Guillermo del Toro capricha na estética, mas cria terror pouco inspirado em “A Colina Escarlate” • B9
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Guillermo del Toro capricha na estética, mas cria terror pouco inspirado em “A Colina Escarlate”

Por trás da impecabilidade visual, há um filme que luta para se encontrar entre o melodrama, o terror e o romance gótico (como o próprio diretor define)

por Virgílio Souza

⚠ AVISO: Pode conter spoilers

Segundo Guillermo del Toro, o roteiro pode até ser a base da história, mas a narrativa (“50% dela”) se sustenta em elementos audiovisuais. É difícil discordar dessa premissa, sobretudo quando seu currículo traz obras tão detalhadas em termos de som e imagem — “Cronos”, “A Espinha do Diabo” e “O Labirinto do Fauno”, seus filmes mais celebrados, parecem mesmo confirmar a ideia. Por sua vez, “A Colina Escarlate”, seu mais recente trabalho na direção, levanta uma questão importante: a atenção quase exclusiva à estilização pode prejudicar o conjunto e o próprio ato de contar histórias? A discussão, que não é definitiva, passa por uma série de fatores.

Nos últimos anos, a proposta do diretor parece ser a de explorar territórios já conhecidos dando a eles sua assinatura e uma nova roupagem. São os casos de “Hellboy II: O Exército Dourado”, continuação de sua bem-sucedida adaptação, e de “Círculo de Fogo”, um projeto original em tese, mas que abordava aspectos tão tradicionais e derivativos quanto os kaiju em tela. Neles, como agora, incomoda perceber que poucas das qualidades de del Toro se manifestam além do visual extraordinário, como se alcançassem os tais 50%, mas não fossem adiante. A sensação é de que a harmonia entre roteiros bem construídos e produções exuberantes era o que diferenciava o autor de um mero exibicionista.

Guillermo del Toro no set com Jessica Chastain

Guillermo del Toro no set com Jessica Chastain

Colina

“A Colina Escarlate” segue essa mesma lógica. Tudo gira ao redor de Allerdale Hall, a mansão inglesa em que vivem os irmãos Thomas e Lucille Sharpe (Tom Hiddleston e Jessica Chastain, respectivamente), em seguida acompanhados pela esposa do rapaz, a jovem escritora de fantasia Edith (Mia Wasikowska), vinda da América e feita órfã recentemente. Plantada sobre uma mina de argila vermelha, a casa é habitada por fantasmas do passado de seus donos.

Del Toro se mostra inspirado quando apresenta a geografia local, marcada por contrastes muito fortes (branco x vermelho, luz x sombra) e por uma série de imagens impressionantes, fruto de sua imaginação e de seu vasto arsenal de referências (os insetos que se prendem às paredes são um exemplo). Contudo, a exploração dos espaços se restringe a um punhado de cenas em que a câmera viaja com mais liberdade, e o potencial de imersão dos cenários acaba desperdiçado.

O olhar de encantamento frente ao sobrenatural também fraqueja. A figura da garota, que convive com o contato da mãe já falecida e escreve histórias com fantasmas, não sobre eles, é fundamental sob esse aspecto — ela seria uma espécie de representação do autor, intrigado por aquelas criaturas mesmo nos momentos de pavor. A condição de vítimas das almas que vagam pelo casarão, ou ao menos sua ausência de maldade intencional, seria interessante para um filme que busca demonizar justamente seus personagens humanos.

Colina

Incomoda perceber que poucas das qualidades de del Toro se manifestam além do visual extraordinário

A relação estabelecida entre o mundo dos vivos e o além, no entanto, se baseia nos manuais mais básicos do gênero, distantes dessa forma de encarar o desconhecido e da própria inventividade do cineasta. O filme não resiste à tentação de investir em truques fáceis ao apresentar suas criaturas: a instabilidade do solo faz a casa tremer e a madeira produzir rangidos constantes, como se agonizasse para suportar aquele peso, e as aparições nos corredores são sempre acompanhadas pela intensa trilha sonora de Fernando Velázquez, que desconhece qualquer sutileza na preparação dos sustos.

Colina

A estrutura causa ainda mais problemas ao tom fabulesco. Escrito por del Toro ao lado de Matthew Robins (seu colaborador em “Mutação”), o roteiro se prende a padrões pouco instigantes, como a repetição de três planos praticamente idênticos em que vemos Edith acordar em momentos diferentes — sendo surpreendida por uma dor no estômago, um pesadelo e barulhos misteriosos fora do quarto. Esses pequenos ciclos (estranheza/investigação/susto) são exaustivos e aos poucos tornam as criaturas meros recursos para mover a trama, sem que suas manifestações causem alguma impressão real para além da criação de uma atmosfera tensa.

Embora prejudique seu caráter fantástico, a falta de impacto dos fantasmas em cena ao menos serve para focar a atenção do filme em sua verdadeira vilã, de quem a jovem é apenas mais uma vítima. Diferente da apatia de Wasikowska e da indecisão de Hiddleston, a performance de Chastain possui contornos mais firmes. Ela oscila entre o cinismo e o humor durante boa parte da projeção, mas se entrega à loucura quando o filme se decide pelo horror puro e simples, com direito a panelas quentes sendo agitadas no ar e alguns banhos de sangue. É como se Lucille se transformasse em uma versão mais agressiva das entidades que rondam a casa, explicitando sua oposição a Edith, notada desde o início por elementos como os figurinos das personagens.

Colina

“A Colina Escarlate” é preenchido por sustos e cores vibrantes, que não deixam margem para simbolismos. No fim, anulam qualquer imprevisibilidade

A explosão final é interessante, ainda, por recuperar e ampliar um dos temas de todo o filme: o vínculo com o passado. A garota tenta fugir de traumas, se deslocando literalmente para que isso aconteça, ao passo que seu marido e a cunhada parecem presos aos fantasmas da família, o que também finca suas raízes naquela terra maldita. A própria descoberta do plano vilanesco se dá por meio desse resgate histórico, por exemplo, quando a cunhada diz “Tratei da mamãe nessa mesma cama” ou quando a protagonista encontra um gramofone e fotos antigas e revisita as memórias da mansão e do marido.

Questões como essa, porém, acabam sufocadas por um filme que preza pela impecabilidade visual, mas que luta para se encontrar entre o melodrama, o terror e o romance gótico (como del Toro o define). Por confiar tanto no poder das aparências e da catarse da meia hora final, “A Colina Escarlate” é preenchido por sustos e cores muito vibrantes e definitivos, que não deixam margem para dúvidas e simbolismos e, no fim, anulam qualquer imprevisibilidade.

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