"Imperdoável" é novela das nove condensada em um filme de 2 horas • B9
Capa - “Imperdoável” é novela das nove condensada em um filme de 2 horas
Imagem: Kimberley French/Netflix

“Imperdoável” é novela das nove condensada em um filme de 2 horas

Sandra Bullock dá seu máximo para fazer valer a narrativa de rejeições de sua personagem, mas longa sofre com história mais focada na dramaturgia ao redor que na premissa

por Pedro Strazza

Com a profusão de séries infantis no formato liderando os rankings de mais assistidos e a noção crescente do mercado de que o futuro do streaming é mesmo a novela, faz algum sentido que parte dos filmes voltados para essas plataformas comecem a manter em voga alguns dos impulsos do gênero para prosperar entre os assinantes. Se isso funciona ou não é dessas questões maiores que cabe uma discussão a parte, mas dentro dessa lógica o mais interessante é ver o que acontece quando essa dinâmica atinge produções os quais a princípio escapam dessas necessidades, seja pelo alcance de suas estrelas, realizadores ou do próprio tipo de história trabalhada.

É o caso de “Imperdoável”, pelo menos, que apesar de se tratar do projeto seguinte de Sandra Bullock depois do sucesso estrondoso de “Bird Box” na Netflix (onde permanece como um dos títulos originais mais assistidos) é também a adaptação de uma minissérie britânica – “Unforgiven”, de 2009 – para o formato de longa-metragem. A informação só vem nos créditos finais, mas é até fácil perceber durante toda a duração o esforço maior do projeto em “resumir” eventos dos três episódios do original para seus 110 minutos, e essa aproximação bem ou mal define como o filme se relaciona com o espectador.

A diretora Nora Fingscheidt (à esquerda) orienta Sandra Bullock no set (Crédito: Kimberley French/Netflix)

Bullock no caso vive a imperdoável do título, uma mulher recém-saída da prisão após cumprir uma pena de vinte anos por assassinar o xerife de sua cidade natal. A história é concentrada em seus esforços de se adaptar à dura realidade de ser uma “cop killer” e recomeçar a vida, mas também busca dramatizar as coisas pela relação perdida da protagonista com sua irmã, menor de idade na época do crime e que agora vive com uma família sem saber que possui parentes vivos.

Esse equilíbrio é definidor dos rumos da produção, pois seu desbalanço parece ser constante em direção ao que é visto como “dramático” ao invés de natural a uma personagem oprimida por todos os lados. Trazida à direção na esteira de “Transtorno Explosivo” – que chamou a atenção nos festivais justo pela performance da jovem Helena Zengel em uma história de choque de sistema – a alemã Nora Fingscheidt aqui constantemente luta para priorizar a narrativa interiorizada da protagonista em uma história de muitos acontecimentos, com muitos diálogos expositivos verbalizando toda e qualquer tentativa de se manter a intimidade do público intacta. A derrota é inevitável dado o volume envolvido, porém, sobretudo porque o roteiro de Peter Craig, Hillary Seitz e Courtenay Miles não hesita em trazer múltiplas perspectivas para complexificar os dilemas envolvidos, mesmo quando essa abordagem não parece acrescentar muita coisa.

Aí se sente tanto o interesse de dramaturgia vigente na produção, ainda mais quando coadjuvantes ganham arcos inteiros que não parecem se relacionar com a trama principal. Para além da estranha experiência de se assistir Viola Davis num papel quase terciário em pleno 2021, a existência do núcleo da família do advogado de Vincent D’Onofrio é o maior sinal que “Imperdoável” dá ao espectador para revelar o nível de gordura rocambolesca existente em sua narrativa, o qual se arrasta ainda mais perante a dificuldade de Fingscheidt em conciliar suas vocações com essas imposições do texto. Misture isso com o tom sóbrio que parece ter se tornado padrão aos projetos dirigidos por europeus exportados a Hollywood e pronto, tem-se a receita da loucura que é o longa.

A narrativa se arrasta na dificuldade de Fingscheidt em conciliar suas vocações com as imposições do texto

Se o filme sobrevive em alguma medida a esse processo, é pelo trabalho de Bullock e em como ela centraliza as dores dessa rejeição social constante da protagonista para uma questão puramente física, quase animalesca. Se o caminho não é lá tão surpreendente por caracterizar boa parte dos projetos da temporada de premiações das últimas duas décadas, aqui ele pelo menos soa adequado às pretensões e ajuda a nortear a direção para algo mais tangível que ser reduzida à entrega de beats dramáticos: a protagonista combate na mesma medida em que é combatida por aqueles ao seu redor e, quando há espaço, Fingscheidt abre margem para a atriz expressar essa posição acuada. Situação que expressa bem isso é a do soco que a protagonista recebe na fábrica de embalamento de peixes, com a câmera por um breve momento focando no isolamento de Bullock dentro daquele espaço, enquanto todos a observam com temor e ira.

É também essa abordagem que expõe a fragilidade maior do projeto com o drama, porém, até porque ela prescinde a manutenção da proximidade do espectador com a atriz em todos os momentos e isso nunca acontece. “Imperdoável” tem chance de funcionar quando está com Bullock e evapora em qualquer instante longe dela, então não chega a ser surpreendente o fato da produção se perder ao tentar justificar todos os passos dos personagens ao redor dela e não se bastar no registro desses com ela. Assim, é sofrido assistir ao filme encontrar uma boa dinâmica entre Bullock e o colega de trabalho de Jon Bernthal, sacrificar tal relação para prosseguir com a narrativa de opressões e, poucos minutos depois, introduzir uma cena em que ele explica a ela ter a denunciado por medo. O mesmo vale para a trama paralela dos filhos do falecido xerife vividos por Will Pullen e Tom Guiry, cuja história se alonga a ponto de uma relação conflituosa por acreditar ser necessário investigar toda a origem daquela raiva interna dos dois que dispara o clímax. Esses arcos todos são complementares, mas nada acrescentam aos efeitos da história – pior, o diluem.

Bullock centraliza as dores dessa rejeição social constante para uma questão puramente física

Tudo isso, de novo, mora na relação do filme com o material original e do esforço em condensar eventos de uma estrutura maior em duração para os conformes de um longa-metragem. Se “Imperdoável” tem toda a cara de um “melhores momentos” de uma produção seriada, é porque de certa forma ele é isso mesmo, existindo à base de pequenas pulsões que mantenham uma dramaturgia mínima acesa em prol da renovação da atenção do espectador desavisado. 

Dado o cenário cru, é inevitável a comparação com o que convencionou-se esperar das novelas dos horários mais nobres da televisão, apenas com menos tempo para desenvolver todos os núcleos antes de um desfecho dito eletrizante. Não deixa de haver algum fascínio nessa proposta, mesmo que não do mais elogioso porte.

“Imperdoável” está disponível na Netflix.

nota do crítico

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