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“Pantera Negra” é um grande marco no universo cinematográfico da Marvel

Com excelentes personagens e um olhar original, Ryan Coogler aproveita todo o potencial das histórias de T'Challa e Wakanda

por Virgílio Souza

Quando fomos apresentado ao Pantera Negra nos cinemas há quase dois anos, ele tinha uma missão urgente a cumprir: vingar a morte de seu pai, o rei de Wakanda, vítima de um atentado enquanto discursava às Nações Unidas. No contexto de “Capitão América: Guerra Civil”, T’Challa (Chadwick Boseman) não era um herói formado, mas parte de uma história mais ampla que marcava um ponto de virada no universo criado pelos estúdios Marvel. Ainda assim, a introdução ao personagem já indicava o que ele poderia oferecer nas mãos certas — e o desperdício que seria vê-lo nas mãos erradas.

Felizmente, a relação entre Ryan Coogler e o material à disposição é a melhor possível. Diferente de outros diretores envolvidos em grandes franquias, satisfeitos em aplicar o molde testado e aprovado pelo público sem que as particularidades de cada universo tenham impacto na maneira de contar suas histórias, o cineasta segue uma fórmula de sucesso própria. Por mais que recorra a certos elementos convencionais desse tipo de aventura solo, sua direção se destaca por combinar as principais influências dos originais e um olhar atento para algumas das questões mais relevantes da atualidade. Essa é a uma habilidade que já aparecia em “Creed: Nascido Para Lutar, sua entrada na série “Rocky”, e que aqui pode ser vista em escala ainda maior.

O diretor Ryan Coogler e Chadwick Boseman no set

Embora não seja adaptação direta de um arco publicado anteriormente, “Pantera Negra” tem uma relação muito próxima com o legado e a evolução do personagem nos quadrinhos. Alguns dos elementos que marcaram gerações de leitores têm tempo e espaço para se desenvolver no roteiro escrito por Coogler e Joe Robert Cole. Situações, locais e personagens das histórias de Don McGregor nos anos 60 são centrais no filme, que compartilha o fascínio do autor por descobrir cada vez mais detalhes sobre Wakanda; as sequências em que o herói sai de cena, mas continua sendo o eixo da ação, remetem às contribuições de Christopher J. Priest no fim da década de 90; e o discurso político parece saído das páginas escritas por Ta-Nehisi Coates nas edições mais recentes, que trazem o protagonista para uma dura realidade no século 21.

A união de tantas peças diferentes, novas e antigas, forma um conjunto surpreendentemente coeso. O ato inicial até sofre um pouco em termos de ritmo, mas é compreensível que o filme passe por alguns dados relevantes sobre as origens do protagonista antes de encontrar o eixo central da trama. De todo modo, a montagem truncada dos primeiros vinte minutos de projeção (de longe seu trecho mais “funcional”, até pelo volume de ideias apresentadas) acaba compensada depois em termos de desenvolvimento de personagens e expansão da mitologia ao redor deles.

A relação entre o diretor Ryan Coogler e o material à disposição é a melhor possível

“Pantera Negra” se dedica a Wakanda e T’Challa na mesma medida, porque entende desde a sequência de abertura que suas trajetórias estão intimamente ligadas. A jornada do protagonista para provar que merece vestir o lendário uniforme, sua verdadeira história de formação, tem relação direta com as tradições daquela sociedade e sua posição no mundo. Tanto para o herói quanto para sua nação, as circunstâncias exigem (re)afirmar uma identidade sem abdicar de olhar para o futuro e para as transformações que ele pode trazer.

Em termos de imersão nessa cultura particular, nada impressiona tanto aqui quanto os feitos da diretora de fotografia Rachel Morrison, que fez história com sua recente indicação ao Oscar por “Mudbound”, e da figurinista Ruth E. Carter, que tem no currículo títulos como “Malcolm X” e “Selma”. Cada uma ao seu modo, elas evitam a simplificação, a opção pelo retrato mais óbvio, e conferem peso ao que vemos na tela. A aparência genérica de tantos produtos da empresa certamente não dá as caras em Wakanda, e a sensação em boa parte do tempo é de que as ações e decisões do novo rei têm impacto de fato, pela gravidade com que são filmadas, e que as vestimentas tradicionais realmente carregam uma bagagem de centenas de anos, pela maneira como são tratadas. Visto pelas lentes de Morrison e erguido sobre as formas e cores definidas por Carter, o rico país africano se prova mais vivo do que qualquer outro mundo já visitado no universo Marvel.

Algo parecido pode ser dito sobre o trabalho do produtor musical Ludwig Göransson. Criada após meses de pesquisa em Senegal e na África do Sul, a trilha de “Pantera Negra” costura a narrativa a partir de uma vibração particular que vai se adaptando ao tom das cenas e crescendo com o avançar da trama — com direito a inserções de faixas do álbum original de Kendrick Lamar que se misturam aos demais sons do ambiente, sejam eles batidas eletrônicas ou ritmos extraídos de cantos e instrumentos típicos de povos locais.

⚠ AVISO: Pode conter spoilers

Quem personifica esse choque entre tradição e modernidade é Erik Killmonger (Michael B. Jordan), mais até do que o próprio T’Challa. Um filho de Wakanda que cresceu cheio de ressentimento em Oakland, nos Estados Unidos, ele atua como ponte entre esse mundo inventado e a realidade, fazendo o filme ganhar em emoção sempre que entra em cena. Com motivações claras e compreensíveis, qualidades raras nos vilões da empresa nos cinemas, o personagem coloca princípios seculares de sua terra-natal à prova ao mesmo tempo em que abre a discussão para a experiência atual do jovem negro norte-americano — que é, como ele mesmo afirma em uma cena-chave, parte de um sistema que os oprime desde os tempos de escravidão.

A aparência genérica de tantos produtos da Marvel certamente não dá as caras em Wakanda

Questões similares, que tocam em temas como anticolonialismo e resistência política, aparecem também nos diálogos envolvendo os veteranos do grupo de T’Challa. A rainha-mãe Ramonda (Angela Bassett) e o mentor espiritual Zuri (Forest Whitaker) são como símbolos de valores fundamentais, ao passo que o núcleo mais jovem leva essas ideias do discurso para a ação concreta. Tendo em mãos alguns dos nomes mais elogiados do cenário atual, como Lupita Nyong’o, Daniel Kaluuya e Sterling K. Brown, o diretor aproveita a precisão da caracterização dos personagens para extrair mais de cada um deles nas relações com o herói principal e com Wakanda. Como consequência, o filme é capaz de variar o tom sem perder o foco, quando necessário investindo no humor da genial Shuri (Letitia Wright), irmã do herói, ou assumindo a seriedade da poderosa Okoye (Danai Gurira), líder das forças de defesa do país.

Mais do que em qualquer outro filme desse universo, os personagens apresentados aqui são seres completos

Falar em “elenco de apoio” parece injusto com a relevância e o desempenho dos atores. É verdade que os familiares e membros do governo de T’Challa servem como bases para entendermos seus desafios e nos aproximarmos dele — no limite, os arcos dos coadjuvantes alimentam a ideia do Pantera Negra como uma entidade protetora dos wakandianos. Mas também é verdade, mais do que em qualquer outro filme desse universo, que os personagens apresentados aqui são seres completos e que possuem enorme capacidade de agência, além de perspectivas únicas dentro do contexto em que vivem.

Não importa se são homens ou mulheres, guerreiros ou pacifistas, rivais ou amigos de infância; nesse esforço capitaneado por Coogler, todos carregam algo fundamental para o filme e percorrem arcos pessoais que ultrapassam as expectativas mais básicas sobre seus papéis. Entre tantas lições sobre inclusão e representatividade que acompanham o lançamento do filme, essa certamente deve ser repetida: é sintoma de um atraso assustador que T’Challa seja apenas o primeiro super-herói negro como protagonista de uma produção desse porte quando há tantas histórias diversas e grandiosas espalhadas por aí. Por conseguir reunir várias delas em um só filme, a façanha de “Pantera Negra” é ainda mais marcante.

nota do crítico

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