Quão surpreendido você ficaria se eu dissesse que duas das palestras mais bacanas que vi no SXSW até agora não vieram de pesquisadores, criadores ou tecnólogos, mas sim de CEOs?
E não estou falando de CEOs de startups, mas de CEOs de indústrias com anos de história, que produzem hardware, tem fábricas. Se de um lado é bastante óbvio que ouvir CEOs de sucesso deveria ser algo interessante (afinal, hoje são basicamente eles que dão estrutura ao mundo em que habitamos, onde marcas e negócios são protagonistas), de outro surpreende, sim, vê-los brilhar no palco de um festival de cultura, falando sobre temas que antes, na minha visão, eram tabus nas salas dos grandes executivos.
Primeiro queria destacar Reggie Fils-Aimé – ou “The Reggienator”, como foi apelidado quando foi Presidente da Nintendo US. Comecem por aí: numa empresa oriental, o CEO tinha apelido. Pode isso, Arnaldo?
Pode. Reggie extrapolou o tempo de sua palestra em mais de dez minutos, (e ao contrário do que comumente acontece, ninguém tirou ele do palco com uma bengala!). Filho de haitianos, fala com a segurança de quem sabe e a doçura de quem quer aprender. Além da sua história de carreira, que é impressionante, trouxe alguns pontos de vista que claramente fizeram a platéia pensar. Eu destacaria dois:
Depois, veio o doutor Albert Bourla, um grego de respostas rápidas e contundentes. Dr. Albert é CEO da Pfizer e veio ao palco do SXSW contar como foi o desafio e o processo de chegar à vacina contra a Covid-19 em um curtíssimo período de tempo. Falando com um sotaque acentuado (que o faz parecer erudito e russo, como ele mesmo diz) , ele nos encantou em 60 minutos de conversa que pareceram passar em 15.
Primeiro, ele falou sobre a pressão maluca que o mundo depositou nos ombros dele e como isso o impactou. Segundo ele, saber que “não havia opção senão dar certo” foi um sentimento que trouxe um peso enorme, mas que ao mesmo tempo ele e todos os envolvidos no projeto da vacina conseguiram canalizar como um motivador a fazer o impossível. Essa energia o ajudou a enfrentar temas como as fake news, a politização das vacinas, e o processo de desenvolvimento em si, cheio de surpresas e frustrações. Dr. Albert também contou o que ele fazia pra tentar relaxar: assistir “Gilmore Girls” com a família (#fofo).
Depois, falou sobre a dificuldade de construir reputação na indústria farmacêutica: “A reputação se constrói em gotas, e se perde em baldes”. Para ele, a luta contra o Covid-19 deu às indústrias farmacêuticas uma oportunidade: mudar a percepção do público em geral sobre as Big Pharma, anteriormente vistas como pouco orientadas ao público e muito orientadas aos acionistas.
Ele também contou como foi difícil decidir como a Pfizer se posicionaria em relação ao mercado russo: teria a companhia o direito de privar pessoas da própria vida ao negar vacinas para aquele país? Na visão dele, não. Por isso, a decisão da companhia (aplaudida massivamente pela plateia) foi: seguiremos vendendo vacinas ao russos, mas doaremos todo o dinheiro ganho com estas vendas à organizações humanitárias na Ucrânia.
Por fim, falou uma frase que deveria ser o corolário de qualquer executivo moderno: “Nós não podemos apostar somente no que nós sabemos fazer internamente. Temos que nos tornar o parceiro preferido de toda a comunidade de biotecnologia. Só assim poderemos lutar contra todas as doenças em menos tempo”. Pensar nas companhias como ecossistemas é fundamental.
Vermos CEOs de empresas com este tamanho – com backgrounds e origens diferentes do comum, falando de suas dificuldades e desafios abertamente, admitindo a dificuldade de lidar com a pressão, se permitindo ser acessíveis através de apelidos, compartilhando negócios com seu ecossistema ao invés de “querer tudo pra si” me fez acreditar que pode haver mudança em escala e que o capitalismo consciente tem uma chance real.
Faltou uma CEO mulher neste artigo, sim – mas ver emergir uma nova classe de líderes empresariais já foi um bom começo. (e eu ainda tenho mais 4 dias de festival pra eu achar uma!)
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