St. Vincent questiona família e liberdade feminina em "Daddy's Home", um álbum retrô e íntimo • B9
Capa - St. Vincent questiona família e liberdade feminina em “Daddy’s Home”, um álbum retrô e íntimo

St. Vincent questiona família e liberdade feminina em “Daddy’s Home”, um álbum retrô e íntimo

Sexto álbum da cantora consegue ser, ao mesmo tempo, o trabalho mais pessoal, nostálgico e também o mais comercial de sua carreira até aqui

por Soraia Alves

Os fãs de St. Vincent (nome artístico adotado por Annie Clark), estão acostumados a vê-la assumindo diferentes personas musicais a cada álbum. Tanto o visual, quanto a sonoridade da cantora mudam bastante de um trabalho para outro, portanto não é exatamente uma surpresa que ela apresente em seu sexto disco um conceito até então inédito em sua carreira: uma sonoridade retrô baseada em clássicos dos anos 1970. Sendo assim, a distinção de “Daddy’s Home” é que ele consegue ser, ao mesmo tempo, o álbum mais pessoal, nostálgico e também o mais comercial da cantora até aqui.


As múltiplas personas assumidas por St. Vincent nos trabalhos nem sempre trazem a intimidade de sua versão não artística. “Daddy’s Home”, no entanto, faz referência à sua própria história familiar, mais exatamente sobre seu pai, que ficou 12 anos preso por envolvimento em um esquema de manipulação de ações que movimentou mais de US$ 43 milhões. A abordagem da cantora, contudo, não explora exatamente a narrativa do pai (apenas na faixa-título), e sim as consequências que ela carrega por ter vivido tal situação. Assim, a maioria das 14 faixas do álbum (sendo 3 de interlúdios) funciona como uma sessão de psicanálise que procura identificar o quanto o passado interfere em hábitos, vivências e decisões do presente. St. Vincent fala sobre se sentir abandonada pelo pai, presencial e sentimentalmente. Ela o culpa, o absolve, se vê como uma provedora para a família, e tem uma grande dificuldade com definições de responsabilidade.

A distinção de “Daddy’s Home” é que ele consegue ser, ao mesmo tempo, o álbum mais pessoal, nostálgico e também o mais comercial da cantora até aqui.

Nesse contexto “terapêutico”, St. Vincent também questiona sobre a liberdade feminina em fazer escolhas, uma vez que os pesos são completamente diferentes para homens e mulheres. Isso aparece em vários momentos, como em “My Baby Wants a Baby”, que fala sobre a dúvida em ter ou não filhos: “Eu quero tocar violão o dia todo. Fazer todas as minhas refeições no micro-ondas. Só me vestir bem se for paga”, diz a letra. E como ressalta em “Pay Your Way In Pain”, as decisões femininas são sempre questionadas, até mesmo por outras mulheres: “Eu fui ao parque apenas para observar as crianças pequenas. As mães viram meus saltos e disseram que eu não era bem-vinda”.



Apesar das letras carregadas de conflitos, sonoramente “Daddy’s Home” é o trabalho mais acessível de St. Vincent. Especialmente ao público que não é exatamente fã da cantora. Com produção de Jack Antonoff, o mergulho na musicalidade da década de 1970 traz diversos elementos que contribuem para essa “acessibilidade”, que nada mais é que uma identificação da familiaridade sonora das canções. Em diversas entrevistas, St. Vincent explicou o álbum como uma volta aos discos que a formaram musicalmente. À Rolling Stone, ela citou Stevie Wonder e a banda Sly and the Family Stone como influências para o trabalho. Mas o resultado é mais plural e rebuscado, com toques de David Bowie, Fleetwood Mac, Elton John e Pink Floyd, para citar alguns dos artistas que vêm à mente durante a audição do álbum. “Live in the Dream”, por exemplo, soa como uma junção de “Us and Them” e “Comfortably Numb”, ambas do Pink Floyd.

A maioria das 14 faixas do álbum funciona como uma sessão de psicanálise que procura identificar o quanto o passado interfere em hábitos, vivências e decisões do presente

Além da psicodelia do Rock setentista, St. Vincent usa muito as bases do funk da mesma época, além de Pop e Soul, especialmente com o uso de vocais de apoio no estilo gospel. Ela também imprime sua própria personalidade com elementos modernos e, principalmente, com a quebra de lógica das faixas. Ainda que inspiradas no passado, as músicas são mais “tortas”, mais descontruídas. Enquanto os sintetizadores fazem a função de uma cítara ao longo do álbum todo, é quando emprega um pouco mais de guitarra que as faixas se destacam, ainda que de maneira sútil como na faixa-título.



A primeira metade do trabalho realmente flui melhor, com todas as faixas de “Pay Your Way in Pay” a “The Melting of the Sun” sendo realmente muito boas, em especial “Down And Out Downtown”. Em “The Melting of the Sun”, vale dizer, St. Vincent lista diversas cantoras que não só influenciam seu trabalho, mas que enfrentaram a crueldade com a qual a indústria do entretenimento trata as mulheres: Tori Amos, Joni Mitchell, Nina Simone. Do primeiro interlúdio pra frente, as coisas podem soar menos interessantes. A pegada mais acústicas e com menos vigor acaba quebrando o ritmo do disco, ainda que “Down” seja um hit pronto e a instrumentação de “…At the Holiday Party” seja primorosa, assim como a construção vocal de “Candy Darling”.

As nuances menos brilhantes do álbum, no entanto, não tiram a graça nem afetam a engenhosidade de “Daddy’s Home”. A pessoalidade colocada no trabalho, ainda que St. Vincent não tenha aberto mão de uma estética visual que é mais fictícia que real, trouxe uma identificação que, muito provavelmente, adicionará novos fãs à sua carreira. E nem todos os artistas conseguem dar essa cartada com tanta elegância.

nota do crítico

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