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Capa - “Sniper Americano” oferece um olhar detalhado sobre o horror da guerra

“Sniper Americano” oferece um olhar detalhado sobre o horror da guerra

De maneira confrontativa, Clint Eastwood faz longa avaliação psicológica do personagem central

por Virgílio Souza

[AVISO: Contém spoilers]

“Sniper Americano”, indicado a 6 Oscars, incluindo Melhor Filme, é uma obra importantíssima não apenas pela relevância das discussões que provoca (quando bem fundamentadas, capazes de gerar reações interessantes até mesmo de seu diretor, Clint Eastwood), mas também por sua qualidade na condição de produto cinematográfico. Ao contar a história de Chris Kyle (Bradley Cooper), atirador da marinha dos Estados Unidos enviado a quatro turnos no Iraque, o filme se serve de uma série de elementos que o capacitam a conduzir esse debate, tão significativo quanto seu conteúdo artístico, transformando acusações como as de racismo e pró-belicismo em elaboração e choque de ideias.

É justamente em torno de ideias e ideais que Eastwood se organiza. Mais do que confiar em certezas e premissas fáceis, ainda que por vezes mais do que apropriadas, o cineasta decide retratar a cultura militar a partir de um de seus integrantes, em um exercício que de certo modo o iguala aos demais, como o faz a própria carreira, mas que não se desapega de algumas de suas particularidades. A narrativa se ancora na percepção da guerra como um acontecimento humano, não somente preso a argumentos reducionistas como “o militar é um herói”, “o militar é um vilão” ou “o militar é uma figura doente”.

Eastwood transforma acusações – como as de racismo e pró-belicismo – em elaboração e choque de ideias

Assim, por crer tão fortemente que oferecer uma explicação monocausal para fenômeno social configura pecado capital, parece equívoco buscar uma resposta definitiva sobre quem é o protagonista quando este passa o tempo todo sendo definido e redefinido pelos outros – indivíduos e sociedade, na relação familiar e dentro da hierarquia da corporação. Baseado em um recurso que o roteiro de Jason Hall consegue trabalhar com muita habilidade, sem chamar a atenção para si, Kyle é tratado diretamente como herói, cowboy, líder, lenda, símbolo de masculinidade, cão pastor, veterano traumatizado, ótimo/péssimo pai e marido etc – definições com as quais a obra não necessariamente compactua.

Clint Eastwood e Bradley Cooper no set

Clint Eastwood e Bradley Cooper no set

sniperposter

Nesse sentido, é como se “Sniper Americano” fosse uma longa, detalhada e bastante confrontativa avaliação psicológica do personagem central, como a esboçada por ele mesmo em certos pontos ou a realizada pelo médico no terceiro ato, com a diferença de que as perguntas propostas não pretendem sua cura ou redenção por meio de respostas simples, mas visam à reflexão que cada uma delas causa.

Observar a performance de Cooper é fundamental para que se compreenda esse como um filme sobre porquês. O ator, no melhor trabalho de sua carreira até então, é capaz de compor Kyle como uma figura extremamente determinada em relação a suas convicções e deveres, mas que aos poucos deixa transparecer as mesmas dúvidas e hesitações que ocupam a discussão central do projeto.

A testa franzida ao ser indagado pela esposa, Taya (Sienna Miller), e o olhar compenetrado que dá lugar a uma breve sensação de alívio após cada bala disparada são exemplos dessa composição apurada de personagem. Além disso, é interessante notar como a própria narrativa o retira gradualmente de suas bases de sustentação, como se a cada dia em conflito ele transformasse sua segurança em obsessões específicas, patológicas – a maior delas sendo o atirador Mustafa (Sammy Sheik), que resulta na sequência mais impressionante do longa.

Observar a performance de Bradley Cooper é fundamental para que se compreenda esse como um filme sobre porquês

O papel de Eastwood, aqui, é digno de notas distintas pela forma como ele posiciona seu olhar. Por um lado, a mente confusa de Kyle é simbolizada por algumas imagens específicas, as quais o diretor articula com a habitual classe, sem precisar de maiores exclamações ou manobras espalhafatosas de câmera comandada por Tom Stern. É o que acontece com reflexos que surgem em praticamente todos os momentos decisivos (os espelhos dentro de casa, o retrovisor atingido por um tiro, seu borrão em um televisor desligado), ou ainda com as barreiras que sempre deixam algo não revelado (a porta fechada quando o casal vai ao quarto, a cortina que esconde a briga com uma namorada, o lençol manchado durante um tiroteio, os sacos plásticos usados como camuflagem).

american

Por outro lado, há segmentos em que o exibicionismo visual (algo estranho à boa parte da filmografia de Eastwood) prejudica a imersão e o senso de gravidade da ação, sendo exemplo mais claro um disparo em câmera lenta, quando tudo se encaminha para uma resolução. É também problemático que o filme elenque um principal antagonista com traços de vilania tão bruscos, dando ênfase ao giro de uma bala de rifle em cima de uma mesa e ao cartaz que oferece recompensa pela cabeça de Kyle pendurado em uma parede, o que afeta até mesmo nuances do protagonista como uma figura multifacetada – se o inimigo é tão cartunesco, o constraste sugere a figura de um mocinho que não existe ou deveria existir.

Há segmentos em que o exibicionismo visual (algo estranho à filmografia de Eastwood) prejudica a imersão e o senso de gravidade da ação

Falta ainda escopo dramático para conduzir os trechos no ambiente caseiro. Exceção feita a traços como o fato de o protagonista se assustar com barulhos rotineiros (o cortador de grama, o latido do cachorro) e sequer reagir à salva de tiros dada em um funeral (enquanto sua esposa e os demais se recolhem), há menos intensidade na construção/desconstrução da imagem doméstica e traumatizada do herói americano do que em sua faceta de combatente no exterior. O ato final, nesse sentido, é um pouco comprometido por não possuir a mesma lógica de repetição das cenas no Iraque, quando o cumprimento de missões e a divisão em turnos orientava a ação.

O desfecho é competente, porém, ao inserir elementos da vida militar na já sensível paz familiar de Kyle. Seu encontro com um fuzileiro e a atuação no hospital de veteranos – e o absurdo de instruir alguns deles em aulas de tiro -, abrem caminho para um belo fade out que define o posicionamento do filme e sugere que querer sair correndo da sala de cinema talvez seja o maior sinal de sua eficiência em humanizar o conflito – tornando-o ausente de explicações simples no plano maior e fisicamente desconfortável no nível mais pessoal.

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