicas diferentes, toda uma cultura popular muito diferente.
Cris: Alguém, recentemente eu li, falando sobre… o brasileiro não se reconhece latino. Então chega nos Estados Unidos, alguém perguntou pra uma pessoa “você é latino?”
Ju: [interrompe] Foi o Ulisses que falou, no NBW.
Cris: Foi o Ulisses. É! Aí ele falou “não!” [Risos]. Tipo, deu tela azul, né. Na verdade, gente, olha só, nós somos latinos!
Leonardo Veras: Sim, nós somos latinos.
Cris: E a gente não se reconhece, até por causa do tamanho do país, os latinos são os caras que moram lá na beirada.
[Risos]
Ju: É, são os que falam Espanhol, né, e é interessante como identidade: claro que cada país tem as suas particularidades, mas têm algo em comum, né. É uma cultura partilhada que vem da língua, que vem da música, vem das novelas, vem de uma série de coisas que acabam sendo comuns, sobre religião, as festas tradicionais. Então muda, obviamente, de país pra país, mas tem alguma conexão, né.
Cris: [interrompe] E a resposta é boa né, sei lá, tipo “pode se dizer que sim”. E isso também vem muito da construção da imagem do que é o latino, né. Então você não se reconhece por isso porque também não parece, sei lá, uma coisa tão boa assim. Faz parte desta construção de estereótipo. Voltando aqui ao conflito, seria interessante a gente explorar um pouquinho dessas causas, né? Cinquenta anos é muito tempo, o que que acontece ao longo, né, o motivo, e ao longo desse tempo pra se arrastar por um período tão longo?
Leonardo Veras: Pois é, a Colômbia, ela tem um histórico extenso de separatismo, não é só essa questão das FARC. A Colômbia, ela começou como uma colônia de Nova Granada, que era toda aquela região ali que inclui Venezuela, Colômbia, o Panamá, Trinidad e Tobago, até um pedaço do Brasil e um pedaço do Peru também. Então todo aquele norte ali, aquele pedacinho que liga o Panamá com a América do Sul, era uma única administração dentro da Coroa Espanhola. E quando começaram os movimentos de independência, aquilo ali meio que explodiu assim, né. Primeiro a Venezuela se separa e eles têm uma rivalidade histórica ali também. Um pouco depois, talvez por um pouco de ingerência dos Estados Unidos, o Panamá também se separa. Isso causa dentro do Estado colombiano uma certa aversão a todo tipo de movimento que tenha um pouquinho de viés libertário, né. Libertário no sentido de querer um pouco mais de independência política e tal. Como o Estado lá não era muito bem organizado, como todos os outros países da América do Sul, eles não alcançavam todos os lugares, principalmente ali no sul, que é mais dominado pela Mata Equatorial, etc.; o estado não chegava lá. Tinham pessoas lá que eram agricultores e tal, mas não tinham serviços, não tinha nada, e essas pessoas se organizavam por si próprias. Eles eram, inclusive, reconhecidos no discurso nacional como “repúblicas independentes”. Isso causa um mal estar com o estado central. Eventualmente, algumas destas repúblicas acabam adotando um viés mais Marxista ali no meio do século XX, e daí os Estados Unidos se envolvem e causam uma richa ali entre o governo central e esse pessoal, que acaba levando a um conflito armado que são as FARC. Então é uma coisa meio reativa que não tem só a ver com a questão do comunismo, mas também um longo histórico de movimentos separatistas dentro da Colômbia, que foi complicado ainda mais por causa da Guerra Fria com os Estados Unidos se metendo nos assuntos de outros países latino-americanos.
Ju: Uma coisa que eu acho interessante é que a diferença do conflito na Colômbia para outras guerras civis no mundo é que, assim, quando fala dos conflitos no Oriente Médio, na África, e tal, você tá falando de conflitos por razões étnicas, religiosas ou econômicas muito claras, né. Não é exatamente isso que acontece na Colômbia. Eu achei interessante o que o Álvaro Villarraga do Centro Nacional de Memória Histórica disse. Ele apontou três elementos. Cada pessoa, cada historiador, enfim, cada cientista político vai elencar quais são as causas que ele acha, mas as causas que ele colocou eu achei interessante pra gente refletir. Ele colocou três causas: tendência de usar a violência no poder e na política; falta de resolução sobre a questão da propriedade da terra no campo; falta de garantias para a pluralidade e exercício da política. Por que que eu achei interessante a gente parar um pouco e analisar isso? Porque como irmãos, né, irmãos são completamente diferentes, a gente já falou sobre isso, tem personalidades diferentes, nasceram em momentos diferentes e tal, mas tem raízes próximas semelhantes. E eu vejo como esse autoritarismo e essa violência no discutir também é muito presente em vários outros países da América Latina, né. E como a gente vê isso no nosso discurso também. Então assim, a gente tem falado bastante aqui no Mamilos, a gente falou quando a gente falou sobre Guerra na Síria, sobre isso, sobre até onde vai, quando você coloca na última potência, o discurso violento. Quando você não tá disposto a sentar e validar a opinião do outro, quando você não tá disposto a negociar, onde que isso te leva, né. E eu achei interessante falar isso, do conflito da Colômbia. De mostrar que assim, tá, muito antes de ter o envolvimento dos EUA, muito antes de você ter narcotráfico interferindo nas FARC, muito antes disso já existia um conflito violento entre liberais e conservadores, então é o jeito de resolver conflito que, ao invés de ser político, que é uma palavra que tá muito vilanizada no Brasil, ao invés de resolver conflitos através da política, que quer dizer através da conversa, se resolvia na bala. Então isso já vem desde o século XIX, a raiz desse confronto tá aí, né.
Cris: [interrompe] Inclusive é isso que deixa brecha para que outros países adentrem na “boa” intenção, ‘coelhinhos voadores’, de facilitar essa negociação, né. Então quando não se tem essa habilidade, né, tinha uma distância muito grande entre a selva e o centro ali né, uma distância não só de pensamento mas de forma de discurso que impediu que eles entrassem nessa negociação e permitiu que outros entrassem para intermediar. “Não, já que vocês não conseguem fazer, peraí que a gente vai intermediar pra vocês”. E nisso se arrasta há cinquenta anos o conflito.
Ju: Eu queria saber, Mi, a gente já sabe que a resposta foi não, mas acho importante a gente saber primeiro o que que propõe o acordo, ao que que foi dito não.
Mi Sopper: O resumo do acordo tem seis pontos. O primeiro deles é a reforma rural integral, que eles chamam, que é primeiro estabelecer um fundo de terra de três milhões de hectares pra distribuição gratuita para campesinos e sem-terras, que não têm terras ou que têm terras insuficientes para agricultura, porque a gente tem que pensar que esse conflito todo ele atingiu as pessoas e elas foram deslocadas dos seus locais, muita gente não mora mais ou cidades inteiras foram ocupadas, então a gente tem….
Ju: [interrompe] Foram expulsas de sua terra, né.
Mi Sopper: Exatamente. Tem que fazer uma reorganização geral dessa situação da propriedade privada.
Cris: [interrompe] Então você tá querendo dizer que vai ter que repartir terra…
Mi Sopper: Muita.
Cris: [interrompe] Então vamos começar a ver, vamos começar a ver…
Ju: [interrompe] As pessoas adoram dividir terra, não adoram?
Cris: Né? É fácil fazer isso.
Ju: [interrompe] Sempre é tranquilo, no mundo inteiro, sempre foi, na história da humanidade na hora que você fala “gente, vamos dividir terra?”, todo mundo fala “nossa, traz o bolo, e vamo”.
Mi Sopper: [interrompe] Até porque se eu peguei sem licença, vou devolver, né, porque não é minha.
Ju: Normal, sempre assim.
Cris: E passado cinquenta anos não é mais você que pegou que vai devolver, é o seu filho ou seu neto, então começa aí a ligar os pontinhos.
Mi Sopper: E é óbvio que não tem nenhum papel pra dizer de quem é, de quem foi, pra quem passou, mas enfim… Nessa linha da reforma rural, subsídios e linhas de crédito para compra de terra e desenvolvimento da atividade agrária. Principalmente, olha que interessante, pra mulheres, chefes de família e pra essas comunidades deslocadas.
Ju: Por que mulheres?
Mi Sopper: Justamente por isso. Porque os homens estão todos envolvidos na…
Ju: [interrompe] Morreram. Não, e morreram também, né?
Cris: [interrompe] Morreram, né?
Ju: Depois de cinquenta anos de conflito você tem muita família que perdeu o pai, o filho mais velho, enfim, então acaba recaindo sobre os ombros das mulheres sustentar a família.
Mi Sopper: E porque eles ainda são as pessoas que vão ser julgadas por todo o contexto.
Cris: [interrompe] Ou morreram ou estão presos.
Mi Sopper: É. E o terceiro ponto da reforma rural seria criar uma jurisdição agrária para resolver esses conflitos e resolver a parada.
Ju: É, criar uma infraestrutura para… Porque, imagina, é isso mesmo que você [Mi Sopper] falou… Assim, por mais que a gente resolva aqui, tá, de uma vez só a gente resolveu ‘vai ficar uma pra você, uma pra você e uma pra você. Tá resolvido’. Nunca você vai conseguir, com uma determinação, com uma lei, com uma portaria, resolver de uma vez só todos os conflitos. Então, vão gerar uma série de outras demandas. ‘Não, mas isso aqui era meu primeiro’, ‘Não, era meu’. E quem que vai resolver isso? Então eles já tinham pensado nisso.
Cris: Só nesse primeiro bloco, queria ressaltar, eu já citei aqui algumas vezes que eu já fiz um trabalho bastante complexo no Incra. Gente, é tão similar ao que a gente passa aqui. É tão igual, a situação é tão parecida. Só queria abrir esse parêntese pra gente perceber o quanto tem de similaridade isso.
Ju: Você promete que um dia você faz uma Teta sobre reforma agrária?
[Risos da Cris]
Ju: Você me explica isso?
Mi Sopper: Nossa.
Cris: Um dia…
Leonardo: [interrompe] Vai ser bem interessante isso.
Cris: Um dia eu conto a minha história com o Incra.
Ju: Então, vamo. Vai, continua.
Mi Sopper: Segundo ponto do acordo: participação política. Então estabelecer um sistema legal de garantias e seguranças para líderes de movimentos e organizações sociais porque vocês lembram, como a Ju falou, na tentativa anterior de negociação de paz, eles simplesmente admitiram as pessoas na política e depois mataram. Eles…
Ju: [interrompe] Aniquilaram.
Mi Sopper: Então, realmente, é uma segurança jurídica e de vida das pessoas que vão participar da política porque a ideia é: esse movimento existe, as FARC, eles tem um programa de estado, um programa pra população e eles tem que ter direito de apresentar isso de forma política, ou seja, vamos trocar as armas, mas as armas por uma participação…
Ju: [interrompe] É, vamos conversar. Senta e conversa.
Mi Sopper: Exatamente.
Ju: Sabe o que que eu acho interessante? Porque você está falando o seguinte, a gente, na abertura nem falou, não desenrolou o rosário todo de crimes das FARC, né, mas eles aterrorizaram o país por cinquenta anos. Não foram sozinhos, né…
Cris: [interrompe] Quem assistiu Narcos viu pedacinho aí. Tem um pedaço muito leve mas dá pra perceber o quanto era violento o movimento. É violento ainda.

Ju: Então, o que a gente tava, o que a Mi tá falando é que esse acordo ele propunha proteger quem tocou o terror no país. Só pra gente entender, usar a empatia pra entender, como é difícil escutar quem é vítima, e quantas pessoas são vítimas disso, como se sentiram de ver o Estado oferecendo proteção pra quem tocou o terror por tanto tempo. E mal comparando, muitíssimo mal comparando, é o que, mais ou menos, o Mandela propôs na África do Sul, que é de falar assim “Tá, não importa quem estava errado, quem estava certo, a questão é que se a gente ficar em [de] retribuição em retribuição em retribuição, o conflito nunca vai parar”. Tudo bem, eles estão erradíssimos, mas o ponto é, para que não tenha mais violência, todo mundo tem que se sentir seguro. Em algum momento tem que parar, só que é muito difícil para quem foi o ofendido por tanto tempo ceder nesse momento, né? Entender que só vai acabar a violência se for seguro para todo mundo.
Mi Sopper: E na parte de participação política, eles vão ter um fundo partidário e vão participar do fundo partidário e ainda vão ter direito a cinco cadeiras. Então eles vão garantir para eles cinco cadeiras. Então é diferente “olha, vai lá e faz programa eleitoral e vê se tu ganha uns assentos no congresso” e eles estão assegurando. E isso também é polêmico, né, porque não é só uma concorrência igual, mas eles têm uma vantagem ainda sobre os outros partidos. O terceiro ponto é o fim do conflito, que é mais a questão justamente da…
Ju: Cessar fogo, né?
Mi Sopper: Exato. Encerrar as ações de ofensivas, entregar armas, reincorporar as pessoas que eram da FARC na vida civil. Esse processo de desmilitarização é super burocrático, até para assegurar a segurança de entregar essas armas, como entregar e quem vai estar aí para assegurar que isso não gere, né, a entrega de armas não tenha um componente de…
Cris: Novo conflito.
Mi Sopper: Violência. Exato. Temos que lembrar também que toda essa população, ela não tem nem registro de identidade então não sei nem quantas são, quem são, né. Então imagina um monte de gente naquele mato que é aquela parte tendo que nascer socialmente.
Ju: [interrompe] Viver à margem do estado, né? Então, pela primeira vez, nascer.
Cris: Então, todos os seis pontos da proposta é o seguinte: nós temos uma série de marginais, eles estão todos à margem da sociedade, nós vamos reintegrar essas pessoas na sociedade, isso quer dizer pegar as armas, dar identificação, dar uma chance civil dando uma terra, dando dinheiro para que eles comecem e garantindo representação política desse povo junto às demais cadeiras. Mais ou menos um resumo de todos os pontos é isso: tire da marginal e traga para o centro e aí nós vamos virar de novo uma comunidade e a gente vai ter conflitos políticos e não armados.
Mi Sopper: Exatamente. É isso esse ponto. O quarto ponto é a solução do problema das drogas, né? Temos todo um cultivo muito lucrativo de coca que a gente tem que substituir…
Cris: [interrompe] Sustenta várias pessoas.
Mi Sopper: Exatamente. Por um cultivo legal…
Cris: E a gente não está falando de sustentar com o lucro não. É do agricultor mesmo, do cultivo mesmo…
Ju: [interrompe] Subsistência, né?
Cris: Exatamente. Famílias inteiras que trabalham em lavouras.
Mi Sopper: E a coca cresce muito mais fácil do que qualquer outro alimento, né? Então vai ter que ensinar as pessoas cultivar outras coisas, né?
Cris: Então, a gente passa esse mesmo problema no Brasil com o cultivo de fumo, principalmente na região sul do Brasil, de ir lá e oferecer outro tipo de subsistência para as pessoas para que elas deixem de plantar o fumo. Porém, é muito mais lucrativo para essa família, porque paga-se melhor para plantar o fumo.
Leonardo Veras: Tem uns dados aqui sobre isso, inclusive, é um… Para vocês terem uma noção do quanto que a cocaína e a coca, a pasta de coca, o cultivo e tudo é um elefante gigante no meio da sala, né? Setenta por cento da produção de coca da Colômbia é controlada pelas FARC atualmente e isso envolve, dependendo se você pega dados da ONU ou da Casa Branca, entre noventa e seis mil a uns cento e cinquenta e nove mil hectares. É muita coisa. E eles representam quarenta por cento da produção total de cocaína no mundo. Então é uma coisa absurda.
Ju: [interrompe] É muito lucrativo também.
Mi Sopper: Então, esse ponto visa não só atacar também não só os produtores pequenos que estão ali só cultivando coca para a subsistência como também toda a criminalidade que isso envolve…
Cris: [interrompe] A cadeia, né?
Mi Sopper: Exatamente. Então vai ter uma política criminal, luta contra as organizações criminais e, também, eles pretendem estabelecer controles sobre a produção, importação e comercialização de insumos químicos usados na produção de drogas. O quinto ponto é sobre as vítimas. Então, todos os mecanismos judiciais e extrajudiciais para satisfação dos direitos das vítimas assegurando a responsabilização sobre o ocorrido, isso é muito nítido no documento. As FARC, elas tem que se responsabilizar, assumir o que aconteceu para que, justamente, o país possa começar a se recuperar desse trauma.
Cris: É o mesmo processo que aconteceu na Argentina, né, e aqui no Brasil também, a Comissão da Verdade, de buscar uma identidade do país sobre a época da ditadura. Então, é muito similar a isso. É o reconhecimento e a busca histórica de pessoas desaparecidas e de conflitos e até para as famílias poderem ter a memória dos seus entes que foram dizimados aí com a guerra, com o conflito.
Ju: Eu vou colocar no post, vale muito a pena ler o texto, que o filho de um dos deputados assassinados pelas FARC… A FARC assassinou onze deputados que estavam em cativeiro. Aconteceu um encontro entre os algozes e a família das vítimas justamente nesse âmbito de justiça reparativa, de eles reconhecerem a responsabilidade e de eles pedirem perdão. E esse menino colocou o relato de como ele se sentiu depois, fez um post no Facebook. Vale muito a pena, muito, muito a pena ler porque às vezes a gente tem, a gente já conversou um pouco, por cima aqui no Mamilos, sobre a noção que a gente tem de justiça, que tem muito mais a ver com vingança, né, “se você matou meu pai eu mato o seu pai também” e é diferente desse conceito de justiça reparativa. Parece que essa justiça reparativa é tão fraca, né? Porque, gente, “você matou meu pai e você vai olhar no meu olho e pedir desculpa? O que que isso resolve? O meu pai não vai voltar. Isso é pouco, você vai continuar tendo vida, vai continuar fazendo coisas e o meu pai não volta”. É muito interessante. Vale a pena ler.
Mi Sopper: É, então, esse ponto, inclusive, para vocês terem uma noção, se a pessoa não assume responsabilidade pelo que fez, ela ganha uma pena de quinze a vinte anos enquanto que a pessoa que ela se responsabilizar, a pena varia de cinco a oito anos dependendo do que ela fez. Isso é uma outra coisa interessante porque, foi projeto da propaganda para o ‘Não’ dizer que haveria uma anistia geral e ilimitada e tem vários crimes para os quais automaticamente não pode haver anistia. Então é bem interessante isso. Então, são os crimes piores, claro, mas está previsto no acordo, assim, desde já eu não vou te anistiar por esses crimes. Então, já é um… Eu achei um ponto de partida interessante. E o último ponto são mecanismos de implementação e verificação, que na verdade são dez anos que existiam, que acho que é o início só disso, pra poder desenvolver todos esses planejamentos, todos esses passos para alcançar uma paz porque eles tem que verificar, investigar muito para depois começar as punições, para começar a ação propriamente dita, né?
Ju: E eles colocaram, estabeleceram a ONU como o árbitro e fiscalizador desse processo, certo?
Mi Sopper: Certo.
Ju: Então, agora que a gente já entendeu o que é que estava em jogo e foi isso, essa proposta que foi negada… Que foi esta proposta, poderia dizer, Léo, bastante progressista…?
Leonardo Veras: Eles fizeram uma série de concessões ali, inclusive, o grande problema pro lado do ‘Não’ é que eles achavam que estava tendo concessões demais do lado do governo. Eu diria que eu, assim… existem certas diferenças nas sociedades em geral e numa dessas em especial que você não vai conseguir resolver em curto prazo. Então, no momento, existe uma prioridade ali que é a paz. Eu acho que esse acordo teria conseguido de uma forma aceitável. Eu acho que era uma proposta progressista que poderia ter sido aceitada sim. Acho que foi um exagero do lado do ‘Não’.
Ju: Vamos entender quais são os lados então. Cris, quem que estava do lado do ‘Sim’?
Cris: Quem que buscou isso incessantemente foram todos os partidos e a ONU, todos eles na campanha pelo “sim, vamos aceitar esse acordo”. Seria uma oportunidade de paz e de reconstruir o país. A idéia era recuperar o campo, era desobstruir a terra, era, na verdade, unir a sociedade toda em uma só, deixar de ser essa marginal e essa central, todas num lugar só; voltar a ter partidos políticos bem delimitados; deixar de dar tanto foco ao narcotráfico como subsídio de existência no país, ou seja, existem outras formas de economia na Colômbia que ficam subjugadas em função dessa; reconhecer que as FARC é um grupo terrorista e fazer disso toda essa parte de reorganizar a história da Colômbia. Então a gente tinha um grupo forte e bem organizado e, a gente não pode deixar de citar isso, foram quatro anos do presidente fazendo essa negociação direta, então quatro anos pra sair um tratado, inclusive, antes do referendo, ele fez um discurso com a chancela da ONU, dando como liquidada a questão. Então ele foi a público, ele falou ‘Chegamos a um acordo. Vamos celebrar’, antes do plebiscito até como uma forma de incentivo, tipo, ‘vamos dar a questão meio ganha, vamos ver se assim as pessoas se movimentam’. Então o ‘Sim’ buscava na verdade ceder para unir e para encerrar…
Ju: [interrompe] Curar feridas, né? Curar várias feridas.
Cris: Quase um reset, na verdade. A gente vai precisar fazer um reset e sentar, se unir de novo enquanto sociedade e começar a discutir disso para frente. Então todo o discurso do ‘Sim’ se baseava nisso: ‘Vamos, com este objetivo’.
Ju: Eu achei bonito, tem o texto também e vai estar na pauta, de uma pessoa que ia votar ‘Não’ e mudou pra ‘Sim’ e ela falou assim ‘Eu vou votar ‘Sim’ para derrotar as FARC nas urnas. Eu vou votar ‘Sim’ ainda que o futuro seja tão imprevisível quanto os terremotos. Eu vou votar ‘Sim’ ainda que sejam só as ruínas que nos esperem. Eu quero votar ‘Sim’ para colocar a primeira pedra do futuro de uma Colômbia em construção’. Então eu acho que o ‘Sim’ era um voto muito de esperança, né, de pessoas que estavam menos olhando para o passado e mais olhando para onde elas queriam ir. Mi, quem que votou ‘Não’ e por que que votou ‘Não’? Quem é que estava mobilizando a campanha do ‘Não’ e por que estavam mobilizando? Quais eram os argumentos?
Mi Sopper: O ex-presidente Uribe, que atualmente é senador, ele foi extremamente forte na sua propaganda para as pessoas votarem ‘Não’. Inclusive, o que se fala é que há propaganda inclusive usando de argumentos religiosos e mentiras e aquele terrorismo básico de quando a gente está desesperado por conseguir um objetivo, né?
Ju: Campanha do medo.
Mi Sopper: Campanha, exatamente, do medo.
Cris: Tão usada, né?
Ju: [interrompe] Nossa.
Cris: [interrompe]Nossa…
Leonardo Veras: Terrorismo em geral, esse é o discurso…
Mi Sopper: Então, exatamente, tem um pouco de proprietário de terra, tem um pouco dessa elite religiosa da Colômbia que se juntou a esses argumentos e basicamente essas pessoas tocaram o terror pra não deixar as pessoas confortáveis para escolher ou para realmente analisar as propostas. Eu acho que…
Cris: [interrompe] Eu acho que quando a gente vê um número muito pequeno de pessoas indo à urna também, na época do Brexit, eu fiquei muito com isso na cabeça porque o discurso do medo, ele move mais que o discurso pacifista. Por que o que que te faz? Quando você tem medo, você reage, isso é do animal, isso é da sobrevivência…
Leonardo Veras: [interrompe] Você reage de forma irracional.
Cris: Exato. Você reage para sobreviver porque você está sendo colocado em risco. Se nada está sendo colocado em risco, você tende a não se mover ou a se mover mais devagar. Então quando eles vem com esse discurso do medo, quem que foi na [à] urna se apresentar? Quem se sentiu ameaçado, quem ficou com medo, porque é uma reação mais espontânea do ser humano se mover diante do medo. Então as pessoas que teriam que redividir suas terras ‘Poxa, mas como assim? Essa terra é minha’, ‘Não, não é sua’, ´Não, é minha. Eu tô aqui, era do meu pai, que era do meu avô…’. Parece que a gente já ouviu essa história, né?
Ju: Muito.
Ju: Então as pessoas teriam que dividir as terras. As pessoas falaram ‘O que? O cara que atingiu, matou, me expulsou de casa, agora vou ter que aceitar esse cara e tudo vai ser perdoado e vamos lá?’. Então, assim, essa dinâmica de a falsa visão de empoderamento das FARC que, na verdade, ela já tem esse poder, a ideia era institucionalizá-lo porque aí você tem minimamente como punir, cobrar, por regra, porque o poder já existe, ele só é paralelo. A ideia era tirar ele do paralelo, mas aí o medo veio com um discurso muito forte e o Uribe, realmente, tem uma voz muito ativa no país.
Leonardo Veras: [interrompe] Querendo voltar a presidência, provavelmente.
Mi Sopper: Exato.
Leonardo Veras: [interrompe] Ele se aproveitou do caso.
Ju: É, e é fácil você se aproveitar de um sentimento tão profundo quanto o ressentimento que você constrói numa guerra de cinquenta anos, então assim, num processo de paz você fala de perdão. Para as pessoas é difícil perdoar, cinquenta anos de guerra é difícil de perdoar. A gente está falando, sabe, no final do dia, é de indivíduos. A gente fala como comportamento de massa, como país e tal, mas no final do dia são indivíduos, é difícil perdoar. Você fala de pessoas que tem medo e que não querem que FARC tenha poder político de maneira nenhuma, né? Então, eu acho que essas coisas, eu colocaria como os mais fortes disso. Assim, três pontos: a questão da mágoa, de não aceitar que não ia ter punições duras. A segunda parte, a questão de não acreditar que iria acabar a guerra. Muita gente votou ‘Não’ dizendo que não acreditava que a guerra ia parar, que a FARC iria de fato obedecer às cláusulas. E muita gente votou ‘Não’ também por essa questão de não gostar dessas cláusulas da nova Colômbia, né? O que estava sendo proposto, tudo que era de futuro proposto, muita gente não queria isso, né? Então eu acho que esses são os pontos maiores.
Mi Sopper: E fora que isso vem de governo e, pelo que eu ouvi das pessoas com o qual eu conversei, existe uma desconfiança muito grande no governo, no que ele propõe. Então as pessoas não foram, também, votar porque não confiam nisso.
Cris: Assim como no Brasil, o grande vencedor foi “ninguém”.
Ju: Então esse é o terceiro grupo. Léo, fala um pouco sobre esse grupo que na verdade foram os grandes vencedores, como a Cris estava falando, assim como no Brasil, que foram quem simplesmente nem foi votar, quem se absteve.
Leonardo Veras: Um sentimento que se propagou muito também que eu vi na imprensa colombiana é que o Santos, ele se associou muito pessoalmente à campanha, então havia uma certa visão que um voto pelo ‘Sim’ era um voto pelo Santos. Isso não deixou todo mundo muito confortável, mesmo quem apoiava a proposta de paz. Então imagino que boa parte de quem apoiava preferiu não votar do que votar um ‘Não’ ou votar um ‘Sim’ a favor do Santos.
Cris: É, tem a personificação da campanha, né?
Leonardo Veras: Exato.
Cris: E todo mundo tira vantagem nisso, não foi só o Uribe. Ele também tirou.
Leonardo Veras: [interrompe] Exato, ele também tirou.
Cris: Não temos mocinho na história.
Leonardo Veras: Sim e tava rolando umas coisas meio absurdas, tipo pessoas do governo dele comentarem do tipo ‘Ah, ele é um bom candidato para ganhar o Nobel da Paz no próximo ano’. Parecia que era uma coisa meio de ego…
Cris: [interrompe] É incrível, né? No programa passado a gente falou sobre isso, todo mundo tem interesse. Você tem que ficar do lado de quem tem os interesses que tem mais a ver com o seus, mas gente, o que é que tem de errado em querer ter o Nobel, entendeu?
Leonardo Veras: [interrompe] Sim.
Cris: É um interesse, faz parte, todo mundo tem.
[Nota do editor]
Caio: E apenas complementando o que já mencionaram no papo, efetivamente, Juan Manuel Santos recebeu o Prêmio Nobel da Paz pelo esforço de pacificação do país. O anúncio foi feito nessa sexta feira, dia 07 [de outubro], em Oslo, na Noruega.

Leonardo Veras: Então, criticaram também que ele festejou demais o acordo, apareceu em fotos com o Timochenko de uma forma amigável demais.
[Pequeno riso da Ju]
Leonardo Veras: Acho que foi uma falha muito grande, não em termos da formulação da proposta mas da…
Ju: [interrompe] Política de condução.
Leonardo Veras: Exatamente.
Ju: Política, né?
Mi Sopper: Exato.
Ju: Política.
Cris: E agora José, né? Porque pra mim, a grande crítica que eu tenho ao ‘Não’ ter vencido é o seguinte: galera, vamos lá, vocês querem, que as FARC evaporem? Ela não vai evaporar. Não é possível dizimar, eles já são uma organização quase secular, né, médio secular. Então, assim, não dá pra dizimar, eles vão estar aí e você vai ter que lidar com esses caras que vão continuar existindo. Então rola um ‘E agora, José’, né?
Leonardo Veras: Outra coisa também importante é que as FARC não são os únicos insurgentes na Colômbia, né? A Colômbia é cheia deles: tem a ANL, tem as guerrilhas de direita. Então, mesmo que as FARC sumam, não quer dizer que a Colômbia vai estar salva…
Ju: [interrompe] Pacificada, né?
Cris: Exato.
Ju: Eu ouvi que essa era uma das maiores críticas à campanha do ‘Sim’ era falar que você tinha que votar ‘Sim’ pela paz. Não, o ‘Sim’ não é pela paz, o ‘Sim’ é por esse acordo. A paz é uma outra coisa, tipo, resolver esse problema não vai resolver todos os problemas da Colômbia, sabe? Porque assim, é isso né, quando você coloca… É muito golpe baixo, quem é que vai ser contra a paz, né?
[Riso da Cris]
Ju: ‘Não é que sou contra a paz, não quero esse acordo, dessa maneira’.
Cris: É muito fácil a gente aqui virar e falar ‘Mas esses caras são loucos? Porque que eles votaram ‘Não’?’.
[Riso da Ju]
Cris: E aí quando você senta e vai ver isso, você começa ‘Hum, conte-me mais sobre esse acordo’.
Ju: Mas o que que vai acontecer agora, Cris?
Cris: Não se sabe muito bem, mas o que tem estabelecido é que o cessar-fogo vai permanecer. Segundo o presidente, enviados do governo vão negociar com as FARC possíveis próximos passos para continuar buscando a resolução deste conflito. O líder, Timochenko, disse que eles vão continuar dispostos a encerrar o conflito. Sabe o que que me lembra isso? Tipo os caras já estão velhos, cansado, querem arrumar um conflito, porque não dá para continuar como está e, outra coisa, as FARC já começa a ser ultrapassada por esses outros grupos que o Léo citou, que inclusive são nascidos de dissidentes deles, né, que é óbvio, qualquer partido político tem racha e as FARC são um partido político, paralelo.
Ju: Bom, temos então o primeiro ‘Trending Topics’ de américa latina e esperamos voltar, muito em breve, a falar dos nossos vizinhos.

[Sobe trilha]
Música:
Você não sabe como é ruim
Desejo pra ninguém
Viver nesse calor infernal
E todo mundo te usar

[Desce trilha]

Cris: Trending Topic número dois: SUS e o direito individual versus o direito coletivo à saúde. De acordo com o ranking elaborado pela revista americana Forbes, nenhum tratamento clínico é tão dispendioso quanto usar o medicamento Soliris para amenizar as complicações de uma forma raríssima de anemia, causadora de vários problemas que podem levar à morte. Esse tratamento, esse remédio, ele não cura, mas ele melhora a qualidade de vida. Se o paciente quiser continuar levando uma rotina normal, ele vai precisar receber o remédio pra sempre. Rafael recebe esse tratamento pelo SUS ao custo de oitocentos mil reais por ano. Cada vidrinho do remédio custa onze mil reais e ele precisa tomar três a cada aplicação, que é feita quinzenalmente. A alternativa para esse tratamento seria se submeter a um transplante de medula que é mais barato, custaria cinquenta mil reais ao SUS e que se fosse bem sucedido, curaria a doença. Porém, tem aqueles trinta por cento dos casos de transplante que levam o paciente à morte ou a complicações graves. A polêmica reside no fato que esse tratamento milionário só foi garantido graças à vitória de uma ação na justiça. Quem não lutaria por esse acesso ao melhor tratamento possível? O que é o melhor tratamento possível? A judicialização do SUS não acaba por restringir o atendimento apenas a quem pode pagar advogados caros? Quais são as consequências de se priorizar o direito individual em detrimento do direito coletivo sobre a saúde pública? Vamo conversar um pouquinho sobre essas polêmicas?
Ju: Tem muita polêmica aí. Mi, que que você acha disso?
Mi Sopper: A constituição diz que Estado é responsável por garantir a saúde. Ele não diz em que medidas e se é muito ou pouco…
Ju: [interrompe] Em que limite.
Mi Sopper: Em que limite. Quando chega uma ação pra um juiz, ele vai olhar, “eu que não vou dizer que o cara não vai receber e ele vai morrer. Eu vou dar”. E aí isso que acontece. Mas com certeza, se eu puxo o cobertor pro Joãozinho que entrou com ação, eu tô tirando o cobertor do Joãozinho que tá lá na fila e não entrou com ação.
Ju: É porque é isso que a gente tem que sempre pensar e que nunca é mencionado, é que a pena do juiz não cria recurso, né.
Mi Sopper: Não.
Ju: Então quando o juiz fala “Nossa, realmente eu tô escutando sua história” e a sua história… Assim, qualquer história de ação que foi ganha é uma história de vida e morte. É uma história de, no mínimo, qualidade de vida muito comprometida, né. Então assim, você tá falando “Olha, eu tenho filhos, eu tenho filhos pequenos, esse remédio pode fazer com que eu seja capaz de ser mãe dos meus filhos”. Que juiz que vai determinar que: “não, não, acho que não”? Então essa…
Cris: [interrompe] Ele tem que ter uma justificativa, né. É difícil buscar essa justificativa porque, como a Michelle falou, à luz da lei é garantido esse atendimento pelo Estado.
Ju: Exatamente, mas aí nesse momento, essa que é a decisão difícil, da decisão política, que é: quando você dá direito pra alguém, automaticamente você tá tirando de alguém. Nesse caso, em que recursos são limitados e as necessidades são ilimitadas, né. Então isso eu acho super importante a gente conversar porque você falou assim “Ah, a constituição garante que o Estado vá prover saúde pro povo”. O que é saúde, né, acesso à saúde? Quando você sabe que, eu não sei a estatística direito, mas um percentual gigantesco, 80% de tudo o que você gastou com saúde na vida se concentra nos 5 últimos dias de vida. Existe um estudo sobre isso, principalmente Estados Unidos, Europa e tal. E isso levantou um debate sobre exatamente esses métodos… A gente não tá falando aqui de tratamento de doenças crônicas, mas a gente tá falando de UTI, intensivo, as coisas que acontecem no final da vida, de medidas extremas, cirurgias e tal. Por que que a gente tá falando isso? Porque é fato que você vai morrer. A questão é como você vai morrer, e a questão é quando você vai morrer e de que forma você vai morrer. E eu acho que essa noção de que a gente tem de que a ciência consegue responder todas as coisas nos deixou, no campo da medicina, numa busca desenfreada que a gente não sabe mais qual é o limite. Porque antes o limite era “não tem mais o que fazer”, e hoje o limite não é mais “não tem o que fazer”. Às vezes é você não ter recurso mais para fazer o que tem para fazer, ou, ainda, o que a gente já conversou naquele programa da Boa Morte [Mamilos #10], você não quer, você não tá disposto a ir, a passar os seus últimos dias de vida, os seus últimos anos de vida com a qualidade de vida que o tratamento tá disponível para te dar. Mas então você entra num debate filosófico, né, de…
Mi Sopper: [interrompe] Exato.
Ju: O que é saúde, o que é vida e o que você tá disposto a pagar por isso, né. Em termos de… Porque cê tem que pensar assim, mesmo que você não coloque o Estado bancando isso… Porque assim, a mesma discussão você tem no âmbito das famílias. Quantas famílias acabam com o patrimônio para promover a saúde nos últimos dias de uma pessoa muito amada? Então assim, ah, você esticou a vida dessa pessoa durante um ano e acabou com o patrimônio da família, assim, que, sei lá, sustentaria os três filhos. Por quê? Pra conseguir uma… quem é que vai falar “eu troco tudo por mais um dia de vida da pessoa que eu mais amo no mundo?”. É a emoção falando: óbvio que sim, quem que não ia fazer isso? Mas enquanto racional, quando você não está nessa situação, pensando sobre isso, vale a pena você colocar todos os recursos, tudo que você tem, por mais um ano de vida? Quanto vale a vida?
Cris: A discussão aqui vai muito pro sentido de olhar ângulo de quem está vendo. Se eu sou o cara da ponta que tem o esclarecimento suficiente para entrar na Justiça e conseguir um tratamento para ter uma vida de qualidade ou prolongar a minha vida, eu vou entrar. Nisso eu tô tirando… é assim, o bolso é um só. 5% dos recursos do PIB brasileiro é investido em saúde. É pouco. A França, por exemplo, é 11%. Nós temos 5% do PIB para isso. Então essa é a grana. Cada um tem direito a R$5 desse dinheiro aqui, vem uma pessoa que tem noção, que é orientada, que é esclarecida, e fala “não, eu preciso de um pouco mais porque eu tenho essa doença”, então ele pega 15. Ele tinha direito a 5, mas ele precisa de 15, e é dado esses 15 pra ele. Outras duas pessoas vão ficar sem atendimento. Esse cara que tá fazendo esse tratamento de 800 mil reais por ano, ele tá tirando atendimento de, no mínimo, mais 10 pessoas com hipertensão, por exemplo, que é uma doença muito recorrente no Brasil, com o medicamento e tratamento fornecido pelo SUS. Porque não tem magia, a grana reservada pra isso é uma só, se alguém tirar mais, alguém fica sem. Então do âmbito de quem tá lá na fila olhando e ficou sem o remédio para hipertensão, ele também pode morrer.
Mi Sopper: Claro.
Cris: Porque o outro tá recebendo tratamento muito mais caro.
Ju: É que tem dois debates aí, eu acho que você tá certa de puxar. Vamos primeiro fazer o debate da questão de saúde pública, do direito individual versus o direito coletivo, que é isso que ‘cê tá puxando assim. Tá, tudo bem que a constituição diz que a gente tem direito à saúde, depois a gente vai debater o que que é saúde, que acho é a segunda parte da discussão. Mas agora, objetivamente, o que a gente tem é isso que você falou, é 5% do PIB. É uma questão de gestão da coisa pública, né, gestão de verba pública. Como que eu vou gastar esses 5%? Eu vou gastar atendendo 10 pessoas que tem hipertensão ou vou gastar uma pessoa que tem uma doença rara, com um medicamento que é mais caro? Como que eu decido isso? É esse o ponto.
Cris: É muito cruel, principalmente porque tem medicamentos hoje em dia de altíssima qualidade, de última geração mesmo, de qualidade de vida pós diagnóstico de morte próxima, ok? São chamados os medicamentos de sobrevida. O que que é sobrevida? ‘Cê tá com uma doença que ela não vai regredir, ela não tem cura, a morte…
Ju: [interrompe] Como o câncer, por exemplo.
Cris: Está próxima, mas essa sobrevida é com qualidade. Então todo mundo quer viver um dia a mais, né?
Ju: Sim.
Cris: Então essa busca tira desse lugar. E aí começa toda a discussão de quem é capaz de recorrer a esse ter um pouquinho mais para se cuidar, e quem é o lá da ponta que vai ficar sem. Então de novo, não tem como não acontecer essa lógica de quem tem mais informação consegue o que mais…
Ju: [interrompe] Se mobilizar.
Cris: Se mobilizar, ter mais recurso, ter esse esclarecimento, de quem não tem vai ficar sem o remédio de pressão e vai morrer sem o remédio de pressão, que é uma coisa simples de ser resolvida.
Ju: Sim.
Leonardo Veras: Eu acho que essa é uma questão que inclusive ultrapassa muito a seara da Saúde. Não é só na saúde que a gente tem que decidir quais são as nossas prioridades, né. Todo dia que uma criança passa sem comida, sem escola, sem alguma forma de apoio, a gente, de alguma forma, como sociedade, decidiu que isso podia acontecer. O que eu acho que tem que ser renegociado aí é essa questão do envolvimento do Judiciário. Porque não tem ninguém, cara… um juiz é uma pessoa, né. Eu acho que não tem ninguém que, sozinho, consiga decidir uma questão dessa. Acho que tem que ter um novo diálogo nacional sobre como que o SUS lida com esse tipo de questão.
Ju: Que que cê acha, doutora?
Mi Sopper: A doutora acha que…
[Risos da Ju]
Mi Sopper: O sistema ele já começa errado. Eu vou te prometer uma coisa que eu não posso cumprir. E aí para cumprir pra uns eu vou descumprir pra outros. A minha opinião é que esse…
Ju: [interrompe] É utópico prometer saúde?
Mi Sopper: Exatamente. Eu acho que…
Cris: [interrompe] Pra mim…
Mi Sopper: Não é pura essa…
Cris: [interrompe] Parece aquela coisa assim, o menino fez uma malcriação, aí você tira tudo dele [risos]. Se não posso te dar tudo, então também não vou te dar um pouco, não vou te dar nada, você vai ficar sem nada. E a gente sabe que aí também tem um caminho do meio.
Mi Sopper: Não, claro que é complexo, mas eu acho que eu tô tirando esse dinheiro de alguém também, de toda uma população. Eu tô redistribuindo da forma como eu acho mais inteligente e aí então…
Cris: [interrompe] É, claro, o contribuinte que paga no final.
Mi Sopper: Então eu acho que se a gente começar a reavaliar: tá, não funciona, a conta não fecha, vamos reavaliar formas de viabilizar esta conta. Não é tirando mais, obviamente, né, então…
Leonardo Veras: [interrompe] Tratamentos alternativos, não sei, ou então…
Cris: [interrompe] Pode ter um limite, vai, não sei.
Mi Sopper: Aquela senhora que foi um meme nas redes sociais, que conseguiu, via crowdfunding, um valor porque ela tinha… ela tava com um cartaz dizendo que ela tava disposta a trabalhar. Eu não sei como é que é a nossa sociedade vai conseguir lidar com isso, a gente vai ter que lidar com isso de outra forma. Só bater na porta não funciona, não funciona pra tudo. Não é que não funciona só para a saúde, se fosse uma questão específica da Saúde. Então, acho que é repensar o sistema que a gente vive…
Cris: Não quer dizer necessariamente ceifar o sistema.
Leonardo Veras: Sim.
Cris: Ele precisa de reforma. Todo sistema precisa de reforma com o passar do tempo. Quando a constituição foi feita, a gente não tinha remédio de última geração e de sobrevida. E tem uma questão nisso que é o quanto a indústria farmacêutica tem esse poder de negociação, que é insuflar a população no uso do medicamento, mas não está disposta a negociar um valor que o sistema seja capaz de pagar.
Ju: Sim, é porque, querendo ou não, eles tem a patente, então assim, o que a Cris tá falando é que tem muitas… muitos medicamentos que é uma descoberta que realmente propõe uma mudança radical na qualidade de vida de quem vai usar, ou de cura ou de sobrevida. E aí é um laboratório que tem esse medicamento. Então assim, se eles sabem que na constituição tá garantido que o Estado vai garantir saúde pra esse cidadão, o próprio laboratório, através de ONGs, pode chegar pro cidadão e falar: “ó, existe esse medicamento, se você usar esse medicamento você vai viver, você vai ser curado, você vai ter uma qualidade de vida melhor”. O cidadão fala “eu não tenho como pagar”. “Mas o SUS é obrigado a te pagar, vai lá, pede pro SUS”. Aí a própria ONG coloca um advogado pra colocar uma ação, e a ação ganha, que é o que a gente tá falando. Então claro que o benefício… beneficiado, é o cidadão. Mas também marginalmente você tá beneficiando os laboratórios. Então tem uma discussão de interesses aí também relevante. Eu acho que a gente não vai discutir agora porque é uma outra Teta, que a gente de fato vai fazer um problema inteiro pra discutir isso, mas é importante a gente pensar sobre a finitude, pensar que a gente vai morrer. A gente também tem que dar conta disso, né, do que que é saúde, de qual é o limite, de até quanto a gente está disposto a colocar dos nossos recursos, porque, se não fosse do SUS, a pergunta ainda subsistia.
[Concordância da Mi Sopper]
Ju: Se não fosse o SUS a pagar, continuava. O que que vale, Cris? Você não vai deixar nada pra sua filha por mais um ano de vida? Pode ser, não estou falando que não está certo, mas a gente precisa pensar sobre isso. O que que acontece: ninguém pensa sobre isso antes e aí quando você tá pressionado pela dor, pela loucura, as pessoas só fazem… e, assim, quem passou por isso, acho que todas as famílias de alguma maneira tiveram um trauma com isso, é muito traumático, não só a situação da morte, mas o jeito que a família lida com essas escolhas. O quanto é tabu falar de dinheiro, o quanto o hospital… Você nunca sabe se ele está te falando a verdade ou não e quando, é complicado, por exemplo, se o mecânico fala que você precisa de uma peça que você não precisa isso já te deixa puto, imagina um hospital fazer um tratamento que não precisava ou que não seria recomendável, mas porque é muito mais lucrativo e o sistema é capitalista e no final do dia ele tem que fazer o orçamento fechar. Então, são conversas que a gente não tem na saúde e que ficam muito complexas de se ter na doença. E acho que a gente precisa falar sobre isso mas é uma Teta pro próximo… Acho que a gente já fez uma provocação aí pra colocar uma pulga atrás da orelha, porque quando você vê a manchete, a princípio parece tão bom, né. “Olha só, o SUS está pagando um tratamento de ponta para pessoas que tem doença X”. Parece uma notícia ótima.
Cris: [interrompe] E aí, quando você vê a conta, os gastos com ações judiciais cresceram duzentos milhões de reais no último ano. Isso significa que daria para construir quase um novo hospital por mês, de acordo com o Secretário Estadual de Saúde Giovanni Guido Cerri. Então assim, não tem mágica, gente. Deu pra um, tirou do outro.

[Sobe trilha]
Música
Quando chegar em casa é só revelar
[Desce trilha]

[Sobe trilha]
Música
Vou fazer um chá com umas planta ornamentais
Sentar nessa varanda na minha mente com os meus bonsais

[Desce trilha]
Ju: Vamos para o Trending Topics três então. Vamos falar sobre o elefante branco na sala, Michelle.
[Risadas da Mi Sopper]
Ju: Um assunto que nos constrange demais. Esse programa vai poder passar no Whatsapp da família, Michelle?
Mi Sopper: Com certeza.
Ju: Rio Grande do Sul e o separatismo. No último sábado, dia primeiro [de outubro de 2016] aconteceu um plebiscito informal nos três estados do sul do Brasil, Santa Catarina, Paraná e Rio Grande do Sul, organizado pelo movimento separatista ‘O Sul é o meu País’, para consultar a população sobre a criação de um novo país integrando os três estados. Um dos principais motivadores da proposta é a disparidade entre o valor arrecadado em impostos na região e o que volta em forma de investimentos. Os estados do sul não são os únicos a reivindicarem a separação do Brasil: São Paulo teve a sua Revolução Constitucionalista; Pernambuco, a Revolução Pernambucana e a Revolução Praieira; Minas, a Inconfidência Mineira; Bahia, a Conjuração Baiana e a Sabinada; entre outras. Mas essa demanda, embora ainda esteja viva em outros estados, é mais comumente associada aos povos do sul. Aproveitando as duas gaúchas da mesa, vamos mexer um pouquinho nessa polêmica. E aí, Michelle, isso é um ranço que o resto do país tem com o Rio Grande do Sul, não é?
Mi Sopper: Sim.
Ju: Isso é… [confusa ao falar]
Cris: [interrompe] A região…
Ju: É melhor quem não é gaúcho falar. Léo, rola isso? Rola esse rancinho?
Leonardo Veras: Eu sempre achei que…
Ju: [interrompe] Aquela galera separatista…
Leonardo Veras: Eu sempre achei que o Rio Grande do Sul é que tinha um ranço com o resto do Brasil.
[Risos]
Cris: A galera… A galera não é separatista, eles só tem um ‘Parabéns pra você’ próprio.
[Risos]
Leonardo Veras: Mas, até aí, o Rio também tem aquela história do ‘É big, é big, é big’…
Cris: [interrompe] Não, mas você não está entendendo. Eles mudaram não foi só a letra, a melodia, é tudo outra coisa.
Ju: [interrompe] É outra.
Cris: É outra história. No mundo inteiro tem um ‘Parabéns pra você’, no sul tem outro.
[Risada da Mi Sopper]
Ju: Tá vendo? Vai, como você acha que reflete na imagem do Rio Grande do Sul, dos estados do sul? A causa parece justa?
Cris: Quando vai para a pauta, vamos aqui discutir o que é que nós vamos fazer com o dinheiro, eles contribuem com uma parcela bastante significativa e eles tem uma representação de 77 deputados e aí vem o nordeste, que tem uma arrecadação menor, mas tem maior poder de decisão porque tem uma representação maior, de 179 deputados. Então começa: ‘Poxa, não quero mais conversar com essas pessoas sobre o que vai fazer com a grana que, na verdade, eu estou trazendo’. Eu entendo isso de querer talvez mais voz, talvez utilizar esse dinheiro da forma como ele é mais importante por conta da região. O que acontece é que é isso que significa fazer parte de um país, né? A gente troca, né? Essa é a troca.
Leonardo Veras: E também, primeiro que isso daí é ilegal, nunca vai acontecer por meios democráticos, não adianta você fazer mil plebiscitos, nenhum estado vai se separar por plebiscitos, só se tiver uma guerra. A gente faz uma guerra e você vai…
Mi Sopper: [interrompe] Não dá idéia, por favor.
Ju: [interrompe] É, não dá idéia.
[Risos]
Ju: Aqui, pacifistas.
Leonardo Veras: Sim, sim. Isso não me parece que seria sequer é viável, né?
Ju: [interrompe] Deixa eu te interromper, só porque…
Cris: [interrompe] É uma guerra de chimarrão.
Ju: Só porque a gente é muito pacifista mesmo, existem meios legais que você vai ter que mudar a lei. Então você vai ter que mudar a regra com a regra do jogo.
Mi Sopper: [interrompe] A Constituição.
Ju: Você vai ter que mudar a Constituição.
Leonardo Veras: [interrompe] Não, você vai ter que mudar…
Ju: É impossível. Não, impossível não é, muito difícil, mas impossível não é. A questão é, de novo, voltando lá para o problema das FARC, a gente não vai resolver isso na foice, na faca. Se realmente for o caso, é por isso que se faz essa pressão política só, né, porque aquele negócio: maconha também é ilegal. Tá, até não ser mais, então a pressão é política.
Cris: [interrompe] Vai lá, pega os 77 deputados e vai lá tentar mudar a lei.
Mi Sopper: Mas o que eu acho interessante de toda essa história, ela, sim, é uma reivindicação de um grupo que está seriamente considerando isso, mas isso também está muito no folclore brasileiro, no sentido não que eu estou diminuindo essa reivindicação mas no sentido que a gente teve uma Revolução Farroupilha, em 1835, que, na verdade, não começou com essa tendência separatista, começou com essa questão de uma tributação muito alta em cima do charque, que era o principal produto, a tributação de importação do sal, que encarecia esse produto, os fazendeiros se revoltaram e foram para cima do governo e foram para resolver essa situação, para ‘Não, olha só, você não está me dando autonomia para eu gestionar aqui minha principal economia’. Mas a coisa foi escalonando, escalonando, e aí virou uma questão de separação e não de todas as pessoas que participavam da revolução…
Ju: [Interrompe] Do conflito.
Mi Sopper: Então, aí que foi resolvido o conflito, bom lembrar que a gente não perdeu, foi um acordo de paz assinado.
[Risos]
Cris: Foi um tempão mesmo, a gente fica…
Ju: [interrompe] Dez anos.
Mi Sopper: [interrompe] Foram dez anos.
Ju: [interrompe] Dez anos.
Cris: A gente acha que foi uma briguinha. Não foi não? O trem foi treta.
Ju: [interrompe] Não, é só assistir ‘A Casa das Sete Mulheres’, gente. Vamos lá, vai.
Cris: [interrompe] Ai, não posso. Chorei muito.
Mi Sopper: Foi a revolta mais longa do Brasil e foi muito importante… E deixou muitas marcas, porém, me preparando para esse programa… isso morreu porque, afinal, as pessoas tinham que se recuperar de uma guerra, elas tinham que se recuperar, a economia, recuperar os estados, e esse sentimento de gaúcho que estava muito em baixa, ele começou a voltar e a ser uma forma de orgulho com a entrada do Getúlio no poder, com a Revolução de [19]30, e posteriormente com a liderança de gaúchos que quiseram resgatar esse mito do gaúcho que é desbravador, que é forte, que ele tem toda uma série de qualidades e aí começaram a formar…
Ju: [interrompe] É homem do campo, né? Eu achei…
Mi Sopper: [interrompe] Exato. Justo, honesto…
Ju: [interrompe] É, exatamente. Independente…
Mi Sopper: [interrompe] Alto, forte…
[Risos]
Ju: Acho que já falei aqui da importância do Érico Veríssimo na construção desse imaginário coletivo de identidade, né? De quem nós somos, da onde nós viemos, de quais são nossos valores, né? Eu achei interessante que a Mi colocou na pauta como começou a comemoração da Semana Farroupilha, né, porque, para quem não é do Rio Grande do Sul – e muita gente tira sarro disso – falam que os gaúchos são os únicos, o único “povo” do mundo que comemora uma revolução perdida, né, porque todo ano é feriado e a gente fica uma semana relembrando uma revolução em que a gente foi massacrado, teoricamente.
Mi Sopper: Muito teoricamente.
[Risos]
Mi Sopper: A gente massacrou também.
Ju: Mas, não, né? Um império contra uma região, obviamente foi massacre mesmo e aí a questão que é mais interessante é: por cem anos isso ficou adormecido então como é que essa chama voltou, como é que se voltou a olhar pra essa guerra com outros olhos, com olhos de, não de conflito em termos de ‘Ah, realmente isso que a gente está falando: quem ganhou, quem perdeu’, mas como definidora da nossa identidade. O que fala quem nós somos, né? O que acontece é que alguns jovens roubaram a Chama do Sete [Vinte] de Setembro, chamaram de Chama Crioula e fizeram como se fosse a Tocha Olímpica e começaram a criar esse mito de voltar pras raízes, do que que…
Cris: [interrompe] Um ritual…
Ju: É, um ritual. Do que que é um gaúcho, da estância, da ligação com cavalo, da ligação de um povo que… É, justamente aquilo que você estava falando da Colômbia de o Estado não chegar até ali, então eram eles que faziam a própria segurança, eram eles que tinham que, na Casa das Sete Mulheres fala bastante disso, nos livros do Érico Veríssimo todos mostram isso, de que eles que tinham que se proteger, eles que tinham que criar estrutura, criar economia, enfim, e que foram se desenvolvendo com um senso muito grande de independência e ao mesmo tempo de comunidade. E aí esses meninos começaram a trazer de volta essa origem de quem era o gaúcho e da onde ele nasceu e tem muito mais a ver com o índio…
Mi Sopper: [interrompe] Exato.
Ju: Do que propriamente dito, do que a gente fala tanto ‘orgulho do sul’ que é os imigrantes que vieram e trouxeram a cultura européia… Não, o gaúcho mesmo é o índio, né?
Mi Sopper: [interrompe] É.
Ju: Que tinha ligação com a terra e tal.
Mi Sopper: Exatamente e acho muito legal essa questão. E o Eduardo Bueno, que é um historiador do Rio Grande do Sul, ele fala que afinal a história, muitas vezes de fato, é uma fabricação, ou seja, não necessariamente a gente está falando sobre o Vinte de Setembro, a gente está falando sobre esse resgate de uma identidade e que foi um fato histórico, como uma revolução, uma guerra que durou tanto tempo, ela acabou sendo a luz para essa fabricação de um povo, assim, então…
Ju: É, mas isso fala de identidade, mas não fala pra que; que que isso tem a ver com querer se separar do Brasil, né? Porque ‘OK’ você resgatar a identidade, resgatar o sentimento de pertencimento, do ser gaúcho, que que faz o gaúcho ser diferente do resto Brasil, mas isso não tem nada a ver com querer se separar. Eu acho que é isso que é bem importante diferenciar, né, as pessoas que tem o orgulho de ser gaúcho e cantam o ‘Parabéns’ diferente e celebram o Vinte de Setembro e as pessoas que de fato acreditam que a gente deveria se separar…
Cris: [interrompe] Leva a sério, né?
Ju: É, ‘porque o Rio Grande do Sul leva o país nas costas’. Gente, apenas parem. É tanta vergonha disso, né?
Mi Sopper: Eu acho que não é ‘tanto’ esse caso.
Ju: Não, e assim, a gente nem pegou o número aqui mas a arrecadação do Rio Grande do Sul só caiu, a gente perdeu protagonismo em um monte de coisa… Os últimos vinte anos do Rio Grande do Sul não foram na ponta do Brasil, carregando o Brasil. Foi o contrário, é do meio pra rabeira, entendeu? Então não está assim tão… Não é o momento de tanto orgulho exacerbado pra querer sair correndo e…
Cris: [Risos] [interrompe] É ufanismo.
Ju: É. Não faz sentido, sabe? Por isso que acho que também não tem apoio. Não é a maioria que pensa assim. Esse sentimento não é…
Cris: [interrompe] Mas é uma piada muito boa. Eu curto essa piada. [Risos]
Mi Sopper: Não, esse sentimento… É uma piada boa, exatamente porque a gente compartilha justamente, principalmente quando fora de casa.
[Risos]
Mi Sopper: O importante sobre todo esse tema do separatismo é que hoje existe toda essa cultura e essas piadas e esse tema sobre o gaúcho e envolve, na verdade, a região sul inteira… Até perguntei hoje para o pessoal que mora no Paraná e mora em Santa Catarina para saber se… porque eu só tenho a noção do Rio Grande do Sul, mas lá também é a mesma coisa… Mas a minha percepção é que não é no sentido que ‘agora vai’ ou ‘vamos fazer alguma coisa’ ou ‘isso tá no meu to do’. Não tá no to do. Isso faz parte do nosso imaginário, dessa construção toda que a gente conversou, então é mais nesse sentido que eu acho que isso existe pra maioria…
Ju: [interrompe] Do que uma demanda política séria.
Mi Sopper: Exatamente. Pra eles, para quem está demandando é sério e acho que OK
Ju: [interrompe] Mas é uma minoria, acho que isso é sempre importante frisar, assim. O que eu vejo pelo menos, Mi, é muito uma coisa caricata de uma brincadeira que ganha contorno de auto-estima mesmo…
Mi Sopper: [interrompe] Sim.
Ju: Até porque a gente está precisando de motivos de auto-estima, né? Nem os nossos times de futebol estão conseguindo ganhar Campeonato Brasileiro. Vamo falar sério aqui agora…
Mi Sopper: [interrompe] [Risos] Mas tem um que não precisa ganhar mesmo.
Ju: Tem um que está indo pra segunda divisão inclusive.
Mi Sopper: Isso, isso, isso. O que é bom…
Ju: Porém, é muito assim, compartilha muita coisa na época da Semana Farroupilha, né, bem ufanista, tal, mas muito mais no terreno da piada do que efetivamente levar a sério…
Mi Sopper: [interrompe] Você… Você…
Cris: [interrompe] Ninguém está acreditando…
Ju: Ao meu ver, as pessoas que falam a sério são muito minoria.
Cris: [interrompe] Ninguém está acreditando, vocês duas são gaúchas, mas eu convivo e sou amiga de centenas de gaúchos desde que cheguei em São Paulo…
Ju: [interrompe] Olha aí, é!
[Risos da Mi Sopper]
Cris: Os gaúchos não chegaram em Minas, mas já que vim para São Paulo, eu convivo com eles desde que aqui estou.
Mi Sopper: [interrompe] Pacificamente.
Cris: Trabalhei numa empresa gaúcha, viajei muito para Porto Alegre e para Pelotas. Um beijo para Pelotas, não vou aí há algum tempo… e realmente é uma brincadeira, todo mundo ri disso, claro que algumas pessoas efetivamente levam a sério mas é uma minoria basicamente insignificante…
Leonardo Veras: [interrompe] É uma minoria…
Cris: Eu acho muito legal o respeito que os gaúchos tem pela cultura deles. E muito legal mesmo, você chega lá e a galera quer te levar para experimentar as coisas da região. Eu, como uma boa mineira, tento retribuir o possível aqui para os meus amigos gaúchos, mas é uma piada isso.
Leonardo Veras: É uma minoria que está em São Paulo também…
[Risos]
Mi Sopper: Muito bem.
Ju: Ah, é isso que eu ia te falar. Exatamente.
Leonardo Veras: São Paulo acho que, se bobear, tem mais fama de separatista que os estados do sul, pelo menos nessa questão de se achar que carrega o Brasil é muito coisa de paulista.
Cris: Não, e…
Ju: [interrompe] É verdade.
Cris: E ‘tão falando de gaúcho quem tem tatuagem com bandeira de estado aqui sou eu.
[Risos]
Cris: Olha, veja bem.
Ju: Assim, tem várias regiões no mundo que tem essa reivindicação separatista, né? Então, os bascos na Espanha…
Mi Sopper: [interrompe] A Escócia.
Ju: A Escócia. E que, assim, às vezes tem mais a ver com identidade porque também tem um pouco, né?
Cris: [interrompe] A Escócia foi votar e falou ‘vamo ficar aqui mesmo’…
Ju: É porque no final do dia…
Cris: [interrompe] ‘Estamos cansados, vamos ficar aqui mesmo’…
Leonardo Veras: [interrompe] Isso do Brexit… Eles tão mega voltando atrás…
Cris: William Wallace revirou lá no…
[Risos]
Cris: O Mel Gibson revirou lá no túmulo.
[Risos]
Cris: ‘Ah, nós vamos ficar aqui mesmo…’.
Leonardo Veras: É, no final das contas, todas as fronteiras são imaginárias, mas alguns povos são mais criativos que outros.
Cris: UUUUUUUUHHHH Encerramos o Mamilos com esse pensamento aí muito bom.
Ju: Muito bem.
Cris: Vamos então para o Farol Aceso.
Ju: Vamos.

[Sobe trilha]
Roupão de banho
Uma tonelada de protetor solar
Eu tô de boas, no sol
O pau quebrando no universo
E eu enchendo um crocodilo

[Desce trilha]

Ju: Vamos para o Farol Aceso então. Mi, o que que você indica?
Mi Sopper: Eu vou indicar um evento que vai acontecer no dia 22 de outubro [de 2016] aqui em São Paulo, no Transamérica Expo Center. Vai ser o ‘3º Fórum Liberdade e Democracia de São Paulo’ promovido pelo Instituto de Formação de Líderes de São Paulo. O tema desse ano vai ser ‘Em busca de uma sociedade aberta’, ou seja, a gente está vivendo aí numa crise de representação, a gente tá questionando tudo que está acontecendo e porque não a sociedade não pode dar as suas próprias respostas. E então a gente vai ter gente de tudo o que é campo: empreendedor, especialista de terceiro setor, gente que está apostando em tecnologia para fazer a coisa acontecer. Então vai ser um evento super bacana, começa lá por volta das oito [horas], a inscrição é por crowdfunding no site e acho que vai ser muito legal.
Ju: Léo, o que que você indica?
Leonardo Veras: Bom, eu vou indicar um livro extremamente recente, foi lançado esse ano ainda, chama-se America’s War for Greater Middle East, a Military History. É de um ex-coronel americano, chamado Andrew Bacevich, ele fala, como diz o título, sobre os conflitos militares dos Estados Unidos no oriente médio mas é interessante porque ele tem um olhar muito claro, muito neutro, sobre os tipos de organizações com que os Estados Unidos está combatendo. Então ele desmistifica completamente essa nossa noção tão comum de ver os terroristas como um bando de zumbis que só querem saber de matar todo mundo. Ele mostra os contextos geopolíticos de cada região…
Cris: [interrompe] Eles tem uma causa?
Leonardo Veras: Tem uma causa!
Cris: [interrompe] Menino!
Leonardo Veras: Pois é. [Risos] O Hamas, por exemplo, é um, basicamente, um partido político. Até o ISIS tem um certo objetivo político e para você poder imaginar um mundo em que a paz seja possível, você tem que imaginar um mundo que seja capaz de negociar com essas entidades políticas.
Ju: Olha, fechou um ciclo. Você juntou com a pauta de FARC!
Leonardo Veras: Exatamente, por isso que eu tô, inclusive, recomendando esse [livro] pra pensar também nessas organizações marginais que a gente tava…
Cris: [interrompe] Tem um negócio muito interessante também é que terrorista não é quem causa o terror, é quem enxerga aquilo e rotula como terrorismo, né?
Leonardo Veras: [interrompe] Pois é, exatamente.
Cris: É quem coloca o nome daquilo de ‘medo’.
Ju: E você, Cris? O que que você tem?
Cris: Tenho duas coisas interessantes pra contar pra vocês. A primeira delas é uma lembrança não recente, falando aqui de Colômbia, conversando sobre violência e tudo mais, eu me lembrei que li há algum tempo, há muitos anos, na bem verdade… O meu autor preferido é o Gabriel García Marquez e ‘Ai, vou ler tudo dele’. Uma hora, que eu sempre gostei de realismo fantástico, uma hora pego lá ‘Notícias de um Sequestro’ e começo a ler. Falei ‘Menino, o que que aconteceu com este homem? Tomou um chá de seriedade?’. E na verdade, o Gabriel, ele foi muito forte politicamente, né, um homem muito consciente politicamente, que tinha diversos amigos na Colômbia e no início dos anos noventa… ‘Narcos’ tá aí fresco, né? O cartel de Cali e de Medellín, também as FARC, sequestraram uma série de pessoas no país para ter como moeda de troca na negociação com o governo. Então, jornalista, filho de político, político, pessoas, celebridades importantes de televisão, cantores foram sequestrados. E, assim, o interessante é que não era assim… Sequestro que a gente tem conhecimento aqui no Brasil, a pessoa ficava quinze, vinte dias, tinha toda aquela tensão porque era em troca de dinheiro. Como aqui era outro tipo de negociação, os sequestros duravam anos.
Ju: Nossa, gente. Que loucura.
Cris: A pessoa ficava anos. Inclusive, a gente tem o caso de uma sequestrada, né, que ela fica na guerrilha por quase dez anos, aliás, é mais que isso, que ela é sequestrada. E o livro, o ‘Notícias de um Sequestro’, é ele narrando o sequestro de duas jornalistas que são amigas pessoais dele. E ele escreve muito bem, independente de não ser o tipo de escrita que ele está acostumado, que é recorrente dele, mas como um grande jornalista, ele noticia aquilo que está acontecendo. Então fala do Cartel de Medellín, fala das FARC, fala do Cartel de Cali, fala do Pablo Escobar, como ele realmente dominava a mídia e fala do sentimento que ele tem pelas amigas e a preocupação que ele tem e ele narra o cativeiro delas com riqueza de detalhes que te dá até uma claustrofobia. E é um livro de ler numa sentada. García Marquez sempre vale a pena. É tipo pizza: mesmo se é ruim é bom.
[Risinho de concordância da Ju]
Cris: Então o ‘Notícias de um Sequestro’ é bem legal, eu sugiro, e um serviço que descobri, obrigada Agê, um serviço que o Agê me indicou que tem me ajudado bastante que chama Unroll, o site é unroll.me. O que é que ele faz? Você faz uma conexão com o seu e-mail, ele vai lá e sequestra aquelas milhares de newsletter que você recebe todo dia e ao invés de você receber tudo aquilo picado toda hora no seu e-mail, todo dia sete e meia da manhã você recebe uma newsletter com todas as ofertas. De tudo que chegaria espalhado, chega tudo juntinho ali. Você olha, se você quiser alguma coisa, você vai… Se não quiser… Deletou? Você deleta tudo de uma vez. Então ele transforma a newsletter em uma… Um magazine
Ju: [interrompe] Um catálogo.
Cris: Um catálogo. E aí você olha e dá uma limpada boa na sua caixa aí. ‘Brigada, gente. De nada, gente’. Tá vendo como eu gosto de vocês?
[Risos]
Cris: Ju, conta pra gente?
Ju: Eu tenho duas dicas. Pra quem tá um pouco depressivo, quem ficou bola murcha, quem ficou meio triste depois dessas eleições, tem uma dica que eu fiz. Eu quase não ando de carro, então não tenho muita oportunidade de escutar música no carro, que é bom, né? Que você pode colocar a música bem alto, né? E eu fui levar o Benjamin estes dias na escola e eu coloquei ‘Mika’ pra tocar bem alto…
[Cris canta Mika]
Ju: Dançando ‘mutcho’ louca no carro.
[Risada da Mi Sopper]
Ju: Olha o meu dia começou bem melhor, então se você está farol baixo, escuta os dois primeiros álbuns do Mika The Boy Who Knew Too Much e Life in Cartoon Motion. Vale muito a pena, pra ficar feliz, todas as músicas são boas. Eu sou uma pessoa que não gosta muito de álbum, eu gosto de uma música, duas músicas. Eu AMO Dave Matthews Band, por exemplo, mas eu gosto de uma música de cada álbum, assim, é difícil eu ouvir o álbum inteiro. E o Mika, assim, é amor à primeira vista. Eu ouvi a primeira vez no Lollapalooza e eu não me lembro de outra banda que eu tenha escutado e na hora já saí dançando, já é ótimo, é consumo fácil, né?
[Concordância da Cris]
Ju: Não tem como não gostar. Então, ó: pra dançar e pra acordar a alegria adormecida, vai na minha. Escuta Mika. E a segunda é mais pra se emocionar, eu assisti um filme neozelandês chamado Hunt for the Wilderpeople, não sei se tem título em português. O Merigo definiu esse filme como aquele desenho Up!, da Pixar, em filme. Não falarei mais pra não estragar a experiência. Eu achei muito legal porque eu sentei pra ver o filme, eu não sabia absolutamente nada, eu não tinha uma sinopse, eu não sabia o que que ia ser e eu achei muito fresco o filme. Sabe quando você… Porque normalmente a gente assiste filme, principalmente filme americano, e a estrutura tá dada, você sabe o que vai acontecer mais ou menos, tem poucas surpresas. E eu gostei do jeito que eles contam a história, eu gostei dos atores, eu gostei da interação entre eles, eu gostei da história, eu gostei de como ela me fez sentir… Que filminho genuíno, que filminho legal, que filme original, justamente por ter tanto da Nova Zelândia, de como é o jeito que eles vivem, o que que faz sentido pra eles e é tão legal quando você assiste um filme e através do filme você está vendo mais do que aquela história, você está conhecendo um outro país, você está conhecendo outra realidade, outros jeitos de se relacionar e tal. Ó, filme muito gostoso. Procurem aí. Ouvi dizer que Paulo Coelho já botou na biblioteca dele…
[Risos]
Cris: Sua descarada.
Ju: E, cara, vale muito a pena, fazia tempo que eu não gostava de um filme…
Cris: [interrompe] Repete o nome, Juliana. Pra gente procurar isso agora.
Ju: É como se fosse ‘Caçada pelo Povo da Selva’, vai, Hunt for the Wilderpeople. É muito bonitinho, muito fofinho. Sabe aqueles filmes que depois você fica falando dele, conversando sobre ele, lembrando dele. Que filminho gostoso! Vai lá, vai na minha que é quente.
Cris: Temos um programa?
Ju: Supertemos.
Cris: Fica a gostosa sensação de mais um Mamilos entregue.
Ju: Boa.
Cris: Beijo, gente.
Ju: Beijo.

[Sobe trilha]
Música:
Que eu tenho em mãos