Cannes Lions dá palco pra maluco e Elon Musk tenta reconquistar anunciantes após mandá-los “se f****”

Cannes, França — A presença de Elon Musk em Cannes Lions deveria levantar muitas questões na cabeça dos publicitários e criativos presentes. Não julgo quem quis assistir ao vivo e fez fila pra isso, afinal, a editoria “Elon Musk diz que…” é uma das mais exploradas da realidade. Talvez seja pedir muito que a maioria dos presentes questione a relação entre inovação tecnológica, responsabilidade social e a visão belicosa de Musk quando defende o que chama de “liberdade de expressão” dentro do ambiente tóxico do antigo Twitter. Porém, que pelo menos tenham respeito próprio e cuidem da segurança das marcas que trabalham.

A participação de Elon Musk no festival buscava justamente reverter um êxodo de anunciantes, após tê-los mandado “se f***” no ano passado, durante a conferência DealBook. Na ocasião, Musk criticou abertamente o CEO da Disney, Bob Iger, por retirar anúncios da plataforma, acusando marcas que cessaram a publicidade no X de “chantagem”.

↳ Mudança de tom: Durante a conversa no palco de Cannes com Mark Read, CEO da WPP, Musk adotou uma abordagem mais conciliadora, “não foi isso o que eu quis dizer”, destacando a importância dos usuários influentes da sua plataforma e suas capacidades de segmentação de anúncios.

↳ Esclarecimento: Musk afirmou que seu comentário anterior não se dirigia a TODOS os anunciantes, mas àqueles que insistem no que ele avalia como censura. O bilionário enfatizou a importância do X como uma plataforma de liberdade de expressão onde diversas opiniões podem ser compartilhadas (inclusive pornografia).

↳ Segurança da marca: Musk reconheceu a necessidade de segurança para as marcas e mencionou que todos os avaliadores externos deram ao X uma nota máxima nesse quesito. Ele também falou sobre o uso de IA para melhorar a segmentação de anúncios, afirmando que, anteriormente, o Twitter quase não tinha essa capacidade.

↳ Ladeira abaixo: A receita publicitária do X despencou cerca de 50% em 2023, e seu valor de mercado caiu aproximadamente 70% desde que Musk o comprou, segundo a Fidelity.

↳ Na prática a teoria é outra: Musk tenta passar pano pra si próprio e pra sua plataforma, mas a realidade é que a proposta do X tem sido cada vez difícil de vender para marcas sérias. Tanto pela toxicidade do lugar, como pela imagem pública do dono. Um relatório de 2020 da Internet Watch Foundation encontrou uma alta quantidade de exploração infantil na plataforma. Musk, porém, certamente acredita que retirar esses conteúdo do ar significa algum tipo de “censura” e “ataque a liberdade de expressão”. Pois bem, que fique com o dinheiro de anúncios do jogo do tigrinho e outras iniciativas tão críveis quanto.