“Brightburn” prefere o terror barato a virar o gênero de super-herói de cabeça para baixo • B9
Capa - “Brightburn” prefere o terror barato a virar o gênero de super-herói de cabeça para baixo
Imagem: Brandon Breyer (Jackson A. Dunn) in Screen Gems’ BRIGHTBURN.

“Brightburn” prefere o terror barato a virar o gênero de super-herói de cabeça para baixo

Premissa sugere uma abordagem mais sóbria sobre o horror de uma mitologia deturpada que a realizada pelo filme de David Yarovesky

por Pedro Strazza

A premissa de “Brightburn – Filho das Trevas” de início intriga pela inversão de procedimento que promove na mitologia do super-herói. Se a concepção do ser poderoso que guarda a sociedade foi popularizada pelos quadrinhos ainda nos anos 30, na forma de uma retomada de princípios essencialistas que trocavam o duro cotidiano do mundo pós-crise de 29 pela promoção de valores, o longa do diretor David Yarovesky usa dos mesmos mecanismos sob a intenção de deturpá-los, trazendo-os à realidade deste fim de anos 10 no qual a sensação de corrupção dos ideais parece perseverar como lei vigente.

É uma narrativa que o filme reconhece e abraça desde seus primeiros minutos, sem nenhuma discrição repetindo a clássica origem do Superman enquanto alienígena super-poderoso que cai numa cidadezinha do interior do Kansas (a Brightburn do título, no caso). As batidas do mito de formação do personagem da DC Comics são assumidas como referencial visual mais óbvio dentro da produção, que em teoria percorre todo este trajeto iconográfico dentro de uma lógica onde os valores puros e responsáveis pela concepção do grande herói nunca chegaram a existir.

O diretor David Yarovesky no set do filme

Esta aplicação supostamente envolve todas as bases deste mito de formação. Seja nos pais (Elizabeth Banks e David Denman) que adotam o bebê caído na Terra por motivos mesquinhos da maternidade e da paternidade ou na própria relação do protagonista Brandon (Jackson A. Dunn) com seu planeta natal – que ao invés de destruído mostra ter enviado o garoto por um motivo acima de tudo colonialista – “Brightburn” brinca constantemente com as noções de um mundo que não merece e, pior, corrompe uma entidade a princípio vinda para nos inspirar o melhor, uma narrativa de descoberta que o roteiro escrito pelos primos Brian e Mark Gunn busca enquadrar pelos ritos de rebeldia da adolescência. Brandon, afinal, é submetido na trama a grande parte das frustrações que acometem a longa gestação do amadurecimento, mas por ser um ser superpoderoso e estar despido dos ideais responsáveis por sedimentar uma visão otimista da sociedade seu caminho para a vilania se torna inevitável.

A ligação em si é interessante porque ela reforça como o mito do herói nutre um caminho de duas vias com a sociedade no qual esse se insere, um tema que os quadrinhos há décadas já exploram e o cinema ainda toca com timidez graças ao caráter intrínseco que o gênero no momento tem com as produções de altíssimo orçamento – de memória, o único que se arriscou enveredar pelo assunto em tempos recentes foi Zack Snyder, em debates extensos sobre deuses e humanos que já encontraram o fim de sua atração dentro do mercado. Não por acaso, a figura da colmeia subexiste entre os acontecimentos, acentuando não apenas a síndrome de não pertencimento de Brandon como extenuando a unidade da cidade enquanto comunidade – o senso de camaradagem entre os pais se perde por completo quando os filhos entram em conflito, por exemplo.

As batidas do mito de formação do Superman são assumidas como referencial visual mais óbvio dentro do filme

Todo este debate soa promissor no papel e dá a sensação de que o longa abarca uma miríade de temas que vão da investigação mais profunda sobre o gênero até a problematização do american way no qual todo este processo se estabelece, mas a verdade é que passado o estágio inicial de situação destes conflitos “Brightburn” se mostra confortável até demais em se deixar levar por um piloto automático centrado em outro gênero, o do horror. É como se as boas ideias por trás da concepção do projeto ficassem na sinopse, com o filme se contentando em repetir chavões e estruturas para impedir que o espectador se deixe levar a sério demais seus temas.

Existe neste sentido uma diferença muito clara entre temer se perder na própria discussão que encena e deixar ser conduzido pelas convenções mais batidas do gênero, duas noções que o longa claramente confunde e não percebe estar misturando. Tanto o texto dos Gunn quanto a direção de Yarovesky reduz o escopo do filme (em termos de personagens e cenários) na expectativa de atingir maior intimidade de cena, mas também para delimitar o espaço do terror e permitir que este comande a narrativa da forma o qual achar melhor apropriado. É uma aposta no seguro: caso a premissa do herói tornado vilão não renda o esperado – e despido de qualquer sustentação para além da situação, ela não vai muito além do aceno de iconografia mesmo – o horror entra para manter o filme em movimento e atraente ao público.

O que começa na promessa da problematização de valores logo se converte na produção de terror mais rasteira possível

Assim, o que começa na promessa de uma problematização de valores logo se converte na produção de terror mais rasteira possível, com a história chegando ao cúmulo de ser pautada pelas noções mais imediatas do susto gerado por mecanismos de causa e efeito. Ao invés de denotar a deturpação, a presença do elemento do gore parece surgir como pá de cal final aos anseios de “Brightburn”, que não demora em converter seu protagonista como ferramenta e aproveitar apenas seu potencial de “super-monstro” de terror, indestrutível e inescapável. Cada ato grotesco da história, que inclui agressividades do porte de vidro furando o olho e mandíbula deslocada, são filmados por Yarovesky com uma pose quase juvenil, se deliciando no nojo antes de entender sua inserção na narrativa.

A experiência de assistir o filme, neste meio tempo, vai da curiosidade à frustração, com a alta malignidade de momentos sendo percebida mas não legitimada pelo longa – e isso inclui situações drásticas como traições paternais E maternais perante suas crias. Mas acaba sendo mais difícil não terminar de assistir “Brightburn” revirando os olhos para a imbecilidade de sua execução, até porque a produção chega ao ponto de usar o trabalho escolar de um dos personagens para apontar de forma muito ríspida e literal que seus temas passam pelo declínio da Verdade e da Justiça na América contemporânea, uma cena que sozinha resume muito bem o nível de desatenção que a obra tem com seus próprios meandros.

nota do crítico

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