Transcrição - Mamilos 50: Chacina, Ocupação nas escolas e impeachment • B9
Mamilos (Transcrição)

Transcrição - Mamilos 50: Chacina, Ocupação nas escolas e impeachment

Capa - Transcrição - Mamilos 50: Chacina, Ocupação nas escolas e impeachment

Jornalismo de peito aberto

Esse programa foi transcrito pela Mamilândia, grupo de transcrição do Mamilos

Início da transcrição:
BLOCO 1

[Sobe trilha]

(…) “La la la la
Pique ferris bueller
De bermuda usando bota caterpillar
Um barril lotado de cerveja müller
E uma milf tipo a letícia spiller”

[Desce trilha]

Ju: Mamileiros e mamiletes, segura o forninho que a semana tá teeeeensa, mas estamos aqui pra tentar encontrar algum sentido nesse turbilhão. Eu sou a Ju Wallauer e essa heroína zumbi do meu lado é a:

Cris: Cris Bartis [voz de gripe]

Ju: Esse é o Mamilos e estamos aqui pra fazer jornalismo de peito aberto.

Cris: Ca-io! Povo tá apaixonado pela sua voz. Chega email direto, né Ju, falando olha, pra esse menino delicioso. Aí diz aí, o que que tem essa semana pra escutar ao pé do ouvido?

Caio: Olá personas. Corraine aqui novamente para trazer a vocês o artista responsável por abrilhantar musicalmente o Mamilos da semana! Lembrando sempre que se você quiser me ajudar na tarefa, é só mandar um email para [email protected]; [email protected] com os links do seu artista brasileiro favorito. E é importante ressaltar também que a gente quer dar espaço para músicos independentes e não tão conhecidos. Então não adianta me mandar o link do novo CD da Ivete Sangalo, que não vai rolar. Aproveitando a dica do nosso convidado de hoje, nós iremos ouvir o Rodrigo Ogi, um rapper aqui de São Paulo. Então fiquem aí com o Som do Mamilos.

[Sobe trilha]

(…) E o amor vem reinar na minha arte
Hehehe hahaha
7 Cordas são umbilicais
E esse sopro divino me faz
Inspirado demais
A melodia vem para coroar
A poesia na mesa de um bar
Pra levantar a poeira
Vai servir também para eternizar
A boemia na mesa de um bar
Na noite de sexta-feira”

[Desce trilha]

Ju: E o beijo para:

Cris: pessoal da Unioeste de Toledo Paraná;

Ju: Pra Melbourne;

Cris: Pietro, o Dani mandou um beijo chameguento, e que espera fazer tão bem pra você quanto você faz pra ele

Ju: Um beijão para a Carla e pro Pedro Braga, que escutam juntos o Mamilos. Obrigada pelo carinho, gente.

Cris: Vamo então pro Merchand? O Mamilos estará na Desconferência de GP no dia 12 de dezembro, né Juliana, olha que sucesso!

Ju: Muito sucesso. Vem gente, vem descobrir sobre gênero na publicidade com a gente, vem prestigiar nosso painel, vem tirar foto, vem tomar cerveja, apenas VENHAM!

Cris: Dá abraço, aquela coisa… e dá uma força lá pra gente porque quando tem ouvinte na palestra a gente fica muito mais empolgado!

Caio: Gente, vou ser anarquista aqui outra vez e invadir o programa pra dar um recado bem bacana: Você, mamileiro ou mamilete que se interessou pela Desconferência, e qué comparecer ao evento eu tenho um cupom de desconto pra você. Basta utilizar o código promocional “desconf”, né, da Desconferência, então é “desconf”, até o éfe, hífen, “família B9”, tudo junto. Então né, de novo, porque deve ter ficado um pouco confuso: “desconf-familiaB9” e você arranca 5% do preço. Pra mais informações, ou se você ainda não entendeu o código, é só visitar o posto da publicação deste Mamilos que as meninas deixaram tudinho pra você lá.

Ju: Aliás, falando nisso…

Cris: Me conta, eu tô doida pra saber como é que foi!

Ju: Brigada, BRIGADA, foi sen-sa-cio-nal, como vocês são legais, né, 70% das pessoas do Workshop 9 de Lovebrands eram mamileiros. Tinha cliente, tinha planejamento, tinha recreativo, tinha até atendimento perdido, gente bateu palmas, todos bateram palmas! E a tristeza que a gente ficou, desconsolamento, quando soube que a menina queria mudar do Atendimento pro Planejamento [Ju e Cris em coro]: NÃOOOOO! Fica aí! [risos]

Cris: Precisamos de pessoas boas em todas as áreas!

Ju: Mas foi legal demais, foi a melhor turma possível, a gente aprendeu, a gente descobriu, a gente se divertiu, saiu todo mundo com brilho no olho, sabe aquele ânimo renovado…

Cris: [interrompe] Que delícia!

Ju: Foi legal demais. A gente ganhou até bombom de cupuaçu importado do Norte.

Cris: [interrompe] Eu tô passada, Juliana chega hoje, fala: “Olha, o ouvinte foi no curso, ouviu que você não gosta de chocolate e te mandou um bombom de cupuaçu” – inacreditável! Apenas isso, eu diria – Daniel, muito obrigado, experimentei e é delicioso, eu tô aqui comendo um agora nesse momento.

Ju: Dia 13 tem outra turma, outra oportunidade, vem gente!

[sobe trilha]

Instrumental

[desce trilha]

Cris: Vamos agora pro Fala que Discuto.

Ju: Foi sucesso, avalanche de emails, avalanche de tweets, avalanche de comentários, que programa delicioso, quantas pessoas se identificaram, a gente fez o programa mesmo pensando em abrir, né, em não focar – às vezes a gente faz um programa cirúrgico, a gente faz o recorte do recorte do recorte, e às vezes a gente dá uma visão mais ampla, e o que a gente tentou com esse programa foi mostrar que qualquer pessoa está suscetível a relacionamento abusivo, que você pode ao mesmo tempo ser abusador e ser abusado, né, em diferentes relações.

Cris: O programa surtiu o efeito que a gente esperava, mas isso não quer dizer que é fácil pra gente ouvir tantas histórias iguais às que chegaram. Eu queria agradecer a confiança que os ouvintes tem na gente em colocar situações tão íntimas, e não é só de sofrimento não, é de aprendizado também, porque muita gente se descobriu abusador ouvindo o programa e descreveu um pouco disso. A gente selecionou algumas conversas aqui pra vocês.

Ju: A Caroline falou “Tô ouvindo o Mamilos e cheguei à conclusão que já abusei já foi fortemente abusada”.

Cris: A Bárbara Santi falou: “Tá maravilhoso, gente, ajuda qualquer um a sentar e ponderar sobre a própria vida e as escolhas que precisa fazer”.

Ju: A Iuana falou: “Me emocionei demais com esse Mamilos, quando você se encaixa na história contada não é fácil admitir”.

Cris: E a Carla escreveu: “Oi Cris, oi Ju, meu nome é Carla tenho 24 anos e sou arquiteta. Eu estava felicíssima porque ia escutar um Mamilos com a Jout-Jout. Super curtir o momento, quase sem pensar muito na importância do tema pra mim – no auge da minha arrogância – pensando naquela minha amiga que estava em um relacionamento abusivo, e como ela não percebia, pensando naquele conhecido que era uma abusador em um relacionamento, mas não em mim. Mas aí você se quebram todos os tabus e ultrapassam as expectativas como sempre, e se não bastasse tratar de um assunto que já não é tão tratado como deveria, vocês ainda trazem exemplos que quase nunca são dados. Claro tratar de relacionamentos abusivos só como um relacionamento amoroso não é um padrão Mamilos. Vocês tem que ir a fundo no assunto e tratar daqueles exemplos que a gente nem lembra. E foi um tapa na minha cara quando eu escuto o exemplo do relacionamento abusivo no trabalho. Aí vem vocês para abrir meus olhos e minha mente, como sempre. Se tem uma coisa que eu aprendi nesse ano é que nunca podemos julgar o que as outras pessoas estão passando: é fácil pensar que o outro tem um fraco, alguém que não enxerga uma coisa tão clara na frente dele. Quando acontece com a gente, percebemos como nossa mente nos prega peças e o que vocês falaram no episódio é tudo: autoconhecimento é a sua maior arma, estou aprendendo isso a duras penas. Obrigada meninas, por sempre irem sempre mais fundo e sempre pensar fora da caixa”.

Ju: O Ricardo mandou um e-mail pra gente também relatando um relacionamento super abusivo que ele se envolveu profundamente por mais de 3 anos, e como passou a ser abusador nos relacionamentos seguintes, magoado, na defensiva, e preso na mesa dinâmica doentia de dependência e codependência. Eu vou ler um trecho do email, que é longo, quando ele critica as pessoas que percebiam um abuso, e julgavam ao invés de ajudar a encontrar uma saída: “Um trauma, uma visão deturpada de uma realidade não pode ser tratado com um único viés de resolução, o codependente não é fraco, a força que ele tem para movimentar o mundo só para fazer o que o outro quer é enorme, não existe fraqueza, mas carência, e pra carência estendemos a mão, e não apontamos o dedo. Lembro da Ju dizendo, o buraco é muito mais embaixo, e é realmente Ju, é lá embaixo na lama fétida, podre, solitária que todos nós vivemos. Resolvi organizar cada sentimento que sinto hoje: vergonha, dor, manias, medo e colocar cada um em suas devidas gavetas. Todas elas são minhas, eu que criei. Não jogo mais as minhas sujeiras nas costas dos outros. Quero criar um caminho diferente, ajudando em vez de julgar. Acredito que dessa maneira posso contribuir muito mais para que outras pessoas consigam ver uma luz no fim do poço”.

Cris: O Zé Emiliano, querido Zé Emiliano que já nos ajudou aqui em outros programas, ele é assistente social, YouTuber e tá estreando aqui em e-mails conosco. Ele mandou um passo a passo bem didático pras pessoas e nós vamos ler aqui pra vocês:

“Gostaria de comentar sobre como proceder em situação em que haja um alienação parental que foi tipificada pela Lei 12.318 de 2010. Quando um dos pais da criança dá indícios de que sofreu ou pratica alienação parental, seja através de atendimento no conselho tutelar ou até mesmo no centro de referência especializado de assistência social ele poderá ser orientado com um processo judicial que garanta o direito da criança e do alienado a conviver em família. Nesse caso, as medidas que poderiam ser tomadas pelos juízes serão:
Artigo 6: Declarar a ocorrência de alienação parental e advertir o alienador ampliar o regime de convivência familiar em favor do genitor alienado; estipular multa ao alienador; determinar acompanhamento psicológico e/o biopsicossocial; determinar a alteração da guarda para guarda compartilhada ou sua inversão; determinar a fixação cautelar do domicílio da criança ou adolescente; declarar a suspensão da autoridade parental.

Se você sofre alguma situação como essa ou conhece alguém que está nessa situação, o recomendado é encaminhá-lo para:

(1) ao conselho tutelar, para tentar resolver a coisa antes da necessidade de um processo judicial;
(2) a Defensoria Pública do Estado para proceder com processo judicial;
(3) o centro de referência especializado da assistência social para um atendimento psicossocial.”

Brigada Zé Emiliano, por trazer esse fundamento tão importante.

BLOCO 2:

Ju: É importante só também falar que uma coisa que eu percebi que o pessoal um pouco confundiu é que alienação parental é diferente de abandono. Né, então alienação parental é quando um dos pais afasta o outro pai e cria mentiras em relação a isso, e manipula o filho como uma forma de exercer poder ou de realmente, na sua cabeça, tentar proteger o filho, né.

Cris: [interrompe] e a mulher não está oprimindo o homem, né, a ação dela é sobre a criança, importante falar isso].

Ju: Sim, também é sobre o homem, sobre o direito à paternidade do homem Mas essa não é a principal preocupação.

[sobe trilha]

Instrumental

[desce trilha]

Cris: Vamos então iniciar o Trending Topics. Nós temos um único, ilustre e maravilindo convidado. Oga, se apresente por favor!

Oga Mendonça: Olá, é minha segunda participação, eu continuo nervoso, ainda não tô a vontade, eu ainda não tô de meia aqui. Eu sou designer multimídia, trabalhei em revistas como a Playboy, a Quatro Rodas, EcoSport, a Info, duas já morreram, a Playboy e a Info [risos], ou seja, eu sou a zica do mercado editorial.

Cris: Aaaah, com certeeeza é você [risos].

Oga Mendonça: Eu ilustrei pra Bis, pra Rolling Stones, pra Super Interessante, pra VIP, todos estão tremendo agora [risadas] e atualmente, como esse mercado tá muito ruim, eu tô atuando mais em vídeo, e tô dirigindo séries, principalmente sobre música independente. Uma das últimas que eu fiz foi o Pulso, é… pra Red Bull.

Ju: [interrompe] Muito legal!

Oga Mendonça: E é isso, tou feliz de tar aqui, e vamo ver hoje, né.

Ju: Muito que falar, tá leve o tema, não tá?

Oga Mendonça: Gente, eu dou muito azar. Eu participei do 39 [risadas] e peguei Legalização, peguei Charlie Hebdo, eu tô começando a ficar um pouco traumatizado. Chego aqui, acontece alguma coisa com a França. Não é legal, não é legal. Não poderei ir pra França.

Cris: Então vamos ao Giro de Notícias, Ju?

Ju: Vamo, tem um monte de coisas aí

Cris: Diz aí.

Ju: Primeiro a gente começa com a nota de falecimento da Cosac Naify, que nos deixa muito tristes, era a minha editora preferida, só tinha edição de livros muito legais, e editava bem, né, uns livros lindos com conteúdo bom, enfim, fica a tristeza aí. A gente teve essa semana a hashtag #meuamigosecreto, que movimentou as redes sociais junto com a hashtag #meuprimeiroassédio que teve 82 mil citações em 5 dias, o somatório de todas essas campanhas do ano, feministas que mobilizaram as redes, aumentaram em 40% o número de denúncias no 180, que é de violência contra a mulher. Além disso, outras notícias bacanas no universo feminista foi a capa da Elle, que foi toda voltada pro feminismo e o Calendário Pirelli, com feministas, entre outras com Amy Schummer, um monte de mulheres poderosas, inspiradoras, e não beldades apenas.

Cris: Quem compartilha nudes também pode pagar dano moral: o Tribunal de Justiça de São Paulo reconheceu que quem compartilha e-mails com fotos íntimas de pessoas deve pagar dano moral. A indenização é independente de como a imagem foi parar na conta do usuário, mas basta repassar o conteúdo para contribuir com uma invasão de privacidade, mesmo se o réu não foi responsável pelo vazamento.

Ju: E aí gente, tá pesada semana, estava tenso, tava muita notícia ruim, mas aí vem o nosso amigão Serra pra alegrar a nossa semana com o MELHOR meme da semana. Serra foi responsável pelo melhor meme, que que ele fez: postou uma foto da Paulista fechada para carro no fim de semana e absolutamente vazia, reclamando do preparo dos governos, comparando o Haddad à Dilma e a internet DEITOU e ROLOU em cima do Serra. E amigos, né, apenas pare, né, cê tem coisa suficiente pra criticar, deixa a Paulista aberta, e aproveitar a rua.

Cris: Casos de microcefalia continuam crescendo. A região Nordeste é a região mais afetada pelo surto e no Brasil já são mais de 1248 casos notificados em 311 municípios em catorze dos Estados. O Governo Brasileiro confirmou a relação entre o vírus Zika e a microcefalia, que é uma infecção que provoca a má formação do cérebro dos bebês, então é… o governo inclusive hoje o governo do Rio de Janeiro fez um Periscope pra explicar um pouco mais sobre esse assunto e… a gente acredita que, daqui a pouquinho a gente vai falar um pouco mais sobre isso.

Ju: É, mas as informações estão correndo solta pelo WhatsApp, informações bens desencontradas e todo mundo que tá grávida nesse momento…

Cris: [interrompe] É assustador.

Ju:… tá apavorado pelos epidemiologistas já tão começando a se preocupar com o impacto numa geração de bebês.

Cris: A compra do terreno do cais “José Estelita” na área central de Recife foi anulada por uma decisão da Justiça Federal, e não só anulado como eles vão ter que retornar ao início lá, tirar a iniciação das obras que tinha começado. É uma grande vitória população que vem protestando ferrenhamente, incansavelmente pra que essa área seja preservada.

Ju: A briga com o Uber vira selvageria, com dois motoristas agredidos por taxistas em Porto Alegre.

Cris: Então vamos começar o nosso Trending Topics com o assunto número um, a ocupação das escolas em São Paulo. Qual é o fato, Ju?

Ju: Chegamos a 200 escolas ocupadas, a primeira escola que foi ocupada em Diadema já completou um mês de ocupação. A TV Folha mostrou a ocupação com os alunos se dividido em funções de limpeza, cozinha, comunicação. Eles conseguiram através dessa manifestação pacífica e consistente conquistar o apoio dos pais e da comunidade. A gente teve uma manifestação na segunda-feira na Faria Lima com a Rebouças, que é um cruzamento, um dos cruzamentos principais da cidade – eram umas 100 pessoas que travavam um dos maiores acessos da cidade. Na terça no final da tarde o protesto se organizou na Nove de Julho, que é outra avenida principal, com 250 manifestantes parando a avenida, e a polícia militar reagiu com gás lacrimogêneo para dispersar a mobilização. Aconteceram manifestações em paralelo também em dois outros pontos da cidade.

Cris: A posição do governo, então: tem o reforço da Secretaria de Segurança Pública que não vai permitir mais obstrução das ruas da cidade. Os alunos chegaram a colocar cadeiras mesmo da escola e a sentarem nas faixas de pedestre, então o recado é que isso não não vai mais acontecer, não é possível atrapalhar o direito das outras pessoas se locomoverem.

Ju: O secretário de Segurança de São Paulo falou que “baderna também é crime”, então que vai dispersar, ele já avisou, se continuar na rua vai dispersar.

Cris: A pressão aumenta porque apesar de tanto tempo já com as escolas invadidas o governo também não deu nenhum passo atrás buscando o que os alunos mais querem, que é negociar, querem conversar sobre essas mudanças.

Ju: O que está acontecendo: a gente já falou sobre a reorganização nas escolas aqui, na época a gente analisou as informações que tinha, fez uma análise racional e fria do que tava acontecendo, e as coisas que o Alckmin propunha faziam sentido. O que acontece pra gente voltar nesse assunto além do alcance das manifestações e da consistência, é que existem uma série de disparidades entre os dados oficiais e realidade vivida pelos estudantes. No papel a gente tem escolas ociosas, e na prática, salas de aula superlotadas. No papel as estruturas sociais vão ser doadas e tem verba pra investimento em escolas técnicas, que são mais caras do que as regulares. Na prática falta merenda, falta verba pra reforma e manutenção básica, faltam materiais essenciais como papel sulfite até papel higiênico, falta professor, falta quadra esportiva, falta laboratório. E aí, essa é a grande questão que a gente já até falou no final daquele programa que a gente pontuou tudo e terminou então falando assim “então por que que as pessoas tão bravas, se parece que as coisas fazem sentido?” Qual é a credibilidade que uma administração dessas, que mente tanto, e sobretudo tem pra dizer que vai fechar escola mas vai continuar adicionando esses espaços pra educação? Então é essa é a grande discussão que a gente tem agora. Que que você tem visto sobre isso, Oga, quais são as suas pontuações sobre o tema?

Oga Mendonça: O meu foco ficou muito tentando entender como essas escolas tão funcionando, e eu vi muito relato positivo mesmo nas escolas do interior, que elas estão sendo menos cobertas pela mídia , né, em São Paulo ficou falando/mostrando muita Fernão, mas vendo escolas menores, até escolas do meu bairro, eu vejo essa presença das famílias na escola. Isso é muito positivo, esse acho que é um lado que é muito interessante, a quantidade de aulas diferentes que estão sendo propostas…

Cris: [interrompe] Cê chegou a ver aquele aquele postzinho de Facebook que tinha uma foto da porta de uma escola? tipo fotojornalismo, é, cozinha, eles propuseram as próprias aulas e tavam convidando pessoas pra irem até lá.

Oga Mendonça: É, e mesmo assim, agora vai ter uma virada – a Virada Ocupação.

Ju: Isso!

Oga Mendonça: …o pessoal tá se organizando, então assim é muito interessante você ver que, realmente, a escola tá funcionando como espaço de aprendizado…

Cris: [interrompe] Como uma escola, né?! Que coisa estranha…
[risadas].

Oga Mendonça: E é muito louco a volta que teve…

Ju: [interrompe] Não, né, com a comunidade coletividade também se envolvendo, isso é muito legal, alunos limpando a escola, reformando algumas coisas, cuidando, instalando coisas, então eles estão se sentindo donos daquele espaço, não prisioneiros daquele espaço…

Oga Mendonça: Justamente.

Ju: …não obrigados a ir, mas tomando posse daquilo, e os pais também que tem uma série de outras preocupações, conseguindo voltar a atenção pra escola, e se envolver, e a gente também, porque não? A Cris tava falando “você viu que nos marcaram num post convidando pra dar aula de feminismo numa escola?” E por que não?! Vamo lá! E assim, eu acho que a escola tá tão fechada, o jeito que tá organizado, que essa ventania que passou tá fazendo todo mundo ter uma outra relação, né, uma outra atenção.

BLOCO 3

Oga Mendonça: Mas isso eu tava comparando com um amigo meu né, (desculpa gente, eu sou muito irônico, eu sei que a gente não trabalha com ironia aqui, eu sei, eu sei, a gente tenta não trabalhar), mas tava conversando com um amigo meu, e é engraçado né, o Alckmin é genial, porque ele conseguiu fazer a gente prestar atenção nas águas, nos rios, ele sempre faz de um jeito muito torto, e agora a gente tá prestando atenção na escola, a gente tá conseguindo fazer o Construtivismo de verdade, porque [risadas gerais], eu me lembro da prefeitura da gestão da Marta que o CEOs funcionaram, na época eu tinha um grupo de rap, e era muito legal, porque realmente pelo menos os CEOs nas periferias estavam funcionando dessa forma, da comunidade chegar próxima de, meu, ter vários grupos, educadores, eu dei palestra de hip hop em alguns lugares, foi muito bacana. E assim, quando eu começo a ver no meu Facebook, pontuando de… amigos, artistas, indo pra a escola, dando aula, eu… cara! Mais uma vez de um jeito muito estranho esse cara conseguiu, é capaz dele ganhar um prêmio de gestor de educação, igual da água, ele ainda vai conseguir! Tudo bem, na verdade esse cara é um gênio, tipo, eu não consigo entender como ele faz isso.

Ju: [interrompe] Ele é gestor pedagógico, gente.

Cris: Ah, eu vou contar, não é um spoiler, eu juro, mas se alguém tiver um tempinho aí para fazer o gif… Quem tá assistindo Jessica Jones viu que o cara tem um controle absurdo sobre as pessoas, né, então ele fala qualquer coisa e pessoa obedece, que o nome do personagem é Killgrave, ele é o Alckmin, e o resto é a população, então ele fala: “esquece da falta d’água!”, todo mundo esquece..

Oga Mendonça: Usou a luzinha do MIB, né?

Cris: …tá faltando esse gif, sabe, porque é muito isso.

Oga Mendonça: É, mas é muito louco, é um ponto que eu acho muito complicado agora é pinçar, vendo aquela fala, acho que todo mundo teve ter visto, aquele vídeo, enfim, um áudio da secretaria de educação, e assim, vendo a fala do Fernando Pádula Novaes, que é um do chefes de gabinete do secretário Herman Jacobus, cara, é muito assustadora ver todas essas falas de guerrilha, assim, parece que eles tão falando de terroristas!

Cris: [interrompe] É, o que ele fala é “vamos liderar a guerra contra os estudantes”, né, a gente tá falando crianças de 14 a 17 anos, mais ou menos…

Oga Mendonça:… e eu não entendo que ele fala justamente na conotação política do movimento, porque tinha gente da CUT no meio, desculpa gente, educação é política ou qualquer ato é político, eu ir na padaria, ou sendo negro na Pompéia e indo na padaria, eu já tou fazendo política, sabe, então acho muito estúpido ser tão raso, não tá aberto à discussão, e isso pra mim é um dos pontos que eu acho mais sensível nessa discussão: é, realmente, esses são os caras que cuidam da educação, essa é a estratégia deles? Né, Ju, eu fico muito…

Ju: É, um nosso jeito autoritário de negociar, né, não tá aberto a conversar – Não é nem discutir, é realmente é a escutar, e a sentar, e ser mais assim…

Cris: [interrompe] flexível até pra ouvir, ele não precisa necessariamente fazer o que tá sendo pedido, mas nem ouvir é complicado.

Ju:… negociar, isso é ser político também.

Cris: Uma das questões também que eu vi o movimento levantando é que quando a gente lê no papel, que é o que a Ju tava frisando, o quanto aquilo faz sentido, só que aqueles dados são única e exclusivamente levantados pelo governo. Então, se questiona muito a credibilidade, a veracidade, na verdade, desses dados. Então um outro pedido desse grupo é que seja feito uma auditoria em cima dos dados que foram apresentados pelo Governo do Estado para realizar essa movimentação, porque “- e aí, quem que falou que tá ocioso?” “- ah, quem falou foi a gente mesmo”, “- pô, aí fica fácil, né?!”.

Ju: Não, tem escolas, por exemplo, a primeira escola que foi ocupada, ela tinha alunos passando no vestibular, assim, ela tinha um retorno pra comunidade muito bom. E o que eles tão falando é “- sim, tudo bem, podia não ser excelente, poderia melhorar em vários aspectos, claro que poderia, mas tinha muitas outras escolas piores que não ia ser fechado, então porque justamente aquela tava fechada?”. Então assim, cara, se você tá fazendo uma gestão pública, na verdade hoje qualquer gestão, né, se você tá fazendo uma gestão pública você tem que tá aberto pra explicar, você tem que tá aberta, abrir a caixa preta que são as suas decisões e compartilhar, ser mais colaborativo, e é isso que falta muito, a gente já tinha falado isso no outro episódio…

Cris: Eu ouvi da boca de uma pessoa que entende muito muito muito de política, recentemente, falando sobre as mudanças no cenário político do Brasil – que acabou a era de político superstar, não existe mais isso, as pessoas têm acesso à informação, o político que quer continuar precisa aprender uma palavra essencial que é “proximidade”, e a gente tá percebendo o chamado da população e ainda a recusa, ou mesmo despreparo pra pôr em prática isso, então assim, se você não ouve os seus governados, que tipo de governante você pretende ser? Porque o meu medo é isso acabar acontecendo uma tragédia. Sabe? Esse que é o meu pavor.

Oga Mendonça: Cê viu o texto do Sakamoto?

Cris: Não…

Oga Mendonça: Foi bem interessante, ele falou, “- meu, e quando tiver o primeiro aluno morto por asfixia numa gravata do PM?”, é sério que é necessário esperar chegar nisso? Quer dizer, será que é isso que eles querem, mais um jovem negro morto? Olha o gancho! Mais um jovem negro morto, sabe?

Cris: E assim, e antes de começar tava falando com a Ju sobre o quanto eu acredito que esses meninos vão sair mudados dessa experiência, porque eles tão numa vivência política muito profunda, e eu duvido que amanhã se você chegar pra esses meninos eles vão ter a mesma cabeça que eles tinham antes desse movimento. Então assim, essa politização dessa geração que está envolvida nesse momento é essencial, é muito importante e eles com certeza vão sair transformados disso, tem que ver se o Governo também vai, mesmo que minimamente.

Ju: Duas dicas importantes: a primeira que mais uma vez, super positivo, que o governo não tem mais o monopólio da narrativa, então o governo não consegue mais, mesmo manipulando os principais jornais, as principais redes de TV e rádio, o governo não consegue controlar a narrativa do que é contado, não consegue dizer que são bandalheiros, não consegue dizer que foram captados por outros movimentos sociais, que isso não são alunos, que isso é uma manobra diversionista da oposição – ele não consegue mais, porque são os próprios alunos que eles têm canal. Então assim, não escute Mamilos, não veja outro veículo, vá direto na fonte, tem um canal no Facebook que chama a Canal Secundarista, onde eles tão postando vídeo, eles tão falando que que eles tão fazendo, então acompanhe em primeira mão, não passe por filtros…

Oga Mendonça: [interrompe] Vá pra fonte primária.

Ju: …vá pra fonte primária, isso é muito legal, das pessoas poderem ter voz, poderem assim, você não precisa confiar 100% nisso, você pode ter outras fontes, mas é legal você ter uma fonte primária.

Cris: Outra coisa que eu tava falando é o quanto eu vejo isso de uma forma orgulhosa e preocupada, porque (mando um salve aí pros pais dos meninos que tão lá) porque não deve ser fácil, ao mesmo tempo que eu veria isso com um orgulho absurdo de ver um filho lutando pelo direito dele, entendendo o papel de democracia, ao mesmo tempo pai, meu Deus que medo da polícia entra lá e fazer alguma coisa, e meu filho tá lá!

Ju: [interrompe] E tá com foto, eles tão botando foto da polícia com a arma, ameaçando as crianças…

Cris: …então cê imagina, então assim é uma situação difícil pra todo mundo e realmente, o governo não pode esperar acontecer alguma coisa pior, ele precisa realmente negociar…

Ju: Sobre o MTST, é natural que você tenha entre movimentos organizados uma troca de apoio. Então, por exemplo, quando tiver… uma manifestação do Passe Livre, ele precisa mobilizar uma série de pessoas pra que a comunidade preste atenção no movimento deles. Então eles saem em rede, isso é super normal, em rede eles se organizam pra pessoas que têm interesses afins apoiarem eles, em troca, quando o movimento que o apoio tiver uma demanda, eles apoiam. É isso que acontece.

Cris: É tipo militância né.

Ju: É, isso é movimentação em rede que a gente faz pra tudo, então assim: sim, tem gente do MTST lá no meio e isso não quer dizer que a movimentação foi cooptada pelo MTST, que o movimento foi cooptado, de que ele estão sendo massa de manobra, nem nada do estilo. É, a segunda coisa que eu queria falar sobre isso: eles tão realmente dando aulas, o que o Oga falou sobre essa Virada Cultural, a gente vai ter artistas e voluntários nessas escolas. Tem o Paulo Miklos do Titãs, o Criolo, a Maria Gadú, Edgard Scandurra… Vários artistas vão pra algumas dessas escolas pra fortalecer esse movimento, então se você como a gente faz em todos os Mamilos fala que educação é a solução de tudo, vale a pena se envolver. Com certeza tem alguma escola no seu bairro, na sua cidade, próxima de você. Bate lá, leva um bolinho, leva um sanduichinho…

Cris: Dá pra ser bem efetivo, o site Ocupa Escola mostra quais são as escolas que estão ocupadas e que que elas têm de necessidades urgentes, então é só clicar lá ocupa escola, você vê o que tá mais perto, vê que elas precisam e leva até lá e ajuda nesse processo de politização desses jovens.

Oga Mendonça: É, também pelo site da viradaocupacao.minha sampa.org.br que ainda tão aberto, você pode se inscrever. O grupo que eu faço parte coletiva sistema negro vai se inscrever e vai participar também, então é bem bacana mesmo, é um jeito de ajudar também.

[Sobe trilha]

intrumental

[Desce a trilha]
(Bloco 4) 31’ – 40’59”

Cris: Vamos agora pro nosso segundo tema que é: [cantando] Pan, pan, pan, pan, pan, pan, pan, pan, pan, pan..

Ju: Plantão de notícias!

[risos]

Ju: Plantão Mamilos!

Cris: Plantão Mamilos, estávamos nós vindo grava e eis que: O Presidente da câmara dos deputados, Eduardo Cunha, deu prosseguimento nessa quarta-feira ao pedido de impeachment da Presidente da República Dilma Rousseff, feito pelas advogados Hélio Bicudo, ex-petista, Miguel Reale Júnior, um ex-ministro do governo Fernando Henrique, e Janaína Pascual. A decisão de Cunha ocorre no momento em que ele tem o mandato ameaçado. Além de ter sido denunciado por corrupção e lavagem de dinheiro ao Supremo Tribunal Federal, sob a acusação de receber propinas de contratos da Petrobrás, o pmdebista responde a um processo de quebra de decoro parlamentar por ter omitido dos colegas o fato de ter contas na Suíça ligados ao seu nome. Quando ficou claro que os petistas que integram comissão de ética não dariam o apoio necessário pra que Cunha se livrasse do processo de cassação, ele decidiu dar sequência ao impeachment de Dilma. Agora uma comissão especial será formada na câmara pra analisar o caso. O que dizer sobre isso?

Ju: E agora, José? E agora, José? Não, que que eu fiz? Porque tava vindo aqui para gravar e aí cai uma bomba dessa, eu penso: não vai ter nada para a gente dizer no momento porque a imprensa ainda tá apurando os fatos, os analistas ainda nem fizeram as análises de cenário e tudo. Só que, quando o programa for ao ar na sexta, as pessoas já vão ter lido tudo isso, [então =

Cris: [Não, mas…

Ju: = que que a gente vai falar?

Cris: Não, na verdade, sabe aquelas pessoas que já tão doentes há muito tempo e fica aqueles…. aqueles especiais prontos? Eu acho que o impeachment tava numa coisa meio assim. [Todo mundo sabia… =

Oga Mendonça: [Um obituário, né.

Cris: = É, todo mundo sabe todo mundo sabe que hoje seja um Dia D para o governo, porque o PT teria que se posicionar a respeito do apoio na votação que seria feita pra abrir inquérito sobre o Cunha. Então, por mais louco que isso possa parecer, eu acho que o PT cansou da ameaça. Ele entendeu que por mais que ele desse o que o Cunha pedisse, nunca seria o suficiente. Ele viveria sob a ameaça: “Se não fizer vou abrir, se não fizer vou abrir”. E de repente eles falaram: “cara, não tem jeito de segurar isso, então vem, pode abrir”.

Ju: É… o que que eu fiz quando eu vi que a gente nessa situação sem jeito? Eu liguei pro meu lobista em Brasília, [hahaha!

Oga Mendonça: Hahaha..

Ju: [E aí… =

Cris: [Mamilos tem um lobista em…

Ju: = Mamilos tem um lobista em Brasília…. pra perguntar: “E agora, José? O que que isso significa? Que que vai acontecer?” E ele tava respondendo que, assim, as placas tectônicas estão em movimento, ainda não dá para saber para que lado vai. Mas comecei a fazer algumas perguntas mais específicas assim, porque a gente já tá falando que tá impossível de prever o futuro, né.

Oga Mendonça: Uhum.

Ju: E aí eu perguntei: “tá, mas exatamente por que hoje?”. E o que ele me explicou, dentro da visão dele, é que o governo queria… porque eu falei assim: “ah, o PSDB já abandonou o barco do Cunha, era o PT que tava segurando o Cunha”. Ele falou: “Pois é, esse é o problema. O PT mesmo tava rachado, porque o governo queria, para proteger o mandato da Dilma, que a base aliada do PT protegesse o Cunha, um toma-lá-dá-cá, [escroto”. =

Oga Mendonça: [Uhum.

Ju: = Aí os próprios deputados petistas falaram “aqui não, violão! A gente não vai se queimar, porque, assim, já tá na cara… miga, tá feio, não dá para te defender, não tem como te defender, [então assim, =
Oga Mendonça: [Uhum.

Ju: = Desculpa, Dilmão, né, tamo aqui pra te defender, mas não dá para te defender às custas de ficar exposto dessa maneira. Tá vergonhoso, até o PSDB já saiu desse barco, [entendeu? =

Oga Mendonça: [Uhum.

Ju: = Não dá”. E aí foi isso que aconteceu hoje. Dilmão chamou, falou: “Ó, paramos, acabou o toma-lá-dá-cá”. E aí ele foi pras cabeças, que é isso que ele tá fazendo, ele não quer saber, né.
Cris: É isso que é assustador, né, eles estão numa briga lá em cima, e tipo…

Ju: [interrompe] Ele não quer nem saber, ele não tem nada a perder. Tem nada a perder.

Oga Mendonça: [interrompe] Não, ele já falou: “vou cair atirando”, [tipo,=

Ju: [Exatamente.

Oga Mendonça: = meu, em quem pegar pegou, assim.

Cris: [interrompe] Eu li algum comentário da Renata Correa há pouco no Facebook, eu achei interessante para compartilhar. “Eu posso contar para vocês o que vai acontecer? Eduardo Cunha não tem nada a perder. Procuradoria e Comissão de Ética vão forçar sua saída. Como ele não tem nada a perder, o seu único objetivo é detonar Dilma e ele vai cair tentando. O Brasil no meio dessa crise vai ficar parado porque o congresso inteiro vai se mobilizar no processo do impeachment. O impeachment não vai rolar porque não tem materialidade jurídica, ou seja, por conta de uma vendata pessoal, Eduardo Cunha paralisou o Legislativo por tempo indeterminado. O país está literalmente travado e vamos entrar em 2016 assim por nada”.

Ju: É, o que eu achei interessante é que, o lobista falou, é que, assim, a gente tá num momento de crise de instituições, a gente tá testando a nossa democracia, a gente tá testando ver a confiança das pessoas e… porque a gente tá numa quebra de braço de Executivo e Legislativo, porque a gente vai ver se os ritos vão ser seguidos, se as leis vão ser seguidas, se as pessoas têm confiança nas instituições pra levarem ao fim os processos que [tão acontecendo. =

Oga Mendonça: [Uhum.

Ju: = E o que eu perguntei foi assim, “tá, mas vamos lá, em acontecendo o impeachment (que agora já vai acontecer o processo), o PMDB vai ficar do lado da Dilma ou o PMDB vai votar contra?”. Ele falou “isso é que tá impossível de prever, porque uma ala do PMDB pensa: ‘Vamos apoiar o PT, não deixe esfarelar porque a gente era coalizão nessa gestão…

Oga Mendonça: Uhum.

Ju: …a gente vai se queimar se ele se queimarem, na próxima eleição a gente toma o poder’. Outra ala do PMDB pensa: ‘Não, a gente pega o poder agora e nesse tempo que a gente tem, a gente faz um governo de coalizão, faz aquela coisa do pacto de todo o mundo se ajudar, pra gente fazer um governo de transição, como o Itamar fez, e no próximo a gente se elege com tranquilidade, porque a gente costurou essa coisa de ser os salvadores do Brasil, a gente costurou essa coisa de que ‘nós que ajudamos o Brasil pra passar por esse momento de crise’’. Então tem essa divisão.”. E eu falei assim: “tá, mas então se o PMDB pegar o poder desse jeito, então puxar o tapete da Dilma (porque eles eram Aliados), puxa o tapete da Dilma pra eles pegarem o poder e perpetuarem no poder depois, então automaticamente o PT passa à oposição?”. “Não, isso não tá certo que o PT pode continuar como partido aliado, partido de base, a forma dele continuar de alguma maneira no poder”. Então é bizarro, não há certezas, os cenários estão todos fragmentados, a gente não sabe o que vai acontecer.

Cris: E a Dilma, logo na sequência, né, entrou ao vivo, falando com a imprensa, e foi transmitido via Facebook. Ela se diz indignada com o pedido e ela pede que a população confie nas instituições porque existe um processo a ser seguido, e aí ela aproveita pra alfinetar, né.

Oga Mendonça: A Dilma fez o #meuamigosecreto.

Cris: É!

Ju: É, hahaha!

Oga Mendonça: Ela usou a hashtag, tipo #meuamigosecreto…

Ju: Eu não sou como certas pessoas.

Oga Mendonça: Isso é genial.

Cris: #meuamigosecreto tem conta na Suíça. E #meuamigosecreto é… realmente, então….

Oga Mendonça: Não, foi incrível, falei: “Pô Dilma, mandou o amigo secreto, essa mulher tá…”

Cris: Dilma deu aquela alfinetada básica, e falando que nada teme e que venha a investigação. A gente sabe que não é tão fácil assim, mas é óbvio que era assim que ela deveria se posicionar nesse momento. E o que vai determinar realmente o avanço, e como isso vai avançar, é realmente o posicionamento do PMDB, já que o PSDB já pulou do barco do Cunha. Então o mais assustador nisso é que um assunto que tava começando a baixar e a gente tava começando a se organizar para entender o princípio do próximo ano, a gente já vai entrar com uma mega de uma confusão. Então a gente vai continuar parado e essa situação…

Ju: [interrompe] Num ano de tanta crise, que a gente tá precisando tanto trabalhar, né, gente.

Cris: [interrompe] Tanto ir pra frente…

Ju: É…

Cris: E o negócio estagnado. Então assim, a população não aguenta mais! E aí agora a gente ainda tem os divididos, porque voltou de novo aquela turba do “É isso aí, Cunha! Muito obrigada! Você fez muito pelo país!”, e aí ‘cê pergunta: gente, vocês não tão vendo que ele não fez nada pelo país? É só uma chantagem!

Ju: Não, mas é…. eu não sei, eu acabei de ver uma postagem do Yassuda falando assim, que até quem não é a favor do impeachment tá só querendo que acabe logo, sabe.

Oga Mendonça: Justamente, todo mundo tá cansado.

Ju: [interrompe] Porque a briga tá pior, entendeu. Então assim, todos saem feridos, é aquela coisa da guerra, é melhor se render e ficar numa paz mal construída do que uma guerra.

Cris: É, eu vou falar uma coisa que eu falo desde pequena porque eu aprendi lá em casa: é melhor um final horroroso que o horror sem fim.

Ju: Isso, exato.

Cris: Então, é o que temos.

[sobre trilha]

[desce trilha]

Ju: Mas já que tava falando de horror…

Cris: …vamos para o Trending Topics número 3.

Ju: E aí, gente, é o seguinte: Roberto de Souza Penha, 16 anos; Carlos Eduardo da Silva, 16 anos; Cleiton Corrêa de Souza, 18 Anos; Wilton Esteves Domingos Júnior, 20 anos; Wesley Castro Rodrigues, 25 anos: todos negros. Na noite de sábado saíram para comemorar o primeiro salário de Roberto como Jovem Aprendiz no atacadão da Avenida Brasil, no Rio de Janeiro. Estavam voltando em um Palio branco na Estrada João Paulo, Zona Norte do Rio, e foram fuzilados com 50 tiros pela polícia. O crime foi cometido na Comunidade Lagartixa, no Complexo da Pedreira, bairro de Costa Barros. O grupo de jovens estava em um carro com documentação em dia, motorista habilitado e desarmados. O Douglas Belchior, da Carta Capital, pergunta: “O que é que havia ali que pudesse justificar a ação de policiais? Serem todos negros?”. Os quatro policiais usaram luvas pra pegar a chave do veículo e tentar abrir o porta-malas, não conseguiram, aí tentaram fugir a cena do crime de forma canhestra: colocaram uma arma de brinquedo sobre o pneu esquerdo dianteiro, não colou, foram presos.

Cris: Bom, as reflexões que ficam sobre isso é as mesmas que a gente tem feito ao longo do ano. E a Unicef ela iniciou uma campanha do Dia da Consciência Negra, de um futuro interrompido pra falar sobre o assassinato de jovens negros. São cerca de 82 jovens mortos todos os dias. Comparado à taxa de adolescentes mortos, o Brasil só fica atrás da Nigéria. E a declaração é: as crianças e adolescentes assassinadas tem cor, classe social e endereço. Isso é o que enfatiza o órgão da ONU. São em sua maioria meninos negros, pobres, que vivem nas periferias e áreas metropolitanas das grandes cidades. A taxa de homicídio entre adolescentes negros é quatro vezes maior do que aquelas entre brancos. Entre 92% e 95% de todos os homicídios não são solucionados. Parte dessa estatística se deve aos autos da resistência. Parece que a gente nunca vai parar de falar sobre isso, né. Só esse ano já teve Cabula, Osasco, Fortaleza e uma infinidade de anônimos e as coisas continuam se sucedendo. O número que eu vi é que foram disparadas 111 tiros, a contar todos os tiros do carro e que pegaram nos corpos. E a foto do pai de um deles é, eu acho, traduz todo o pesar de um pai que perde o filho tão novo, que saiu para comemorar o primeiro emprego, né. Tipo, qual é o motivo disso? Eu acho que junto com a dor da perda do filho vem a dor da pergunta, né: “Por quê meu filho?”
(Bloco 5) 41’ – 50’59”

Ju: Não, e a tristeza que é (a gente já falou sobre isso no episódio de Violência Policial; se você não escutou o episódio de Violência Policial: por favor, volte e escute) das famílias desesperadas, falando assim: “mas ele estudava”, “ele tava terminando o curso de administração”, “eu sou a vizinha dele, eu fiz o currículo pra ele, ele tinha acabado de ser chamado pra trabalhar num banco”, “ele era um menino que ia na esquina, pedia a permissão pra mãe”. É muito interessante que, assim, todas as vezes nessas… essas tragédias, eles ficam falando assim: “não, mas ele tinha tirado carteira de trabalho”, “não, mas ele tirava nota boa na escola”, “ele não merecia, ele não era bandido pra ser morto desse jeito”, sabe. Não é porque ele é pobre, negro, de periferia, que ele merecia ser tratado desse jeito. E, assim, já falamos aqui: você não precisa de nada disso, a gente não tem execução sumária no Brasil. Anyways não poderia ter sido feito.

Cris: Mesmo que ele tivesse cometendo algum tipo de crime.

Ju: Sim, exato. Então assim, mas é triste que as famílias tenham que fazer isso, sabe. Pra, além de tudo, pelo menos salvar a memória das crianças, né, pra que elas pelo menos tenham direito de ser tratadas como crianças que foram vítimas, e não que tenha sido uma mancha a ser limpada da sociedade, né, como um carrapato que tava incomodando e foi eliminado.

Oga Mendonça: Pra mim isso me toca muito porque me encaixo no meu perfil, né. Então quando eu vi isso eu fiquei pensando: “Eu, pretinho, da Vila das Mercês, quantas vezes a gente não entrou, uma galera, no carro que pegou do pai, geralmente um carro popular? Quantas vezes a gente não foi no Habib’s? Um monte, né, de menino negro, pobre, dentro de um carro indo pro Habib’s?”. Quer dizer, e é muito louco você pensar que você não tem esse privilégio que você não pode entrar, sei lá, não tem motivo pra isso. Não é porque o carro é filmado, eles.. os policiais não conseguiram dizer o motivo. Por que que eles atiraram nesse carro? Né, é muito estúpido assim, é muito assustador quando você pensa nisso, né. É isso, esse raciocínio, e infelizmente tem esse raciocínio na periferia, de tipo: “eles não eram bandidos”. Não, ninguém merece morrer, e aí o que eu acho mais assustador é ficar pensando que você tem um perfil de caras que vão morrer, e é o que falam nesses dados, né. Tipo, tem várias estatísticas desse tipo. Então, assim, eu fico brigando muito por essa questão da representatividade, porque eu acho que é um jeito de dar visibilidade pra essas pessoas, pra que a pele parda, que a pele negra não seja entendida como uma ameaça, né. E eu acho que isso agora começa a andar, agora a gente começa a perceber. Mas não é por um viés da educação, foi por um viés econômico. Como a Classe C começou a consumir, como os pobres começaram a consumir, ele começar a serem enxergados, mas não ainda como seres humanos. Então a gente vê isso, mesmo que você fizer tudo o Estado te pede (trabalhar, ter um emprego), você ainda corre risco, você ainda é uma ameaça pro Estado. Então essa é uma questão muito complicada, eu começo a ver agora… E eu sei lá, eu consigo fazer uns paralelos malucos e intensos assim, mesmo a ocupação desses meninos, agora eles exercendo a cidadania na escola pública que a maioria é negro, pardo, é muito interessante você ver esse empoderamento do povo negro, do povo de periferia com outro viés. Então tenho certeza essa geração que tá ocupando a escola já vai se sentir mais dona. Eu… tem aquele vídeo do menininho, ‘cê viu que genial esse momento ali, que os dois assuntos…

Ju: Haha!

Oga Mendonça: Aquele videozinho que tem o menino falando pro policial, explicando pro policial, que ele não poderia invadir a escola, é no Raul Cardoso, que é uma escola perto da minha casa, a escola estadual. Eu estudei numa Escola Municipal e a escola de cima era estadual. Eu achei muito interessante, que eu falei assim: “Cara, eu nunca falaria assim com a polícia”. Eu já tomei batidas diversas vezes. Diversas vezes eu fui parado. E eu falei “Cara, eu nunca falaria assim com a polícia”. E eu vi aquele menino pautando com argumento dentro da escola, eu falei assim: “Cara, é isso, enquanto esse cara se tornar cidadão, saber que ele tem o poder, que ele tem o direito e que ele tem que falar, e tem um jeito de falar (porque ele não tá devendo nada) talvez esses atos comecem a diminuir”. Agora o que eu acho mais estranho é: por que que a polícia…. num caso desse, por que que a polícia que pune a própria polícia? Sabe, é uma dúvida que eu tenho assim, né. A gente vê esses casos nos Estados Unidos, depois o cara vai pra júri popular, tal tal tal. Mas no Brasil parece que nunca vai, né. É uma dúvida, na verdade. A gente tem os melhores ouvintes e eles vão responder pra gente. Mas é uma dúvida, porque eu nunca vejo isso, né. Já faz um ano que teve o caso em Ferguson, que o Michael Brown tomou um tiro. E assim, lá, o que eles fizeram? Depois de um ano a coisa não melhorou muito, mas melhorou. Eles trocaram o administrador municipal, puseram um cara negro lá. O chefe da polícia da cidade agora é negro. Então assim, é muito louco você ver que eles tiveram que tacar fogo na cidade inteira, ter uma série de protestos durante um ano. No aniversário teve protestos, pra acontecer isso. O que mais me choca no Brasil é pensar que, assim, cinco jovens são mortos e a gente não faz nada.

Ju: Apatia, né.

Oga Mendonça: A gente faz textão no Facebook.

Ju: É.

Oga Mendonça: Que, eu entendo, assim, pelo menos a gente tá fazendo alguma coisa. Mas, assim, era pra gente tacar fogo nas coisas.

Ju: É.

Oga Mendonça: Ou não, a gente sabe que isso não é o protesto. Mas eu acho muito louco a nossa apatia assim. Cara, que absurdo tem que acontecer? Sabe, a gente vê…

Ju: [interrompe] Então, sabe que eu fiquei pensando? Na entrevista da Leslie… a diretora do documentário India’s Daughter, que ela falou justamente isso, que o caso de estupro era… assim, não era extraordinário, porque casos de estupro, mesmo com esse requinte de crueldade e violência, eles infelizmente acontecem muito no mundo inteiro. O que foi excepcional foi a resposta das pessoas que foi, tipo, sabe a última gota d’água que transborda do copo? Assim, “não toleramos mais, e pode vir polícia pra cima, pode prender, pode mandar cavalo, pode mandar água, pode o que quiser, a gente não vai sair da rua porque não toleramos mais”. O que que precisa acontecer pra que, da mesma maneira, a gente não tolere mais esse tipo de coisa? A polícia não pode fazer isso, sabe. Principalmente sempre o mesmo perfil. Que que tem que acontecer pra que a gente fale “chega!”? Chega, eles não fizeram nada, eles não resistiram a prisão, eles não tavam correndo, não… não tem explicação.

Cris: Esses meninos nem devem ter registrado o que que aconteceu, porque…

Oga Mendonça: Não deve ter dado tempo.

Cris: Não dá… não dá tempo. Então assim, fica a dor de cada vez mais famílias, cada vez mais pessoas pedindo e… essa invisibilidade. A ONU e a Unicef já taxaram isso como genocídio. É um genocídio. Porque você tem que partir de um pressuposto pra isso acontecer e não é aleatório, tem esse perfil. Então eu fico imaginando o pavor das mães que têm filhos nesse perfil, o pavor dessas crianças. Porque você rouba uma infância assim. Você tira uma dignidade de uma criança assim. Ela cresce com um alvo pintado na testa. E isso não é uma vida pra uma criança. Então o entendimento sobre a representatividade ajuda e, principalmente, o entendimento do Brasil enquanto a nação negra, é muito necessário pra que diminua o estereótipo de ameaça, de risco, onde eu já prevejo a ação do outro, que na verdade não fez nada pra que eu tivesse essa percepção. O Ian Black, que muita gente conhece, que trabalha com publicidade, esteve num restaurante recentemente, ele fez um post no Facebook, que ele falou que na hora que ele foi pegar a bicicleta, ele ouviu as pessoas comentando “Olha, será que ele mesmo?” e tal. É um cara formado, um cara de opinião, um cara…. “eu olhei pra eles com muita força, mas eu não falei nada e eu fui embora”. E ele ficou se questionando depois sobre o que que ele deveria ter feito, o que ele devia ter falado, o que ele devia ter achado ruim. E eu mesma falei com ele, eu falei “Ian, o seu olhar já é a sua colocação, né. O seu olhar mostra que você tem consciência de quem você é e que é o seu lugar sim.”. Então eu acho que quando a gente vê esses meninos da escola vindo mais conscientes, a gente tem mais representatividade tem chance de diminuir. Mas a gente não pode esperar chegar até isso para diminuir essas chacinas que tão acontecendo com essa frequência absurda. Então assim, é um clamor mesmo, é um clamor de mãe, é um clamor de cidadã que acredita que a gente não tem mais espaço em 2015, num cenário que a gente se pinta como uma nação desenvolvida, passar por isso ainda.

Oga Mendonça: É, o que eu percebo agora o que eu acho que a militância negra… não só a militância negra, porque acho que isso tem que ser a preocupação de toda a sociedade, mas principalmente a militância negra agora tem que cobrar realmente a punição exemplar desses caras. Naquele caso da Taís Araújo, que ela sofreu racismo pela internet, ela foi até o fundo, né, ela conseguiu pelo menos achar o nome dos caras. Os caras receberam uma cartinha em casa. E eu acho que a gente tem que ir cada vez mais e mais a fundo disso, de ir realmente até o final. Eu quero saber, porque assim, do Amarildo mesmo é um daqueles casos que depois a imprensa abandonou. Sinceramente eu não sei o que aconteceu, né. A gente acaba não sabendo, sabe. Aquele menino de 10 anos que tomou um tiro na favela recentemente…. Quer dizer, esses casos vão, a última chacina que teve em Osasco… Osasco ou Guarulhos… sabe, eles vão virando só mais uma polêmica do Facebook da semana passada.

Ju: Sim.

Oga Mendonça: Isso eu acho muito assustador assim. Então eu acho que a gente começa a ter que se articular pra cobrar realmente punição exemplar pra esses caras.

Cris: E é o perigo da banalização né.

Ju: É.

Cris: “Ah, mais uma”, e aí…

Ju: Exatamente.

Cris: …virou estatística.

Oga Mendonça: É que assim, sempre foi banalizado. Agora ainda aparece, mas é isso. Se a cada 25 minutos morre um jovem negro a gente nem sabe, né. É que realmente tem esses que são extraordinários, que são estupidez imensa, mas assim, acho que agora a nossa vigilância pra que esses caras sejam punidos de verdade, né.

Cris: É, eu acho que todo mundo tenta entender. Entender o que que é isso.

Oga Mendonça: É, entender a gente entendeu. É racismo, é um…

Cris: [interrompe] Quando eu falo em entender é o momento exato que o cara mira uma metralhadora (porque era uma metralhadora), pra um carro com jovens… que o que que passa na cabeça…

Oga Mendonça: [interrompe] Tá, mas imagina o medo do policial, entendeu. É isso que fico pensando. O medo, o ódio. Esse cara tá num estado normal de consciência?

Cris: É isso que me questiono.

Oga Mendonça: É isso que eu fico imaginando. Então assim, por isso que eu falo que é mais profundo. Esse cara não tem preparo nenhum. Em três meses, enfim, tava lendo sobre como se forma PMs no Rio.

Ju: É.

Oga Mendonça: Cara, em nove meses esse cara tá com uma arma. Tem caras que em três meses tão na rua. Como que o cara com três meses tá na rua? Que preparo esse cara tem? [Tipo, meu, nem… nem…

Ju: Não, a gente falou sobre isso no Violência Policial.

Oga Mendonça: É isso, nem no telemarketing ‘cê vai conseguir, tipo, trabalhar tão rápido!

(Bloco 6) 51’ – 59’59”

Ju: É.

Oga Mendonça: O máximo que você vai pode fazer é xingar alguém pelo telefone. O maluco sai com uma arma e é posto num lugar que ele sabe que tem um monte de gente perigosa, jovens negros que ouvem funk, sabe. Eu não sei o que passa na cabeça desse maluco, sabe. Então…

Ju: Assim, é a polícia que mais mata no mundo e a polícia que mais morre também. Então assim…

Oga Mendonça: É isso.

Ju: …o que a gente falou no episódio de Violência Policial, é que tá horrível pra todo mundo.

Oga Mendonça: Não, e Ju…

Ju: Tá horrível pra todo mundo.

Oga Mendonça: …sabe o que me pega? Quando você vê o policial, ele é um cara jovem de periferia…

Ju: Sim.

Oga Mendonça: …que estudou, que fez tudo direitinho, que não virou bandido, por isso que ele tá lá pra pegar os outros bandidos. Quer dizer, é mais assustador. Então o sistema faz um loop bizarro. Quer dizer, o cara que é da periferia, ele, tipo, vai agora punir os caras que não seguiram o caminho dele, né. Que então isso eu acho muito assustador assim, que a gente continua nesse loop maluco de formar psicopata, de formar vítima, de formar algoz.

Ju: É o ciclo da violência né, que ela só escalona, ela nunca diminui. É, então acho que fica aí uma boa tarefa pro Mamilos, de fazer um compromisso até com vocês, da gente acompanhar todas as…

Oga Mendonça: Uhum.

Ju: …essas notícias que a gente cobriu aqui, que a gente periodicamente traga um report pra vocês de o que aconteceu com o Cabula, que a gente viu que eles foram inocentados, a gente até deu a resposta aqui…

Oga Mendonça: Justamente.

Ju: Cabula a gente até deu a resposta. Mas o que que aconteceu nas outras chacinas que a gente cobriu, e que a gente tem que esperar o devido processo legal mas também tem que acompanhar pra dar notificação pra vocês de qual foi o resultado. Nesse caso do Rio de Janeiro, pelo menos, os PMs envolvidos já estão todos presos. Agora é o processo legal para ver o que que vai acontecer com eles.

[sobe trilha]

[desce trilha]

Cris: Vamos então pro Farol Aceso? Ju, que que ‘cê andou fazendo de bom?

Ju: Eu escutei a dica do Felipe Cruz, do Milkshake Chamado Wanda, e fui assistir Luther, uma série investigativa da BBC. E basicamente eu cheguei à conclusão que: não não precisa falar mais nada, me fale que a série é inglesa, eu já estou assistindo.

Oga Mendonça: Concordo.

Ju: Eu tô gostando bastante, bastante, bastante, bastante. Eu assisti acho que só uns três episódios, mas já tô completamente envolvida pela história, pelo personagem. E já falei para vocês aqui que, para mim, você pode até roubar no jogo na hora de construir a trama, você pode, na narrativa, usar alguns vícios, usar alguns clichês. Eu perdoo tudo se os personagens forem bem construídos. Se eu me interessar por aquele personagem, se eu quiser saber que que vai acontecer com eles, se eu gostar deles ou ficar curiosa, ou ficar… qualquer coisa – eu vou assistir, e Luther é isso. Tem bons personagens, você se envolve com a série. Recomendo.

Cris: E o Idris é lindo, apenas.

Ju: Também. Ajuda.

Cris: Oga, diz aí.

Oga Mendonça: Bem, vou indicar um documentário sobre o jornal Meia Hora, do Rio. É um jornal que tem as capas com humor e, de certa forma, até um humor um tanto inconsequente. Vocês já devem ter recebido uma dessas capas, tipo “Luana Não Tem Dado Mais Em Casa”.

Cris: Hahaha!

Ju: Hahaha, adoro gente!.

Oga Mendonça: É… tinha uma do Bonner, como que era a do Bonner, gente? É… “Fátima Abandona Bonner e Vai Fazer Programa.” Então…

Ju: Hahaha!

Cris: Hahaha!

Oga Mendonça: …o Angelo Defanti, que é o diretor…

Ju: [interrompe] Demais! Queria ser esse redator, né.

Cris: Muito bom.

Ju: Melhor emprego do mundo.

Oga Mendonça: Então, assista que vocês vão ver os redatores. Mas assim, o Angelo Defanti vai lá e começa a investigar e conversa com todos os redatores, remonta a história do jornal. Quando eles decidiram ser um jornal popular, enfim. Ó gente, vou dar spoiler gente, tenho que me segurar…

Ju: Haha!

Oga Mendonça: Enfim, é muito legal, discute várias coisas. Além desse humor, essa questão, o jeito como eles tratam a violência, que é um jeito quase fascista, e é bem legal, enfim. Você encontra esse documentário no Canal Brasil, se assina a Net, usa o Now, enfim, cê vai conseguir achar aí. As outras duas dicas tem a ver com rap. Primeiro, vai rolar, pra quem é de São Paulo, mais precisamente quem é de São Paulo ou de Santo André, ou da região do ABC, pode ir no Festival Batuque, que, aliás, um dos caras vai tocar que eu vou citar que vai ser o próximo, que é o Rodrigo Ogi, que vai tocar nesse festival. É um festival que acontece todo ano. Ele junta não só artista de rap, mas de vários ritmos, enfim. E esse ano o convidado internacional é o Joey Badass. Assim, eu achei muito interessante porque poucas vezes chegam os artistas internacionais no tempo que eles realmente tão bombando assim, ainda mais de rap. Por um preço de Sesc né, tipo, R$20 a inteira. Então assim, vai bombar, tem que comprar rápido pra poder assistir. Além do Joey Badass, se apresentam no dia do evento o RZO, o BNegão & Seletores de Frequência, pessoal do Mental Abstrato, pessoal da Beatwise, o Ogi e o Space Charanga. Então, o serviço é dias 12 e 13 de Dezembro, no SESC Santo André. E a última dica é o disco do Rodrigo Ogi, que um cara fez a capa do programa, não quero falar quem é…

Ju: Hahahaha, um cara talentosíssimo! Hahaha!

Cris: Haha, um cara muito legal!

Oga Mendonça: Não quero parecer metido…

Ju: Haha!

Oga Mendonça: Eu fiz o design da capa, junto com o pixo do Sosek, do Pifo, e foi bem bacana assim. Esse disco do Ogi, ele é o segundo disco dele. Ele é muito legal porque ele tem um estilo de rap que a gente fala storytelling, que é quase um cronista da cidade assim, ele vai contando vários causos de São Paulo, vários personagens dessa cidade, assim. Uma música que eu super indico é “Virou Canção”, que eu acho uma das músicas mais legais do ano, assim e… acho que é isso. Procurem o disco do Rodrigo Ogi, tá no Spotify, tá em todos os lugares, enfim, vocês conseguem achar.

Ju: E você, Cris?

Cris: Então, eu vou roubar no jogo e vou indicar uma coisa que eu já fiz há muito tempo, mas é que recentemente eu assisti o filme Tim Maia, do Mauro Lima, que foi um dia que o Telecine tava liberado lá, aí acabei assistindo. Achei que foi um filme super bem produzido, é um filme legal, plasticamente brilhante assim, muito, a caracterização, achei lindo o filme de assistir.

Oga Mendonça: Uhum.

Cris: Mas ele não chega tão perto do livro do Nelson Motta, que é o Vale Tudo. Então o que eu queria indicar, na verdade, assistam o filme, vale a pena, vão poder conhecer um pouco do personagem, mas eu queria indicar o audiobook do Vale Tudo, que é com o Nelson Motta narrando. Vocês não vão entender a experiência, é muito bom, porque ele conta a história daquele jeito carioca que conversa assim, entendeu? E ele imita o Tim Maia em algumas passagens falando “Nelson Motta!”. Então é divertidíssimo e ‘cê se sente dentro da história e acho que vocês ouvintes sabem o efeito que o áudio pode causar (não o álcool, tá? O áudio! Haha!)… pode causar. e você realmente se transportar para o lugar que a história tá sendo contada, e o Tim Maia é um escroto! Um escroto delicioso e brilhante. Então é minha recomendação pra vocês: ouçam esse livro, porque ele é muito legal. Temos um programa?

Ju: Temos um programa, no amor, no suor e na superação, né, gente? E todo mundo agora, quero todo mundo entrando nas redes sociais, se ouviu até agora, mandando um direct pra Cris, falando “muito obrigada pelo programa dessa semana”, que essa mulher… se vocês tivessem trabalhado metade do que ela trabalhou nas últimas duas semanas, cês não tavam aqui nem a pau. Então todo mundo: corrente, hashtag #ObrigadaCris.

Cris: É um prazer estar aqui pra falar com vocês, porque tem um monte de outras coisas nessa vida que eu, a Juliana e todo mundo tem que fazer, mas nós mamileiras, né. Eu tenho que vir aqui, é meu spa intelectual semanal, haha. Eu não aguento, eu não viria, mas aí de última hora eu falei “eu não aguento!”, então vou voltar pra trabalhar agora. Então gente, fica a gostosa sensação de um programa número 50, gravado.

Ju: No ar.

Cris: Um beijo, brigada, bom fim de semana.

Oga Mendonça: Valeu, brigado, Cris.

Ju: Tchau!

Cris: Haha…

[sobe trilha]