Cannes Lions 2025: A arte de fazer sonhar

Falei no meu texto anterior sobre as circunstâncias que emolduram a realidade global: economias em crise, guerras, e a chamada “agenda anti-woke”. Mas se antes o meu olhar estava mais focado nas agências e no foturo da indústria, o meu line-up de ontem virou meu olhar para como as marcas podem atuar com excelência neste contexto.

Meu dia começou ouvindo Shonda Rhimes, roteirista de sucessos globais como Greys Anatomy, Scandal, Bridgerton e muitas outras, e Marian Lee, CMO da Netflix, que, segundo Marian, tem tentado ser um “oásis” para os seus assinantes, um lugar no qual eles podem viver a vida em que quiserem viver. O sucesso de Bridgerton, aliás, é explicado justamente por isso: durante a pandemia, os assinantes se entregaram a um universo onde a gentileza, a elegância e os passeios ao ar livre eram um respiro, livre de Covid e lockdowns.

Divulgação

A Netflix está estendendo estes universos para a vida real. Marian comentou que eles têm cerca de 40 ativações em andamento, de bailes com o tema de Bridgerton a casas permanentes em 3 localidades. E que as audiências tem feito delas um sucesso – pedidos de casamento nos bailes acontecem às pencas.

Depois, fui ver Judy Smith, ex-secretária adjunta de imprensa americana. Dizem por aqui que ela é a inspiração para a personagem Olivia Pope, estrela de Scandal, escrito por Shonda. O conselho dela para os CMOs: sejam vigilantes e diligentes com a comunicação de vocês. O contexto atual não permite escorregadas e casos recentes como o da Cacau Show e da Osklen mostram que as pessoas estão atentas ao que as empresas fazem e como se comportam.

Judy Smith, supostamente a inspiradora para a personagem Olivia Pope. Divulgação

Terminei o dia com a palestra que deu o título a este artigo, a do conglomerado de luxo francês LVMH. E foi ela que me fez entender que o momento atual é, de fato, muito propício ao escapismo. Mathilde Delhoume, Global Chief Brand Officer at LVMH, contou que este é o propósito da casa – e que assim como os diamantes tem os 4Cs que os credenciam, a empresa tem os seus:

  • Craft (excepcional)
  • Clientes (encantados)
  • Criatividade (extraordinária)
  • Cultura (elevada)

As hipérboles são todas justificadas. Mathilde demonstrou cada um deles com marcas como Loewe, Hublot, Belvedere, Louis Vuitton, e mais. O melhor de todos foi a parceria que o conglomerado fez com os Jogos Olímpicos de Paris, dos quais foram co-produtores. Dior vestiu as estrelas femininas, Berluti os atletas, Chaumet fez as medalhas e Louis Vuitton os baús e bandejas que as armazenavam e entregavam.

Criar universos em que as pessoas queiram estar, neste momento, é o maior poder das marcas – e das agências, também.



O Festival Internacional de Criatividade Cannes Lions é o maior evento global da indústria criativa de mídia, comunicação e publicidade. A edição 2025 será realizada de 16 a 20 de junho. Acompanhe a cobertura B9, apresentada por Globo, no canal b9.com.br/canneslions e no nosso Instagram.
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Publicador por
Juliana Vilhena Nascimento @junascimento

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