Transcrição Mamilos 76 - Banimento do WhatsApp e preconceito linguístico • B9
Mamilos (Transcrição)

Transcrição Mamilos 76 - Banimento do WhatsApp e preconceito linguístico

Capa - Transcrição Mamilos 76 - Banimento do WhatsApp e preconceito linguístico

Jornalismo de peito aberto

Essa transcrição é fruto do trabalho colabortativo dos Melhores Ouvintes Lu Machado, Jonas Rocha, Luyza Pereira, Johana Taleires, Chester Santos, Leticia Dáquer, Fe Cappellesso, Aline Bergamo e Wesley Santos.

Vida longa ao trabalho em rede. Juntos vamos mais longe <3

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Locutores: Ju, Cris, Caio, Ricardo Terto e Cris De Luca
Início da transcrição: Esse podcast é apresentado por B9.com.br

Ju: Cabôooooooooooo sofrência. Estamos de volta depois de um mês de férias. Pode encarar essa pilha de louças sujas que elas não vão se lavar sozinhas. Pode botar o tênis e ir pra academia. Pega essa coleira pra passear com o cachorro. Enxuga as lágrimas que ninguém mais almoça sozinho nesse mundo. Voltamos! Eu sou a Ju Wallauer e esse é o sotaque preferido de vocês:

Cris: Cris Bartis. É claro, voltando, volta o som do mamilos Caio, menino o que é a nossa vida sem você, conta? A gente tá morrendo de saudade. Você preparou um som lindo e especial pro nosso retorno? Conta aí orquestra que vai ser?

Caio: olá personas! Saudades de vocês! Corraini aqui novamente para voltar a trazer a vocês os responsáveis por dar mais cor ao Mamilos dessa semana. Lembrando sempre que se você quiser colaborar com o conteúdo musical deste programa você pode nos recomendar bandas ou artistas independentes no e-mail [email protected]. E facilita e muito a minha vida se vocês nos enviarem os links do site oficial do artista ou onde nós podemos buscar os downloads diretos das músicas dele. E nesta edição nós vamos ouvir o Vanderli, um artista mineiro que estava para completar 20 anos de carreira mas que infelizmente faleceu hoje. Aos familiares, amigos e fãs fica a homenagem a ele no Som do Mamilos.

[ sobe trilha ]
… Você sem saber que
Você já sou eu
Agora não entendo
O meu relógio o amor tirou
Eu sei que o meu coração
Tá batendo mais forte
Porque você chegou
Porque você chegou

[ desce trilha ]

Ju: E beijo para

Cris: para Polly e Aian. Ele trabalha em Brasília e ela em Ilhéus, eles estão separados mas tão compartilhando coisas boas, inclusive os programas, que eles acabam fatalmente discutindo todas as semanas.

Ju: um beijo pra Esmeraldas – Minas Gerais

Cris: aí eu adoro Esmeraldas. Um beijo para todos os patronos que conseguiram ir no Mamilos Bar que a gente marcou. Foi super legal conhecermos alguns de vcs pessoalmente. Esperamos repetir a dose. É muito interessante porque depois que a gente se encontrou algumas pessoas mandaram e-mail e eu falo “ah eu sei quem é esta pessoa” então foi uma delícia receber e trocar carinho com vocês.

Ju: um beijo pra todos os colaboradores que conseguiram comparecer ao Mamilos Premiere 5ª temporada. Juntar gente legal pra festejar esse projeto é sempre uma delícia.

Cris: um Beijo pro Ulisses do NBW. Obrigada por ceder Barata e Andre para abrilhantarem nosso evento e da próxima vez esperamos ter também sua presença.

Ju: é Fale com o Mamilos. Gente, muita gente falou com o Mamilos por conta do programa sobre depressão, impressionante. É muito legal quando vocês escrevem pra gente e ainda hoje a gente recebe um e-mail falando assim ”aí sei que vocês recebem e-mails demais, eu sei que vocês não vão ler, eu sei que esse e-mail ficou meio comprido”. Miga sua louca! Para de ser louca! Como que a gente não vai ler os emails. O que a gente ganha com todo o esforço que a gente tem no Mamilos é justamente ler os emails, esse é o pagamento que vocês dão pra gente. Escrever dizer que ama, que adora, que faz diferença é só por isso que a gente faz o Mamilos, é só pra receber esses emails. Então assim, larga a vergonha e fala com a gente pelo [email protected] manda DM, fala pelo Twitter, comenta na página do Facebook, compartilha, fala com a gente, apenas fale!

Cris: e a gente já estreia com o Mamilos Cromados que me fez quase chorar porque é um Vídeo do Governo de Minas sobre respeito à diversidade sexual e eles captaram tão bem o espírito mineiro que eu vi a minha família ali, é aquilo ali sabe, a casa, o chão, o jeito das pessoas se olharem, aquele jeito de coisade interiorana , a própria repressão porque é uma família tradicional e eu fiquei realmente muito tocada. Assistam esse filme [ o amor supera =

Ju: [e isso é de governo cara, que coisa linda

Cris: = e une tudo. O filme ficou realmente muito muito sensível. Parabéns! Olha, muito mesmo
http://www.otempo.com.br/cidades/estado-lan%C3%A7a-v%C3%ADdeo-emocionante-por-respeito-%C3%A0-diversidade-sexual-1.1337788

Ju: eu preciso falar da transcrição porque uma ouvinte iluminada, a Luiza (hehehe meu nome é Luciana) abraçou o projeto de transcrição de uma tal maneira e o negócio tá bombando de uma forma que já tem grupo do WhatsApp e a galera pilhadaça transcrevendo todos os programas que estão pra trás que a gente já fez, assim tá coisa linda de ver. Se você tem no seu coraçãozinho uma vontade de ajudar o Mamilos e fala “aí mas eu não sei fazer capas lindas, mas eu não sei procurar notícias eu não sei como ajudar” 10 MINUTOS! É só o que a Lu te pede, 10 minutos pra escutar e transcrever o Mamilos pra gente deixar ele acessível pra todo mundo e pra vocês encontrarem mais fácil o conteúdo que vocês gostam porque é mais fácil procurar em texto do que procurar em áudio, quando vocês acharem no texto vocês sabem mais ou menos onde que tá o áudio que vocês precisam. É coisa linda de Deus o jeito que a Lu tá levando esse projeto, tá gostoso de ver. Moquenca gente faz é legal mas o que vocês fazem a partir domine a gente faz é muuuuuuuito mais legal. Então se vocês quiserem mandem e-mail pro [email protected] com o título TRANSCRIÇÃO e a gente coloca vocês no grupo da Lu.

Cris: Vamos então pro Fala que eu te escuto.

[sobre trilha sonora]
[desce trilha sonora]

Cris: começando com certeza com um beijo para todos os ouvintes do programa que entraram em contato com a gente a respeito do programa de Depressão, foram muitas pessoas muuuitas pessoas nos escreveram sobre assumir a doença, entender a doença, acreditar na doença e conviver com pessoas que tem a doença. Os participantes do programa receberam contato, pessoas querendo marcar médico, gente buscando orientação para entender melhor sua situação. Saber ouvir muda o mundo e o que tem aqui nessa comunidade é gente que sabe ouvir. Então obrigada gente, obrigada de verdade por essa troca incrível, repleta de confiança que a gente tem.

Ju: e como a gente em caminhou os emails prompessoal que participou do programa o Fe Duarte, o psiquiatra, tá pilhadaço amando vocês loucamente, emocionado, chorando no meio de reunião e ele tá muito motivado para fazer outros programas sobre saúde mental. Então assim parabéns pra vocês que conseguem não só motivar a gente mas motivar todo mundo que está aqui.

Cris: vamos falar rapidinho aqui, pinçar uns comentários porque foi realmente difícil porque tem muito retorno sobre esse programa. Ana Emília Cardoso diz
“Que programa maravilhoso e profundo. me dei conta de como a depressão em homens adultos é difícil de ser reconhecida e tratada. entrou pro meu top 3, ao lado do 49 e do ep. da religião. Parabéns!”

Ju: a Ingrid Niara Ortega disse “Terminei esse pod aos prantos, tive caso de depressão recente na minha família e foi e ainda esta sendo difícil de lidar, mas esse pod me ajudou demais. Obrigada”

Cris: Ana Carolina Ferreira “Meninas, acompanho vcs desde o primeiro Mamilos, e é bem verdade que apesar de ser fanzoca só comentei poucas vezes. Preciso dizer que esse episódio foi só amor pra mim. Fez com que eu enfrentasse milhares de preconceitos meus, e assumisse que preciso de ajuda.
Já fui diagnosticada com depressão no passado, tomei remédio, e “me dei alta” por achar que “é muito triste só conseguir viver medicado”. Mesmo vegetando, não assumia que precisava do medicamento…
Hoje ouvi tudinho enquanto trabalhava, minha primeira reação foi procurar um médico aqui perto. E pra minha surpresa consegui um encaixe pra hoje mesmo… Foi a melhor pior consulta da minha vida… Abri meu coração e expus todos meus medos e fraquezas. Saí de lá com uma receita, mas sem a sensação de derrota por precisar dela. Obrigada”

Ju: o Alessandro Serrano disse “Vocês mudaram a minha vida, e graças às informações que passaram, também pude ajudar a minha irmã quando estava em um relacionamento abusivo, minha mãe quando meu vô veio falecer (mostrei o episódio da boa morte) e minha namorada a conhecer mais sobre o feminismo. Sofri uma metamorfose depois que conheci o Mamilos. Vocês são fodas.
PS: vocês duas são fodas, mas toda a galera que ajuda o Mamilos ser viável, eles também são foda.
PS 2: A Tata também é muito fofa.”

Risos

Cris: sobra amor pra todo mundo. Fernando Craviée disse “Escrevo para vcs como uma forma de agradecimento por ter abordado de forma tão sensível este tema tão delicado. Já me emocionei com muitas edições do Mamilos, mas essa me pegou de jeito já que a pouco tempo me descobri como depressivo. Ainda estou no processo de descoberta em minha terapia, mas fato é que tenho esse quadro desde os meus 16 anos. Nas minhas últimas crises, bloqueava o mundo ao meu redor, evitando sair da cama, mentindo para o trabalho, amigos e familiares sobre minha situação.Sempre arrumei formas de disfarçar meus surtos depressivos, mas por sorte, isso não funcionou com minha esposa, que vem me acompanhado desde então me ajudando todos os dias a lidar com essa doença.” E ele encerra deixando aqui uma dica de farol acesso que inclusive eu baixei e é bastante interessante, é um game desenvolvido por duas brasileiras, elas vão acompanhando as fases, elas vão colocando perguntas e você vai dando as respostas e elas vão mostrando caminhos então é uma forma muito lúdica de auto descoberta de busca por luz, por ajuda por caminhos e foi muito legal esse insight chama Rainy Day, deem uma olhada é legal.

Ju: o Daniel disse “Olá musas da podosfera, Acabei de ouvir o último mamilos que falava sobre depressão e gostaria de compartilhar minha história com vocês. Me chamo Daniel e convivo com doenças mentais desde meus 8 anos de idade (hoje tenho 24). Tudo começou quando meu irmão, aos 17 anos, foi diagnosticado com esquizofrenia, uma doença que era dita “sem cura” na época. No meio de surtos e ataques, meu irmão lutou contra essa terrível doença por quase 7 anos, quando finalmente recebeu alta e nunca mais sofreu com esse mal. A grande “herança” disso tudo foi eu. Como uma criança de apenas 8 anos que não entendia absolutamente nada tive fortes traumas por conta dos ataques do meu irmão, que até então era extremamente carinhoso comigo e, de uma hora para outra, começou a literalmente quebrar vasos na cabeça de meu pai, bem na minha frente. Infelizmente, desde os meus 8 anos de idade, enfrentei o TOC (transtorno obsessivo compulsivo), a depressão e, mais recentemente, a síndrome do pânico. O que posso dizer sobre o último episódio é que vocês condensaram em um podcast de quase 2 horas o que eu e minha família lutamos muito para aprender em quase 20 anos. Saibam que vocês com certeza evitaram que milhares de pessoas sofressem e fizeram com que muitas pessoas entendessem o que está acontecendo e soubessem para onde correr. Se minha família tivesse acesso a essa informação maravilhosa quando tudo começou te garanto que toda a minha vida teria sido diferente.”

Cris: Pode fechar esse podcast? [risos]

Ju: Pode.

Cris: Então vamos embora!

Ju: Fecha a lojinha!

Cris: Beijo, gente!

Ju: Cumprimos nossa missão.

Cris: E outra coisa muito interessante, a gente percebeu que é um comportamento padrão, toda a vez que a gente sai de férias as pessoas saem escutando tudo quanto é programa, né?

[risos]

Cris: Os “louco da maratona”. E é maior legal porque as pessoas falam “Ai, eu amei o 49”. Miga! Eu não lembro sobre o que era o 49!

[risos]

Cris: É muito legal que as pessoas comentam isso e eu vou lá olhar porque eu não tenho a mínima edia do que estão falando. É mais ou menos o que o Ain fez.

Aian Contrim

“Olá garotas! Vocês não sabem, mas já me conhecem faz tempo. Sou daqueles que ouve todos os podcasts; que espera o lançamento semanal e depois guarda o episódio com pena de acabar. Sou muitos e não sou nenhum. Ouvia tranquilamente o programa que considerava muito bom, até me deparar com o Mamilos 29…”

Cris: Ele ajuda, ele coloca qual é [risos].

“(Raça, religião, idade, deficiência, orientação sexual: amores acima de qualquer polêmica). O trabalho de edição e produção perfeitos me fez despertar para o programa. Passei a indicar. A esposa, claro, foi a primeira vítima e virou fã”.

Cris: É a primeira vítima [risos]

“Fui rebobinando os episódios e me deparei com outros ótimos, tais como o Mamilos 17 (Sindrome de Down e Inclusão, Achacadores, Batgirl e Mamaço)…”

Cris: A gente falava de muita coisa, né

Ju: Muita!

Cris: A gente era muito louco.

“e o Mamilos 23 (Mães sem Doriana, Barbárie no PR, Viúva Negra e Baltimore)”.

Cris: Como a gente conseguiu falar isso?

Ju: Só as doda;

“Então concluí o óbvio: vocês duas sabem o que estão fazendo”.

Ju: Ou não.

Cris: É

“Tanta coisa bem feita assim não vem por acaso. A mudança na produção não minimizou a qualidade digo pelo excepcional Mamilos 36 (Nova paternidade), e o lindíssimo Mamilos 41 (Violência contra a mulher na internet), sem esquecer do terno Mamilos 70 (Adoção). A maior alegria da nova fase foi ver que vocês conseguiram arrumar a carga de trabalho do podcast, sem comprometer o futuro do programa”

Cris: Ah! Que lindo. É muito bom isso. Obrigada, gente.

[risos]

Ju: Sabe uma coisa que a gente anda pedindo e é uma boa ideia vocês fazerem? Listas do top 10 de vocês. E ai a gente quer colocar no soundclound essas listas. Porque muita gente começa a chegar e quando vê – Nossa, 75 programas? Eu não vou fazer uma maratona de 75 – Então seria muito legal ter o top 10 da Cris, o top 10 da Ju, o top 10 da Cris de Luca… Pra quem chegar falar assim – Ah! Eu vou escutar esses 10 nessa sequência, nessa ordem porque é um jeito especial de conhecer o Mamilos – Né? Então mandem o top 10 de vocês pra gente.

Cris: Vamos então para o Trending Topcs!

[sobre trilha]

[desce trilha]

Cris: E tem gente nova na mesa! Você vão ver caras diferentes nessa quinta temporada do Mamilos. Vamos começar pelas visitas?

Ju: Vamos!

Cris: Ricardo, se apresente querido.

Terto: Olá mamilindos e mamilindas! Tudo bem? Sou o Ricardo Terto. Vocês me conhecem pelos meus filmes, pelos meus livros…

[risos]

Terto: Não… daí não conhecem, né?

Ju: Mas deveriam! Porque a gente já indicou seus textos aqui.

[risos]

Ju: Se você, mamileiro, não sabe quem é Ricardo Terto… Shame on you! Tá? Porque a gente já leu textos dele, já usou como referências para pauta. Vai lá, se inscreve na página do Facebook e não perca mais tempo.

Terto: É isso. Estou honrado de estar aqui, é minha primeira vez. É a primeira vez que eu mentalizo algo e acontece. Eu acho que é…

Ju: É “O Segredo”.

Terto: É “O Segredo”, né?

[risos]

Terto: Eu tinha um cupom de “mentalizar e acontecer coisas na vida” e eu gastei com o Mamilos

[muitos risos]

Cris: Que responsa!

Ju: Você podia ter gastado isso para ficar rico que de qualquer maneira a gente ia chegar até você com seus textos, né amigo?

Terto: Pois é… [risos]

Ju: Mas tudo bem. Então, assim… Agora vocês vão lá, vão dar um curtir na página, vão comentar e vão dizer – Nossa eu amei você no Mamilos – que é o mínimo que eu espero.

[risos]

Ju: E quem mais está na mesa, que vocês adoram? Como falam de você, Cris de Luca…

Cris de Luca: Oi gente!

Ju: Você é muito amada pelos mamileiros.

Cris: Muito amada.

Ju: Mas é muito! É muito.

Cris de Luca: Achei que eu despertasse amores e ódios.

[muitos risos]

Cris de Luca: Porque a quantidade de comentários que eu preciso responder…

Ju: Você não pode falar da Folha!

Cris de Luca: É uma coisa impressionante!

Ju: É… E foi só isso, Cris. Você falou da Folha e doeu, e ainda dói e o resto da vida você vai ter reply disso. Todas as manchetes da Folha que forem direitistas, golpistas…

Cris: Satanistas… [risos]

Ju: Você vai responder, vai ter reply.

Cris de Luca: Tá certo, gente. Eu estou aqui para falar do que eu sei mais que é tecnologia. Então hoje não vai ter problema.

[risos]

Cris: Ela fala de outras coisas muito bem também! Então! Vamos passar aqui aqui rapidinho pelo Giro de Notícias. Muito legal esse giro de notícias que a gente vai começar com uma notícia que já caducou! [e cantarola a melodia da vinheta do Plantão da Globo]

[risos]

Cris: Começando pelo número 3, Pokemón Go! E agora é “Go” de verdade! A gente estava… A gente chegou a escrever um pouco sobre o drama que os brasileiros estavam enfrentando. Quem é zica? Quem é impeachment? Quem é isso perto de não ter Pokémon?

[risos]

Cris: E aí, quando vinhamos para esse programa… gravar esse programa, tristonhos, cabisbaixos… Eis que a Folha coloca um urgente, black, gigante: URGENTE! Ai eu falei – É impeachment? É alguma coisa das Olimíadas? – Não! É o Pokémon que chegou! Se você não estava no planeta Terra o Pokémon é um jogo que já foi lançado em vários lugares do mundo e ele permite que as pessoas saiam e fiquem caçando Pokémons com seu celulares! Falando isso em voz alta parece realmente ridículo. Mas é um jogo que tem chamado a atenção de milhares de pessoas. Existem, já, análises profundas sobre o quanto o jogo envolve e estimula a interação das pessoas com os devices e com o espaço urbano. No fundo é bem divertido, eu peguei dois no caminho pra cá. Eu acho que eu posso vir a ser uma boa caçadora de Pokémons. E é isso, gente. Vai lá, baixa. A hora que eu fui baixar o Google Play estava fora do ar. Parabéns, Brasil!

Ju: Não… Realmente é um sucesso. Tem muitos críticos, mas contra fatos não há argumentos. O povo está bem doido atrás desses Pokémons.

O segundo tema que a gente acha que vale a pena entrar no radar de vocês, aconteceu acho que já tem um tempinho maior, foi semana passada, é a hashtag eu doméstica (#EuDomestica).

Joyce Fernandes, rapper, professora e negra, de 31 anos trabalhou até 2009 como doméstica em casas de famílias. Ela criou recentemente a página “Eu Empregada Doméstica” no Facebook pra relatar histórias que ela passou nos locais de trabalho. Várias outras mulheres que passaram a enviar histórias para ela também. São relatos de abusos, racismo, humilhação e privações que acabaram repercutiram na internet e na imprensa internacional. A Joyce disse numa das entrevistas que gente precisa humanizar as relações entre patrões e empregados para que não aconteçam humilhações, para que agressões e opressões não sejam naturalizadas.

Cris: Vale muito a pena ler essa página. Tem muita, muita história triste e tem histórias pontuais muito bonitas. Uma que me marcou em especial, porque vocês já vão ler trocentas muito pesadas, foi de uma moça contar que a patroa dela chegou e falou – Eu já percebi que você leva muito tempo para tirar o pó dessa estante – Uma estante de livro.

Ju: É, eu vi esse.

Cris: Ai ela falou assim – Você quer levar esse pra ler? Pode levar – Ai ela levou, ela leu, agradeceu, foi pegando outros. E aí ela falou – Eu acho que você devia estudar já que você gosta tando – Incentivou. A menina saiu de lá, passou um tempo e as duas se encontraram. Essa patroa era professora e quando elas se encontraram ela também era professora. E aí as duas se abraçaram, e a mulher chorou. Então, assim, tem histórias muito ruins. Muito mesmo. De coisas inimagináveis. E pontualmente algumas histórias boas. O bom da página é que é uma realidade e é importante que ela seja desvendada. Que seja dita.

Ju: É. Eu achei interessante a reação de algumas pessoas porque uma das patroas da Joyce entrou em contato pra falar com ela, né? – Por que você está fazendo isso, a gente sempre te tratou com tanto respeito e tal – Então… É difícil quando você olha para o espelho e o que ele mostra não é o que você gostaria de ver. Né? Então requer doses cavalares de humildade. Porque ninguém se acha preconceituoso. Ninguém se acha mal. Todo mundo se acha generoso, boa praça, bacana, tolerante. Todo mundo se acha. Então, quando você olha para o espelho e não é isso que ele diz, o que você vai fazer com essa informação? Você vai quebrar o espelho e jogar fora dizendo que ele está estragado ou você vai consertar a imagem? Né? Então, eu achei muito interessante isso, vale a pena vocês se aprofundarem e cada um fazer o seu exame de consciência. Né?

Cris: Número um, ataques em Natal

Desde sexta-feira, dia 29, a população do Rio Grande do Norte vivencia ataques criminosos. Carros, ônibus e prédios públicos foram incendiados. Já foram registrados 65 ataques ou atentados no estado. A instalação de bloqueadores de celular na Penitenciária de Parnamirim, na Grande Natal, é apontada pelo governo como motivo dos atentados. 60 pessoas já foram detidas acusadas de participar dessas ações. O Secretário de Segurança Pública, ele classificou esses ataques como terrorismo mesmo. A população completamente apavorada e aterrorizada com tudo que está acontecendo.

A última notícia que a gente é que eles haviam pedido reforços do exército para controlar a situação.
Ju: o que a gente viu, a população acabou sabendo desses ataques mais pelo Twitter, né, então subiu uma hashtag #prayfornatal e aí as pessoas tavam, eu pelo menos, fiquei sabendo disso pela hashtag. Entrei na hashtag e aí você via pessoas de lá mesmo, relatando o que estava acontecendo, muito indignadas por não ter nenhuma cobertura de mídia. Então é muito semelhante ao que aconteceu aqui em São Paulo, né? Quando o PCC bloqueou a cidade, não é diferente do que acontece no Rio de Janeiro e inclusive falam que seria mesmo um braço do PCC lá, que o crime já tá conseguindo se organizar em estados diferentes, as ramificações tão conseguindo se organizar. Acho que tem uma teta boa pra falar disso, sobre crime organizado no Brasil, sobre como é apavorante que: você tem 2 cenários e nenhum te deixa tranquilo. O cenário do caos total que você vê que o poder está nas mãos deles e o cenário de aparente calmaria, que é o que a gente tem hoje em São Paulo, que você sabe que é comprado, negociado diretamente e o Crime Organizado. Então você sabe que você só tem paz e que você só anda na rua e que as coisas só funcionam porque se negociou diretamente com eles para que eles deixassem que isso acontecesse, então a situação fugiu completamente do controle. Então assim, vale a pena a gente acompanhar de perto tudo que está acontecendo em Natal, não é distante, não é outro lugar, é a mesma coisa que está acontecendo em várias capitais do Brasil e a gente promete que a gente traz uma teta analisando friamente, com diferentes visões no futuro.

Cris: Vamos então chamar os convidados pra mesa, já nos prolongamos muito. Vamos começar pelo tema que tem dominado aí o cenário já há algum tempo: precisamos falar sobre o WhatsApp. Então o WhatsApp pode ser bloqueado e talvez banido do Brasil. Qual que é o fato a respeito? A justiça vem pedindo constantemente a ajuda do WhatsApp em investigações. Nos casos, é pedida a quebra de sigilo de conversa. A empresa sempre nega a ajuda específica, alegando que a solicitação descumpre seu formato firmado com usuários. Segundo o Ministério Público, essa ausência de colaboração fere o Marco civil da internet e por isso sanções devem ser tomadas. Por causa das frequentes disputas, o Ministério Público, ao lado de outros Ministérios estaduais, deixou claro em nota que o WhatsApp pode voltar a ser bloqueado e se nada mudar, pode ser banido. O Facebook, que é o dono do aplicativo, já teve 38 milhões de reais bloqueados por descumprimento de ordem judicial e o vice-presidente Latin da rede social, Diego Dzodan, também já foi preso pelos mesmos problemas. Atualmente o Brasil tem, nada mais, nada menos que 100 milhões de usuários no aplicativo, quer dizer 50% da população, ou quer dizer, todo mundo que tem acesso à internet.

Cris de Luca: e já deve ter mais, tá?

Cris: Então vamos lá, Cris de Luca, vamos falar um pouco sobre o que que a justiça quer?

Cris de Luca: A justiça quer ter acesso às informações que são trocadas no aplicativo. Então como é que a gente usa o WhatsApp? Para mandar e receber informação em conversas que são conversas privadas. Uma conversa de um pra um ou de um pra muitos quando você está num grupo, mas que só aquele grupo tem acesso. O que é que a justiça alega? Que o WhatsApp, como qualquer outra ferramenta de comunicação, tá sendo usada por bandidos para cometer crimes. E ao investigar esses delitos, qualquer crime que seja, pode ser um crime político – a gente vai entrar numa eleição agora, por exemplo, que o WhatsApp vai ser bastante usado – então tem uma preocupação muito grande do que que vai acontecer em função da legislação se for pego um crime eleitoral, como é que isso vai acontecer. Até outros crimes de pedofilia e terrorismo que são as coisas mais difíceis de você ser até contra o fato do WhatsApp não estar entregando o dado, né? Porque o que que a gente está vendo aí? Na verdade, a gente está diante de um dilema que é um dilema de todos nesse mundo que tá ficando cada vez mais digital, que é a segurança do indivíduo contra a posta segurança do coletivo, né? Então assim, quando um deve prevalecer sobre o outro, como é que a gente trata isso de forma diferenciada? Então…

Ju: é o quanto da nossa liberdade a gente está disposto a ceder em troca de segurança.

Cris de Luca: isso

Ju: pedaço por pedaço por pedaço até que a gente não tenha liberdade alguma. Esse é o maior medo, certo?

Cris de Luca: Isso. E lembrando que a gente hoje já oferece hoje em troca de alguns benefícios muito da nossa liberdade e muito daquilo que a gente gostaria de manter privado.

Cris: É justamente a pergunta se se está realmente mais seguro ao ceder, né? Eu queria deixar claro o que que é, qual que é a lei que o ministério público tá se pegando, porque é uma lei nova, então muita gente pode não conhecer. O que que a gente tá falando aqui é o artigo 11 do Marco civil da internet: ele determina que empresas que prestam serviço no Brasil ou a brasileiros, ou seja, a empresa não precisa estar aqui, ainda que não possuam filiais devam observar a lei brasileira quanto aos procedimentos de coleta, armazenagem, guarda ou tratamentos de dados de registro, dados pessoais ou dados de comunicação. Então, o Ministério Público deixa claro que algumas empresas que, empresas se negarem a guardar os registros de acesso pelo período legal e algumas não tem período determinado ou se apagam antes desse prazo determinado, vem descumprindo sistematicamente a ordem judicial brasileira, o que dificulta mesmo ou inviabiliza a responsabilização cível e criminal de autores dos atos ilícitos na internet.

Cris de Luca: mas aí é que tá a questão, porque assim, foram 4 pedidos de bloqueio, três que foram efetivos, né? O último pedido de bloqueio é diferente de todos os outros porque o último pedido de bloqueio foi em função dessa conversa mesmo, que queria se estabelecer um grampo. Eu queria ter acesso ao que as pessoas estavam conversando, né? Os outros dois pedidos de bloqueio eram coisas que deveriam estar armazenadas e aí o que o que que o WhatsApp alega? Que nada fica armazenado com ele, né, durante algum tempo aquilo passa pelos servidores, mas ele entrega ponto-a-ponto. Então, sai do meu celular, passa pelo servidor do WhatsApp, chega no seu celular.

Cris: Só pras pessoas entenderem, como que o sistema funciona é mais ou menos como o correio.

Cris de Luca: é

Cris: então uma pessoa escreve a carta, lacra a carta, entrega para o carteiro, o carteiro é o WhatsApp. Vai entregar a carta pra outra pessoa que vai abrir.

Cris de Luca: isso.

Cris: então só pra entender, o papel dele é basicamente só ser carteiro.

Cris de Luca: essa é uma boa analogia por que? Porque a gente tem a questão da inviolabilidade da correspondência, né? Ela só pode ser aberta por ordem judicial e é exatamente isso que está falando aqui, agora. Foi feito uma ordem judicial pra abrir o envelope da carta e ler que tava lá dentro. E aí o WhatsApp disse: eu não tenho como abrir o envelope da carta porque o envelope da carta fica pouco tempo comigo. É diferente do correio que passa de uma agência para outra agência para outra agência… não. No WhatsApp ele ficam algum… se eu estou conversando instantaneamente com você, isso passa por alguns segundos por ele e chega pra você, não fica mais armazenado com ele. Tanto que ele fez um acordo com o Google pra colocar no Google Drive o que você tá conversando e com o iCloud também, com a Apple, que qual era a ideia? Os usuários se ressentiam de não ter as conversas armazenadas. Então, hoje, você tem a opção, se eu não me engano, e isso eu não tenho certeza, mas acho que é assim porque eu conheço pessoas que nunca chegaram nessa parte lá das configurações pra setar, eu acho que ele já vem, quando você instala o WhatsApp hoje, já vem setado que você guarde ou no Google Drive ou no iCloud, se você tem as duas contas. Você tem que ir lá pra desabilitar se você não quer que ele guarde nada. Então, assim, voltando na nossa conversa inicial. Como é que essas comunicações funcionam assim: o Marco civil, ele deixa muito claro que você precisa armazenar informação quando você tem coisas a armazenar. Exemplo: o Facebook armazena uma série de informações, tá guardada no servidor dele, ele teria que fornecer as informações. Então, se eu tenho uma página que dentro dessa página se faz Apologia ao terrorismo ou à violência, eu vou lá e tiro a página do ar e o Facebook tem que estar com essa página guardada e com tudo que tava ali dentro pra que isso sirva de prova numa ação jurídica. No caso do WhatsApp, ele não guarda essa informação, pelo menos ele diz não guarda.

Cris Bartis: é, o diz é que é o lance. E assim, Cris, não é só no Brasil, né?

Cris de Luca: não, é em qualquer lugar do mundo, tanto que a Eletronic Frontier Foundation, que nos Estados Unidos faz uma série de ações pra saber até que ponto as empresas estão guardando informações, que tipo de dado pessoal as empresas estão coletando dos usuários, o que é que tá, da sua privacidade, em risco em cada um dos serviços que a gente usa hoje na internet. Ela fez um estudo dizendo que realmente o WhatsApp não guarda. Então, a gente entende que, por ter esse estudo da Eletronic Frontier Foundation, o WhatsApp está falando a verdade, ele não guarda, tá? Agora, aí a gente no campo da criptografia, que foi o último bloqueio. O último bloqueio dizia assim: que o WhatsApp estava dizendo, não posso entregar e também não posso quebrar pra você ficar ouvindo a conversa, que seria o grampo telefônico, né? E como é que funciona o grampo telefônico hoje? A empresa de telecomunicações tem que fazer o grampo sob pedido da Justiça pra gravar as conversas. Ela também não fica gravando tudo. O que é que a empresa de comunicação grava? O número do seu telefone, suas informações de cadastro, então quem é você, associada aquele número de telefone, aonde aquele telefone está, então, o seu endereço pra ela poder te localizar e isso são dados que são os dados cadastrais que o Marco civil da internet também diz que as empresas têm que guardar. Então, todas as empresas guardam. Elas são obrigadas a isso pelo Marco civil civil, já eram obrigadas a isso antes por outras legislações específicas. O que que o WhatsApp diz? Que ele também não tenha esse metadados para fornecer, sendo que nos Estados Unidos a gente sabe que ele já forneceu o metadados. O metadado, ele tem. Ele pode entregar…

Cris: mas peraí, a diferença do que eu li, a diferença que existe entre o sistema do Brasil e dos Estados Unidos é que, lá se a polícia precisa que uma empresa colabore com alguma investigação, ela tem que fazer o investimento necessário para que isso seja feito. E aqui no Brasil, quando a polícia precisa de uma empresa, por exemplo, o gasto em colocar um grampo seria da Vivo ou da Oi, pra liberar, pra poder fazer a sanção, aqui…

Cris de Luca: é verdade…

Cris de Luca: Sendo que nos Estados Unidos a gente sabe que ele já forneceu o metadado. O metadado ele tem. Ele pode entregar…
Cris: Então, Cris, pera aí. A diferença do que eu li, a diferença que existe entre o sistema do Brasil e dos Estados Unidos, é que lá se a polícia precisa que uma empresa colabore com uma investigação, ela tem que fazer o investimento necessário pra que isso seja feito, e aqui no Brasil quando a polícia precisa de uma empresa, por exemplo, o gasto em colocar um grampo seria da Vivo ou da Oi, para liberar, para poder fazer a sansão. Aqui o Whatsapp …
Cris de Luca: É verdade.
Cris: Então, aqui o Whatsapp não vai…
Cris de Luca: É verdade, porque tem uma legislação específica pra isso.
Cris: Exato
Cris: Ainda em outras questões. Então vamos lá. O Whatsapp, ele não está fisicamente no Brasil. Não tá mesmo. Os servidores dele não estão aqui. Ele tem uma representação política no Brasil (?). Lá atrás, no primeiro bloqueio, essa era uma das questões colocadas, postas. Se ele tem uma representação jurídica no Brasil, outras coisas se aplicam a ele além do Marco Civil e outras legislações. O que o Marco Civil tenta colocar é aquelas empresas que estejam no mesmo grupo econômico, que estejam presentes no Brasil, elas respondem pelas empresas que não estão aqui. Então, o Facebook responderia pelo Whatsapp , porque eles são do mesmo grupo econômico.
Cris: Até por isso que o presidente que acabou sendo preso…
Cris de Luca: Do Facebook, exatamente.
Cris: Foi do Facebook e não do Whatsapp.
Cris de Luca: E não do Whatsapp, porque o presidente do Whatsapp não tá aqui. O que que acontece, até isso é questionado pelo Whatsapp. Ele diz que mesmo nos Estados Unidos, apesar das empresas terem sido compradas e as duas pertencerem ao Mark Zukenberg, elas são empresas administradas separadamente. Então, existem vários advogados aqui no Brasil que dizem que não, que o Whatsapp e o Facebook são do mesmo grupo econômico, portanto o Facebook responde pelo whatsapp aqui. Existem outros que dizem assim: não é bem assim. Mas ganha, tem mais gente dizendo que “ok” é o mesmo grupo econômico, até quem defende o Marco Civil da internet. Só que o último bloqueio, os últimos dois bloqueios, não foram pedidos em função do Marco Civil da Internet, foram em função de uma legislação nova, superrecente, que é a lei de combate ao crime organizado. E a Lei de Combate ao Crime Organizado é ainda mais draconiana que o Marco Civil da Internet, porque você é obrigado a colaborar.
Ju: Sabe uma dúvida que eu fiquei, Cris? Os concorrentes do Whatsapp eles teriam uma postura diferente? Por exemplo, o Telegram ou qualquer outro serviço de mensagem. Se as mesagens tivessem sido trocadas pelo Mensager do Facebook, pelo Telegram, por qualquer outro serviço de mensagem instantânea, o serviço responderia à justiça de maneira satisfatória?
Cris de Luca: Então, se fosse o facebook, muito provavelmente responderia da mesma forma, porque o histórico das duas empresas é um histórico de dizer, e aí entra o bloqueio dos trinta e oito milhões de reais, que os dados não pertencem a ela, pertencem ao Facebook nos Estados Unidos e estão sob jurisdição da legislação americana ou da legislação irlandesa que é o outro lugar aonde o Facebook tem os servidores.
Ju: Mas isso é outra treta, das empresas supranacionais quererem fazer leis maiores que os países.
Cris de Luca: Então, exatamente… Aí ela diz assim…
Ju: Se você está oferecendo um serviço no Brasil para brasileiros, você vai rezar a cartilha daqui.
Cris de Luca: Isso é o que o marco civil coloca lá. Então, antes de existir o Marco Civil da Internet era muito pior, porque você tinha mesmo que fazer uma carta rogatória à Justiça do outro país pra poder solicitar. Daí foi feito um acordo da Justiça brasileira com a Justiça americana para questões como pedofilia, no caso, o que foi fruto da CPI da pedofilia. Mas, de fato, a gente precisa rever algumas legislações, que são esses tratados entre governos pra que as Justiças dos governos possam ser mais proativas e uma ajudar a outra e você conseguir estender um braço da lei brasileira a uma empresa que está lá fora.
Cris: Eu só queria reforçar aqui porque quando o WhatsApp é bloqueado geralmente o que a gente ouve é: só podia ser no Brasil, né? Arábia Saudita, Irã, Reino Unido, Bangladesh, a própria França quando ouve o atentado no Charlie Abdo, todos eles vieram pra falar “pêra, me dá isso aí, que tá sendo usado pra terrorismo”. Então, esse caso, essa… O Snapchat também usa o mesmo processo de criptografia. Essas empresas que usam esse tipo de serviço estão sobre mira da Ju:stiça de vários outros países, inclusive, como o Brasil tem uma lei de Marco Civil muito nova e muito moderna, tá todo mundo de olho no que nós vamos fazer para seguir de exemplo pra fazer em outros lugares.
Ju: É, mas eu só queria separar em duas coisas. Uma coisa é a empresa achar que ela não precisa obedecer às regras locais, porque ela é supranacional, isso é uma discursão.
Cris de Luca: Ela precisa.
Ju: Mas eles não gostam. Então, isso é uma discursão. Eu vejo muito a Flávia Penido falar sobre isso, de, assim, mano, não vem com arrogância pra cima de Juiz no Brasil, que você vai se dar mal. Você vai respeitar as leis sim.
Cris de Luca: Isso.
Ju: Você pode até não ter meios técnicos de responder à citação do juiz, mas você vai explicar, você vai se dignar a mostrar, você vai se dignar a provar, você vai dar laudo. Então, assim, vamos respeitar direitinho. Você quer brincar aqui? É um mercado gigantesco. Você não tá aqui pra me ajudar, não, bonitão. Você tá aqui porque é interessante pra você. Então, obedece as regras. Acho que isso é uma discursão.
Cris de Luca: É, quando a gente fala isso, é o seguinte. Não é que eles desrespeitem todas as leis. Eles se enquadram em várias delas. A briga de fornecer dado ou não fornecer dado é uma briga que vem em todos os países, tanto que a gente teve o caso da Apple com o FBI, se recusando a fornecer.
Ju: Aí é outra coisa. Aí é o lado dois, que é cabo de guerra em liberdade e privacidade. Aí é uma discursão muito boa, muito boa mesmo, que eu acho que a gente tem que discutir, porque direto você faz um raciocínio principalmente assim e todos os estados usam casos extremos pra forçar resposta para o lado deles, que é: gente tem uma criança sequestrada de um ano, tá sofrendo abuso e eu só tenho como chegar nessa criança se eu quebrar o sigilo que… Você já aceitou que eu quebrasse o sigilo bancário, você já aceitou que eu quebrasse o sigilo telefônico, qual é a fucking diferença de quebrar o sigilo do WhatsApp? Opinião pública, me deixem quebrar o sigilo de WhatsApp que eu consigo chegar na criança. Agora, todo mundo Ju:nto comigo pra derrubar o Facebook , porque se a opinião pública ficar a favor do governo nessas questões, o Facebook vai ter que se dobrar e vai ter que dar os dados. Esse é o cabo de guerra. Sempre com situações extrema. O que você tem a esconder? O cidadão de bem não tem nada a esconder, então, deixa o Estado ver sua conversa.
Cris de Luca: Exatamente por isso o Facebook e outras empresas de tecnologia começaram a fazer um acordo com o governo americano para em casos de terrorismo fornecer os dados. Só, que igualzinho ao caso da Apple com FBI, Apple dizia assim, tecnicamente eu não consigo fazer, para fazer isso eu tenho que quebrar a criptografia, não dá pra fazer o que a gente chama de backdoor, que é uma porta dos fundos, se eu for fazer a backdoor, eu vou botar em risco todo mundo. Aí, vale o mesmo para o WhatsApp. WhatsApp diz o seguinte, como eu tenho a criptografia ponta à ponta, na hora que a mensagem sai do seu telefone e que eu ponho no envelopezinho pra enviar, eu, além de botar no envelope, ainda embaralho ela toda lá dentro, ela é uma mensagem cifrada. Só quem vai conseguir ler aquela mensagem, mesmo que eu abra o envelope, é quem tem a outra chave e a outra chave está no receptor, então, você não teria como fazer isso. Se eu fizer a tal chave mestra, eu tô quebrando a segurança de todo mundo.
Cris: Só pra ter ideia de quanto é validado a criptografia end to end que eles fazem, que é do início até o final, o sistema de protocolo deles é validado pelo Snowden.
Ju: É nele que eu ia chegar. Se você está escutando tudo isso aqui e falando “gente, não estou entendendo porquê tanto bafafá, libera que ninguém tem nada pra esconder. O que eu tenho aí? Se o governo quiser ver as mensagens da minha família com a foto do Bossomito, tudo bem. Vê aí.” Sabe o que é que tem? Assiste o documentário do Snowden pra saber o tamanho que o governo já tem de controlar sua vida e se ele ainda está esperneando pelo que ele não tem, assiste o documentário do Snowden pra ver em que lado você fica.
Cris de Luca: Então, vamos voltar. Daí você perguntou, o Telegram , o Facebook eles colaborariam? O Facebook acabou de colaborar. Entregou os metadados.
Cris: E isso eles não tão entregando.

Cris De Luca
Sim, mas eles tem. O WhatsApp tem exatamente o momento que uma máquina mandou pra outra. Então você sabe que eu falei com o telefone que é o telefone da Cris, eu troquei informações como ela neste dia em tais horários. Mas pra que serve isso? É o que a gente chama dos metadados. Serve pra eu cruzar informação com =

Cris: Ok, igual um servíço telefônico

Cris de Luca: = outro telefone. A mesma coisa, o telefone também tem. Você vai lá no telefone e você diz assim: eu quero saber se o Fulano ligou pro telefone do Ciclano. Eu tô investigando um crime. O Fulaninho falou com Ciclano nesse mesmo dia? Ele pode ser um dos suspeitos de ter cometido esse crime?

Cris: O metadado então já foi cedido

Cris de Luca: No caso do Facebook sim, no caso do WhatsApp a gente não sabe. Nos Estados Unidos a gente acredita que sim, porque? Porque lá a três meses atrás houve uma pressão do governo americano pra que o WhatsApp entregasse os metadados. Ele hoje diz: no termo de serviço do WhatsApp que ele tem o metadado. Então, se você abrir o termo de serviço do WhatsApp você vai ver que ele guarda essas informações, todas. E ele diz lá: E eu posso fornecer essas informações, não o teor da comunicação, essas informações que dizem que a Cris se comunicou com a Jú hoje 5 vezes através do WhatsApp antes de vir para cá, durante o dia… isso ele tem. E aí isso ele pode entregar.

Cris: E só pra reforçar aquilo que a Juliana tava falando: né, sou um cidadão de bem, pra que cê vai… né! Pó lê! (pode ler). O WhatsApp foi o primeiro canal social que a Síria tirou do ar quando eles começaram a organizar a primavera árabe. Então assim: ter acesso a redes sociais e a mensagens é um buraco na parede, né. Uma vez que você abriu o seu não tem controle sobre o que que vai passar ali. E mobilizações populares, quando as pessoas tão se organizando para se manifestar, ou tão se organizando pra agir de uma determinada maneira na sua cidade… nada impede que isso seja lido.

Cris de Luca: Agora eu mandei também o link pra vocês de uma reportagem da revista Época que fala assim: O que a polícia poderia fazer para ter os dados? Recomendo que todo mundo leia. Porque ali tem questões muito interessantes desde um Malware, quero dizer, um vírus, que eu mando pro seu celular e a partir dalí eu consigo pegar tudo que você digita. Então você digitou no celular eu tô pegando. Então eu teria as informações trocadas antes de elas serem criptografadas e enviadas pra alguém. Porque eu consegui pegar esse tipo de informação.

Cris: Jeito sempre tem, né?

Cris de Luca: Nenhum sistema é inviolável, Cris. Vamos partir deste princípio. Alguns dão mais trabalho para serem violados e quebrados e você ter acesso, outros dão menos, mas…

Ju: É, o que eu acho importante a gente ver desta questão da multa é o seguinte: se a gente tá falando de um cabo de guerra entre privacidade e segurança, e a gente tá falando por um governo que já invadiu a nossa privacidade de todas as maneiras que você pode imaginar, a gente tem uma justiça, por exemplo, com uma medida, quando ela tira, bloqueia, o WhatsApp, extremamente impopular. Então, nesse cabo de guerra, a opinião pública fica completamente contra a justiça, completamente contra quem quer invadir a nossa privacidade. Agora quando você ataca o bolso, você deixa de atacar o serviço é ataca o bolso, a sua resposta não só é mais rápida em termos do serviço te oferecer os dados que você queria, como você tem opinião pública a seu favor. Então assim, a gente tomar cuidado que todos os lados dessa disputa tem interesses e a gente tá no meio das cabo de guerra. Então, prestar atenção em quem que a gente tá apoiando, porque que a gente tá apoiando…

Cris de Luca: Exato. A questão é assim: dá pra não apoiar um bloqueio total do WhatsApp? Como todo mundo não apoia, tem aquela gritaria: “Poxa tá prejudicando…” isso é sensível porque você não pode prejudicar milhões em função de um, dois, três, né. Que é o que tá acontecendo e geralmente é o que acontece. Aí a gente vai cair numa outra questão que são os marcos legais dessa história toda. O que o marco civil pede é justamente que você entregue determinados dados. Se a empresa diz que ela não pode entregar porque ela tem uma questão técnica que impede de entregar, então faz um laudo, que é isso que todo mundo diz. Aí você diz assim: “Tem um monte de advogados lá falando isso.” Poxa, vai lá, WhatsApp, faz uma vez só que isso serve pra todos os outros processos que vão acontecer no país. E comprova por um perito técnico que você não pode dar este tipo =

Cris: Não consegue, né.

Cris de Luca: = de informação, por que você não consegue, não pode. Você tá impossibilitado de cumprir este dispositivo legal. Então você entra com uma perícia técnica dizendo isso. Até hoje o não fez a perícia. Outros serviços fizeram, né. Então vamos andar um pouquinho no tempo lá trás e ver um serviço que saiu do Brasil e até já acabou, se eu não me engano, o Secret. O Secret teve um problema de bloqueio, fez um laudo, trouxe pra justiça brasileira e foi liberado. Isso no ano passado, se não me engano. O WhatsApp podia fazer a mesma coisa e acabar com esse cabo de guerra? Poderia e seria mais simples. Então quando a gente diz assim: “ele não colabora”… Ele não tá colaborando nem com a gente, porque ele poderia estar evitando novos bloqueios.

Cris: É, mas aí faz vítima né. Porque tem 100 milhões de pessoas usando e a gente: “ai, me ajuda” “é sua mãe que não quer deixar”.

Cris de Luca: Pior do que isso é que ele já sabe que existe o princípio da desproporcionalidade. Então, a partir do primeiro momento que eu preciso da desproporcionalidade for usado a favor dele vai ser usado sempre.

Cris: Só pra encerrar essa discussão, a gente já se alongou bastante, mas só pra falar que criptografia sempre existiu e existe há muito tempo. Na segunda guerra mundial tá aí, foi feita com base na criptografia, o que acontece é que agora ela tá estendida pra massa. Que é uma coisa que não existia antes.

Cris de Luca: Essa é que é a diferença.

Cris: Criptografia é um sistema matemático, de lógica, de montar e desmontar quebra-cabeça.

Cris de Luca: Antes disso, a criptografia começou… tem teóricos que dizem que a criptografia está na Bíblia.

Cris: Deve tá mesmo, cada um lê uma coisa!

Cris de Luca: Você pode pegar a Bíblia e quem tem a chave pra ler na Bíblia da forma como ela deve ser lida, pula do terminal dois pedaços, lê outros… Sabe aquela coisa de filme que a gente vê, você pega uma máscara e bota em cima de uma página de um determinado livro pra ler a mensagem? Isso é a criptografia. É um código que te revela alguma coisa. Então ela sempre foi usada pelas grandes potências, pelos governos e por estabelecimento comercial, né.

Cris: Grandes corporações, né. Tem o World Business ele é criptografado. Então assim, a discussão ela se estende porque é inviável proibir a criptografia. O que é que a gente vai fazer então pra conviver com esse sistema novo e entender isso?

Cris de Luca: É que essa guerra toda pra quebrar criptografia desses mensageiros que tão na mão de todo mundo. O que que o americano quer? O governo americano, o governo brasileiro e todos os governos do mundo? “Por que que o WhatsApp é criptografado? Não deveria ser.” “Por que que o telegrama é criptografado? Não deveria.” “Por que que o Messenger do Facebook vai ser?

Cris: Porque não deveria! =

Cris de Luca: Isso é o governo falando, né, não sou eu.

Cris: = O WhatsApp é meu eu criptografo a hora que eu quiser.

Cris de Luca: Mas eles só investiram em criptografia como diferencial competitivo pós Snowden.

Cris: É isso aí galera. Entrem aí no seu WhatsApp =

Ju: Procurem saber.

Cris: = assistam o documentário do Snowden dentro de seu WhatsApp criptografado.

Cris de Luca: Eu queria muito que isso tudo acabasse. A gente tem 5 projetos de lei que tão em andamento na Câmara dos Deputados, foram apensados um único projeto de lei que na época do último bloqueio o Rodrigo Maia, hoje presidente da Câmara, disse que ia correr com ele, e aí tem um outro problema que eu queria pontuar aqui antes da gente terminar. Este projeto de lei muda o marco civil da internet de forma que você não possa mais bloquear nem um mensageiro. Mas coloca alguns formatos de entrega de dados principalmente na questão do metadado. Agora, tem um outro projeto, que também tá circulando, que é o projeto que ficou muito famoso na CPI dos crimes digitais, dos crimes cibernéticos, ali tem um projeto de lei que foi colocado, porque foi logo… a votação do parecer da CPI foi votado logo depois do segundo o bloqueio do WhatsApp e aí os deputados incluíram, tinha lá uma cláusula, de bloqueio de aplicações. Por isso que o pessoal do Ministério Público diz que ele pode ser banido, porque ali diz que se essa lei for aprovada diz que você pode bloquear todos aqueles serviços, páginas, sítios, que tem algum tipo de crime com penas superiores a 2 anos, por exemplo =

Ju: Qualquer um, né.

Cris de Luca: = a pirataria estaria embutido ali. Então eu tiraria do ar =

Ju: Tudo.

Cris de Luca: = o site Peer-to-Peer, destes que a gente gosta de usar pra baixar vídeo e tal.

Cris: A gente não, imagina! Não sou dessas.

Ju: Sou bela recatada e do lar.

Cris de Luca: Então assim, tem que ter muito cuidado de como essas leis vão ser voltadas. O que é que tá em jogo em cada uma delas porque quando as pessoas normalmente… E aí tem radicalismo dos dois lados. Tanto quem defende o marco civil da internet que não haja bloqueio nenhum, carrega nas tintas, como quem defende o bloqueio também carrega nas tintas. A gente tem que tentar andar pro meio dessa história.

Cris: Aqui, né amiga, aqui é o lugar para isto. No Mamilos.

Ju: Vamos então pro Trending Topics 2, falar de preconceito linguístico. Por quê que a gente vai falar sobre isso? Porque essa semana foi muito comentado, aquele backlash todo, sobre um médico plantonista do Hospital Santa Rosa de Lima, em Serra Negra, em São Paulo, que foi, inclusive, depois de toda essa conversa, afastado do trabalho, porque ele publicou uma foto numa rede social com o título: uma imagem fala mais que mil palavras. O quê que tinha na foto: esse médico mostrou o receituário com os seguintes dizeres: entre aspas, não existe PELEUMONIA e nem RAUXIS. Vinte minutos antes da postagem, ele atendeu um mecânico de 42 anos, que estudou até o segundo ano do ensino fundamental, e não sabe como falar corretamente algumas palavras. O médico, uma enfermeira e a recepcionista do hospital que comentaram na publicação, também satirizando, foram demitidos do hospital. A direção se pronunciou como radicalmente contra esse tipo de atitude. Então assim: foi um caso lamentável que acontece todos os dias, mas teve uma resposta muito rápida, inclusive da diretoria do hospital, não só se posicionando como contra o que aconteceu mas tomando medidas efetivas com todo mundo que foi envolvido. Então foi um caso exemplar. Mas, o que a gente sempre fala no Mamilos: as pessoas de fato não interessam, você bater e malhar um Judas, assim, não vai avançar grandes coisas. O que a gente precisa é conversar de fato sobre a questão do preconceito linguístico e levantar um pouco esse tapete pra ver a sujeira que tá embaixo e assim, de verdade, cada um fazer aquele auto-exame básico de quando você de alguma maneira praticou isso, de quando você viveu isso, de quando você percebe isso no seu cotidiano, é tirar um pouco a venda que a gente tem que naturaliza o problema, pra enxergar o problema e atacar ele de frente. Então do quê que a gente tá falando, Terto, você já sofreu isso alguma vez?
Terto: Muitas vezes, né. Muitas vezes porque… Primeiro que você vai entrar num território que já é, automaticamente ele é tido como um território elitizado, né, que é da literatura, e… da escrita, né, eu acredito que o preconceito que uma pessoa tem com outra ele nunca é isolado, por exemplo, cê tem o preconceito por mim só pela forma como eu falo mas as outras coisas são OK. Eu acho que o preconceito existe num indivíduo como um todo. Eu tenho preconceito da sua existência, do que você é, como um todo. Então vou pegar alguns elementos e puxar algumas coisas do que você é pra justificar esse preconceito.
Ju: Ridicularizar, eu vou usar algumas coisas…
Terto: [Sim
Ju: …que são suas pra te ridicularizar, pra te diminuir.
Terto: Exatamente. Aí vai a aparência, costumes, crenças etc, e é claro, acho que o alvo talvez mais fácil, além da aparência, o alvo é a forma como a pessoa se comunica. Né, porque na forma como ela se comunica tem um pouco da história dela, da trajetória, enfim, fala muita coisa. Eu tive já muitas vezes por… tentei várias vezes pensar, olha, vou ser escritor, vou ser roteirista, enfim, vou escrever algumas coisas que as pessoas vão se interessar. E por quê que eu me autocensurei por muito tempo, né? Quando falo “por muito tempo” é porque assim, com 31 anos, só depois de 31 anos que eu tive coragem de começar a escrever meus textos e ele começar a reverberar e ter aceitação pela rede social e etc e tal, porque eu achava que eles nunca estariam bons o suficiente para a exigência das pessoas. Porque… existe uma norma, existe uma coisa que eu não alcancei, que eu não tive um ensino adequado em relação a isso e também a forma como foi apresentado aquele tipo de conteúdo não me interessou. Pelo menos na escola, no ensino médio.
Cris: Eu acho muito interessante isso que cê tá falando que tem muito a ver com o texto que a Stefany, que é militante, negra, escreve muito na Internet, ela escreveu em janeiro desse ano um texto sobre preconceito linguístico que é isso, né, você julgar, humilhar, oprimir…
Ju: [Desmerecer.
Cris: Desmerecer uma pessoa pela forma como ela se comunica, e eu me identifiquei muito com o texto da Stefany e a Cris vai lembrar porque nós duas já tivemos essa conversa no passado, que é, a educação de base, quando ela falha, cê pode ser um leitor ávido, um escritor ávido, mas a formação faltou.
Terto: [Sim.
Cris: Então mesmo que você tenha passado, ultrapassado, conseguido caminhar muito na sua vida, de vez em quando, de vez em quando aparece de onde faltou, o quê que faltou ali, e eu acho muito bonito quando a Stefany fala que assumir que ela iria cometer erros e mesmo assim não deixar de falar e não deixar de escrever é o que potencializou a voz dela, que ela assumiu como ela era como um todo. Eu acho que é meio por aí que a gente tá conversando, né, sobre ser você mesmo que o você não seja gramaticalmente correto.
Terto: É, e além do mais existe uma questão que é o seguinte, é muito limitador e muito estreito o que é compreendido na escola, o que é passado na escola, sobre o que é você se comunicar de uma maneira correta, de uma maneira legal. Por exemplo, o quê que é um discurso, né, um bom discurso… Quando você entra no ônibus, por exemplo, e aí entra aquele cara, aquele menino vendendo bala, e ele tá num ambiente totalmente hostil, ele tá com uma atenção dispersa daquelas pessoas, e ele tem um objetivo ali, ele quer vender aquilo ali, aquela bala. Então ele vai utilizar algumas coisas que ele aprendeu, algumas coisas que chamam a atenção, ele vai falar de uma forma rápida, ele vai falar de uma forma dinâmica, ele vai falar de um jeito que vai cativar as pessoas ali por aqueles instantes, ele vai conseguir o objetivo dele, que é vender. Claro, se eu for pegar o discurso dele e for fazer uma transcrição, cê vai dizer que aquilo ali não tem nenhum valor, dentro da norma culta, mas no meu ponto de vista, o discurso desse cara, ele é totalmente assertivo, ele é totalmente correto dentro do que ele gostaria, do objetivo que ele gostaria de atingir, e dentro do ambiente que ele está. Agora, é claro, se você junta, por exemplo, e tenta linkar esse discurso dele pra um cara que é, sei lá, um juiz e ele tá fazendo uma argumentação sobre alguma coisa tal, não vai linkar, então aquele tipo de comunicação que ele usa naquele ambiente jurídico não entraria no ônibus e o discurso do vendedor de balas não entraria também dentro do tribunal, quer dizer, e aí a gente, veja como é elástico, como é orgânico isso, e a gente aprende não, que é só uma, existe só essa norma culta que é isso aqui que você tem que aplicar quando você quiser demonstrar que você tem qualidade no seu discurso.
Cris: O próprio termo “norma culta” já é excludente, né.
Terto: Sim.
Cris: E o Marcos Bagno, que ele é uma sumidade, ele é um linguista que é uma sumidade na discussão sobre o preconceito linguístico, ele fala que o primeiro mito que tem que cair no Brasil é que a gente fala, nossa, um país tão grande e todo mundo fala português, né. Então é uma língua de dimensão continental. Não, tem vários português dentro do Brasil, não é uma língua só, e ela tem a ver com a cultura, ela tem a ver com a sua condição social, ela tem a ver com a região onde você mora, uma mesma palavra tem significados diferente, e a desrespeitar isso, porque isso é a língua viva…
Terto: [Sim
Cris: …e não a língua estática.
CdL: Eu ia dizer isso, a língua é viva. Então se a gente for olhar, mesmo os gramáticos ao longo do tempo, eles começam a aceitar determinadas grafias de palavra, determinadas formas de falar que não eram aceitas antes porque aquilo passa a ser incorporado na língua. Então, por exemplo, se você for pegar o dicionário do Antônio Houaiss e o dicionário que todo mundo estudou na escola, né, do… Aurélio Buarque de Hollanda, o do Aurélio inclui muito mais verbetes da língua falada do que o do Antônio Houaiss.
Ju: Mas não precisa ir longe, o meu pai sempre falou que o pai dele não tolerava que falasse “a gente”. Que “a gente” era supercoloquial, que era inadmissível na época. Então assim, claro que a língua muda, claro que a língua é viva, e eu acho interessante que a gente coloque assim, que não se está prostituindo a língua, que não se está desmerecendo a língua, que não se está desmerecendo o estudo da língua, quando você fala que a qualidade do discurso não tem a ver com a correção perante a norma culta, né, que eu acho que é isso, assim, sabe, não é, ah, então não tem mais valor, então ninguém mais precisa estudar, então o idioma vai involuir a ponto de ficarmos falando grunhidos. Isso assim, todo mundo sempre falou. Então se cê for ver quem falava vosmecê pra quem falava você, falou exatamente a mesma coisa…
Cris: […pro mineiro que fala “cê”…
Ju: …“Que horror”, que, sabe, “tão deturpando a língua”, e tal, sempre foi a mesma coisa. Eu acho interessante quando a gente tem uma discussão sobre controle, tá, porque quando a gente tá falando de controle a gente tá falando, é a roupa que você veste, é o como você fala, são determinadas maneiras que eu tenho como controlar se você pertence a essa casta ou se você não pertence a essa casta. Se você tem acesso às coisas ou se você não tem acesso às coisas. Se você vai ser respeitado ou não. Se você vai ser ouvido ou não. Se o que você falar tem importância ou não. É disso que a gente tá falando. O que a gente tá falando é assim: você não pode usar a linguagem, o jeito que a pessoa se expressa, pra criar uma barreira tão alta a ponto da pessoa não ser reconhecida pra você como um ser humano, entendeu. Então assim, ali era uma situação extrema, era uma situação dum médico, que tava ali pra servir, que tava ali pra curar uma dor, e que debochou dum paciente porque o jeito que o paciente se expressou era mais importante do que ele tava ali pra fazer. E assim, o meu padastro é médico e eu na hora eu compartilhei essa história e eu falei assim, cara, se esse médico tivesse sido residente do meu pai, a demissão teria sido tão doce pra ele, teria sido tão menos do que ele ia passar, sabe, porque é tão aquém do médico, o respeito do médico é tão maior do que isso, sabe, eu lembro que meu pai falava assim, que uma vez um paciente chegou pra ele e falou assim, doutor, tô com muita dor, onde?, no sibirá, mas onde é o sibirá?, dói muito, doutor,
Ju: “Mas onde é o sibirá? Não tô entendendo…Aqui ó.” Ao se virar, ele sentia muita dor.
Ricardo Terto: Aham [murmúrio de concordância]
Ju: Então assim, cê acha que a pessoa, o médico que tá lá, tá preocupado com o que a pessoa tá falando? Ele tá preocupado [ONDE está…=
Cris de Luca: =é isso…
Ju: [onde tá doendo, moço, mas onde?Eu não tô entendendo que que tá…sabe? É assim, o papel do médico ali é uma conexão tão profunda com um ser humano,né, em ajudar, em diminuir a dor, como que pode você colocar a linguagem da pessoa acima do ser humano e da dor que ela tá sentindo.
Cris de Luca: É o mais grave ali pra mim na verdade foi o acolhimento, né? E como se o próprio médico não tivesse seus deslizes, né? [Aliás, deslize se escreve com s ou com z?=
Ju:[ Ah…por favor.
[ risos ]
Cris de Luca: Quiseres se escreve com s ou z?
Cris: Não..tem uma..
Cris de Luca: Olha,o que eu vejo na internet são tantas…[e mesmo assim são pessoas cultas né? Mortandela ou mortadela?=
Cris: [Não, não só isso né? Se você …
Cris: Se você lê um termo de Direito, um laudo de advogado, o inculto vai ser você! [Porque metade daquelas palavras=
Cris de Luca: [Sim..é.
Cris: = é você que não vai entender.
Cris de Luca: O jargão né.
Cris: Então se você for ler um laudo médico, você que vai ser…
Ju: Gente, quem que sabe as novas leis de hífen?
[ risos ]
Ju: Ninguém sabe palavra com hífen, gente! Ninguém sabe.[ Não é possível=
Cris de Luca: [ Ué..A língua é tão viva…
Ju: =que o ser humano saiba.
Cris de Luca: …que o melhor conselho que recebi na vida foi do Millôr Fernandes, não conseguia acertar as crases de jeito nenhum…[ Sempre foi=
Ju: = Crase é..
Cris: = Eu não sei pra que que serve isso, pra mim serve nada…
Cris de Luca:[ meu problema. Exato! Ele virou pra mim e falou assim: ‘Quer saber? Você vai errar menos por não usar, do que usar errado.’
[ risos ]
Cris de Luca: Então agora,[ vamos abolir=
Cris: = Go Millôr.
Cris de Luca:= Porque, porque, o ‘i’ tinha crase, o ‘e’ tinha crase, o ‘o’ tinha crase e a gente tirou a crase de todos eles!
[ Risos ]
Cris: Eu sou super a favor de tirar TUDO! Trema, crase…
Ju: Eu sofro ainda que saiu o acento diferencial, não me conformo…
[ Risos ]
Cris: O que..o que…
Cris de Luca: Ideia não tem mais acento..não é mesmo?
[ risos ]
Cris: A minha tem! As minhas ideias todas tem acento.
Ricardo Terto: Se eu quiser…
Cris: A ideia é minha.
Cris de Luca: Tá sentada aqui né, não vai ao léu.
Cris: O que eu queria reforçar nesse caso, é que quando as pessoas sofrem preconceito linguístico, o pior resultado dele é o silêncio.
Ricardo Terto: Aham [ murmúrio de concordância ]
Cris: Porque quando a pessoa começa a ser massacrada pela forma como ela fala ou pela forma como ela escreve, a tendência é que ela cada vez se expresse menos, então preconceito linguístico é uma forma de opressão e de anulação do outro. Não é que o outro vai continuar gritando e você não quer ouvir, é que ele vai parar de falar. E quando ele para de falar, e quando ele para de se expressar, e quando ele para de escrever, você, o “dono da gramática”, o “diferentão” do Chico Buarque de Holanda é o que manda sozinho.
Ricardo Terto: Aham,[múrmúrio de concordância] exato…
Ju: É, mas assim…é..é o que mais chama atenção é o seguinte, que ninguém sabe, né? Porque o português é cruel demais. Então ninguém, de fato, escreve tão bem, ninguém de fato sabe todas as regras, ninguém de fato flexiona os verbos completamente correto, até ….vou falar, os plural a gente faz errado.[=todo mundo
Cris: [Não,olha andar em…
Ju: =erra plural. Todo mundo fala um degraus, degrais, degraus, escadas e coisas erradas…
Cris: É…eu comecei a falar plural depois que mudei pra São Paulo, né.
[ Risos ]
Cris: Quando eu vou pra BH agora, e vou conversar com a minha mãe, minha mãe não fala NE-NHUM plural! É divertido, porque, né, eu volto igual, né, é óbvio! Ai chega e fala ‘Chegô as pessoa TUDO!’ [ risos ] Nada, nada combinando. E se eu beber, aí piorou. Porque eu emendo uma palavra na outra e não falo plural. E isso tem a ver com o regionalismo também, né. [ O respeito da forma como=
Ricardo Terto: É.
Cris: [ as pessoas se comunicam de local pra local. É verdade, por mais que seja piada a gente fala ‘essenibuspassana savaz’ [ incompreensível ] e só quem mora lá que entende.
Cris de Luca: É o ‘véva’. É ‘vévi’[Ele vévi aqui=
Ju: É o ‘vévi’
Cris: É…cê fala assim ‘cêédemonalegre?’ É porque ‘Você mora em Monte Alegre?’ Então assim ‘cêorapronóblis’ era uma planta que ‘orai por nós’. Então vai…[vai=
Ricardo Terto: [E tudo isso…
Cris: = diminuindo.
Ricardo Terto: Tudo isso é muito rico, né. Isso na verdade ele….ele significa uma riqueza muito forte de expressão. É engraçado que a gente tem um…um costume de, por exemplo olhar pra outra cultura e observar a riqueza daquela cultura. ‘Ah não…porque eu falo dialeto francês de não sei que lá do sul de não sei o quê.’ E aquilo é bonito, é rico, etc… E aqui no Brasil, não. Aqui no Brasil, na verdade não é que o preconceito é por todo mundo que fala de forma incorreta, que todo mundo fala, tem as pessoas específicas que não podem falar. Então se a gente olhar bem, rola um determinado estado, né, lá formas….formas de se expressar, vai por exemplo do nordestino e São Paulo. Nordestino sofre um preconceito enorme, ele é ridicularizado, ele é transformado numa caricatura, justificado pelo humor, assim como o médico também, ele usou na internet, ele apareceu na internet justificado entre as aspas pelo humor, pelo deboche, e se transforma numa caricatura. Isso com o tempo, não só aflige a pessoa num sentido de…de diminuição mesmo, mas gera um fenômeno que eu chamo de auto ódio ,porque a pessoa ela começa ela mesmo a se ridicularizar, ridicularizar o próprio estilo, a própria crença,ou enfim, a forma como ela fala, porque ela entendeu que aquilo está deslocado, não é o padrão. E o Brasil é o que: São Paulo, Rio de Janeiro e um pedacinho ali. Isso seria Brasil, e o resto são pes…né…são milhões de pessoas deslocados que não é Brasil. Não só uma vez, eu estudei produção audiovisual e eu me lembro de algumas pessoas que estudavam comigo que falavam assim, que é…durante uma locução ou apresentar um programa que é pedido que a pessoa manere no sotaque, que ela dê um…porque ela tem que falar do jeito certo, e o jeito certo…qual que é o jeito certo?
Ju: São Paulo..
Ricardo Terto: São Paulo. Então fica caindo em São Paulo isso é muito chato, porque se você parar pra pensar, eu achei, quando eu vi esse caso aí, o que me surpreendeu foi a repercussão, [porque eu achei=
Ju:[= Sim…
Ricardo Terto:[ que não ia dar absolutamente em nada.
Ju: É tão banal né?
Ricardo Terto: É tão banal, [é tão comum=
Ju: = Né, verdade..
Ricardo Terto: [os memes na internet. Existem vários que são também sobre ridicularizar um determinado aspecto de alguma pessoa, não vou citar páginas, por exemplo existe uma página que é muito popular, em São Paulo e que essa página ela fala de uma forma bem humorada sobre algumas expressões nordestinas. Eaí o que sempre me preocupa é o seguinte, há um momento que a gente acha aquilo interessante, que é legal, que é rico e aonde vai…e começa a linha do deboche e daquilo ser uma caricatura.
Cris: E é humilhante, né?
Cris de Luca: Não precisa ir pro nordeste, o biscoito e a bolacha. E a gente tá falando de… de dois estados que você acabou de citar aí.
Ricardo Terto: Pois é.
Cris de Luca: Primeira coisa quando eu falo que eu sou carioca é biScoito, bolacha…
[ risos ]
Ju: É porque não pode ter os dois, a gente tem que definir AGORA qual é o certo, e tem que algum…[algum tá errado=
Cris de Luca: =É biscoito gente… Não é bolacha..
Ricardo Terto: =Bolacha..Assembleia agora..
Cris:=Só queria dizer que é biscoito, mas tudo bem…
[risos]
Cris de Luca: Está escrito na caixinha tá gente… Está escrito biscoito.
[ risos ]
Cris: Bolacha, é quando você bate na cara de alguém! Essa galera é muito louca…
Ju: Não mas [ eu acho engraçado=
Cris de Luca: = é uma forma..
Ju: [que assim. O que mais falam normalmente quando você fala, é que ‘ai o pessoal do sul, ele lê mais, pessoal mais educado e blábábá’ E tem uma galera que deixa subir na cabeça mesmo isso, que acha que é a elite cultural do Brasil e tal. E ninguém flexiona verbo direito, né?
[ risos ]
Ju: Ninguém!
Ricardo Terto: Pois é…
Ju: E sabe que não flexiona, porque fica até estranho pra gente. Por conta disso que a gente tava conversando, porque uma coisa é o idioma falado, é o que…o que funciona na rua e outra coisa é o que see…então assim, na hora de escrever você sabe que tem que escrever de outro jeito. Mas pessoas não falam ‘Tu vais?’ Fica estranho.
Cris: Parece uma música, eu acho…
Ju: É…num, num..,num não funciona, não soa bem, entendeu? Então…é, eu acho que a maior conversa sobre preconceito linguístico é a gente aceitar que isso é uma forma de controle
Ricardo Terto: Aham [ murmúrio de concordância ]
Ju: É uma forma de barreira, é uma forma de carteirinha. É uma forma de te olhar de cima a baixo e ver se você pertence a esse grupo ou não.
Ricardo Terto: Aham [ murmúrio de concordância ]
Ju: E pra entrar nesse grupo, você pode ter entrado entre aspas por nascimento, por berço, ou entre as aspas por merecimento. Então se você quer entrar nesse grupo, quanto você tá disposto a ralar. Bem rala, bem estuda,muda o que você sabe, o que você tá acostumado nananana, porque pra entrar aqui nesse grupinho seleto de pessoas que é ouvida e que é respeita, você tem que atingir esse patamar, você tem que atingir esse padrão. Então, acho que tem….a gente enxergar que é isso que a gente tá fazendo, quando a gente tá ridicularizando as pessoas e eu acho que esse exemplo que você deu é muito feliz de enxergar assim, quanto é pobre esse sistema de dizer, isso é bom, desse jeito é bom e é certo [ murmúrio de concordância de Ricardo Terto ] e essa é a métrica pra todos os outros jeitos falados. Qualquer coisa distante disso a gente vai medindo, quanto mais distante pior. O oposto é o que você falou, depende de qual é o objetivo. Então, numa letra de música por exemplo, eu não vou usar a norma culta, porque não vai fechar rima. [ murmúrio de concordância ] E tem um monte de músico…oo Rico falou isso [super bem=
Cris:[É
Ju:= aqui. Não deu a métrica, vou mudar a palavra! Você vai entender. Na música eu preciso o que, que você entenda a palavra e que soe bem.
Ricardo Terto: Sim.
Ju: Eaí, tá errado? Eu vou falar que nem um advogado no meio duma música? Nãão..
Cris: É…esse linguista fala a mesma coisa, ele fala assim: ‘Todo mundo sabe português. Se eu falo e você entende, então você sabe.’ Então [são coisas diferentes.=
Ricardo Terto: =Sim
Ju: Qual é o objetivo [ da comunicação=
Cris: = Não é se comunicar? Não é se fazer entender?
Ricardo Terto: Aham [ murmúrio de concordância ]
Cris: Você se fez entender? Então você sabe português. Então, o mais importante a se refletir nisso é entender que preconceito linguístico é uma forma de opressão e de anular o outro. De calar, de silenciar de falar: ‘Psssh [ murmúrio pra ficar quieto ], você não vai falar nada não, sabe por quê? Porque quando você abre a boca, você só fala errado.
Ricardo Terto: Sim.
Cris: Eaí a gente continua nesse sistema de perpetuar a opressão. E isso de uma série de coisas, às vezes até de uma pessoa que tá aprendendo outra língua.
Ricardo Terto: Aham [ murmúrio de concordância ]
Cris: E o coleguinha tá ali zoando, o cara que tá ali ralando, se esforçando pra aprender outra língua, porque ele já sabe.
Terto: Eu fiz, quando eu vi essa notícia, eu fiz um link na minha cabeça… A última empresa que eu trabalhei eles chamam folga de “day off”, porque não pode usar “folga”.

[risos]

Terto: Não pode usar [uma palavra que já…

Ju: [Ai adoro, adoro na publicidade tem muito. “Você pode printar isso?” Não existe imprimir? É melhor botar imprintar mesmo.

Cris: É muito estranho. Eu me sinto ridícula, mas eu só falo “job”. A hora que eu errrrll [enrolando a língua] projeto. Mas é ridículo. As pessoas falam assim o tempo todo e cê vai pegando esse vício de linguagem.

Terto: Pois é! Parece que existe já um… você chega na hierarquia máxima quando você utiliza por exemplo termos… você sai até do português e utiliza um termo em inglês pra algo que… e ali por exemplo, onde eu trabalhava, é uma loja de roupa, enfim, nem todo mundo domina o inglês e aí ficavam às vezes, ficava uma discussão assim, como é que se fala isso aqui exatamente assim, porque é tudo em inglês lá. Tudo. Tudo. Absolutamente tudo em inglês. Então, aquilo que é a qualidade aparente né? A qualidade aparente é uma qualidade vendida, não é uma qualidade de fato. É [apenas…

Cris de Luca: [É um código, né? É um código de conduta. [É um código que bota em você um rótulo, essa é a ideia.

Terto: [Exatamente.

[murmúrios de concordância]

Cris de Luca: Tanto que hoje existe uma tentativa muito grande de, por exemplo, eu que venho da área de tecnologia e escrevo sobre tecnologia o tempo inteiro, de fazer com que o pessoal da área de tecnologia não use o jargão, porque ele isola o resto da compania.

Ju: Sim…

Cris de Luca: Quando você usa o jargão você usa pra dizer pro cara “ow, fica quieto aí que [você não entende nada do que eu to falando…

Ju: [Eu sou o especialista….

[risos]

Cris de Luca: é…

Cris: Quem não usa, né? O mecânico faz isso com a gente… [todo mundo quando quer silenciar…

Cris de Luca: [a rebimboca da parafuseta…

[risos]

Cris: Toda vez que você quer silenciar alguém você joga uma coisa que ela não vai entender, ela vai ficar intimidada [e aí, cabô…

Cris de Luca: [Isso…

Ju: Então, mas assim… aí você me pergunta: Mas Ju, então você tá querendo me dizer que não tem pessoas que sabem trabalhar melhor a língua do que outras, que não é uma qualidade trabalhar bem a língua, que não é uma coisa que você deva almejar entender a língua e saber trabalhar ela bem e saber comunicar bem? Não amor, não to falando isso. O que eu to falando é que você pode ter essa característica, você pode exercer essa habilidade independente da norma culta. Que não está só na norma culta. Então assim, isso não é novo, né?

Terto: [murmurio de concordância]

Ju: Então você vai, por exemplo pro Adoniran Barbosa, que tava lá fazendo uma poesia lindíssima e ótima e muito popular e que vai ficar pra posteridade e tropeçando completamente no português culto. E ele não é menor do que alguém que tá cantando, sei lá, um Chico Buarque (não, ele é menor que Chico Buarque)

[risos]

Ju: Mas ele não é menor porque ele fala um português tropeçando na norma culta, entendeu? Então assim, é interessante você… a comunicação é um dos grandes poderes que o ser humano pode ter. Então, você exerce influência sim. Você motiva as pessoas, você inspira pessoas, então dominar a língua, falar bem, conseguir se expressar bem, claro que é uma qualidade notável e que é uma coisa que a gente busca sempre. A questão é: não seja tão tacanho a ponto de achar que só quem fala o português correto e culto está atingindo esse objetivo. Então você tem pessoas que trabalham muito bem o português, quer dizer, que se comunicam muito bem em diferentes graus, vai, de norma culta. E principalmente, quando você tá comunicando, você tá se expressando, o jeito que você fala tem muito a ver com como a pessoa vai te entender. Tem muito a ver, ele conta a sua história, ele conta quem você é, e ele atinge um ponto sensível de quem tá escutando justamente por falar com quem ele é e da onde ele veio. Então o Adoniran Barbosa foi gênio porque ele falou com um monte de gente que se viu refletida na música que ele tava [falando.=

Cris de Luca: [Mas gente…

Ju: =Que sentiu exatamente o que ele tava falando. Que se eu fosse falar direitinho a mesma coisa que ele falou de um jeito direitinho, não ia tocar as [pessoas, entendeu?

Cris de Luca: [Vamos falar francamente? É tão código que a gente teve dois presidentes da república, né?

[murmurios de concordância]

Cris de Luca: O Lula, que tropeçava totalmente no idioma, mas que levava a mensagem dele como ninguém. Não conheço melhor comunicador. [Não conheço. Falando francamente.=

Ju: [Perfeito. Melhor exemplo.

Cris de Luca: =E a gente tem hoje um presidente da república que fala todo empolado, né? E que as vezes você para pra ouvir e tenta [ouvir de novo e diz assim, gente pelo amor de Deus, o que que ele tá querendo dizer, que eu ainda não entendi…

Ju: [Todas as mesóclises certas…

Cris: Pior do que ele falando, só ele escrevendo poesia, né?

Cris de Luca: Gente, é impressionante.

[risos]

Cris de Luca: [Então assim…=

Ju: [Então o ponto é, comunicação: o que vale na norma culta é você ser um bom comunicador.

Cris de Luca: = Isso, até porque o mais perverso dessa história toda é, quando a gente vai conversar com uma criança você procura as palavras que a criança entende. Não é isso? Porque? Porque você quer se aproximar dela. Então, pra se aproximar das pessoas a gente tem que entender qual é o código que tá circulando ali de comunicação. É, isso é o fundamental. E aí o mais perverso é quando quem não tem a norma culta quer falar com você como se tivesse e começa a criar palavras e palavras e [palavras e palavras=

Cris: [Nossa, eu conheço tanto isso…=

Cris de Luca: =ou usar palavras que tem o mesmo fonema no lugar errado, né? Não é aquilo que ela tem que dizer, é uma outra palavra muito parecida com aquela. Eu já vi isso acontecer [em inúmeras situações=

Cris: =Eu vejo isso o tempo todo. [O tempo todo.

Cris de Luca: =É impressionante né…

Cris: E eu tenho carinho e um sentimento de compaixão pela [pessoa.=

Cris de Luca: [É, porque é perverso.

Cris: =Porque ela acredita que se ela usar essas palavras ela será melhor [reconhecida=

Cris de Luca: Isso.

Terto: [murmurio de concordância]

Cris: =Então ela usa as palavras, ela emprega completamente fora da lógica. Você não consegue entender.

Cris de Luca: Fora do contexto.

[risos]

Cris: Não tem contexto nenhum. Aquela palavra não serve pra aquilo. É como se fosse raso e ela falasse calcado.

[risos]

Terto: Você sabe um exemplo muito claro de tentativa de tornar uma coisa formalmente mais interessante e aí saí… dá tudo errado? Trabalhei por muitos anos como operador de telemarketing, e é daí que vem… é dessa tentativa de parecer super… que vem, né? Todos os [gerundismos e tal.=

Ju: [gerúndios

Cris de Luca: [gerundismos

Terto: =Vem disso, né? Não, uma tentativa de “vou estar transferindo o senhor”… é uma tentativa de [parecer mais=

Cris: [Tenta empolar, deixar mais empolado

Terto: =Tenta empolar e tal. E isso depois das empresas tentaram cortar isso, mas foram elas que [jogaram no começo=

Cris: [Aí pronto, já tava no sangue [risos]

Terto: =Exatamente. Elas que incentivavam os funcionários a fazer isso, né.

Cris de Luca: Isso é perverso. É muito perverso.

Cris: É isso então, vamo prestar um pouco mais atenção em como… se a gente não tá usando o nosso poder de norma culta pra não silenciar outras pessoas porque todo mundo tem algo a dizer.

Terto: E silenciar pessoas que tem uma riqueza muito grande de construção, de criação mesmo. Criar palavras que as vezes funcionam melhor do que as palavras impostas, né. Já que foi citado o Millôr, o Millôr tem uma frase muito boa em que ele fala assim “a pessoa que inventou o alfabeto ela era, antes de tudo, um analfabeto”.

[risos]

Cris de Luca: Ah, sim né. E a gente tem grandes nomes da nossa literatura, né. Machado de Assis criava palavras fantásticas. Tem várias [criadas por ele.

Ju: [Várias.

Cris: A nossa mais recente é imexível.

[risos]

Ju: Não, e a jogabilidade do Tite?

[risos]

Ju: Quando ele fala, gente… ninguém vai criticar porque [né… é Titebilidade…

Terto: [Pelo amor de Deus…

[risos]

Cris: Mas eu acho que ele fala com tanta certeza que pra mim já até existia. Bom, então é isso, temos aí o nosso primeiro programa de volta as férias. A gente ta meio enferrujada. Mas ta aí, foi muito gostoso conversar sobre isso e vamo agora pro farol aceso.

[sobe trilha]

(Teu Rastro – Vander Lee)
Onde vais
… fim da música …
(Tanto Tanto – Vander Lee)
Eu olho o mundo da janela
Eu vejo um filme além da tela
Os dias passam como por encanto

[desce trilha]

Cris: Vamos então para o farol aceso, e como a gente tá super começando com as visitas, a gente vai ouvir a dica da MC, que é uma querida, veio aqui nos visitar. Vai fazer pontas especiais no Mamilos, então nada melhor do que já chegar chegando… falando aí, indicando seu farol aceso. Fala meu bem.

[risos]

MC: Tudo bem? Eu vo indicar um documentário, é, chama Human ou Humano [https://www.youtube.com/watch?v=TnGEclg2hjg]. Não tem muito uma língua porque ele foi feito em várias línguas. É uma série de entrevistas com indivíduos, eles não mostram nome, não mostram a nacionalidade, não mostram nada. E a pessoa só conta sobre a sua vida e eles fazem diferentes tópicos e entre as entrevistas eles colocam uns vídeos de cenários e de… de cenas do mundo inteiro. E, muito tocante, muito forte, uma visão bem close up da humanidade e o que é ser uma pessoa. Independente de nacionalidade, orientação sexual, sexo, idade, qualquer coisa. Muito lindo. E o outro é o podcast (escuto outros podcasts também, não só mamilos).

Cris: Birsudo! Sai desse podcast [risos]

MC: É só quando tá de férias, viu?

Cris de Luca: Eu queria dizer que eu to com inveja, sabe? De ter tempo de ouvir mais de um podcast…

[risos]

MC: E é o On The Media [http://www.wnyc.org/otm-podcast/]. É um podcast americano, mas eles recentemente fizeram um episódio sobre o Brasil e sobre o jornalismo no Brasil. É uma visão bem geral pra quem é brasileiro, só que é interessante pra ver o que as pessoas de fora tão falando sobra a situação aqui.

Cris: Boa! Brigada, querida. Cris de Luca, meu bem, que que cê vai falar?

Cris de Luca: Eu vou indicar um serviço que eu conheci há duas semanas, chamado Insider que funciona usando a inteligência coletiva. Qual é a ideia? Ele mescla um pouquinho de uma rede social com um pouquinho do Wikipédia. Então, você entra lá com uma pergunta e todos os participantes do serviço podem responder pra você. Então, por exemplo, você pode… Tá sendo muito usado agora no Rio de Janeiro em função das Olimpíadas. É em inglês, em português, em espanhol e eles também tão correndo pra colocar francês e alemão no ar. Quando você se inscreve, você diz em que idiomas você pode participar. E aí tem perguntas do tipo assim “alguém sabe dizer com é que eu vou pras arenas olímpicas? Taxi? BRT? Qual é o melhor caminho, qual o melhor trajeto? Dá pra caminhar tranquilo? E as pessoas entram e vão dando as informações, ou do tipo: “Alguém pode me dizer aonde encontro um dentista às 11 horas da noite?” =
Ju: = uhum
Cris de Luca: = Né? Então assim, são informações de cariocas pra quem tá visitando a cidade. Tem uma curadoria pesada por trás, por isso que parece com o Wikipédia, porque tem pessoas ali pra retirar aquilo que não faz sentido estar, e realmente, de repente entre uma informação que é uma furada, a própria comunidade pode apontar “Não, isso aqui não funciona” aí eles retiram do ar. Então, é muita inteligência coletiva mesmo pra quem tá indo pro Rio de Janeiro.
Cris: Bom =
Ju: = Sensacional
Cris: Terto, querido, que que você vai indicar?
Terto: Bom, eu vou indicar um site que é o http://unidospelavida.org.br e que ele fala sobre uma doença que eu acredito que seja a hora de jogar uma luz sobre ela, que é a Fibrose Cística, né? A Fibrose Cística, ela também conhecida como Doença do Beijo Salgado, é uma doença genética. Ela não tem cura. É uma doença que se ela for diagnosticada precocemente de uma maneira adequada o paciente ele consegue ter uma vida normal dentro das condições, ela é diagnosticada geralmente através do teste de pezinho ou do teste do suor, né. Por que que é importante que a Fibrose Cística tenha se jogado uma luz sobre ela, porque muitas pessoas, muitos bebês, eles morrem por falta de diagnóstico, né? É muito mais comum do que parece, os pais não apresentam os sintomas, eles não tem nenhum tipo de sintoma, eles passam o gene pra criança, e aí a criança vai ter problemas respiratórios porque ela vai agir ali em glândulas, enfim, na parte do corpo onde vai gerar mucosa, etc e tal. Então tem esse site que ele vai reunir várias informações importantes pra isso, para que as pessoas tenham as informações necessárias, links pra vídeos, etc, e possam então ter consciência dessa doença e ajudar também a divulgar. Eu acho que quando você divulga, você tem diagnósticos mais precisos e consegue salvar vidas com isso também. Posso falar mais um? =
Cris: = Claro!
Terto: = Aproveitando, tem também a página Pelo Ar que eu Respiro, da Débora. A Débora, ela é portadora dessa doença e ela coloca ali como é a vida dela, né. E também dá espaço pra outras pessoas também, pra outros pais, é, enfim, é mais uma comunidade pras pessoas conversarem e trocarem experiências sobre isso, tá? Então, mais informações aí sobre Fibrose Cística no site http://unidospelavida.org.br.
Cris: Ju? Que que cê vai falar?
Ju: Aproveitando as olimpíadas, eu confesso que tava muito difícil entrar no espirito olímpico, a gente não tá num momento de receber… Sabe quando a família dá aquela brigaiada? Você brigou com o marido, o filho tá no canto, a outra filha também tá sem falar com o filho, tá todo mundo brigado, e vai receber toda a parentada em casa, e tem que fazer cara bonita, tem que fazer cara boa? Eu estava meio que me sentindo assim com as olimpíadas. A casa tava meio suja, sabe? Deu vários rolo, vários pobrema, e aí eu pensei assim: “Gente, não tava no clima de receber visita, não tava no clima de olimpíadas e tal”. Aí o Merigo colocou um filme essa semana, que eu achei tão legal! Ele não é nada pretensioso, tá, ele é bem bobinho, assim, ingenuo, eu diria. Mas é uma história real de um atleta britânico que concorreu nas olimpíadas de inverno, e que causou um frissom na época, justamente porque ele é um lembrete pra gente voltar pro que realmente são os valores olímpicos. Porque a gente ficou tão… o esporte em si, né, não é só o futebol. A gente já falou aqui no Mamilos como o futebol foi sequestrado por marcas, né? Ele saiu do que era, do povo, das pessoas e foi sequestrado por marcas. Não foi só o futebol, o esporte também em si. Então, assim, daqui a pouco não é mais pelo cara que está correndo por correr, é o cara que tem um investimento pesado, que tem os melhores equipamentos, a melhor condição e tal. E aí ficam difíceis essas histórias de superação, de indivíduos alcançarem o sucesso, o topo e tal. E aí de repente, é uma historia tão ingenua, de um cara que botou na cabeça dele que ele queria ir pras olimpíadas, mas assim, que condição você tem, filhote? Você não tem nem roupa pra isso, você não tem biotipo pra isso, você não tem condição. “Mas é o sonho da minha vida e eu vou fazer isso”. O Cara botou na cabeça dele e ele conseguiu ir. Então, assim, é pra assistir o filme pra ver como esse maluco, louco de pedra, conseguiu ir. Que ele obviamente pegou o caminho mais difícil, mas era o que estava disponível pra ele. E assim, é pra você voltar a se apaixonar por olimpíadas, pelo que elas significam, e que privilegio que elas estejam sendo aqui no Brasil. Assim, já que a festa tá paga, que a gente vai pagar por anos por vir por essa festa de qualquer maneira, mesma coisa que a gente falou da Copa. Já que tá aqui, né, gente, vamos fazer o melhor disso mesmo. Não adianta receber a parentada toda de cara feia, né? Arruma essa cara, fica feliz, aproveita essa festa, que agora já tá..=
Terto: = Já tá.
Ju:,= Já tá, né? Então indico o filme, que em português chama Voando Alto, ele não está na Netflix, então…=
Cris: = Te vira aí
Ju: = Cada um de vocês sabe a melhor maneira de chegar a ele. =
[Risos]
Cris: = Não preciso te falar sobre isso né?
Ju: Né? Então vocês acessem esse filme da maneira que lhes parecer mais conveniente. Cris, o que você tem?
Cris: Então, eu queria indicar uma profissional aqui em São Paulo, mas eu já queria fazer uma tatuagem há algum tempo, é, eu faço tatuagem a cada década, e eu queria muito fazer uma tatuagem com uma menina. Eu procurei mulheres com bons portifólios, e cheguei na Penélope Fer, eu queria indicar o instagram dela, que é @penelope_fer, F-E-R. Ela é de Poços de Caldas, uma menina super nova, fofinha, querida, ela tem a mão super leve, inclusive, é importante, e ela é uma artista. Você entrega pra ela e conversa com ela um pouco o que você gostaria de fazer, ela tem todo o carinho, toda a tranquilidade do mundo pra conversar, te deixar segura, fazer ajuste. Sabe aquelas pessoas assim que… e ela fica tão empolgada com o que ela está fazendo, que ela, olha, a hora que você fala “Eu gostei, vamos lá” ela “Menina, mas eu estou louca pra fazer isso! Porque eu gostei demais! Você me desculpa, mas é que eu realmente estou muito empolgada”. E o tempo todo que ela está fazendo, ela fica assim: “Ai, tá ficando tão lindo!”.
[Risos]
Cris: É muito fofa a Penélope, eu queria agradecer o carinho, e queria indicar pra todos vocês que querem fazer tatuagem, principalmente as meninas que muitas vezes que falam “Ai, mas eu queria estressar um pouco mais o desenho, eu queria me sentir mais à vontade com a pessoa”. O estúdio dela fica na Lorena, quase esquina com a Rebouças. Indico fortemente a Penélope, vão até lá. Ela é muito querida, e ela é muito, muito talentosa. Eu tenho feito esse exercício, toda vez que eu preciso de um serviço, eu procuro primeiro se tem uma mulher, se tem uma mulher negra, quem que tem menos projeção dentro do mercado, e que eu poderia conhecer o trabalho, e levar esse trabalho, e entender se essa pessoa faz bem. Porque não basta ser mulher, tem que trabalhar bem, né. Você não vai deixar uma pessoa fazer uma tatuagem em você, porque, né? Miga, não! Ela vai ficar lá, tá. E a Penélope é muito talentosa. Conheçam, sigam o instagram dela, mandem um beijo pra ela. E assim que estiver cicatrizado eu posto uma foto.
[Risos]
Cris: É isso, temos um programa?
Ju: Temos um programa!
Cris: Ótimo, programa =
Ju: = Obrigada gente, de novo, pela Cris estar aqui de novo. E Terto, a primeira de muitas, esperamos.
Terto: Também espero, vou mentalizar mais vezes=
Ju:= [Risos]
Terto: = comprar mais cupons.
[Risos]
Cris: Então tá gente, beijo!
Trilha:
De manhã choveu
O carro enguiçou
O sinal fechou, o amor não me escreveu.
O aluguel venceu
Meu time jogou
Tudo aqui é breu
E você não ligou
De manhã choveu
O carro enguiçou
O sinal fechou, o amor não me escreveu