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Capa - “Dunkirk” é uma experiência imersiva na guerra

“Dunkirk” é uma experiência imersiva na guerra

Christopher Nolan limita os diálogos e aposta no poder das imagens para contar uma história de sobrevivência

por Virgílio Souza

⚠️ AVISO: Contém spoilers menores

Christopher Nolan é um dos cineastas que melhor combinam adoração popular e respaldo crítico nas últimas décadas. A habilidade para conduzir o público por tramas complexas, o rigor com que constrói seus universos, a vocação para histórias de grande escala e a ambição visual, sustentada numa relação bastante íntima com a parte técnica do processo, são alguns dos elementos que ajudam a explicar seu sucesso. Todo o furor ao redor de sua obra a cada novo lançamento, no entanto, não é suficiente para livrar o diretor e roteirista de julgamentos contrários.

Dez longa-metragens e quase vinte anos de carreira depois, é tarefa fácil apontar os fatores que afastam determinada parcela do público e da crítica dos trabalhos de Nolan. A obsessão pelo funcionamento das tramas costuma render longos diálogos expositivos, que parecem não confiar na capacidade de compreensão da própria audiência, além de personagens absolutamente funcionais, que causam pouco impacto emocional apesar dos nomes que preenchem seus elencos.

Kenneth Branagh e Christopher Nolan no set

Esse tipo de abordagem, que aposta no controle total sobre cada peça do quebra-cabeças sem dar margem ao acaso, cai no risco de gerar reações distantes. O tom sempre crescente da narrativa, com suas reviravoltas embaladas pelo compositor Hans Zimmer, gera uma empolgação quase inevitável, mas por vezes falha em provocar uma conexão maior com as figuras e acontecimentos em tela — daí as acusações constantes de “frio” e “cínico”.

Em muitos sentidos, “Dunkirk” surge como uma resposta a esses pontos. Em outros, seus problemas deixam espaço para que os mesmos questionamentos reapareçam. De toda forma, entre as declarações mais entusiasmadas (que o tratam como “novo Kubrick”) e as manifestações de rejeição mais contundentes (como esse texto), é possível identificar os méritos de um cineasta ainda apegado a certos maneirismos, mas que sinaliza a busca por algo diferente.

As mudanças podem ser sentidas desde o início. Embora o contexto seja uma das batalhas mais importantes, mas não necessariamente mais conhecidas, da Segunda Guerra Mundial e essa seja a primeira vez que Nolan lida com uma história cravada na realidade, o filme perde pouco tempo com explicações. Não vemos generais dando ordens em gabinetes escuros nem oficiais debatendo possíveis estratégias enquanto analisam uma série de mapas. Somos lançados diretamente no palco do combate ao lado de um jovem soldado (Fionn Whitehead) que busca um gole d’água antes de ver seus companheiros serem eliminados, um a um, pelos disparos de inimigos que mal conseguimos ver.

É a primeira vez que Nolan lida com uma história cravada na realidade, o filme perde pouco tempo com explicações

Ao menos nesse primeiro momento, economia é a palavra de ordem. Um folheto encontrado pelas ruas sitiadas da cidade (imagem abaixo) resume a gravidade da situação: com o avanço das forças alemãs pelo norte do território francês, os ingleses se veem presos na praia de Dunquerque e têm como única saída possível a difícil travessia do canal, à mercê de ataques aéreos e de um cerco que se aproxima por terra. De imediato, as circunstâncias sugerem uma história que não segue os moldes mais tradicionais do gênero, acostumado a narrar vitórias heroicas e glórias individuais. Aqui, o único objetivo é a sobrevivência, e isso encaminha o diretor para certas convenções do suspense — Alfred Hitchcock é citado como uma das principais referências em termos de linguagem, de “mostrar, não contar”.

A ideia central é criar imersão a partir do realismo da situação, não de informações  sobre a gravidade passadas por terceiros ou de características óbvias capazes de gerar identificação instantânea com os combatentes. Assim, o roteiro oferece pouco sobre aquele estágio da guerra e menos ainda sobre os personagens. Nós sabemos tão pouco quanto os soldados e acompanhamos suas reações no calor do instante, não filtradas por fatos selecionados de suas biografias. Tudo o que importa é o desejo quase instintivo de voltar para casa em segurança.

Combinando IMAX e 65mm, o filme captura a imensidão dos cenários e amplia a sensação de vulnerabilidade dos personagens

É aí que as principais marcas de Nolan começam a aparecer. Em vez de seguir uma cronologia comum, “Dunkirk” se divide em três frentes com diferentes noções temporais: passamos uma semana em terra com o garoto que conhecemos no início, um dia no mar com um civil (Mark Rylance) que se dispõe a resgatar quantos sobreviventes puder, e uma hora no ar com um piloto (Tom Hardy) que tenta dar cobertura à operação. O diretor manipula o tempo para criar urgência, sincronizando os momentos mais agudos e mostrando-os de várias perspectivas de modo a torná-los mais intensos.

A proposta cria alguma confusão quando as linhas se cruzam e os saltos para o passado e o futuro (em especial quando variam entre dia e noite) se tornam mais bruscos, mas o resultado obtido é um panorama da batalha que não perde de vista suas consequências particulares e que, dessa forma, compensa a desorientação momentânea. No limite, trata-se de uma corrida contra o tempo, o que é reforçado pelo som do relógio que compõe toda a trilha e pelo fato de que o inimigo permanece invisível, mas não suas ações — outra lição do suspense aplicada no contexto da guerra.

O trabalho ao lado do fotógrafo Hoyte Van Hoytema, que acompanha o diretor desde “Interestelar”, cumpre uma função relevante para inserir o espectador nessa realidade. Combinando IMAX e 65mm, o filme captura a imensidão dos cenários e amplia a sensação de vulnerabilidade dos personagens, frequentemente colocando seus corpos em condição de desvantagem frente à escala e o poderio dos ataques, como na imagem abaixo, que parece dizer que há sempre algo maior do que o indivíduo.

Quando vai a espaços reduzidos, como o cockpit de uma aeronave ou o interior de um barco, a câmera se concentra em rostos que expressam pavor, determinação ou choque enquanto buscam constantemente uma saída. A escassez de diálogos torna a experiência mais subjetiva, dando ênfase ao aspecto físico da batalha, e é aproveitada mesmo pela trama, que usa o fato de um dos soldados não falar inglês como chave para construir uma situação dramática. Os atores fazem bom uso do que têm à disposição para expressar seus sentimentos (uma lágrima que aparece e não cai, uma testa franzida, um olhar desolado na beira da praia), e as raras trocas de palavras (como aquela entre Cillian Murphy e Tom Glynn-Carney, já no fim) soam mais fortes.

Com “Dunkirk”, Christopher Nolan escapa de alguns de seus vícios mais evidentes

A certa altura, porém, a mão pesada da direção passa a interferir negativamente. O foco na brutalidade da operação, nessa jornada de sobrevivência, leva Nolan a empregar uma série de recursos questionáveis. A música é não apenas onipresente, mas uma crescente infinita que em parte do tempo sufoca mesmo o som ambiente, como se a manipulação emocional entrasse no caminho do tão desejado realismo. Escolhas como essa são justificáveis do ponto de vista narrativo (impedir o espectador de respirar, afinal, é uma decisão clara e consciente), mas a insistência em certos artifícios causa distração e ocasionalmente afasta mais do que aproxima.

Além disso, há ao menos dois ou três momentos em que a falta de intimidade com as histórias pessoais dos personagens chega a ser sentida. É a conexão com o que existe além do campo de batalha que sustenta, por exemplo, a cena em que descobrimos que um dos homens trabalhando no resgate teve o filho morto no início da guerra — uma das mais potentes do filme. No fim das contas, é a participação de gente comum que explica a operação ser chamada de milagre, e esse laço não parece tão firme o tempo todo, sobretudo quando estamos mergulhados no combate.

Ainda assim, é interessante ver o diretor seguir novos rumos. Aqui, ele escapa de alguns de seus vícios mais evidentes e indica que seu repertório pode estar a serviço de algo mais que o espetáculo. Historicamente, filmes de guerra são capítulos marcantes nas trajetórias de alguns dos cineastas mais renomados da história. Se depender de “Dunkirk”, com Nolan não será diferente.

nota do crítico

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