Rimowa transforma malas usadas e amassadas em objetos de desejo

Enquanto a maioria das marcas de luxo se esforça para vender apenas produtos em perfeito estado, a Rimowa está seguindo o caminho oposto. A fabricante alemã de malas premium colocou à venda, em seu site americano, uma coleção de malas vintage completamente marcadas pelo uso: amassados, arranhões, adesivos antigos e etiquetas de bagagem.

Marcas do tempo como valor. O mais surpreendente é a alta demanda por essas malas “batidas”, que custam entre US$ 600 e US$ 1.000 (aproximadamente R$ 3.000 a R$ 5.000, em conversão direta) – cerca de metade do preço de uma mala Rimowa nova. Quando a marca fez lançamentos limitados semelhantes na Alemanha, Coreia do Sul e Japão, os produtos esgotaram em minutos ou horas.

“Algumas pessoas gostam de comprar essas peças vintage porque parecem conhecedores, que usam a marca há muito tempo”, explica Emelie De Vitis, vice-presidente de produto e marketing da Rimowa.

🧳 Como funciona o programa: A iniciativa, chamada Re-Crafted, começou de forma discreta. A empresa anunciou que compraria qualquer mala Rimowa autêntica por US$ 300, independentemente do estado de conservação.

↳ As malas são enviadas para uma das oficinas de reparo para serem restauradas, garantindo que funcionem tão bem quanto uma nova – mas com um detalhe importante: a aparência externa, com seus amassados e marcas de uso, é deliberadamente preservada.

“Algumas delas eram tão interessantes que as guardamos para nosso próprio arquivo”, conta De Vitis. “Mas também tínhamos dezenas de malas que estavam em excelente estado funcional.”

Por que importa: Num momento em que a indústria da moda tenta se tornar mais sustentável, muitas marcas começaram a recomprar produtos antigos e revendê-los. A Rimowa, no entanto, adota uma abordagem diferente: transforma os sinais de desgaste em símbolos de status.

Há dois anos, a marca lançou uma campanha chamada “A Lifetime of Memories” (Uma vida de memórias), que celebrava os amassados, arranhões e adesivos que os clientes acumulam em suas malas enquanto viajam pelo mundo. Em sua exposição retrospectiva para celebrar seu 125º aniversário, exibiu malas usadas de celebridades como Patti Smith, Roger Federer e Spike Lee.

Contra a corrente: A abordagem da Rimowa vai na contramão da indústria da moda moderna, obcecada pela novidade. Marcas de fast fashion criam roupas baratas e descartáveis para que os clientes possam comprar as últimas tendências e descartá-las rapidamente.

“Se você é romântico, pode imaginar todas as coisas que esta mala já viu”, sugere De Vitis. “Será que ganhou seu primeiro arranhão em uma viagem selvagem por um safári?”

A Rimowa planeja fazer vários lançamentos Re-Crafted ao longo do ano, conforme coleta e restaura produtos que os clientes trazem. No futuro, a marca pode começar a coletar histórias ao recomprar as peças, para que os novos proprietários possam conhecer as experiências anteriores de suas malas.

Vale o questionamento: Apesar da embalagem de sustentabilidade, cabe perguntar se a iniciativa representa um genuíno compromisso ambiental ou apenas uma estratégia de marketing sofisticada. Afinal, vender malas usadas por até US$ 1 mil – quando foram recompradas por apenas US$ 300 – revela uma margem de lucro considerável para a empresa. Seria isso uma verdadeira iniciativa circular ou apenas uma forma de comercializar “restos de ricos” para consumidores deslumbrados com o status da marca? O que é certo é que a Rimowa encontrou uma forma lucrativa de transformar o desgaste em desejo – com ou sem credenciais ambientais autênticas.

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Publicador por
Carlos Merigo

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