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“007 Contra Spectre” bebe nas fontes certas, mas se perde no processo

Sam Mendes conecta a trama com eficiência aos três filmes anteriores, porém, abandona questões importantes a favor de uma genérica ação central

por Virgílio Souza

⚠ AVISO: Pode conter spoilers (principalmente dos três filmes anteriores)

“Cassino Royale”, na condição de conto de origem, trabalhava o mito de fundação de 007, trazendo ao pacote um sério problema de segurança. Haveria alguém em quem Bond pudesse confiar? Tendo se perdido um pouco em “Quantum of Solace”, um filme prejudicado especialmente pela mania de seu diretor, Marc Forster, de fatiar as cenas de ação, a possibilidade de novas traições se tornaria componente fundamental da franquia, ganhando o centro das atenções em “Skyfall”. Agora, em “007 Contra Spectre”, a ideia é oficializada graças à estrutura por trás do principal vilão, arquitetada para eliminar o protagonista, e a uma reformulação no serviço de inteligência britânico, que limita a proteção institucional ao agente.

Quarto filme da série estrelado por Daniel Craig e segundo consecutivo dirigido por Sam Mendes, “Spectre” faz uma opção interessante ao se prender de maneira definitiva à quadrilogia recente, valendo-se não apenas de referências diretas aos três longas imediatamente anteriores, como também estruturando toda sua trama em torno dos episódios passados. As diferenças e semelhanças entre o James Bond dos últimos dez anos e suas demais versões são claras, capazes de produzir argumentos favoráveis e contrários em medidas semelhantes. Por essa razão, a criação de um vínculo tão estreito com “Cassino Royale”, “Quantum of Solace” e “Skyfall” é, paradoxalmente, uma manobra corajosa e segura, em alguma medida dependente (ou beneficiada) pela aceitação prévia do espectador.

Sam Mendes no set de “Spectre”

Sam Mendes no set de “Spectre”

Spectre

Nesse universo remodelado para atender mais à força física e ao estilo de seu protagonista do que a um desfile de gadgets e vilões excêntricos, 007 é levado a encarar de frente alguns dos maiores fantasmas de seu passado. As mortes de Vesper (Eva Green) e M (Judi Dench) — respectivamente, no primeiro e no penúltimo filmes da nova série — são resgatadas pelo antagonista deste episódio, Oberhauser (Christoph Waltz), líder da organização a que pertenciam os vilões já derrotados pelo agente, como Le Chiffre (Mads Mikkelsen), Dominic Greene (Mathieu Amalric) e Raoul Silva (Javier Bardem).

Surge, nesta ligação, um embate interessante entre o impacto do que já aconteceu e a urgência do que está acontecendo. A maneira como o plano de dominação mundial é apresentado a Bond parece apressada, mas seus reflexos são positivos: ele precisa assimilar a ideia de que é o principal alvo dos criminosos, carregando o fardo pelas mortes de suas principais companheiras, enquanto reage às demandas da missão, em si. O problema é que a teoria da conspiração não ganha maior profundidade e, assim, soa como apenas mais uma reviravolta em que o inimigo possuiu planos megalomaníacos e os amigos não são tão fáceis de identificar — o que não é novidade para a franquia.

O imediatismo dos acontecimentos e o constante movimento, em parte próprios da Era Craig, também fazem com que alguns eventos e figuras sejam tratados somente de passagem: são os casos de Lucia (Monica Bellucci), uma participação brevíssima e pouco significativa, e do capanga Hinx (Dave Bautista), um forte contraponto ao agente, que acaba eliminado cedo demais. O mesmo pode ser dito da história de origem de Oberhauser, marcada por uma relação com Bond que é pouco explorada para além de meia dúzia de falas — é como se o filme dependesse imensamente de seu vilão, mas resistisse em dar maior espaço a ele.

Spectre

Dentre as novidades positivas, além de um 007 mais bem humorado, há espaço para aspectos temáticos e de narrativa

No que diz respeito à ação, “Spectre” surpreende pela longa sequência de abertura, capaz de impressionar pela escala e intensidade e de sinalizar os riscos (de vida e de exposição) que Bond está disposto a correr, mas peca por ser, no geral, menos inventivo que seus antecessores. Ao buscar se sustentar nos elos com a trilogia anterior, algumas de suas imagens trazem à memória segmentos semelhantes, mas trabalhados com maior frescor por Martin Campbell, pelo próprio Mendes e até por Forster.

Exemplos não faltam: a sequência no trem, quando o protagonista se aproxima de Madeleine Swann (Léa Seydoux), remete ao trecho em que ele conhece Vesper, três filmes antes e com muito mais substância; a curta perseguição de carro, por sua vez, é similar a instantes marcantes como o quase atropelamento de “Cassino Royale” e o início de “Quantum of Solace”, sendo muito mais valiosa nos anteriores; e a tortura é tão central aqui quanto no primeiro capítulo da nova série e em “Skyfall”, mas falha por não conseguir se estabelecer como um momento definitivo para a trama, compatível com sua força visual.

Não se afirma, porém, que tais momentos sejam absolutamente desastrosos, apenas que esmaecem, perdem um pouco de cor nesse contexto em que revisitar o passado é um exercício tão constante. Por outro lado, também não significa dizer que tudo se sustente em muletas dos longas anteriores. Dentre as novidades positivas, além de um 007 mais bem humorado, há espaço para aspectos temáticos e de narrativa.

Spectre

Sam Mendes, antes visto como uma escolha improvável para a franquia, se consolida como uma opção segura para comandar seus elementos mais básicos

Mendes, antes visto como uma escolha improvável para a franquia (ao menos em comparação com Campbell e Forster, donos de currículos que se aproximam mais da série), se consolida como uma opção segura para comandar seus elementos mais básicos. Além disso, fatores tradicionalmente ligados a sua filmografia passam a postos de destaque: relações familiares, por exemplo, possuem contornos mais fortes no último par de longas, quando a orfandade de Bond, seus vínculos com M e Vesper e a sombra de seu passado ganham destaque. Elogio semelhante pode ser feito à relevância dada aos coadjuvantes, em especial Moneypenny (Naomie Harris), Q (Ben Whishaw) e o novo M (Ralph Fiennes), que funcionam como engrenagens úteis de uma máquina pouco confiável e bastante vulnerável a ações externas.

Nesse sentido, vale notar também a forma como o cineasta trabalha a ideia de vigilância constante, que produz um câmbio importante entre o agente quase onisciente e o agente sob vigilância. A nova configuração do MI6, uma espécie de monitoramento global de segurança com intenções obscuras, ganha a tela por meio de dinâmicas criativas: frequentemente, as vozes dos personagens são ouvidas antes mesmo que seus rostos sejam revelados (como na introdução a Oberhauser), e a atmosfera de paranoia e inquietação já articulada em outros três filmes é o que move a trama adiante. É uma pena, contudo, que tais questões não se estabeleçam de modo contundente, permanecendo sempre à margem da ação central, bastante genérica. A impressão que resta é que “Spectre” até bebe nas fontes certas, mas se perde no processo, indeciso sobre quais referências pretende explorar e quais prefere manter apenas como menções pontuais.

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