“De Volta ao Lar”: um Homem-Aranha nunca visto no cinema • B9
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“De Volta ao Lar”: um Homem-Aranha nunca visto no cinema

Segundo reboot da franquia muda os rumos e acompanha os desafios de um herói adolescente

por Virgílio Souza

⚠️ AVISO: Contém spoilers menores

Quando apareceu pela primeira vez em “Guerra Civil”, o Homem-Aranha de Tom Holland provocou furor. Além de mostrar suas credenciais durante a principal batalha do filme, lançando sua teia para roubar o escudo do Capitão América, o rapaz já apresentava, ainda que brevemente, características que o diferenciavam das demais versões do personagem no cinema. Jovem, elástico e divertido, ele era como uma criança participando de uma briga de adultos e que, apesar do desempenho impressionante e do enorme carisma, ainda parecia incapaz de competir na mesma liga por não dominar completamente seu potencial.

Era só o ponto de partida para a tão aguardada entrada do herói nova-iorquino no universo cinematográfico da Marvel, um projeto lançado há quase uma década e que agora chega ao seu capítulo de número 17. No entanto, ao contrário do que o formato consagrado dos demais filmes solo e a campanha de divulgação desse título específico possam sugerir, o que se vê não é uma conexão carregada com os Vingadores ou uma preparação para acontecimentos grandiosos no futuro. Os maiores ícones do planeta existem como um referencial importante, mas no limite secundário. O que interessa aqui é narrar a história de Peter Parker.

A fuga desse padrão consolidado da empresa, mesmo passando longe da ruptura, é uma grata surpresa. Ao optar por uma aventura mais ou menos isolada no que diz respeito ao seu impacto no universo como um todo, o diretor Jon Watts (que herda o personagem de Anthony e Joe Russo) ganha liberdade para explorar dinâmicas que o afastam das convenções do gênero e das adaptações vistas anteriormente. A história da descoberta de super-poderes, embora comum e um tanto banalizada nos últimos tempos, ganha contornos frescos quando vista pela ótica de um adolescente — sobretudo desse adolescente, que parece planejado para refletir os principais traços de sua geração, da conexão constante a todo tipo de apetrecho eletrônico à relação de idolatria com os super-heróis.

O diretor Jon Watts no set

Após a convocação para “Guerra Civil”, Peter imaginava que se juntaria imediatamente aos Vingadores. “De Volta ao Lar”, porém, prefere manter os pés no chão, e essa talvez seja sua escolha mais acertada. Em vez de enfrentar vilões saídos de outro mundo, o Homem-Aranha resolve crimes na vizinhança; em vez de recorrer constantemente ao Homem de Ferro (Robert Downey Jr.), o herói fica em contato com Happy Hogan (Jon Favreau), funcionário das indústrias Stark e seu assistente cem por cento humano; em vez de lidar com problemas de gente grande, ele precisa se esforçar para não perder os compromissos na escola.

Dessa maneira, Watts consegue encontrar um espaço próprio para o aracnídeo nesse universo. Se na Marvel a galáxia está sob supervisão dos Guardiões e as ameaças à segurança da Terra cabem a Tony Stark e companhia, o Queens e seus arredores agora pertencem ao prodígio local. Com uma carreira ainda curta demais para ter conquistado super-inimigos, o menino mascarado muitas vezes não tem muito a fazer além de indicar direções para senhoras perdidas pelas ruas do bairro.

O que se vê na tela, então, é uma coleção de momentos que tiram o peso característico de uma história da introdução e permitem que o filme se preocupe com outros aspectos de seu cotidiano — mesmo detalhes pequenos, como uma passada rápida na lanchonete da esquina ou o uso de músicas de bandas locais, como os Ramones, são úteis para produzir maior imersão nesse contexto particular. A partir daí, as influências do diretor se tornam mais claras, bem como sua estratégia para moldar os interesses e limites do personagem.

O que se vê na tela é uma coleção de momentos que tiram o peso característico de uma história da introdução

Filmes do gênero são, fundamentalmente, histórias de formação de identidades em que o uniforme serve ao mesmo tempo para esconder e revelar quem está por baixo dele, suas forças e fraquezas. As chamadas tramas coming of age, geralmente focadas no ensino médio americano, fazem algo parecido quando acompanham o amadurecimento de protagonistas recém-introduzidos à vida adulta. Watts sabe disso e, de modo inteligente, arma situações para que tanto Peter quanto seu alter ego superpoderoso sejam afetados, colocando adolescente e herói no mesmo nível de importância — na verdade, em vários momentos suas atividades normais são as mais interessantes.

Como se uma aranha radioativa tivesse invadido a obra de John Hughes (em especial “Gatinhas e Gatões”, “Clube dos Cinco” e “Curtindo a Vida Adoidado”) ou um episódio do seriado “Freaks and Geeks”, a ação se desenrola entre as obrigações no colégio e as missões de patrulha. Ned (Jacob Batalon), Liz (Laura Harrier), Michelle (Zendaya) e os demais integrantes da equipe de decatlo acadêmico, a principal atividade escolar de Parker, são essenciais para entendermos o lugar do garoto naquele mundo. É nesses trechos que a direção enfileira piadas e observações que pertencem àquele universo e encontra seu melhor ritmo, se aproveitando da atmosfera construída e do ótimo timing cômico dos coadjuvantes, que correspondem ao destaque dado (com direito a participações acima da média de Chris Evans como Capitão América e de Hannibal Burress como instrutor de Educação Física).

Como se uma aranha radioativa tivesse invadido a obra de John Hughes, a ação se desenrola entre obrigações no colégio e missões de patrulha

Quando armas com tecnologia alienígena começam a causar tumulto pelas redondezas, o humor, tão característico quanto questionado das obras da Marvel, nos aproxima da realidade e controla a gravidade da ameaça. Isso não significa dizer que “De Volta ao Lar” se desenvolva sem momentos de maior seriedade. No papel do vilão Abutre, Michael Keaton cria um rival crível para o Homem-Aranha, e a maneira como entra na vida do herói, numa das cenas mais tensas do repertório da empresa, certamente merece elogios. Dono de uma motivação coerente, ele funciona bem com e sem a máscara, algo raro por essas praças.

A tensão se agrava a cada nova aparição do adversário, que surge embalado pela trilha sonora de Michael Giacchino (mais intensa do que em outros trabalhos recentes) e tendo em sua armadura feita de sucata uma espécie de contraponto ao Homem de Ferro, mentor do jovem. Se por um lado a virada final do inimigo parece drástica demais e as sequências de ação não fazem muito além do básico, cumprindo sua função de movimentar a trama sem escapar de sua simplicidade, por outro o longa tem méritos no modo como faz Peter começar a perceber a relevância de suas ações.

Tom Holland demonstra tamanha confiança em suas ações que a evolução do personagem se torna ainda mais significativa

Parte do sucesso da (excelente) trilogia original de Sam Raimi consistia no valor dado aos personagens que cercavam o protagonista — o segundo episódio, vale lembrar, termina de forma dramática com um fade no rosto de Mary Jane, melancólica vendo o namorado partir entre os prédios, rumo a seus desafios. É algo que praticamente inexiste nos dois filmes de Marc Webb, rodeados de uma série de problemas diferentes. Eles até têm algum brilho na relação entre o protagonista e Gwen Stacy, mas no fim das contas não encontram força (nos vínculos com a tia May ou com algum amigo, por exemplo) para sustentar os dramas do herói.

Nessa nova versão, a falta de uma influência externa marcante, que aparece às vezes na figura de um Tony Stark que já percorreu esse caminho, não é tão sentida graças ao elenco de apoio e à leveza com que tudo é encarado. Como Peter Parker, Tom Holland demonstra tamanha confiança em suas ações que a evolução do personagem, baseada em tentativa e erro, se torna ainda mais significativa: ele arrisca agir sozinho, depois percebe que precisa de ajuda; ele sonha com os Vingadores, depois entende que deve compreender melhor seus poderes; ele deposita suas esperanças no uniforme, depois nota que pode ser forte o suficiente sem ele. Pode parecer básico, mas é exatamente o tipo de jornada de aprendizado que se espera do Homem-Aranha.

nota do crítico

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