Para diretor e Noomi Rapace, "Lamb" foi uma aposta arriscada e muito atraente • B9

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Para diretor e Noomi Rapace, “Lamb” foi uma aposta arriscada e muito atraente

Conversamos com Valdimar Jóhannsson e a atriz sobre o filme islandês que impactou as redes sociais com história de ovelha antropomorfizada

por Pedro Strazza

Apesar da premissa fantástica servir sozinha como grande convite, a trajetória de “Lamb” é dessas que fascinam pela surrealidade dos eventos envolvidos. Produzido na Islândia, o filme parecia até então confinado ao circuito de festivais por conta de seu status diminuto, um tipo de cinema independente com pé no horror e outro no de arte feito num país sem grande reconhecimento do público e cujo único gancho parecia mesmo a presença da sueca Noomi Rapace no elenco. Nessas condições, o longa ia muito bem, obrigado, sobretudo por receber o prêmio de originalidade na mostra Um Certo Olhar do festival de Cannes e garantir distribuição global por nomes maiores do mercado.

O que parecia mais uma peculiaridade da temporada destinada ao nicho, porém, saltou para um interessante patamar maior a partir do momento que as primeiras campanhas de divulgação começaram a acontecer nas redes sociais. Da noite pro dia, a produção chamou a atenção das redes sociais por conta da imagem muito simples de Ada, protagonista maior da história e que é justamente um cordeiro antropomorfizado, com direito a cabeça de ovelha e uma das mãos humanas. A estética “arthouse” foi confundida com um cinema de horror mais escancarado e, a partir do momento em que o próprio diretor Valdimar Johánnsson buscou discernir as duas coisas durante entrevistas, o filme oficialmente entrou no radar de muita gente. Agora que o filme estreou oficialmente em diversos países nesta sexta-feira (25) pela MUBI – incluindo o Brasil – a expectativa é de que o público do filme só cresça.

O próprio cineasta percebe agora como as coisas saíram um pouco do controle. “Eu sinto que é quase como um sonho” diz logo no início de uma conversa por videochamada com o B9, no meio de outra questão envolvendo a própria escalação de Rapace no elenco: “Eu fico muito feliz que as pessoas estão indo ao cinema assistir em quase todo país, é maravilhoso. Ainda mais sendo um filme sobre criadores de ovelhas”.

Apesar da óbvia distância física representada na gravação virtual – feita no começo de dezembro, quando os dois entrevistados estavam participando dos trabalhos do Festival BFI de Cinema de Londres – não se demora a notar no encontro o quanto o projeto era visto como algo pequeno por seus realizadores, mesmo com a presença de gente como a atriz ou do escritor Sjón, coautor do roteiro e famoso pelas colaborações com Björk e Lars von Trier. O lento desenvolvimento e a origem da produção deixam evidente esse trabalho minucioso: inspirado numa série de esboços feitos em um caderno, a trama demorou cinco anos para ser pensada por Johánnsson, que em suas próprias palavras queria primeiro estabelecer um tom à história de Ada e de sua vivência com um casal de criadores de ovelhas.

“Nós sabíamos do começo, que teríamos Ada e criadores de ovelhas” comenta o diretor ao B9; “Depois que eu e o Sjón começamos a trabalhar juntos, acho que a gente só conversou sobre o assunto por uns cinco anos; a gente não estava escrevendo o roteiro, mas sim algumas ideias e cenas”.

Rapace também não demora a demonstrar um comprometimento muito grande com o projeto. Além de descrever o papel como um que “estava esperando a vida inteira” para receber, a atriz descreve com muito carinho o trabalho com Johánnsson e não hesita em brincar diversas vezes com o diretor durante a conversa, seja para exaltar seu interesse na direção de clipes ou como o papel a absorveu por completo. “Eu de fato senti que ela apenas saiu de dentro de mim e que eu a já conhecia, aí ela basicamente tomou conta de tudo na minha vida por um determinado período de tempo e eu não precisei pensar muito” diz ela no encontro; “Era muito estranho como ela me guiava”.

Essa dinâmica norteia toda a entrevista que diretor e atriz de “Lamb” tiveram com o B9, que você pode conferir na íntegra a seguir. Além do empenho dos realizadores, Johánnsson e Rapace comentam em detalhes os desafios de materializar Ada no set, quais eram os planos originais com a estranha personagem e o que esteve por trás da criação do clipe musical presente em determinada altura do longa.

Queria começar perguntando sobre o processo que levou você, Noomi Rapace, ao filme. Como você, Valdimar Jóhannsson, pensou nela para o papel principal, e o que a levou a aceitar o papel de Mária?

Noomi Rapace: Dinheiro, muito dinheiro [risos].

Valdimar Jóhannsson: Sabe, eu sinto que a Noomi era a única pessoa que podia interpretar a Mária. Acho que tivemos muita sorte dela querer fazer esse filme.

NR: Quando isso [o papel] chegou pra mim, eu na hora pensei que era o que eu estava esperando a vida inteira. Foi uma dessas coisas que eu imediamente reconheci. A escala, o que significava para mim e o quanto eu precisava ser Mária, de estar na Islândia com Valdimar, de ajudar no parto de um cordeiro [risos] e de viver Mária. E agora tudo que está acontecendo agora como ele bem disse, está sendo lançado mundialmente e sendo recebido… eu fico maravilhada e muito agradecida, mas a gente realmente não esperava isso.

VJ: Eu sinto que é quase como um sonho. Eu fico muito feliz que as pessoas estão indo ao cinema assistir em quase todo país, é maravilhoso. Ainda mais sendo um filme sobre criadores de ovelhas [risos].

Eu imagino. Conceitualmente, este filme está em desenvolvimento há mais de dez anos, e acho interessante como a base de tudo foi um livro de esboços de Ada e situações da história. Vocês podem falar um pouco mais sobre o processo de construir o filme em torno disso, levando em conta primeiro a ambientação e depois a história?

VJ: De alguma forma, o que eu estava tentando fazer com esse livro era criar um tom que gostaria de ter no filme, com um monte de pinturas, registros de cenários e, bem, algumas imagens sombrias e desenhos. Nós sabíamos do começo, que teríamos Ada e criadores de ovelhas. Depois que eu e o Sjón começamos a trabalhar juntos, acho que a gente só conversou sobre o assunto por uns cinco anos; a gente não estava escrevendo o roteiro, mas sim algumas ideias e cenas. Depois disso, começamos um tratamento, os produtores ficaram felizes com o resultado e o Sjón começou a escrever o roteiro. Aí a gente de alguma forma sabia todos os detalhes e como queríamos que o roteiro saísse.

Noomi, eu também fiquei curioso sobre como essa dinâmica funciona para os atores. Esse processo de desenvolvimento mudou a forma como você construiu a personagem de Mária? Pelo que soube, você e o Valdemar conversaram bastante sobre o passado dela mesmo isso nunca tendo chance de entrar no filme.

NR: Eu sinto que foi algo muito orgânico, meio que surgiu das conversas que tivemos e que construímos a Mária juntos. Eu de fato senti que ela apenas saiu de dentro de mim e que eu a já conhecia, aí ela basicamente tomou conta de tudo na minha vida por um determinado período de tempo e eu não precisei pensar muito. Era muito estranho como ela me guiava. Aí você sabe, meu primeiro dia no set envolveu basicamente puxar um cordeiro do ventre da mãe e ajudar num parto do tipo. Daquele momento em diante, foi como se não houvesse hesitação, como se não houvesse como voltar atrás, como se não houvesse outra direção. Era apenas aquele universo de natureza e animais, como se a brutalidade e a beleza naquilo se tornassem minha realidade e o mundo exterior e a civilização se tornassem uma memória distante.

Consigo imaginar um cenário assim, ainda mais porque pelo que sei você chegou ao set já no primeiro dia de filmagem, sem um tempo de preparação junto à equipe.

NR: Sim, mas eu e o Valdermar já estávamos conversando sobre o papel há um ano, então nós estávamos muito sincronizados. Mas eu de fato acabei vindo direto de outra filmagem, meu corpo ainda estava em Nova Orleans e eu já estava trabalhando no nascimento de bebês ovelhas na Islândia. [risos]

Sobre trabalhar com a Ada, além de toda a engenharia envolvida em trabalhar com cordeiros, crianças e fantoches, como vocês conseguiram trazer a personagem à vida no set e tornar sua existência coerente com todo o tom artístico e silencioso do filme?

VJ: A gente trabalhou com pessoas incríveis como o Fredrik Nord e o Peter Hjorth, e acho que foi muito legal como trabalhamos com todos esses elementos, como as crianças, os cordeiros e os fantoches, e de alguma forma tudo isso combinou de uma forma muito bonita. A gente também sentiu que ajudou filmar dentro de uma fazenda, então de alguma forma tudo soou muito real.

NR: Eu estava atuando com cordeiros e bebês e de vez em quando um fantoche mas, principalmente, havia uma criatura comigo sempre, então Ada estava praticamente viva naquele set. Não foi como se ela fosse um personagem que depois foi feito em CGI, com tela verde e essas coisas, mas como se ela estivesse mesmo comigo naquelas cenas. E eu acho que nós tivemos que nos adaptar a essa forma diferente de trabalho e ser mais pacientes, permitindo que crianças e animais fossem eles mesmos e meio que seguir com eles, ao invés de tentar forçá-los a fazer o que queríamos que fizessem.

Valdimar, você já disse antes que tinha planos de ir além no crescimento de Ada. O que o impediu de dar cabo disso e o que estava sendo considerado, especificamente?

NR: [vira para Valdimar Jóhannsson] Para a escola? [risos]

VJ: A gente tinha mais cenas da Ada e a certa altura ela começava a falar, mas de alguma forma nós vimos que não era necessário. Valia mais reduzir e ficar concentrado no que vinha antes, até porque ela já estava fazendo coisas muito diferentes.

NR: [o filme] Viraria outra coisa, como Babe o porquinho, Paddington, Ted ou todos esses personagens que tem uma criatura que fala e interage de volta, e isso meio que tira a gente do momento. Com a Ada, nós permitimos que ela fosse qualquer coisa que quiséssemos, digo, ela é algo para você, ela é outra para o Valdemar, ela representa algo para mim… ela mantém quase o mesmo relacionamento que temos com nossos animais de estimação, com um cachorro ou coisa do tipo, nós os entendemos em seus olhos e expressões faciais, mas eles não falam de volta.

VJ: Isso, acho que todos nós sabíamos que era um filme muito arriscado de se fazer, então a linha era muito tênue em cada decisão…

NR: Poderia ter dado muito errado e ser um desastre. [risos]

E isso contribui pro mistério, certo?

VJ: Isso, nós estávamos tratando-a como todos os outros animais, e além disso os atores não estão falando muito.

NR: Mas ainda falando um pouco demais. [risos] Seu próximo filme deveria ter ainda menos diálogo! [risos]

Podemos falar um pouco sobre o personagem do Pétur? Achei interessante como ele afeta a dinâmica do casal na história e fiquei surpreso em como é revelado seu passado com a Mária. Como isso foi parar no roteiro e como essa relação foi trabalhada no set?

VJ: De certa forma, é uma história muito clássica, sabe, de alguém que chega e…

NR: E dois irmãos e uma mulher, sabe, um triângulo amoroso.

VJ: Mas ele também é necessário para responder todas essas questões no ar.

NR: Ele é o mundo, o que vem de fora, de certa forma ele é também o público. E ele ainda representa essa ameaça direta à felicidade e uma nova possibilidade para este casal, porque ele é um lembrete do passado. Isso significa que ele é um reflexo de uma velha dor, ele sabe o que aconteceu e carrega essa velha verdade. Então ele fica com o passado dentro dessa nova felicidade. E o passado é a conexão que ele tem com Mária, mas ele também representa parte da vida antiga do qual eles tentaram se afastar. É um personagem muito complexo.

VJ: Fora isso, ele também é necessário para que a gente tenha uma espécie de alívio cômico, até porque o primeiro capítulo é um pouco pesado.

NR: Eu acho que sou muito engraçada no filme. [risos]

Falando em alívio cômico, eu fiquei fascinado com o clipe musical que o Pétur estrela. Quais foram as referências para fazer aquele vídeo?

NR: Bom, Valdimar sempre quis ser um diretor de clipes, então isso foi meio que sua forma de mostrar que ele consegue dirigir um. [risos]

VJ: É, eu esperava receber um monte de ofertas com isso…

NR: [vira para Valdimar Jóhannsson] Qual seria o cenário ideal, digo, qual seria a banda ideal que você gostaria de receber uma proposta pra fazer o clipe musical dos sonhos?

VJ: Provavelmente o Rammstein? [risos] Você sabe, eu venho tentando dirigir um clipe há dez anos, mas…

NR: Mas agora você vai receber a ligação. [risos] Então o clipe em “Lamb” está lá apenas para mostrar ao mundo que ele na verdade é um ótimo diretor de clipes.

VJ: É, eu só escrevi aquela cena para que pudesse fazer isso. [risos]

Acho que essa é minha última pergunta, mas eu estava curioso pra saber de vocês sobre como anda sendo a recepção do filme. Ainda que muito da discussão tenha se centrado no debate de gênero e sobre se o filme é ou não horror, eu fico fascinado em como “Lamb” foi tão abraçado pelas redes sociais, mesmo em memes envolvendo a Ada. Vocês esperavam algo assim durante a produção?

NR: Não mesmo. E tem sido tão incrível…

VJ: É, é como um sonho. Tem sido espetacular.

NR: Mas ainda assim, é muito encantador. Ele estava mais nervoso pelo que ia achar sua família, que é inteira composta de criadores de ovelhas, do que a recepção do mundo. [risos] Digo, isso é um grande e fantástico extra, mas no fim do dia são as pessoas ao nosso redor que importam. Quando meu filho me disse que amou o filme, isso sim foi um momento importante para mim.

VJ: Mas claro, nós esperávamos que chegasse longe, tipo que fosse para grandes festivais e tudo. Mas é o que eu disse antes, era muito arriscado para mim.

NR: Tipo dançar em um dos clipes de música do Valdimar.

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