Produção em menor escala, “A Visita” funciona como redenção de M. Night Shyamalan • B9

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Produção em menor escala, “A Visita” funciona como redenção de M. Night Shyamalan

Ao retomar o controle artístico de seus filmes, diretor se revela novamente um autor consciente de seu trabalho e das reações a ele

por Virgílio Souza

⚠ AVISO: Contém spoilers

“Minha esperança é que tenhamos quebrado tantas regras que acabamos criando uma nova”. Dita em entrevista durante o lançamento de “A Vila”, há pouco mais de uma década, a frase de M. Night Shyamalan ecoa ainda hoje em seu cinema. Naquele momento, o diretor-roteirista ainda gozava de amplo prestígio, fruto do respaldo comercial e artístico de três de seus filmes, “O Sexto Sentido”, “Corpo Fechado” e “Sinais”.

Seus longas seguintes, porém, não foram recebidos com o mesmo entusiasmo por público e crítica, conduzindo-o a projetos como “Depois da Terra”, em que seu nome parecia escondido das campanhas de divulgação pelo estúdio em função da má reputação recente. Nesse sentido, é possível encarar “A Visita” de diferentes maneiras: como uma espécie de redenção motivada pelo retorno às origens e a uma escala menor de produção, como consequência natural e positiva da trajetória de alguém que resistiu e se manteve fiel a ideias bastante específicas de concepção, mesmo frente à rejeição, ou como algo entre essas duas coisas.

A frase que abre esse texto é importante porque revela um autor consciente de seu trabalho e das reações a ele. De alguma maneira frutos de uma audiência acostumada a se considerar muito mais esperta que os filmes a que assiste, os ataques a sua suposta falta de humildade e as recorrentes piadas sobre seu estilo parecem ter guiado Shyamalan em direção a mudanças significativas, mas que jamais traem seus princípios básicos, suas tais regras. As principais temáticas permanecem as mesmas: família, morte, violência, traumas e (re)conciliação, entre outros, são questões que ressurgem em “A Visita” com uma nova roupagem.

M. Night Shyamalan no set de “A Visita”

M. Night Shyamalan no set de “A Visita”

The Visit

A personagem principal é Becca (Olivia DeJonge), uma adolescente com ambições de se tornar cineasta que embarca para o interior ao lado do irmão mais novo, Tyler (Ed Oxenbould), para conhecer os avós, de quem sua mãe (Kathryn Hahn), recém-divorciada do pai, se afastou ainda jovem. O interesse da garota é realizar um documentário para compreender essa separação e possivelmente reunir o núcleo familiar. A aproximação a Nana (Deanna Dunagan) e Pop Pop (Peter McRobbie), como ela os chama, é o que define a forma como a história será contada e insere o diretor no universo do found footage.

Shyamalan, contudo, não utiliza o recurso da câmera trêmula na mão, em primeira pessoa, como um mero truque para promover sustos, tentando disfarçar o uso desse expediente e invariavelmente caindo em falhas comuns a projetos dessa natureza. Ao contrário, o processo de feitura do filme dos irmãos, com todos seus percalços, é também o processo de feitura de “A Visita”.

No processo de refletir sobre sua própria obra, Shyamalan parece menos apegado às viradas na trama

Um dos pontos mais interessantes que decorre dessa decisão é a ideia de representação. Valendo-se majoritariamente de rostos desconhecidos do grande público, o longa se debruça sobre a encenação de seus personagens. Na frente da câmera, Tyler é dirigido por Becca, que não apenas constrói planos e discute enquadramentos, como também dá orientações específicas sobre como o rapaz deve se comportar, por exemplo, ao desfazer suas malas: não olhar diretamente para a lente, realizar determinado movimento com maior ou menor ênfase, dizer certas coisas e evitar dizer outras. Ao mesmo tempo, a trama cria uma dinâmica parecida no que diz respeito aos avós, que encenam para os netos reproduzindo comportamentos característicos dessa relação familiar, a qual desconhecem — no limite, são atores interpretando personagens que atuam o tempo todo em um filme sobre fazer filmes.

Visit

Shyamalan não utiliza o recurso da câmera trêmula na mão, em primeira pessoa, como um mero truque para promover sustos

Ainda no processo de refletir sobre sua própria obra, Shyamalan parece menos apegado às viradas na trama que, em ampla medida, sustentaram seu reconhecimento. “A Visita” é menos uma ilusão e mais uma investigação sobre o que está acontecendo, e caminha adiante na mesma medida em que as descobertas acontecem. Os temores, anseios e sensações das crianças são, assim, transferidos para a audiência — quando Tyler questiona “O que diabos foi aquilo?” após levar um susto, por exemplo, a dúvida ecoa fora da tela. Há equilíbrio entre o real e o emocional, ou seja, entre o que é mostrado e o que é sentido. Permeia a narrativa a impressão de que tudo é possível naquele universo, o que abre margem para que o filme brinque com suas insinuações.

Sob este aspecto, vale notar o vasto repertório do cineasta para construir tensão e horror. O porão, elemento constante na filmografia do terror, é apresentado como um lugar proibido e permanece assim até que seja necessário explorá-lo; por outro lado, os surtos dos avós ultrapassam os limites da sugestão, sendo fundamentais para as decisões de Becca, alter-ego infantil do autor, no controle da câmera. Referências variadas a alienígenas e forças sobrenaturais surgem por meio de relatos dos avós, ao passo que componentes visuais donos de significados mais agressivos e imediatos são despejados aos poucos — a presença de armas e o embate entre luz e escuridão são os casos mais evidentes.

The Visit

Um dos cineastas de recepção mais fragmentada da história do cinema, Shyamalan parece trilhar novos e acertados rumos

O que mais impressiona nesse conjunto é a habilidade do diretor em articular formas distintas de terror em prol de sua história. Por um lado, o found footage serve bem ao propósito, sobretudo quando se pensa no realizador como um filho da virada do século e da transição quase definitiva para o cinema digital. Por outro lado, persiste uma postura muito particular que faz referência a tradições antigas, sobretudo a narração oral sobre um tempo passado, marcante em seus filmes anteriores — como exemplo, temos o fato de os irmãos avistarem prédios aleatórios e brincarem de fabular sobre as pessoas que ali vivem, o que tem impacto posterior na trama.

Dedicado a experimentar os variados modos como o cinema constrói o medo, “A Visita” é capaz de perturbar tanto pelo enfoque no que é visto quanto pela carga externa que carrega de construções anteriores do gênero. Um dos cineastas de recepção mais fragmentada da história do cinema, Shyamalan parece trilhar novos e acertados rumos com sua decisão de se voltar para produções de menor escala com o intuito de retomar o controle artístico de seus filmes, tornando possível imaginar um futuro em que suas regras e princípios não sejam mais encarados com tamanho ceticismo.

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