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Capa - “Entre Facas e Segredos” parte de ode a Agatha Christie para tratar de classes sociais
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“Entre Facas e Segredos” parte de ode a Agatha Christie para tratar de classes sociais

Filme desfaz estrutura do "whodunit" para trabalhar conflito de classes entre seus personagens

por Matheus Fiore

Uma enorme mansão, lotada de obras de arte valiosas e das mais variadas culturas, com tapetes que parecem custar um carro popular. Na área externa, cachorros correndo por um enorme jardim enquanto ouvimos uma trilha sonora orquestrada digna de uma ópera. Os primeiros planos projetados em “Entre Facas e Segredos” não enganam: estamos adentrando um ambiente de elite, e é neste mundo de poder que Rian Johnson construirá sua narrativa.

O filme, a priori, parece se comportar como típico filme-homenagem, no estilo “whodunit” tão aproveitado por Agatha Christie e inspirado em obras como “Assassinato no Expresso do Oriente” – o renomado detetive Benoit Blanc (Daniel Craig), inclusive, apresenta-se inicialmente como uma releitura do próprio Hercule Poirot, personagem clássico de Christie. O foco, porém, é direcionado para a única estranha no ambiente, a enfermeira Marta Cabrera (Ana de Armas). Aos poucos, percebemos que Johnson – que, além de dirigir, escreve o roteiro – está interessado em algo além da trama de investigação; Johnson está utilizando a trama do “quem matou?” e seus personagens para fazer um interessante estudo da relação entre a burguesia e o proletariado.

Rian Johnson (à direita) orienta Chris Evans e Ana de Armas no set

No filme, o renomado escritor Harlan Trombley (Christopher Plummer) é encontrado morto após cometer suicídio. Blanc, um renomado investigador, se une a dois detetives locais (Lakeith Stanfield e Noah Segan) para resolver o mistério, com toda a família e Marta sendo suspeitos do crime. O pulo do gato de Johnson, que é o elemento que permite que o longa tenha vida própria e independente da referência à obra de Christie, é justamente o fato do protagonismo não estar nas mãos do investigador, mas na enfermeira, que é a personagem menos poderosa desse mundo e com um olhar próprio para tudo o que a cerca.

Em vez do roteiro dar cada vez mais profundidade para os membros da família Trombley durante a investigação, a ideia é dar complexidade à protagonista e transformar os burgueses herdeiros de Trombley em caricaturas, algo que o elenco incorpora com maestria principalmente pela forma debochada e infantilizada com a qual Toni Collette e Chris Evans incorporam seus personagens. Johnson inclusive mantém a comédia como uma constante no filme, inserindo o humor em boa parte dos momentos mais dramáticos da narrativa e sempre em pontos definidores dos personagens vividos por Collette, Evans, Jamie Lee Curtis, Michael Shannon e cia.

A ideia é dar complexidade à protagonista e transformar os burgueses herdeiros de Trombley em caricaturas

Outro ponto interessante para explorar essa diferença entre Marta e os Trombley é a forma como a montagem lida com o interrogatório inicial, que nos apresenta aos personagens. Johnson nos introduz os personagens, mas monta a cena de forma que faz parecer que todos os membros da família são a mesma figura interrogada – ao ponto de o detetive perguntar algo para uma pessoa e, graças a montagem, vermos outro interrogado respondendo a essa pergunta – o que cria uma unidade na forma como toda a narrativa trabalha aquelas figuras. São todos herdeiros mimados, elitistas e sem realizações que não sejam as impulsionadas pelo dinheiro de Harlan. São figuras deliberadamente unidimensionais, já que nitidamente não possuem um laço afetivo forte com o falecido patriarca – diferente do que acontece com Marta.

É na relação entre Marta e a família do falecido escritor que Johnson melhor expõe o estudo que faz sobre a arrogância daqueles personagens. As cenas nas quais os Trombley revelam seu caráter e falam de forma pejorativa sobre imigrantes, por exemplo, denota como eles enxergam a protagonista como alguém inferior. É interessante perceber, inclusive, como Johnson pontua isso no roteiro, mostrando como as diferenças entre os irmãos são superficiais e reiteradas apenas por seus preconceitos: uns se referem a Marta como brasileira, outros como uruguaia, e até mesmo de paraguaia ela é chamada, sendo que ninguém jamais acerta a nacionalidade da jovem.

A câmera de Johnson acompanha essa construção não só pelas mencionadas imagens que retratam a mansão de Harlan como um ambiente de elite, como também pela forma como filma os personagens. Não são raros, por exemplo, planos frontais do rosto de Marta que são alternados com planos que colocam toda a família Trombley a encarando diretamente, mostrando como, apesar de haver um suposto carinho, no fundo há uma divergência, uma separação oriunda da visão elitista de que ela não passa de uma “empregada imigrante”.

É na relação entre Marta e a família que Johnson melhor expõe o estudo sobre a arrogância daqueles personagens

Retornando ao roteiro, outra qualidade no trabalho de Johnson é como ele descama o caráter dos burgueses de forma gradual. A cordialidade vai se desmanchando conforme os conflitos entre os herdeiros e a enfermeira surgem na narrativa, fazendo com que a revelação das intenções e sentimentos dos personagens seja mais importante do que a dos crimes por trás da morte de Harlan Trombley. Como resultado, “Entre Facas e Segredos” acaba por mostrar como o dinheiro e o privilégio, forças motrizes da sociedade capitalista, norteiam as relações patrão-empregado.

Trabalhando sempre em cima da quebra de expectativa, Rian Johnson consegue utilizar o modelo “detetive” de narrativa vivo, ainda que dentro de uma camada social evidente. A todo momento a jornada é redirecionada e nossas expectativas invertida, e a obra é capaz de criar uma grande ansiedade para algo que se revela muito mais simples do que poderíamos pensar inicialmente. Com isso, não há um esvaziamento do subgênero, mas um uso da forma cinematográfica em prol da ideia central, que é justamente a análise das relações entre camadas sociais tão distintas.

Assim, quando a situação se agrava, já não é mais o crime há muito revelado que mantém a engrenagem girando e sim a forma irônica e caricata com que Rian Johnson retrata todos aqueles personagens, recusando a sua complexidade  e aprofundando sua superficialidade, ganância e medo diante da iminente perda de poder. O diretor parte de Agatha Christie para fazer um filme mais politizado do que se poderia imaginar, guiando reviravoltas não pelos valores econômicos em jogo mas pelos sociais e éticos que movem seus personagens.

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