Deixando Cannes pra trás e olhando pra frente
Criadores, propósito e inclusão podem ser o futuro do festival

Com quase 70 anos de história, o Festival de Cannes enfrenta o mesmo desafio da nossa indústria: sobreviver e prosperar nas próximas sete décadas, com propósito e de forma sustentável. Essa deveria ser a reflexão central para a organização do evento.
Muito se fala sobre Cannes como um momento para a indústria debater temas relevantes, se conectar e celebrar a criatividade através dos Leões. Mas é exatamente nesse ponto que minhas reflexões se aprofundam.
Sempre encarei a premiação como um reconhecimento à criatividade em sua essência, e não restrita a uma área específica. Celebrei Leões sabendo que, como profissional de mídia, fui parte fundamental nessas conquistas. Assim como David Droga, sempre acreditei que a criatividade poderia vir de qualquer lugar. Hoje, trabalhando com criadores de conteúdo, essa verdade se torna ainda mais evidente.
Encarando o festival como um veterano de quase 70 anos, sim, ele tem feito avanços. Mas será que na velocidade certa? Poucos criadores tiveram espaço no disputadíssimo Lumière, mas eles merecem muito mais que isso! Merecem o Lumière, o Debussy, o Emmy e todos os grandes palcos.
Eles construíram comunidades potentes, audiências relevantes e novas linguagens. Revolucionaram a forma como as marcas se comunicam. Hoje, mais do que eles dependerem de Leões, é Cannes que depende deles. Os criadores de conteúdo têm a capacidade única de rejuvenescer seu público com autenticidade, propósito e uma linguagem que ressoa. Cannes precisa dessa energia.
Se Cannes ainda busca seu lugar com os criadores, a representatividade feminina nos grandes palcos é outro desafio. Confesso que, embora tenha visto muitas mulheres potentes em round tables, a presença no Lumière me pareceu mais discreta. Fora dos holofotes, me animou testemunhar tantas em postos de liderança, preenchendo mesas inteiras em almoços e jantares.
Cannes ainda deve promover uma reflexão importante sobre valores e legitimidade. Em épocas de projetos criados apenas para o Festival, precisamos, no mínimo, tratá-los então como inspiração para impactar a vida de muitos, mesmo que seja só após o Leão ser conquistado.
Que o festival inspire uma nova era onde a inovação genuina transforma o mundo. Para isso, é crucial que o propósito e o pensamento disruptivo vençam o convencional, garantindo que Cannes não só tenha vida longa, mas construa um legado verdadeiramente relevante.

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