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Capa - “The Eddy” vê na divagação o principal trunfo para tratar da mítica do jazz
Imagem: EDY08223.ARW

“The Eddy” vê na divagação o principal trunfo para tratar da mítica do jazz

Minissérie guiada pela música se perde em tramas criminais e se reencontra nas narrativas sentimentais encontradas ao longo do caminho

por Pedro Strazza

Escrever sobre “The Eddy” é em si um esforço interessante: sua premissa intriga de início não exatamente por aquilo que se vê inscrito na tela, mas pelo que a cerca. Ambientada nas vielas menos populares (ou turísticas) de Paris e sobre os altos e baixos de um grupo de jazz com salão próprio, a minissérie de oito episódios é também construída a privilegiar a visão de quatro diretores e um roteirista sobre a mesma história, com os primeiros tomando para si dois capítulos da trama escrita pelo último – creditado nos letreiros finais como dono de tamanha criação – e estrelada ainda por músicos que aqui atuam de primeira viagem.

Se essa construção já soa esquisita na descrição, vê-la executada na tela se mostra um exercício ainda mais difícil. A música habita o centro das atenções dos episódios da série, mas ao mesmo tempo é um dos itens menos urgentes para o andamento da história; as preocupações dos personagens, por sua vez, dominam as atenções da trama até o ponto em que se revelam tensões banais, obstáculos que podem ser superados com o mais básico pedido de desculpas e a reparação da relação. Do ponto de vista do espectador, assistir “The Eddy” pode se revelar uma tarefa complexa, pois no fundo a produção de autoria do roteirista Jack Thorne se mostra adepta de um recurso até traiçoeiro de narrativa: a divagação.

Só isso explica o caráter quase contraditório da minissérie, cujo interesse constantemente parece morar em pólos opostos. Se depender das entrevistas com os realizadores, a intenção do projeto é mesmo essa, justificada pelo jazz e uma visão que coloca o gênero musical enquanto uma arte de improvisos e solos criados de última hora. Tudo isso no calor de uma Paris despida de romantismos e ocupada por populações marginalizadas, longe dos pontos turísticos que a consagraram como “a cidade do amor”.

André Holland (à esquerda) conversa com o diretor Damien Chazelle no set

Por mais que a produção reivindique o contrário, esta concepção não chega a ser nova no cenário. Para além da inevitável comparação com “Treme”, “The Eddy” lembra na premissa muito dos caminhos de “A Canção de Esperança”, especialmente por apostar numa estruturação coral – dentro e fora dos episódios – para somar dores e extravasa-las nas passagens musicais do jazz. A diferença é o formato e sua duração: enquanto o filme de John Cassavetes tinha menos de duas horas para explorar uma trágica história de amor na indústria, a minissérie aproveita o amplo espaço de oito episódios de uma hora para dividir as atenções a membros específicos da banda do título, explorando seus dramas pessoais para depois reconduzi-los para dentro dos espetáculos que tocam no clube.

Há uma história principal a ser seguida, porém, e é mais ou menos neste ponto que o mote errante do programa começa a ganhar corpo. A minissérie gira toda em torno de Elliot Udo (André Holland) e seus esforços para manter o clube aberto depois de uma tragédia abalar a estrutura do negócio fundado por ele e o amigo Farid (Tahar Rahim), mas ao mesmo tempo que a história e o protagonista vão se aprofundando na descoberta de um esquema criminoso criado em torno do estabelecimento a produção nunca parece conquistar o interesse genuíno do espectador por estas questões. “The Eddy” na verdade nem parece ver o âmbito criminal como foco, numa tendência que fica mais clara na reta final e no conflito de toda a trama com o formato – e é difícil não imaginar os “psicólogos de roteiro” perdidos com tantas pontas deixadas em aberto pelo último capítulo, teorizando ganchos e continuidades que nem precisam ser respeitados.

A indignação é justa, mas o recurso em si sugere o óbvio. O propósito de “The Eddy” é mesmo de forçar o público a deslocar a atenção de questões imediatas e se interessar nos arredores, na forma como os traumas gerados tem suas dores sintetizadas na música, o jazz que adquire viés dramático o quanto for possível. A ideia das canções serem quem rege a orquestra é explícita, permeando até os créditos finais ao serem responsáveis pela transição do encerramento dos capítulos aos letreiros – e neste sentido é difícil não se ver optando por continuar a assistir os episódios depois do fim, ao invés de seguir imediatamente ao próximo como se tornou comum no binge watching da Netflix.

O propósito de “The Eddy” é forçar o público a deslocar a atenção de questões imediatas e se interessar nos arredores

Fica um tanto óbvio neste cenário a vitalidade da direção para o sucesso do projeto, um ponto que aí sim “The Eddy” força a mão enquanto espírito errante. Cada um dos quatro diretores escolhidos para liderar os episódios – na ordem o oscarizado Damien Chazelle, a francesa Houda Benyamina, a marroquina Laïla Marrakchi e o principal produtor executivo Alan Poul – tem a partir da constatação da dinâmica do programa uma abordagem diferente ao tema, mas há uma ausência palpável de alinhamento que logo se torna numa faca de dois gumes para a minissérie: não existe na produção qualquer unidade além da trama, com cada diretor perseguindo o que lhe interessa no episódio.

A consequência imediata é a quebra visual de tom bastante perceptível entre as duplas de episódios destinadas aos respectivos cineastas, e neste quesito o racha mais evidente acontece entre os capítulos comandados por Chazelle e Benyamina, até porque o ruído emocional beira ao esquizofrênico. Se o diretor estadunidense busca imprimir ao projeto algo que soa como uma tentativa de importação de um modelo de cinema dos irmãos Dardenne, no reforço de planos contínuos e próximos dos atores em meio às crises – o que por sua vez gera um dos episódios mais exaustivos logo na segunda parte – a diretora de “Divinas” constrói suas narrativas em torno de uma relação menos hiperbólica com o jazz, processando por ele questões duras como o luto, o vício e o fim do amor quase como um exorcismo musical – o que ela faz quase que literalmente nas cenas do funeral.

O próprio retrato “cru” de Paris arrisca se perder nesta falta de harmonia, até porque cada diretor segue uma lógica particular com a cidade que não se reflete no próximo episódio. Comparar com algo como “Os Miseráveis” de Ladj Ly chega a ser covarde: “The Eddy” brinca em algumas cenas sobre o quanto o bar que habita o cerne da história é sabotado exatamente por não carregar uma identidade “parisiense o suficiente”, mas tirando os esforços genuínos de inclusão (em especial da população muçulmana) e a atenção à presença militar pelas ruas, o cenário muitas vezes se pinta como território já conhecido e estereotipado, dos prédios de apartamentos minúsculos e garagens amplas onde o tráfego come solto aos escritórios minimalistas vazios que ilustram o empresariado nefasto – e isso sem dúvida respinga na construção de alguns personagens e situações.

Não existe qualquer senso de unidade além da trama que, com cada diretor perseguindo o que lhe interessa no episódio

Mas é dos momentos regidos pelo jazz e seus músicos, porém, que a minissérie no fim se justifica. Tornados em focos individuais dos episódios e à margem de todo o andamento novelesco da história (que pertence a Elliot, afinal), os membros do The Eddy guiam a narrativa em meio a turbulências emocionais e crises de espírito porque no fim seus dramas de um jeito ou de outro são encarados como prolongamentos de sua arte em todos os episódios, uma constatação que mesmo ingênua em seu viés prático ajuda a reconduzir o projeto a um sentimentalismo de momento que por acidente é preciso aos interesses criativos – ainda mais guiado pelas composições de Glenn Ballard, tão adeptas deste propósito.

E que bem faz uma visão ingênua a uma produção dessas! Por mais que se porte como uma obra densa, a dita complexidade de “The Eddy” tem um fim quase singelo, em especial em tempos de pandemia onde o horror da morte se avoluma nas casas em isolamento social. É a arte como recurso de tradução e execração das dores, do se erguer e seguir em frente; e para uma série que começa tão focada na desmistificação – seja do jazz, da indústria ou mesmo de Paris – é uma ironia bem vinda que seu encerramento se dê em meio a uma serenata coletiva, essa purgação social tão genuína e fantabulosa por essência.

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