Transcrição: Mamilos 73 - Atentado em Orlando e Amor romântico • B9

Transcrição: Mamilos 73 – Atentado em Orlando e Amor romântico

Jornalismo de peito aberto

por Mamilos
Capa - Transcrição: Mamilos 73 – Atentado em Orlando e Amor romântico

Essa transcrição é resultado do trabalho colaborativo de Samuel Freire, Ana Christinna, Alan Bastos, Ana Tirico, Marilia Gil, Aline Bergamo, Georgia Costa, Jéssica Marques e Fernanda Cappellesso. Um time que só fica mais lindo com o tempo.

Se você utiliza essa transcrição e ainda tem qualquer dificuldade de acessibilidade, por favor, entre em contato conosco no [email protected].

Se quiser fazer parte dessa equipe mande um e-mail com o título “transcrição” para o mesmo endereço ;)

Vem fazer o Mamilos <3

================================================

Cris: Mamileiros e mamiletes, como diz Frei Beto “vamos guardar nosso pessimismo para dias melhores” bora então encontrar caminhos para melhorarmos enquanto grupo. Eu sou a Cris Bartis e essa é a loira linda da voz de veludo é a:

Ju: Anasalada no caso. Ju Wallauer.

[risos]

Cris: Vamo começar. Vamo lá!

Ju: Gente, o som do Mamilos. Caio você tem toda a razão. Você tá com o cabelo da cor do logo do Mamilos. Que homenagem mais linda. Esse é o nosso editor preferido né?

Cris: Amado. Amado.

Ju: O melhor editor do mundo né? Não tem editor melhor. Não tem voz mais gostosa. Conta pra gente seu lindo o que tem no Som do Mamilos dessa semana.

Caio: Olá personas. Corraine aqui novamente pra trazer pra vocês os responsáveis por dar mais cor ao Mamilos dessa semana. Lembrando sempre que se você quiser colaborar com o conteúdo musical desse programa pode nos recomendar bandas ou artistas independentes no email: [email protected].
[email protected].

E facilita e muito a minha vida, e vocês já sabem disso, já estão carecas de saber, se vocês enviarem os links do site oficial do artista ou então onde nós podemos buscar o download direto das músicas dele pra utilizar no episódio. Nessa edição vamos ouvir o Rubel.

O Rubel, além da qualidade da música, ele me ganhou na premissa. Então eu recomendo muito que vocês entrem no site dele, que está aqui no post. É só descer a página, vai tar lá embaixo porque vale a pena. Então fiquem com Rubel no som do Mamilos.

[Sobre trilha]

[Desce trilha]

Cris: Um beijo para o Lucas Gabriel, que esses dias foi lá tietar o Oga num café e eu já sei que mora perto da minha casa. A gente vai acabar se esbarrando por ai viu Lucas? Beijo.

Ju: Beijo para Castanhal no Pará.

Cris: A gente recebeu muitos e-mails de mulheres que ouviram o podcast sobre Cultura de Estupro que agradeceram aliviadas, que tem ali um monte de dúvida que foi tirada, que tá com o peito mais leve, que tá entendendo um pouco mais da vida. Então obrigada por dividir tantas histórias conosco, por confiar tanta intimidade e tamo Junta!

Ju: Um beijo pro fofo do Diego Semede, que deu um trabalho do curso de Filosofia de Jundiaí pedindo pos alunos pra fazerem uma análise de qualquer programa nosso. A gente ama professor mamileiro. Bem-vindos, novos Mamileiros de Jundiaí!

Cris: Esse email é lindo. Trocentos emails, pautas e ele contando dum jeito tão carinhoso… Morri de orgulho.

Ju: E fale com o mamilos. Quer expandir a conversa? Nao concorda com o que a gente disee e quer mostrar um contraponto? Quer desabafar? Quer só mandar amor? Pode amor gente, não precisa pedir desculpa

Cris: Muito

Ju: Ai, eu sei que vocês escutam muito…

Cris: Pode chorar, pode amar.

Ju: Pode elogiar tá? Vocês não tem vergonha nenhuma de criticar, não tem que ter vergonha de elogiar. Pode também. Motivo é o que não falta. Fala com o Mamilos no Facebook, no Twitter, na página do B9 ou no email. Atenção para o email, vocês sempre nos perguntam e a gente em todo programa fala: [email protected]. Escreve pra gente.

Cris: Repita por favor.

Ju: [email protected]

Cris: Merchan.
Vamo lá! Eu, Cris Bartis, quero agradecer muito, muito, muito o convite feito pelo Instituto Baobá, do Fundo pela Equidade Racial. Eles, juntos com a Coca Cola fizeram um edital pra selecionar projetos voltados pra promoção de cultura negra, feitos por pessoas negras,e eu tive a mega felicidade de ser convidada pra ajudar a julgar os trabalhos. Foram 900 trabalhos inscritos, e a Cris Lopes, que é uma querida amiga, ela filtrou 24 que foram analisados por uma bancada e 10 foram selecionados para premiação. Foi um drama, foi super difícil escolher, mas a bancada era linda, arregaçou as mangas, foi lá, estudou e a gente conseguiu elencar esses projetos. Em breve todos vão ficar sabendo quem venceu. Vai tar lá no site do instituto.

Eu queria mandar um beijo muito especial pro Pedro que é ouvinte do Mamilos e trabalha lá na CocaCola, que é parceia do Baoba nesse edital. Pedro o trabalho que você tá promovendo aí é muito legal. Parabéns. Bola pra Frente!

Cris: Gente vocês conhecem os 365 nus? Se você não conhece, vai conhecer agora.
É um projeto do Fernando Schlaepfer. O nome dele é difícil de falar mas é algo como Schlaepfer. Desculpa Fernando. O projeto dele durou um ano. Durante um ano todos os dias ele postou uma foto de uma pessoa nua. Tem homem, tem mulher, tem tudo quanto é locação maravilhosa.E não é qualquer foto não, tá demais! As fotos são muito lindas, as pessoas taõ super afim de fazer aquele trabalho. Empoderadas, mandando ver com a câmera ali. É muito Legal. E aí o Fernando, o que ele quer fazer agora? Tornar esse projeto um livro, um livro que vai ser muito lindo. Então conheçam essa campanha do crowdfunding que ele abriu pra concretizar esse projeto. Eu acho que vale muito a pena ir lá e dar uma força por que é legal demais é https://www.catarse.me/365nus e a gente vai colocar na pauta.

Ju: Gente e a transcrição do Mamilos que a gente não falou mais aqui, não divulgou pra vocês mas tá rolando super. Tem transcrição dos últimos episódios. Tem algumas que tão atrasadas então se você quer botar a mão na massa por favor ajude. É só mandar email para o [email protected], coloca no campo do assunto “Transcrição” e principalmente um convite para quem nos escuta: tem alguns temas, como por exemplo, o programa de cultura do estupro, que tem um conteúdo super denso, a aí as vezes você queria pensar mais sobre o assunto ou escutar de novo, e não vai ouvir uma hora e meia de programa de novo, você pode ler. E assim, é outro jeito de você absorver melhor o conteúdo por que as vezes escutando, você queria anotar um pedaço, você queria compartilhar uma parte, e assim, tá lá todo o conteúdo em texto é mais fácil de você copiar um trecho, colocar no seu Facebook, enfim, é um outro jeito de consumir o programa. Aproveitem que isso tá disponível, eu acho super rico, eu acho uma ideia ótima de não só tornar o programa acessível, mas de disponibilizar em outra midia pra vocês. Então façam bom uso disso e além disso se vocês quiserem participem, ajudem a transcrever. Cada pessoa que se voluntaria transcreve só 10 minutos, tem uma ferramenta no Google Docs que ajuda a transcrever, então assim, é bem facilzinho, e você colabora pro programa ficar mais legal e atingir mais gente.

Cris: Vamos então para o Fala que discuto.
A Jo Moraes disse noTwitter:
“Acabo de ser apresentada a Mohammed Ali pelo @Mamilospod … OBRIGADA MENINAS e Oga. CARA ERA FODA!”

Ju: A Lely disse:
”Que alegria ouvir Engenheiros no final do @Mamilospod! Sou fã demais! Tamo junto @jwallauer! *High-Five* #HumbertoGessingerPoeta”

Ju: É isso, e eu acho é pouco.

Cris: Olha, eu discordo mas tudo bem

[risos]

Cris:A Carolina Da Silva Herrera (Noh que nome bonito) disse no Facebook:
“Sobre o controle do trabalho escravo: um dos pontos principais é o controle do poder público. Sou servidora pública com muito orgulho. É pra isso que o governo deveria servir : fiscalizar e informar os consumidores que querem mudar pra o consumo consciente. Ah e também políticas públicas pra incentivar inovação tecnológica, pra educar uma nova geração.”

Ju: Cleidiane Rosendo disse:
“O Oga é amor.

Ju: A gente concorda, a gente concorda tudo

Cris: Sabemos, Sabemos.

“Achei super pertinente o comentário dele sobre como é complicado para quem mora nas quebradas abrir mão do consumismo. como diria o Chris no episódio sobre o dia da Terra “não adianta salvarmos a terra se não salvarmos as pessoas”. as pessoas usam algumas marcas como forma de diferenciação social, muitas vezes, comprometem a renda para “ostentar”. Mas alguns produtos se tornam “de pobres” devido a intensa procura por pessoas dessa classe e acabam estigmatizados e evitados por pessoas da classe média, como o iphone e a nike. Fiquei aborrecida com alguns convidados/ouvintes liberais, mas eu voltei. o bom filho a casa retorna ne? não me oponho de vcs chamarem o Oga para falarem do Malcom X e da Nina Simone. Abraços pra Ju e pra Cris.

Cris: Daqui a pouco a gente tem um Spin-off do Mamilos.

Cris: Vamo lá, nos emails a gente teve a Pernetinha, sempre aqui super coerente:
“Já está se tornando habitual: em dado momento do podcast um ponto, uma opinião, uma solução é levantada – da qual eu discordo veemente mas, antes que eu inicie um debate “em mão única”, surge a Juliana e expõe exatamente meu contraponto.

Ju: Esse é meu job tá Pernetinha?

[risos]

Cris: Vocês não sabem o que a gente combina aqui atrás.

Cris:Neste episódio isto se deu em 2 momentos, quando ela bem lembrou que “pagar caro” não é garantia de que aquele item veio limpo, livre de trabalho escravo, exploração, dano ambiental, etc. E quando contestou a idéia de que o consumidor final seja o responsável pela fiscalização. Claro que nossa maturidade como sociedade é primordial para mudanças – a exigência parte de nós. Não aceitar como normal a exploração de outros parte de nós. Mas é impossível praticar o consumo consciente sem a presença de leis trabalhistas, proteção ao meio ambiente, normas técnicas, etc – e a fiscalização apropriada por entidades independentes.

Bloco 2 (Minuto 10 ao 20)

Ju: Daniel Santana. Olá, meninas, com licença. Meu avô tem um sítio em uma cidade bem pequena do interior de São Paulo. Lá ele costuma produzir, quase por completo, o complemento da alimentação ele e da minha avó. Salada, leite, mistura… Mistura é um termo bem paulista, né? E ele se nega a consumir alimentos que ele olha e julga como, nas palavras dele, industrializados demais. Pois bem, meu avô é um cara já na casa dos 70, assim como minha avó, e ambos não foram atingidos por esse boom digital das últimas décadas. Quando falaram de uma cadeia de produção alimentícia mais independente, intermediada por veículos digitais com toda aquela mensagem bonita de produção direta por consumidor, pensei nos meus avós. Como fica isso pra quem não tem acesso à internet? Ou então pra quem é mais cabeça dura, mas não quer consumir o que meu avô chama de alimentos industrializados demais? Os meios devem se adaptar ao povo ou o povo deve se adaptar aos meios? Sei que parece óbvio à primeira vista mas não considero que seja. Essa discussão é mais longa.

Cris: Bora então pro Trending Topics.

[Música – “Eu tenho o verde do mar, que ter o branco do concreto, tem o céu…”]

Cris: A gente começa agora apresentando as pessoas lindas que vieram abrilhantar este programa. Duas pessoas que… A gente já conhece de outros carnavais, ou outros canais, e ‘veio’ aqui conversar com a gente. Vamos começar pelo Samir. Samir, querido, quem é você, Samir?

Samir: Oi genteeeee! (Risos da Ju) Está começando mais um podcast (bagunça) Um Milkshake Chamado Wanda! (Todos comemoram). Sou o Samir do podcast Um Milkshake Chamado Wanda que já… Daqui a pouco ‘é’ Um Mamilos Chamado Wanda, né? Vários crossovers e pela primeira vez estamos vindo aqui no podcast as meninas, elas já foram lá no nosso, agora…
Ju: Samir está nos prestigiando…

Cris: Com toda essa morenice…

Samir: Isso, morenice… Com esse calor “Orlandês”. Bem “Orlandês”, é “Orlandês”.

Cris: Jéssica, querida. Se apresente, por favor.

Jessica: Eu sou Jéssica do Canal Das Bee, um canal de humor e ativismo LGBT do Youtube. É ‘nóis’.

Ju: Que vocês precisam conhecer. Se não conhecem ainda, vai lá!

Jessica: Vai lá! Se ‘inscreve’, curta, compartilhe.

[Risos]

Cris: Quem ama curte!

Ju: E ‘vamo’ lá. Vamos para o Giro de Notícias então. Primeira notícia triste, tristíssima, e que vocês deveriam saber que seria pauta obrigatória pra gente, com frio recorde em São Paulo, moradores de rua tem colchões e papelões retirados pela Guarda Civil Metropolitana. Que aconteceu? Depois do dia mais frio registrado na capital paulista em 22 anos, com 3 graus e meio de temperatura mínima, moradores de rua reclamaram de ter colchões e papelões usados como proteção levados por agentes da Guarda Civil Metropolitana. A GCM admitiu a retirada de itens, mas afirmou que deixa objetos pessoais e a ação é pra evitar que a população de rua privatize espaços públicos, como calçadas. Isso num contexto em que cinco pessoas já morreram literalmente de frio na capital.

Cris: Juliana, então hoje não tem Beijo Haddad, né?

Ju: Não. Inclusive quando eu ouvi essa notícia, o que que… A primeira coisa que me passou pela cabeça. Primeiro eu retuíei o vídeo e falei: “explica Fernandão, aí não pode, né, prefeito gato! Não combina!” Mas crente, no meu coraçãozinho crédulo, que ele ia vir com a voadora, tipo “quem é esse animal que está fazendo isso?”, sabe? Isso é contra todas as regras, todos os regulamentos. Imaginei que ele ia falar assim “Não estão seguindo a cartilha, isso jamais poderia acontecer!” e tal… Até porque, assim, se é pra falar de uma visão de cidade, de cidadania, e de que o espaço público é tomado pelas pessoas, bababá… Haddad, tá aí pra isso, né? Essa é a principal plataforma dele. Como foi… A minha tristeza, o meu coração partido, minha decepção profunda mesmo de ele falar que “Olha, errado tá em pegar o cobertor. Mas a gente de fato… A diretriz é que você tire qualquer coisa que ‘ajude’ eles a ‘ficar’ ali. Um papelão, um colchão, que não pode porque eles não podem ocupar esse espaço mesmo”. Assim, é de uma falta de sensibilidade, né? Uma pessoa que tá numa situação dessas… E nesse cenário que a gente tá… Assim, é imperdoável. Assim, se pra qualquer pessoa estaria ruim… Eu acho que se Geraldão tivesse feito dessas a gente estaria reclamando aqui, mas sendo Haddad, é com muito pesar (Cris: Doeu mais, né?) e muita tristeza…

Cris: E assim, eu entendo que existe um problema. Ninguém está falando que não existe um problema, apesar de não concordar com essa mistura entre público e privado. Mas se existe um problema, ele tem que ser resolvido. Só que acima de qualquer problema, ‘tá’ a vida humana. Então assim, primeiro você preserva a vida e depois você vai ver qualquer problema. Então não tem justificativa, não tem “Beijo, Haddad!” e a gente ‘tá’ bem chateada com essa notícia.

Número dois: por 11 a 9, o conselho de ética aprova parecer pela cassação de Cunha. (Tchan tchan tchan tchan!!!) Presidente afastado é acusado por quebra de decoro parlamentar por manter contas secretas no exterior e ter mentido sobre a existencia delas em CPI da Petrobrás no ano passado. Cabe recurso ainda ao CCJ. A decisão será levada ao plenário que pode aprovar ou não a cassação. Importante é que, assista ao painel da votação, pra você saber quem votou contra a cassação dele, busque saber o porquê alguém votaria contra a cassação dele, mas só pra deixar uma dica no ar, Eduardo Cunha falou que, se cair, vai levar 150 pessoas com ele. Não esqueçam de Tia Eron. Eu nunca uma manobra tão baixa igual deixar de ir na votação. O voto dela era decisivo. Era ela ir e votar. Daí, ela mandou um suplente, a casa vendo a manobra, virou e falou “não, então não vamos fazer”. Então assim, então a casa acaba… Sabe quando um erro começa a justificar outro erro e outro erro e aí nada, ninguém mais tem razão. Então assim, olho nessa votação.

Ju: E o primeiro é um assunto muito sério, muito dramático, né? Envolve, José Serra, porque foi um incidente diplomático (Risos) diplomático de grandes proporções, né? Portugal e Brasil quase cortaram relações diplomáticas depois de uma apropriação de um meme. Você viu isso, Jéssica?

Jessica: Não vi. Não vi. (Risos) O Serra…

Ju: Você perdeu. Não, você perdeu.

Samir: Mas o que ele tem a ver? Ele tava no meio disso?

Ju: Não, ele não ‘tava’.

Cris: Ele é o Ministro das Relações Exteriores.

Samir: Ah, tá. Boa…

Ju: Deveria. Eu acho que se ele tivesse se ocupado disso talvez não estaria nos envergonhando aí. Não é mesmo? O que que aconteceu. Brasileiros descobriram essa semana que uma conta no Twitter estava fazendo sucesso em Portugal com um meme que bombou aqui em 2015. Qual que era o meme? Você lembra na época da copa, isso… Tinha aquele meme: “In Brazil they don’t say ‘I love you’, they say ‘meça suas palavra, parça!’”. Lembra? Essa meme era incrível! (Todos concordam). Então, eles tomaram esse meme lá…

Cris: Era pra explicar a expressão gringa…

Jessica: Caraca!

Ju: …e começaram a fazer uma página, né, que era…

Samir: O Twitter ‘Em Portugal we’, né? ‘Em Portugal we…’ E tinha coisa… (Risos)

Ju: E aí, como se eles tivessem inventado isso. E aí a galera descobriu e começou a aloprar. Mas o que é que foi engraçado? Que ao invés do cara levar na brincadeira, porque, afinal de contas, não tem autoria de meme. Todo mundo faz e beleza. E tudo bem ele estar fazendo também. Mas ele resolveu ficar putinho e dar resposta mal criada. AAAhhhh

Jessica: Piorou… Piorou…

Ju: O que…

[Risos]

Samir: Aí que o HUE HUE BR não perdoou.

[Risos]

Jessica: Não dá. Os cara… ‘Tuitero’ brasileiro zoa até o ISIS, cara… Não vai zoar… ‘Cê’ é louco…

[Risos]

Cris: Tinha, Tinha… A galera começou a zoar muito o cara. A falar, tipo assim: “Agora você vai querer pegar a Inês Brasil e fazer a Inês Cruz da Malta?”

[Risos]

Samir: Miss Terra de Vera Cruz?

[Risos]

Cris: E não… Só coisas maravilhosas, assim. De chorar de rir. Aí mandavam um vídeo da Carreta Furacão e fala: “Vê se aí em Portugal tem isso?”. (risos) Era uma coisa melhor do que a outra. O cara ficou emputecido.

Ju: Não… Aí você fala assim… Não, sério mesmo que você quer fazer um duelo, porque ficou, foi pro TT “Brasil versus Portugal”. E aí era assim, eles respondiam e aí a galera chovia em cima. E assim… O pessoal até começou a ficar com pena. Pensou assim: “Cara, entende comigo qual é a minha realidade. A gente ficou oito horas acompanhando uma votação de impeachment só pra fazer meme.” (Risos) “A gente leva a sério a parada”.

Samir: Brincadeira… Meme, com a gente, é orgulho nacional.

Jessica: A gente acompanha a política pela zueira.

Cris: A gente faz meme melhor que qualquer coisa.

Samir: Meme… Futebol é passado, meme é a propriedade brasileira do momento.

Ju: Até falaram isso… O país que levou que levou 7 a 1 em casa numa copa, como sede da copa. E só usou isso pra zueira… Você não vai ultrapassar isso, sabe…

Jessica: E eu uso tanto… Eu falo: “Nossa, que 7 a 1…” Até hoje… Então assim, é isso, Brasil é isso…

Samir: Cada dia um 7 a 1 diferente…

Jessica: Cada dia um 7 a 1.

Cris: Olha, eu só queria dizer que no final a gente ganhou. O cara deletou a conta.

Samir: Deletou a conta.

Jessica: Deletou a conta?

Cris: Somos muito foda.

Jessica: Manda devolver o ouro também.

Ju: Mas teve muito disso… Teve muito disso…

[Risos]

Ju: E o cara perdeu a linha com isso, sabe.

Samir: Ele falou, ele falou: “Pega… Ai, não sei o quê. Esses brasileiros, pega o ouro e enfia no cú!”. O negócio maior pesado. Aí os brasileiros responderam: “Claro, devolve o ouro que vocês levaram que a gente enfia. Você tem que devolver antes.” (Risos)

Ju: Mas, olha… Tinha uma… Tem uns diálogos que você olha e fala assim: “Mano, coitadinhos. Sabe? Eu li ontem pro Merigo… Eu não vou achar um que era muito bom, assim, sabe… “Levou coisa daqui, e não sei o quê”, e aí o cara “Ah! Porque não sei o que…”, daí o cara “Sou brasileiro. Quem?”, e ele “Vocês, o Brasil, e não sei o que”, aí ele “Te perguntou.”.

[Risos]

Ju: 4ª série, cara. Jamais, jamais!

Jessica: Muito bom!

Samir: No Brasil… Com o Brasil não há discussão na internet. A zueira…

Cris: O cara… O cara colocou o cara do ISIS no grupo de whastapp da família, meu.

Jessica: Nóóó…

Samir: Jura!

Cris: E a galera querendo brincar… Vai perder, né?

Jessica: Eu sempre falo que, agora falando sobre, né, já antecipando o assunto… Eu tenho muito dó dos heteros porque a comunidade gay tem os melhores memes.

Samir: Tem!

Jessica: Os melhores memes…

Ju: As melhores gírias…

Jessica: Total… Como vocês vivem? Eu não sei, eu não sei… De verdade…
[Risos]

Samir: Qual é a graça?

Jessica: Sabe? Que isso…

Ju: A gente tem amigos gays, é assim que a gente vive.

Jessica: Ah! É! Entendi…

Ju: A gente vive ouvindo podcast muito gay.

Samir: Exatamente. Isso.

Cris: E usa todas as gírias.

Ju: Todas!

[Risos]

Bloco 3 (minuto 21 a 30)

Cris: Vamo lá então pro Trending Topics. O assunto é sério: o atentado em Orlando. O fato é: domingo, dia 12, às duas da madrugada, 03 horas em Brasília, quando cerca de trezentas pessoas se divertiam na boate Pulse, em Orlando/Estados Unidos, Omar Matten, um americano de 29 anos, armado com um rifle AR calibre 223 e uma pistola 9 mm semi automática, entrou no recinto e matou 49 pessoas que tinham entre 18 e 50 anos. E feriu outras 53. A grande maioria delas é de origem latina, sobretudo portorriquenha, dominicana e venezuelana. A polícia foi acionada e o atirador ainda manteve 30 pessoas durante 3 horas como reféns até que agente entraram no prédio, mataram o atirador e libertaram essas pessoas. Esse é considerado o pior ataque a tiros da história do país. E aí a gente tá aqui pra conversar, tendo como gancho inicial o que aconteceu em Orlando que está acima de qualquer tipo de discussão o pesar na perda de 50 vidas e ainda 53 pessoas machucadas. Quando a gente pensa que haviam 300, quando a gente pensa que a polícia ainda libertou mais 30, que estavam sobre a mira da arma, a gente entende a dimensão do que foi esse ataque, do que foi essa tragédia. Numa região que recebe 65 milhões de turistas todos os anos. E aí, o nosso correspondente internacional Samir…

Samir: Oê! Estou aqui ao vivo…

Ju: Que estava lá, In loco.

Cris: Que estava in loco, e todo mundo… Eu tomei um mega susto porque eu sabia que você estava lá… Que que aconteceu na cidade? Como que foi a reação da cidade, Samir?

Samir: Ai, meio louco isso, né, porque além de estar lá, a gente quase foi pra Pulse.

Cris: Nossa!

Samir: A gente tava lá e a gente tava a semana inteira. E a gente não tinha… A gente tava indo nos parques, a gente tava muito cansado e a gente falou “Olha, todo dia a gente tá indo pro parque, a gente não conheceu a noite de Orlando, que eu sempre gosto de, quando eu viajo, ir pras boates gays locais pra como que é, o que que as pessoas ouvem, como são as pessoas, pra conhecer. E a gente começou as pesquisar as boates e a gente viu a Pulse. A gente viu que é de gente latina e a gente pensou “Vamo lá!”, só que no que a gente tava saindo… Como bom brasileiro a gente tava no outlet, né? Comprinhas… (sorrisos de concordância) Só que quando a gente foi sair, o carro tava com pneu esvaziado, muito vazio, e a gente demorou, a gente custou, ficou rodando pra ver como é que achava, aí achou um posto, vamo aprender como é que manuseia o negocinho lá, e que é um pouco diferente do Brasil, aí ficou tarde e a gente desistiu de sair. A gente falou “Ah, então não vamos sair, vamos ficar em casa”. E no domingo a gente recebe a notícia, que tinha acontecido, começou a mandar whatsapp pra gente, perguntar como é que a gente tava, e a gente ficou sabendo. Eu acho muito engraçado que nos Estados Unidos o ciclo de notícias é muito forte e cobre tudo. Você ligava a tevê, você ligava o rádio, a gente tava indo pra um parque no dia, pra um parque no dia… Todas as estações, todos os canais de tevê cobrindo 24 horas por dia. Eles não entram ao vivo com link, assim, plantão, plantão da globo… Você ligava a televisão, o dia todo era só isso. Eles usavam todas as formas, todas as matérias desde entrevistar as pessoas, ir no hospital, e pra… Mostrar como tava ao vivo na porta da boate… Então a cidade ficou paralisada, assim. Ficou todo mundo assistindo. Aí a gente ficou pensando “Como a gente vai fazer pra sair do país, como a gente vai continuar. Agora os aeroportos vão estar 10 vezes mais, com mais segurança”. E relamente tava com muita segurança. Dois amigos meus, quando foram revistar as malas deles, porque teve… Prenderam o cara que tava indo com explosivo, né? Pra parada de Los Angeles também. E dois amigos meus tiveram a mala completamente dilacerada pela emigração, assim. Eles… Quando chegou a mala no Brasil, tava rasgadas por dentro, eles tinham um papelzinho escrito que “A gente vistoriou sua mala” e tal. Só que as malas estavam com rasgos de faca pela mala toda, tipo, pra ver se tinha coisa nos enchimentos das malas. Tavam todas furadas, então, tipo, os Estados Unidos estavam em estado de alerta. Provavelmente esles estão. E a gente ficou meio sem saber o que fazer, pra onde ir. Até no dia a gente, a gente ia sair no dia e a gente não foi porque, neste dia também, mataram uma ex-cantora do The Voice, uma ex-participante do The Voice lá na Disney… Lá… Então a gente falou assim “vamos ficar em casa porque a qualquer lugar que a gente tá indo, a gente não se sentiu seguro”, assim. Mas a cidade tá…

Cris: É muito louco a gente pensar num brasileiro em Orlando não se sentindo seguro.

Samir: Ehhh!

Ju: Porque a gente viu que as filas pra doar sangue davam volta em quarteirão, né? Então assim, a reação das pessoas, assim, além do choque foi de bastante solidariedade, né?
Samir: Sim, bastante. Até tavam se discutindo lá… A gente tava ouvindo no rádio, nem sei como foi isso, porque lá é igual o Brasil e gay não pode doar sangue, né? Ah pode doar se você ficar um ano sem ter relação. A gente ouviu no rádio que tinham até suspendido essa cláusula, digamos assim, essa lei, pra qualquer pessoa poder doar sangue. A gente até ficou discutindo no carro “Será que se não fosse de gay, deixariam?”. Tipo assim “Ah! Já que é um atentado que foi com vários gays, gay pode doar sangue”. De gay pra gay, sabe? Sei lá, a gente ficou pensando, será que se fosse, se tivessem matado 50 héteros, será que eles teriam levantado essa…

Ju: É que talvez isso não seria uma questão, né? Talvez não tivessem trazido pra pauta, né?

Samir: É… Exatamente…

Ju: Mas, uma coisa que… Essas regras de doação, elas são bem veladas por conta de, como tem a janela, então eles não querem correr alguns riscos, mas tem algumas coisas que não são legais de serem divulgadas. Mas, por exemplo, uma amiga que trabalhava num banco de sangue me falou que descartavam sangue de pessoas tatuadas.

Samir: Sim.

Ju: Eles não falavam nada e descartavam. Então assim, esse tipo de coisa é justamente o oposto do que a gente precisa porque você desencoraja a doação, né? Começa a ficar, a ter tanta regra, né, que…

Jessica: É o que a gente percebe na verdade que há uma homofobia do sistema de saúde que, hoje em dia, eles trabalham com grupo de risco.

Ju: Sim.

Jessica: E deve-se trabalhar com comportamento de risco, né? Porque há gays que só tiveram um parceiro na vida toda, né? Então, que é muito menos arriscado que um hétero que, sei lá, tá na gandaia e vai pra balada e…

Ju: E não usa camisinha.

Jessica: E não usa camisinha, entendeu? Então, claro que tem todo o estigma do HIV e comunidade LGBT. Os homens gays, proporcinalmente, tem mais, mas não existe isso de grupo, né, porque cada indivíduo tem uma forma de lidar com sua sexualidade. Então, o importante é você fazer a entrevista e você ver se a pessoa pode ou não.

Ju: Mas sabe o que que é engraçado, Jéssica? Eu achei que essa questão de grupo de risco tinha acabado há anos quando o grupo que mais crescia a incidência, a contaminação do vírus, eram mulheres casadas.

Samir: Sim.

Ju: Esse era o grupo em que mais crescia. Então eu achei que, quando… Isso aí quebrou o tabu, entendeu? Porque, assim… Bom, quando começou a ficar mulher casada, então gente, não é isso. Definitivamente não dá pra você selecionar as pessoas de risco dessa maneira. E, ultimamente, o que eu tinha ouvido mais é que o grupo que tava aumentando muito a incidência eram idosos. Porque por conta do viagra eles tinham vida sexualmente ativa…

Samir: Prolongada…

Ju: Eles eram de uma época de educação sexual em que não existia essa preocupação com o vírus, então eles não se cuidavam, então se expunham a mais risco e eram mais contaminados. Então, pra mim, na minha cabeça, isso não existia, assim, não faz mais sentido essa classificação por grupo de risco. Mas aí, você vai ver, a questão da doação de sangue expõe, né, coloca de uma maneira muito clara, que por mais que não faça sentido, ainda é operante, né, esse raciocínio.

Jessica: É, não… É muito difícil você tirar o preconceito de uma instituição, esse preconceito institucionalizado que a gente tem. E não é só no sistema de saúde, né? Em tudo. Por exemplo, lésbicas, o risco de contágio é muito pequeno e mesmo assim a gente está dentro do grupo por ser homossexual. Não faz sentido.

Samir: É. Tipo, é homossexual. Tipo, o grupo é homossexual.

Jessica: Há um caso… Há um caso de contaminação por HIV entre sexo lésbico aqui no Brasil. Um caso. Entendeu? Então é muito mais seguro assim. Aliás, a gente podia assim, que só as lésbicas doassem sangue, seria ótimo, entendeu?

[Risos]

Samir: Já tem bastante…

Jessica: Mas a gente tá lá enquadrada no grupo, então não doaria sangue por isso. Teve um acidente na PUC quando eu estudava lá e o menino estava precisando de doação de sangue e o grupo LGBT da PUC, a gente se reuniu e tal, e foram. E aí, é super humilhante você chega lá querendo exercer um ato tão empático, tão, né…

Ju: Humanitário, né.

Jessica: E aí a pessoa olhar e falou assim “Não. Volta aí que você não serve pra isso”, entendeu? É complicado.

Cris: Voltando um pouquinho no que iniciou a conversa, quando a gente está falando de motivações, houveram muitas conversas sobre o que teria acontecido. Essa pessoa já tinha sido investigada pelo FBI por possíveis ligação com terroristas. É muito interessante isso, né? É o que a gente sempre… Ele está no radar mas no momento não estava sendo investigado, e aí o cara faz um desastre desse. Muito parecido com o que eles falaram lá da maratona, que também os caras estavam lá sob o radar, então, assim, esse radar não tá bom.

(Todos concordam)

Samir: Esse radar tá demorando, tá demorando a agir.

Cris: Então, o atirador ligou pro 911 pouco antes do ataque e disse ser leal ao Estado Islâmico, o Estado Islâmico reivindicou o massacre, entretanto, em entrevista ao canal de TV NBC, o pai do suspeito descartou qualquer motivação religiosa pro ataque e ele apontou pra homofobia diretamente. Ele disse “Não tem nada a ver com a religião”. Acrescentou ainda que seu filho ficou transtornado, há mais ou menos dois meses, quando viu dois homens se beijando durante uma viagem a Miami. Ele chegou a pedir desculpa, ele falou que não era [não entendi] o que tinha acontecido, sobre o estado mesmo que o rapaz estava. A ex-mulher dele também deu entrevista falando que ele era um cara muito violento, que ela apanhava e que era por isso que ela tinha se separado. Então a gente vê um conjunto de fatores, vimos diversas pessoas inclusive imputando a responsabilidade do ato na religião, só que independente disso: a religião pregou a homofobia. Em última instância, se tinha sim um cunho religioso, era porque a religião incitava um ódio contra pessoas homossexuais. Então foi um crime de homofobia, independente de qualquer coisa.

Bloco 4 (minuto 31 a 40)

Ju: É mas essa é a primeira pergunta Jéssica, que eu acho que é importante fazer desse caso é: você vê nos Estados Unidos, na cobertura, que muito, assim… foi uma resposta muito rápida. No mesmo dia, teve as pessoas falando sobre o islamismo, então principalmente por causa da corrida presidencial, pelas barbáries que o Trump fala e tal. Assim…de uma certa maneira isto estaria chancelando as coisas que ele fala tipo “tá vendo, fecha a porta, não deixa os caras entrarem, só tem maluco, eles vem aqui, estragam tudo, tal”. E no mesmo dia teve uma resposta muito grande e proporcionalmente muito maior falando primeiro: “para com isso de não diferenciar as coisas, de por uma pessoa você tomar todo mundo”, e segundo: “a gente não quer falar sobre islamismo, sobre radicalismo religioso. A gente quer falar sobre homofobia”. Por que trazer essa discussão? Qual o ganho que se tem, qual a estratégia que se tem de falar o papo não é sobre isso o papo é sobre homofobia?

Jessica: Primeiro… bom, terrorismo é uma questão política, uma questão econômica, né. Essa guerra ao terror ela gera muito dinheiro. Então primeiro se foi terrorismo, não foi importante…é…frisaram a homofobia porque a gente precisa falar sobre isso. É igual aqui no Brasil. Porque a gente quer que a homofobia seja criminalizada? Não é por um capricho, não é pra ter lá “ah não… tica aí na hora de preencher o negócio”. Não é isso. É porque se não houvesse essa intenção homofóbica a pessoa estaria viva. Então é um problema que você consegue resolver, você consegue prevenir, entendeu? Então você dá nome ao problema você acaba com ele. É muito interessante – é claro, morreram 50 pessoas numa tacada só, mas aqui no Brasil só em 2015 foram 315… foram 315 pessoas.

Cris: Quase uma por dia.

Jessica: Exatamente!

Ju: 315 que não morreram no transito, não morreram de bala perdida (…)

Jessica: Exato! É isso!

Ju: (…) não morreram porque se assaltou a carteira, não morreram porque pularam de bungee jump e deu errado.

Jessica: Exatamente!

Ju: Por que que elas morreram?

Jessica: Por homofobia, entendeu? Por esse ódio. Por homofobia. E ainda subnotificado. Então a gente estima que sejam mais pessoas, porque a gente não tem um registro oficial do estado. A gente não tem lá, é… na hora do preenchimento não existe esse, não dá para pôr esse dado, não dá para imputar esse dado… Então são organizações de direitos humanos que fazem esse levantamento independente. Então assim, claro que a gente tem aqui no Brasil muito mais casos de pessoas transexuais e travestis do que de – e isso é muito importante, aliás, deixar claro e já explicar para quem está ouvindo que: comunidade LGBT a gente tem dois segmentos, né. Um que é identidade de gênero e outro que é sexualidade. Então vou explicar.

Samir: Exatamente.

Jessica: Quer explicar Samir?

Samir: Não, pode explicar.

Jessica: Pode? Então vamos lá. Eu e o Samir que estamos aqui, por exemplo, somos homossexuais. Isso significa que a gente tem afeto por pessoas do mesmo gênero. E aí a gente tem dentro da comunidade LGBT, aquela última sigla, que é o T né? Que não tem haver com afeto, tem haver com o seu gênero, o seu reconhecimento. Então são pessoas que foram designadas com um gênero ao nascer e não se entendem dessa forma, né? E aí, a maioria dos meus amigos que são transexuais são héteros, na verdade. Então a gente, isso é importante deixar claro. Aqui no Brasil a gente tem muito mais casos de transfobia do que de homofobia, claro que um não exclui o outro. E por que que eu falo que é importante frisar? Porque muitas travestis mulheres transexuais que são mortas elas são notificadas como homens gays ainda porque não tem seu documento reconhecido, não tem seu nome social, não muda o documento e tal. Tem um projeto de lei, do Jean Wylllis que tá tramitando, que acho que né…vai demorar muuuito ainda para ser aprovado, que facilita, que desburocratiza, essa questão. Então a gente tem aqui no Brasil mais de 300 pessoas morrendo e esse atentado mostra que a gente não tá falando de uma coisa abstrata, que isso realmente mata pessoas e tá provado, entendeu? E aí seria um estrago muito maior se o cara que foi preso lá indo para a parada de LA não tivesse sido apreendido porque ele iria fazer um estrago numa parada, entendeu? Em Los Angeles que é uma cidade super progressista e tal! E eu acho que isso está acontecendo porque a gente está no mês do orgulho.

Ju: É essa pergunta que eu ia te fazer. Nos últimos 3 anos nos Estados Unidos, tiveram 1000 desses eventos de mass shootings, que eu não sei como traduziria… que é uma pessoa com uma arma que mata geral. O que eu queria perguntar é o seguinte, então assim, você tem, inclusive, por exemplo… esses caras que chegam numa escola e matam criancinhas. Não tem identificação nenhuma. Por que que se dá um nome diferente e um peso diferente? Por que que é diferente esse caso, que não foram para aquelas crianças, não foi…Por que que isso, esse crime, é diferente? Por que que a gente chama de homofobia e quando matou criancinha não tinha nome?

Cris: Ou da própria maratona.

Ju: …não tinha nome.

Samir: É, como você estava falando, ele quer atacar a ideologia. Ele quer atacar o símbolo, ele quer…Ele não quer ferir só aquelas 49 pessoas. O cara que ele entra num colégio e ele mata os colegas, ele mata o professor, ele quer atingir aquelas pessoas. O cara que vai na Pulse, que é uma boate LGBT, para matar homossexuais, ele quer atingir a ideologia, atingir todos os gays do mundo que estão assistindo aquilo. Porque todo mundo que está assistindo aquilo, todos os gays por exemplo e inclusive eu, meus amigos, todos do face, ficaram sentidos com aquilo, sentiram na pele, sentiram “poxa…ele atacou um cara, que é como eu, por ser como eu”. Então ele quer ferir todo mundo e acaba ferindo todo mundo. Porque se ele mata, quando você vê…tipo Virginia lá e aquele atentado… o tiroteio da faculdade de Virgínia, ele vai lá e mata 20 pessoas. E a gente assiste isso no noticiário e a gente fala “nossa, esses americanos né…esses americanos são loucos né? Eles fazem isso lá!” Mas a gente não sente tanto porque sabe que estão atacando a pessoa. Mas quando ele vai lá e atira nos 49 gays, todos os gays do mundo se solidarizam porque se sente que é com você, se sente que é no seu grupo, se sente que é por ser como você.

Ju: Pra entender, acho que é bom a gente saber o que que é a Pulse, né? Porque não foi qualquer boate que by the way tinham 50 gays lá. A pulse é (…)

Samir: Sim, que é (…)

Ju: (…) um símbolo (…)

Samir: É, é.

Ju: (…) da noite, é um lugar que muita gente se descobriu, onde muita gente saiu do armário. Então assim, você tem em Orlando uma comunidade de pessoas latinas que eram super reprimidas em casa e que de repente assim, nunca poderiam conseguir explorar sua sexualidade, explorar sua identidade se tivessem ficado no seu país de origem. E aí de repente eles chegam em Orlando e ali eles não são filhos de ninguém, eles não pertencem à nenhuma comunidade, eles têm liberdade para começar a construir a história deles e muitos começaram a se descobrir na Pulse.

(murmúrios de concordância)

Ju: Então a Pulse é um lugar muito conhecido. E assim, se você entende que nessa comunidade você tem uma série de direitos cerceados…então uma coisa que é simples como andar de mão dada na rua você não pode, ir no cinema e abraçar seu namorado não pode, no restaurante trocar carícia não pode…Enfim, todas as coisas que um casal heterossexual tem e nem pensa sobre isso, você não pode fazer. O momento em que você é livre socialmente para ser quem você é, é o momento da balada.

Jessica: Uhum.

Samir: Exatamente.

Ju: Então a balada é seu santuário. Na balada você pode ser quem você é e você é aceito e não tem questionamento. Você invadir, esse único lugar vai…esse grande lugar, esse primeiro lugar, né? E que é um lugar em que muitas pessoas se descobriram para justamente infligir dor e matar, você está matando um símbolo. E você fazer isso dias antes da parada gay de umas das maiores paradas gays no mês de orgulho gay, você planejou isso (…)

Jessica: Claro!

Ju: Tem um significado nisso.

Jessica: E aí também dá para ver que o cara tinha uma coisa de xenofobia muito grande. Então ele devia odiar os latinos também né, para escolher exatamente aquela balada. E ainda batia na mulher! Então, é…o cara era misógino mesmo! Assim…era um cara que ia cometer algum crime de ódio algum momento, né? Então aí você vê por que que é tão importante, por exemplo, a gente ter uma educação voltada à diversidade, né? Como resolver o problema? Eu acho que a educação é o principal e isso é desde pequeno. É uma pessoa que saiba e que entenda que não importa qual religião você tenha, que não importa o que você pense dentro da sua cabeça, você tem que saber conviver com o diferente, né?. Quem não sabe conviver com o diferente é fascista, entendeu? Eu sei conviver com uma pessoa que olha e fala assim: “Eu acho que é pecado”. Eu falo: “Tudo bem senhor, quem vai pro inferno sou eu”, né. Mas o cara não está fazendo absolutamente nada. A partir do momento que ele não me desrespeita, ele pode ter o pensamento que ele quiser dentro da casa dele. Agora invertendo né (…)

Samir: É…

Jessica: (…) a pessoa fala “Pode até ser gay, dentro de casa!”.

Samir: (…) dentro de casa!

(risos)

Jessica: Então invertendo ele pode ser preconceituoso dentro da casa dele, entendeu? As pessoas têm que saber conviver em sociedade. Então, é… e ainda existe uma coisa muito forte, uma ligação muito grande da comunidade LGBT com a noite, porque somos um grupo que fomos muito marginalizados por muito tempo e aí a gente ia criando os guetos e se reunindo e tanto que aqui veado né. Por que da onde que vêm o veado? Porque o bar que os homens gays frequentavam tinha o símbolo de um veado.

Ju: Nossa, não sabia disso!

Jessica: Tchanam!!! Pois é! Esse é o porque do veado aqui no Brasil, que lá fora não tem nada a ver…veado, 24. 24 é por causa do jogo do bicho que é o número do veado. Então lá 24 não é um número de veado né. Então é uma coisa brasileira. Então realmente o cara ir e aí falaram né? Que tinham visto ele rondando ali onde era. Que tinham visto ele nos aplicativos. Então ele tava pensando. Daí até levantaram uma questão: “Mas será que ele não era gay? Porque se ele estava nos aplicativos, se ele tinha essa obsessão”. Aí que é o lance né. Então ele tinha homofobia internalizada, mas não deixa de ser homofobia. Aqui no Brasil há um ou dois anos atrás, um rapaz teve relação sexual com outro e aí ele fez o ativo e depois que ele transou ele matou o menino, que fez o passivo. E aí já entra numa outra questão que é: machismo e misoginia, o patriarcado total ne. Porque você….o cara achar que porque fazer o papel de ativo, que é homem entre aspas né, é mais do que tá recebendo, que faz o papel da mulher entre aspas. Então sempre o passivo, sempre o mais afeminado ele vai sofrer muito mais homofobia e aí tem heteronormatividade e eu já tô emendando uma coisa na outra! Eita!

Cris: Eu acho que é importante até dar um passo atrás, porque quando a gente começa a entrar nesse monte de sigla, esse monte de assunto, as pessoas costumam realmente se perder. Então quando a gente está falando de homofobia, né. E a gente sabe que têm várias palavras que acabam em fobia, né.

(murmúrios de concordância)

Bloco 5 (minutos 41 a 50)

Cris: Então tem medo água, medo disso, medo daquilo. E adivinha o que é homofobia? É medo de gays. Que na verdade não é bem medo, é importante explicar que estamos falando aqui de uma aversão, repugnância, ódio, preconceitos que pessoas nutrem contra homossexuais, lésbicas, bissexuais e transsexuais. E quando a gente tá falando que homofobia mata, mata, mata mas não é só mata. Ela não mata só no assassinato, né? Ela é agressão verbal, ela é privar de emprego, ela é privar de círculos sociais, ela é oprimir a ponto de tantas pessoas se matarem. A gente vê isso no noticiário todos os dias porque o menino era cristão e ele não conseguia se aceitar e sabe que a família não vai aceitar aí se matou. Ou porque a gente vê que a expectativa de vida de pessoas transsexuais é de 34 anos. É surreal isso. Essas pessoas ficam, é o que a gente chama de “sem opção”. Porque o mercado de trabalho não aceita e a família não aceita, então quando a gente reúne todo esse grupo, o que a gente percebe é que essa situação de opressão que existe em cima dessas pessoas marginalizam, jogam essas pessoas pra margem total da sociedade, não reconhece a formação dessas pessoas enquanto família. É difícil essas pessoas, hoje tá bem mais fácil pros homossexuais mas para os transsexuais ainda é muito difícil se colocar no mercado de trabalho.
Acabou, né? Eu acho que é uma maravilha isso porque quando eu era criança e não tinha bm o entendimento de homossexualidade, de gênero, dessa série de assuntos que a gente discute tanto hoje, eu lembro de ter aqueles homens afeminados no salão de beleza.

Samir: sim

Cris: Ali era muito reduto deles, né? E hoje é muito legal porque você vê um âncora da CNN que é gay, você vê um.. um…

Samir: Presidente da Apple.

Cris: Presidente da Apple. O atual cargo máximo do exército dos Estados Unidos é um homossexual. Então você fala assim “Puxa vida, né?”. As pessoas estão vindo, estão se colocando e ainda assim você vê uma morte trágica desse jeito. Então quando a gente fala sobre homofobia, a gente tá falando de um conjunto de fatores que joga pessoas como nós, à margem da sociedade, porque essas pessoas não rezam uma cartilha que muitos acreditam ser a correta, né? Que muitos acreditam que sair dessa cartilha, essa pessoa está cometendo uma falha muito grande. Sinceramente eu entendo isso. Eu entendo, porque você escuta a vida inteira “é errado, é errado, é errado, é errado, é errado”. E de repente agora não é mais? O que que está acontecendo? Juliana, como é que o cérebro entende isso? O que que o cérebro faz quando ele tem uma informação que o tempo todo ele é uma então, de repente, isso é normal, não é mais.

Juliana: A gente super indicou a série do “Quem somos nós” de neurociência e aí tem um trechinho que eu até compartilhei no Facebook desse negócio que ele fala assim: o cérebro é como se fosse um músculo, ele também trabalha pela conservação da energia então ele quer desprender o mínimo de energia possível e o mínimo de energia é você ir por atalhos, é ir pras mesmas respostas. Então assim, se você já aprendeu isso, desaprender, ir por outro caminho, contestar, isso gera muito mais esforço. É muito mais difícil, né? Então o caminho mais fácil é você, simplesmente, usar todas as informações, selecionar das informações que existem, aquelas que ratificam a sua resposta porque então você não precisa mudar. Então assim, a gente entende. Eu fui criada em lar evangélico adventista. Hoje o que a igreja adventista prega é completamente diferente do que eu tinha escutado quando eu era pequena, né? Mas cresci com essa coisa de que homossexualidade é abominação. Que não é nem uma sexualidade, é homossexualismo, e aí é importante até explicar qual é a difrença de homossexualismo e homossexualidade.

Jessica: A gente… O sufixo “ismo” foi usado pra mostrar que era uma doença então a gente, eu e Samir, eramos doentes até 91, que foi o ano que eu nasci. [risos] Nasci, saímos.

Samir: Já nasceu e deixou de ser doente.

Jessica: A homossexualidade estava dentro do CID, que é o Cadastro Internacional de Doenças, transsexualidade ainda está, Então a gente quis mudar esse sufixo porque, na verdade, é uma coisa da nossa identidade, né?.

Samir: Sim.

Jessica: Então faz muito sentido que termine com esse sufixo de homossexualidade e não homossexualismo.

Samir: Sim.

Cris: Tem uma frase específica nessa conversa sobre o cérebro buscar o caminho mais fácil, buscar atalho, que é quando o neurocientista diz que uma das formas de buscar atalho é procurar certezas onde elas não existem. Então você cria uma certeza e quando aquela certeza é mexida o cérebro diz “Opa, seremos extintos. Corram! Seremos extintos!”. Não, gente, ninguém vai entrar em extinção, tá? Não vai ser todo mundo gay no mundo nunca! A maravilha é justamente a diversidade.

Samir: Exato.

Cris: E a gente simplesmente não deveria estar se importando com quem outras pessoas estão dormindo.

Jessica: Exato

Samir: E não faz diferença nenhuma no fim das contas.

Juliana: Pensa comigo, Samir: quando você conhece uma pessoa, pra decidir se você gosta dela ou não, você pergunta qual posição dela com o marido?

Samir: Não

Juliana: Só pra saber o que você faz, né? Porque assim: gente que faz menos que duas vezes por semana eu não tô interessada em amizade…

[risos]

Juliana: Porque não pessoa muito criativa, não deve ter muita energia no corpo, então não tô interessada… Você não pergunta pra ninguém! Você não mede, não usa essa régua pra medir ninguém então por que interessa o que você está fazendo?

Jessica: Exatamente: Não interessa. E é interessantíssimo por que eu quase, eu não estaria aqui porque eu também fui criada, eu era da igreja católica e atuante, eu fazia parte do grupo de jovens quando eu era adolescente e tocava violão na igreja e tal, e lá foi onde eu entendi o senso de comunidade então eu me sentia parte de algo, né? O que é muito gostoso. Então aí com 13 anos, no começo da 8ª série, 13 pra 14 anos, eu me apaixonei por uma menina. Foi a primeira vez que eu senti o que era paixão de fato, eu já tinha ficado com meninos e era “normal”, eu achava que era aquilo porque, é, existe isso, a hetero-normatividade: você sempre supõe que você é hétero, o tempo todo até eu me apaixonar por uma menina eu supunha que eu era hétero e aí, de repente, meu mundo caiu. Assim, porque eu olhei e senti aquilo, eu não decidi sentir aquilo, eu não escolhi. Naquele momento, se eu pudesse “desintir” aquilo, não sentir aquilo, eu optaria por isso e na igreja eu escutava que eu,, EU, então, era uma abominação e ia pro inferno. Isso na cabeça de uma menina de 13 anos acabou com a minha vida.

Cris: Devastador né?

Jessica: Eu entrei em depressão, eu tive síndrome do pânico por dois anos e um medo, angústia, um desespero, assim, Deus não me ama, meus pais vão parar de me amar se souberem… Aí eu tentei de toda forma, que eu podia, reverter essa situação. É por isso que eu falo, com conhecimento de causa que “cura” não existe, Cura gay não existe porque se existisse eu tinha me curado. O tanto de terço que eu rezei, o tanto que eu pedi “” Senhor, opera um milagre em mim, por favor. Eu não quero ser assim”. Quase abandonei tudo pra virar freira: “Não há outra opção, preciso viver em castidade então, né?” Então…

Cris: Que sofrimento, né? Tão nova

Jessica: Horrível, horrível. Tanto que o Canal das Bee, ele surgiu por isso. Porque a única coisa que eu invejo nos héteros é porque você não precisam se preocupar com isso, né? A gente fala tanto sobre isso, a gente conversa tanto sobre isso, a gente fica… é o tempo todo falando sobre isso. Aí quando eu tava na universidade, era um dos temas que eu mais debatia com os meus amigos, aí eu já tinha conseguido me aceitar, só com educação, né? Educação liberta.

Cris: Mas que virada de chave que rolou que você falou assim “cara, eu vou ter que assumir e seja o que deus quiser…?”

Juliana: Tudo bem ser isso…?

Jessica: Pois é, ó: Eu, vivi, eu fui me apaixonar por essa menina com 13, fui conseguir ficar com a primeira menina, eu nunca fiquei com essa menina, com 19, então foram ANOS. Eu tava namorando um cara, eu tava ainda nessa peleja de tentar ser hétero, me forçando, literalmente, né? E aí, namorando esse menino que é um grande amigo hoje em dia, maravilhoso, eu falo “nossa, Deus foi tão bom comigo que me botou um homem muito legal, assim, sencacional”.

[Risos]

Jessica: Se eu fosse hétero, a gente estava casado hoje em dia.

[Risos]

Jessica: Aí teve um dia que eu tive uma crise de choro, assim, eu não aguentava mais e tava tudo bem, tava todo mundo feliz, ele tava feliz, minha família estava feliz e eu, eu sabia que não era aquilo, eu sabia que não era. Eu falo que parecia que tudo tinha gosto de plástico, assim, é muito ruim não poder ser quem você é. E aí um dia, domingo a noite, a gente estava deitado juntos assistindo tv, assim, em casa e eu perguntei pra ele “você tá feliz?” e ele “tô” e aí eu comecei a chorar, chorar, chorar, chorar e ele falou “é, pelo visto, você não, né?”

[Risos]

Jessica: Aí eu falei assim “Me dá uma semana? Eu preciso de uma semana, eu preciso só entender o que está acontecendo”. E aí, isso foi no domingo e, na quarta-feira, eu fiquei com uma menina e aí eu entendi, eu falei “não, gente…”

Cris: Você falou “é isso!”

Jessica: É. É, eu senti pela primeira vez o que era ser… era isso, sabe? Não tinha escapatória e não tinha problema, sabe? Não tava fazendo mal pra ninguém. Tava tudo bem, é tudo consentido então foi aí dois anos até eu contar pra minha família. É muito difícil esse período de dúvida, tanto que a gente atende no Canal das Bees é um dos maiores problemas da vida do homossexual essa coisa de quando sair do armário pros pais, e aí…

Bloco 6 (minutos 51 a 60)

Cris: É ruim isso, porque assim… a gente não conta pros pais que a gente é hetero, né?

Samir: É, você não tem que passar por isso.

Cris: É terrivel, você tem que andar com uma camisa escrito “sou gay”. Todo mundo fica assim “Você não vai se assumir?”. “Aquele lá é gay”. A gente não chega no trabalho e tem que falar “olha, eu sou hetero” mas o cara que é gay e a menina que é gay você eternamente está esperando a pessoa assumir. Parece que ela tem que andar com uma bandeira, e na verdade assim… é que eu não me interesso pela vida sexual das outras pessoas e não tem nada que ela faça diferente de mim a não ser dormir com outra pessoa mas quando ela tá dormindo ela não tá dormindo comigo. Essa lógica que eu acho difícil de entender porque aquilo que é muito intimo – porque pra mim carinho não é uma coisa íntima. A gente faz carinho em amigo, a gente faz carinho em parente… não é só homem e mulher na heteronormatividade. – Então assim, uma pessoa beijar uma pessoa, abraçar… é carinho. Mas um ato íntimo é feito entre quatro paredes. Então, todo esse incômodo…

Ju: Mas é aí que eu acho que a gente vai falar de homofobia mesmo, porque aí você vai na raiz da coisa que é não é pelo que você tá fazendo, mas é porque colocam um monte de coisas dentro dessa mesma etiqueta, né? Então é assim… se você é gay então automaticamente você é o que? Promíscuo, né? Então aí começa…

Jessica: A gente espera que sim…

[risos]

Ju: Aí, automaticamente você não tem Deus no coração, né? E é assim, é um corolário de coisas. Você ta querendo destruir a sociedade, você quer destruir a família… Então assim, eu acho que o preconceito ele tem muitas camadas e é por isso que a gente tem que ir descascando uma por uma e justamente…

Samir: Desconstruindo, né?

Ju: Justamente. Desconstruindo porque assim… uma das coisas mais legais que eu vi, Jéssica, de desconstruição, pra mim é muito marcante e foi assim: Eu tenho uma tia – sabe tia fofinha, queridinha, muito querida – e ela sempre foi dona de casa, sempre cuidou do filho e sempre de casa pra igreja, da igreja pra casa. Então obviamente que ela era muito homofóbica, não por ela, mas porque ela repetia exatamente o que ela escutava… que era uma abominação, que não podia… Então não tem essa desconstrução que a Cris acabou de fazer de que “o que é que me interessa o que tá fazendo dentro do quarto?”. Não tinha, ela simplesmente repetia aquilo que falavam pra ela… que é uma coisa muito ruim, é uma pessoa que não tem Deus, que tá tudo errado ali. Não pensa além desse rótulo, entendeu? E aí, filho criado ela foi fazer faculdade. E o que que é a faculdade? Você sai da sua bolha…

Cris: É um antro de perdição…

Samir: É um antro de gays… Tudo viado e sapatão…

[risos]

Ju: É você ter que conviver com o diferente. E isso que eu acho legal. Eu acho que o preconceito ele não sobrevive a realidade. Porque o preconceito é você se fechar numa caixa escura e ficar repetindo o seu mantra. Agora, é difícil eu dizer todas essas coisas olhando pra você. É difícil eu dizer todas essas coisas conhecendo você, sentando do seu lado. Então de repente ela teve que estar com pessoas diferentes e de repente ela tinha um grupo de amigos, e de repente esse grupo de amigos tinha um gay e de repente esse gay era muito responsável. Como é que gay pode ser responsável, Jéssica?

Jéssica / Samir: Né?

Ju: E de repente ele era solidário. E como é que gay pode ser solidário, Jéssica?

Jessica: Né?

Ju: E de repente ele era o cara com quem ela mais gostava de estar. E como é que eu posso estar gostando tanto de um gay, Jéssica? E de repente não tem mais problema ser gay, porque é gente. E meu amigo é gay, então pronto.

Samir: E tá de boa…

Cris: Eu acho que a dica número 1 pra quem tem resistência a entender e a aceitar esse universo é a convivência. Convive com um gay.

Jessica: O Harvey Milk, que foi o primeiro político declaradamente homossexual lá nos Estados Unidos (em São Francisco), chegou uma parte da campanha dele em que ele tava perdendo e aí ele virou pra toda a galera da campanha e falou “Pessoal, a ordem agora é: saiam do armário. Fala pra todo mundo sair do armário. Porque a partir do momento que todo mundo sair, o negócio vai melhorar. Porque a pessoa não vai votar contra um primo, não vai votar contra um colega de trabalho…” Eu gostaria muito que a gente conseguísse fazer isso, mas por causa da homofobia é muito complicado sair do armário em alguns casos, então a gente prefere que a pessoa saia quando seja seguro de fato pra ela sair.
Mas de fato, muitos amigos meus e até eu era homofóbica na verdade. Eu sempre fui super homofóbica. Quando eu me apaixonei por essa menina eu fiquei mais homofóbica ainda porque eu achava que era um jeito de reverter…

Samir: De reprimir…

Jessica: Exatamente. De dizer eu odeio isso e tal… Imagina, eu fiz campanha contra o Jean Wyllys na época do BBB… “É viado, não vai ganhar, e tal”… Imagina, super preconceituosa. Uma das minhas melhores amigas saiu do armário pra mim e eu falei coisas – tem até um episódio lá no canal das Bee, chama “Melhor amiga sapatão”. [link do vídeo: https://www.youtube.com/watch?v=dqBonW7eO8U]

Cris: E ela é super tímida…uma fofa.

Jessica: E ela é super tímida, e quando ela falou eu falei pra ela “que nojo!”, “o que você tá pensando da vida?”, “e aí, você gosta de peito?”… Sabe, mal imaginava ela que era tudo…

Samir: …tudo o que você queria, né…

Jessica: Total! Queria muito, cara!

[risos]

Samir: Mas sabe, uma coisa muito importante do que a Jéssica tá falando e que a gente tá discutindo aqui nesse momento é essa questão que as pessoas falam, principalmente os héteros que estão vendo muito isso acontecer e que falam “Ah, mas que saco, agora tudo é gay. Agora tudo é coisa de gay”.

Cris: Tá na moda ser gay?

Samir: É, ta na moda gente…

Cris: Seja você também…

[risos]

Samir: Mas é muito importante, que é uma palavra muito importante que eu e a Jéssica não tivemos na nossa época e que hoje em dia os jovens tem, que é REPRESENTATIVIDADE. Precisa ter muito gay. “Ai, mas pra que que o presidente da Apple foi sair do armário, não tem nada a ver… ele ser presidente, a capacidade dele ser presidente ou não, não tem nada a ver com a sexualidade dele.” Realmente, não tem… Mas, aqueles todos os gays que estão no armário precisam ver que é tão normal, que tem gay pra todo lado… então isso é importante pras pessoas saírem do armário e se sentirem seguras de saber que existem outros gays. Então até a própria pessoa quando a Cris falou mais cedo “Ah, eu não me interesso no trabalho se entra um gay, eu não vou perguntar pra ele se ele é gay porque não me interessa a sexualidade dele… não tem nada a ver”. É super legal, mas eu acho muito importante que esse gay deixe bem claro. Eu sempre hoje em dia deixo bem claro, onde eu vou, que sou gay mesmo, comento assunto de gay tudo normal. Porque é importante as pessoas verem esse gay, verem esses gays…

Ju: Assuntos de gay como: videogame… como você tava falando, que é assunto de gay. De futebol, que é assunto de gay. Assunto de gay é o que ele quiser gostar, né, no caso.

Samir: Do que eu quiser gostar, é.

Ju: Não é só Beyonce né…

[risos]

Cris: É que um ambiente – e aí vem a minha parte, o meu jeito de enxergar o mundo – eu acho que todos os ambientes que tem pessoas gays – essa é a minha visão – são ambientes mais alegres. Essas pessoas tem uma capacidade de rir, de inventar coisas, e de inventar gírias, memes, gente… Pra mim, todo o ambiente que tem pessoas gays é um ambiente mais festivo, é um ambiente mais descontraído. Eu acho que essas pessoas sofreram uma transição, uma dificuldade. Tanto sofrimento, tanto problema pra aceitar e continuar a ser amada que agora, quando essas pessoas realmente estão bem elas fazem bem pra todo mundo que tá em volta… Pra mim um ambiente de trabalho, por exemplo, que não tem um gay é um ambiente triste.

Samir: A gente é alegre.

[risos]

Samir: Mas é, porque assim… a gente passa as vezes 15, 20 anos… as vezes 40 anos. Por exemplo, em Grace and Frankie a gente tem gente que se descobriu gay com 60 anos. É repressão, a cabeça da gente é dia e noite preocupada, você não entende… Será que eu sou gay, será que eu não sou? E quando a gente sai do armário, quando você se descobre, aí é que você começa a viver. Eu lembro o primeiro cara que eu beijei como se fosse ontem. Porque foi um sentimento … eu já tinha beijado mulheres, já tinha transado com mulheres, e achava que tava sentindo tudo o que eu tinha que sentir da vida. Quando eu beijei o primeiro cara, assim gente.. Nossa! Eu queria beijar todos…

[risos]

Samir: Aí você vai, você tira aquela camada e você descobre… Nossa, então é isso que é felicidade. Então é isso que é paixão. Isso que é tesão. Isso que é tudo… Aí você fica num estado de êxtase e você quer celebrar isso, então acho que a gente tem muito disso. Do querer celebrar toda a repressão que a gente passou, a gente poder celebrar ela hoje.

Ju: Ah, é por isso que faz sentido o orgulho hétero, né? A gente celebrar toda a opressão que a gente passou como hétero. Eu sou muito oprimida como hétero. É difícil pra mim sabe Samir, ser hétero…

Samir: É difiícil né?

[risos]

Cris: Eu adoro aquele vídeo do Põe na Roda, é muito bom né. “Dia do orgulho hétero”, “vamos celebrar ser expulso de casa”… “vamos celebrar não conseguir um emprego”… “vamos celebrar as pessoas te baterem na rua”… Dia do Orgulho Hétero. [link do vídeo: https://www.youtube.com/watch?v=JO9bTgpxKsU]

[risos]

Samir: Sempre falam… se tem que ter orgulho gay agora tem que ter o orgulho hétero. O opressor sempre minimiza… No The Read, que é um podcast de negros, eles sempre falam isso. Quando… nos Estados Unidos tem o Black Entertainment Television e eles falam que tem branco que fala “ai, porque é que não tem canal de branco?” O opressor sempre, quando vê a minoria conquistando alguma coisa ele se incomoda. [link do podcast: http://thisistheread.com/]

Jessica: Mas tem canal de Branco… NBC, ABC…

Samir: Então, é isso, ta vendo… é o que eles falam. Tudo já é pra vocês, deixa eu ter essa coisa… deixa eu ter isso pra mim…

Jessica: É muito engraçado. Eu tava dando uma palestra esses dias aí uma menina hétero me falou assim: “ai, eu vou sempre em balada gay, eu adoro… só fico meio triste porque tem pouco hétero”… Eu falei, ainda bem né. A gente vive numa balada hétero que chama mundo. Aí a gente quer ir ali no lugarzinho só pra gente… ah, rapaz!

Samir: … e você queria que a maioria ali seja hétero também…

Jessica: O mundo é uma balada hétero…

[risos]

Cris: Ai gente, desculpa, mas as melhores baladas do mundo são as baladas gay.

Jessica: Lógico que são.

Samir: Melhor né, lá não tem briga… não tem garrafada… só musica…

Cris: Tem muita gente bonita se jogando loucamente. As músicas são muito boas… é uma sequência de Diva, nossa… Mulher então surta em balada gay. Até porque ela é muito mais friendly pra mulheres.

Jessica: Então, é eu acho também, porque tem menos assédio né… e isso é um problema. Mas pra mim é ruim, porque eu fico “será que é hetero ou será que lésbica?”… nunca sei se eu vou chegar ou não…

Cris: Mas você tem direito de chegar de qualquer forma, sabe? E se sim ou não é independente de… sei lá, as vezes eu sou lésbica e não to a fim hoje e vou falar… não hoje querida. E se eu sou hetero vou falar… não hoje querida.

Samir/Jessica: Sim, exatamente.

Ju: Mas Samir, já que você estava falando de representatividade, uma outra coisa que é importante – ok, claro que é um papel de quem é gay se quiser ajudar os outros através de assumir e se posicionar – mas também nós heteros também devemos nos posicionar, então uma resposta legal é que assim, todos os países (fora, claro Brasil – Serra, tamo aí) se posicionaram muito forte, fizeram homenagens, pintaram monumentos com as cores da bandeira gay, emitiram pareceres, comunicados de apoio.

Bloco 7 (minutos 61 a 70)

Ju: Então, você tem, por exemplo, acho que foi esse mês que o príncipe inglês foi o primeiro membro da Família Real a sair numa revista exclusivamente LGBT. Então assim, você começa a encontrar pessoas em posição de poder que estão quebrando essa barreira, justamente.. pelo que a gente tava falando Jéssica, de assim, quebrar esse preconceito, esse medo, essa aversão, essa repulsa, essas camadas todas que a gente tem de medo. De mostrar que: tudo bem! “Ah, mas, como que um príncipe vai numa capa de uma revista LGBT?” Ué, do mesmo jeito que ele vai na Todateen.

Samir: “Ah, mas ele é viado, sempre soube que era viado”.

Jessica: É por isso que é muito importante gente.. marcas, pessoas, todo mundo que for pró-diversidade, essa causa é.. se você apoia a nossa causa, você falar. Porque é muito engraçado quando a gente vê alguma empresa fazendo.. muda o avatar, sei lá, pra bandeira do arco-íris, e tal. As pessoas falam “Olha, não compra mais!”. Tem essa coisa, né?

Samir: É.. Boticário, né?

Ju: Boicotar..

Jessica: É, “Vamos boicotar”, e tal, geralmente no Facebook. Aí você vira e fala “Boicota primeiro o Facebook, então” Né? Porque o Facebook é uma empresa super friendly, aí a pessoa pensa “Gente, o cerco tá fechando. Todo mundo tá pensando assim”! E aí, é bom dar esse sentimento..

Ju: Aaah, então você vai falar da “Ditadura Gay”, Jessica?

Jessica: Vou! Que eu sou..

[risos]

Ju: Você vai falar da ditadura gay! Agora que eu queria ver isso nesse programa! Dois lados!

Samir: Vai ter ditadura gay!

Jessica: Eu vou, eu sou capitã!

[risos]

Jessica: E é interessante.. as pessoas tem que ter esse sentimento de vergonha, porque essas pessoas vão ser lembradas na história como os segregacionistas são lembrados, entendeu? Essas pessoas estão do lado errado da história. Porque.. não existe ditadura, entendeu? É isso, a gente quer que..

Ju: Por que não é ditadura gay? Se você tá falando que o certo tá fechando, e que todas as empresas tão sendo gay-friendly, que todos os governos tão sendo gay-friendly . Isso tá sendo imposto para a população que não quer aceitar isso, Jéssica!

Jessica: A imposição que a gente faz é: seja quem você quiser! É exatamente isso. É.. você falar de educação e sobre a diversidade nas escolas é mostrar pras crianças que ela precisa conviver com a diferença e não que ela precisa ser homossexual, de maneira alguma..

Ju: Mas eu não quero dar opção pro meu filho! Ele só tem um caminho e eu já ensinei pra ele o caminho certo.

Jessica: Pois é.. então você vai, olha.. eu não sei o que vai acontecer com você, mas coisa boa não é, entendeu?. O ponto é esse.. do mesmo jeito que eu não quero ser hétero, não preciso.. e não tenho que mudar quem eu sou. Eu não quero que um hétero também precise, entendeu? Não é imposição alguma, é só você ser quem você é ponto!

Cris: Eu acho terrível usar a palavra ditadura, porque mostra um desconhecimento dessa palavra, banaliza tanto. Porque ditadura é: não deixar opção, é te forçar a seguir um regime. Ninguém tá te forçando a ser gay!

Jessica: Pelo contrário, né? Pelo contrário..

Cris: Pelo contrário.. estão tentando forçar as pessoas a serem hétero. Por favor gente, ditadura gay não existe!

Ju: Ninguém está falando em cura hétero, tá? Ninguém está falando vamos apedrejar, ninguém está.. nada disso! Mas eu acho que assim.. eu entendo o sentimento do “ditadura gay” , quando.. fazendo um esforço de empatia,- pensando na minha tia.

[risos]

Samir: É.. pensando na tia Carmem Lúcia, eu falo tia Carmem Lúcia.

Ju: O que que acontece.. o bonde da história tá indo mais rápido do que essas pessoas conseguem acompanhar. Então, o que eu entendo que elas falam de ditadura, não é que você tá impondo que ela seja gay, mas é: “Eu queria um mundo em que eu sabia exatamente o que era certo e errado, e no meu mundo meu filho era hétero e assim era! A vida era simples, não tinha que perguntar pra ele com 15 anos o que que ele era. Homem era homem, mulher era mulher. E eu quero esse meu mundo! E você não tá me deixando mais escolha. Eu sou forçado a acreditar no seu mundo, onde as pessoas podem escolher.” E assim.. de verdade, é ! É! Entendeu? Assim.. o bonde da história tá aí, chegou, né? E eu sei que é difícil, e assim, não ironizando, falando sério, porque já tive que passar por isso.

Cris: Eu acho que todos nós.

Ju: Também já fui homofóbica, também achei que a vida era simples e que todo resto era complicações desnecessárias.. “shii” quieto. E, infelizmente, a realidade.. ela se impõe. Independe dos teus desejos, independe das tuas crenças, a realidade ela se impõe. As pessoas existem, as pessoas que pensam diferente dessa tua simplificação de mundo estão aí, vivendo, amando, tendo filhos, constituindo família, contribuindo pro crescimento dos países, sendo cidadãos completos, sendo seus melhores amigos. Então assim.. eu entendo que falar sobre gênero, por exemplo, na escola, é um ataque frontal ao teu modo de ver o mundo e que você não quer que isso aconteça e que tá sendo forçado em você. Eu entendo! Eu entendo espernear, eu entendo o choro, eu entendo que dói. Mas é praí que vai.

Samir: É isso, precisa..

Cris: Não, não tem volta, né..

Ju: Não tem volta.

Samir: É pra pessoa criar achando super normal, ser gay, conviver com gay. “Eu não sou gay, mas eu convivo com gay”. E quando ela fizer 28 anos ela não pegar uma arma e entrar num lugar e matar 50 pessoas porque eles são gays e eu tenho raiva delas. O ponto é esse. Tem que ser na escola porque tem que crescer achando normal, achando que não tem nada de especial.

Ju: “Mas eu não quero que seja normal, Samir. Na minha cabeça não é normal, eu não quero que falem isso pro meu filho, não quero que falem pro meu filho que é normal”. Vamos.. eu sei que é difícil, mas assim.. de verdade, é praí que o mundo vai e não é que o mundo vai porque eu decidi que vai praí. É porque tem uma série de pessoas vivendo e contradizendo a tua visão de mundo, então vamos ter que se reciclar. Dói, mas vamos ter que se reciclar.

Jessica: Exatamente..

Cris: Eu acho que é muito mais difícil explicar pra um filho porque que alguém entrou num lugar e matou 50 pessoas do que explicar porque tem dois homens ou duas mulheres se beijando. Porque na verdade, pra criança, gente, a criança simplesmente acha tudo normal na vida. Tudo! Tudo pra ela é normal. Pra ela o Super Homem voa! Pra ela tem a Fada do Dente! Então assim, pra criança, dois homens se beijando, duas mulheres se beijando ou um homem e uma mulher se beijando é igual.

Ju: Uhum.

Cris: Pra ela é uma demonstração de afeto! Quem vai ali, fala pra ela que tá errado.. e o pior, porque ela fala assim “Nossa, tá errado fazer carinho em alguém? Tá errado casar com alguém? Tá errado gostar de alguém? É muito mais difícil pra ela entender porque que tá errado do que entender porque que é certo!

Jessica: Tem um vídeo ótimo.. dois vídeos ótimos. Um que é um vídeo caseiro, assim.. que é um menininho..tem um casal gay, ele tá olhando.. “então.. você é um menino? E você namora com outro menino?” Aí eles.. “Aham” “Nossa, que estranho! E.. vocês se amam?” “Aham, a gente se ama!” “Caramba! Nossa! E vocês realmente namoram?” “Sim, a gente namora” “aah, tá.. Vamos jogar pingue pongue?”

[risos]

Jessica: Desse jeito.. Vocês já viram esse vídeo?

Samir: Que incrível! Não..

Jessica: Vou mandar pra vocês. E tem um outro que é – ah, fazendo meu jabá – no Canal das Bee que chama ‘Minha titia tem uma namorada’ que são meus dois sobrinhos, na época eles tinham uns 5 e 6 anos, se eu não me engano, é uma menina e um menino. E… quando eles começaram a falar e tal, eu já tinha assumido, então pra eles muito natural, muito amigo gay, muito casal gay e lésbico em casa, e convivendo com eles e um dia eu tava desenhando com a minha sobrinha e aí ela perguntou assim: “Titia, você é canhota ou destra?” E aí meu sobrinho que tava no canto virou e falou assim “Não Ana, ela é lésbica!”

[risos]

Jessica: Aí eu olhei, falei “Caraca, como é natural pra eles, né? Como.. é uma coisa tão simples! Aí eu falei “Peraí, senta os dois aqui que a titia vai entrevistar vocês!”

Cris: É, a..

Jessica: E aí eu pergunto pra eles e a resposta é uma
aula, é uma aula de diversidade!

Cris: Ah, eu quero ver! Eu não vi esse!

Jessica: Assiste, assiste depois!

Ju: Então, perae.. só uma pergunta que é.. alimenta muito a homofobia. “Mas então se, se eles estão crescendo com você gay, cheio de amigos seus gays, então eles vão ser gays?”

Jessica: Olha.. eu acho que, infelizmente, não.

[risos]

Ju: Não.. mas tem alguma ligação?

Jessica: Não, nenhuma..

Ju: É que essa é que é a questão..

Jessica: Eles já tão dando indício que são heteros, inclusive. Porque agora eles já tão maiorzinhos, então o Guigui já tá falando de menininha, a Ana Clara já tá naquela coisa, né de.. Então, eu acho que eles não são gays.

Cris: E gente..

Samir: É só uma concepção muito errada, isso.. isso que a Ju falou. Porque é isso.. porque o que acontece com uma criança que cresce num ambiente desconstruído? E aos 12 anos ela fala “Ai, eu sou a fim do meu amiguinho do colégio”. É porque ela nunca entrou no armário, ela nunca teve que entrar no armário. Não é que “ai, ela virou.. transformaram ela num gay”. Não, é porque ela já cresceu ali. Ela já pulou toda a etapa de..

Cris: Do sofrimento..

Samir: Essa pessoa lá na frente, lá no 25, no 20, no 30, no 40 ela ia ter que se assumir, ia ter que.. ela ia poder se descobrir. Só que sem essa barreira do.. sem colocarem na cabeça dela que é errado, ela já pulou uma etapa, já foi direto pra isso, então não existe, transformar ninguém em gay. Existe pular etapa e a pessoa já ir..

Cris: É, até porque..

Jessica: Até porque se só quando a criança tem muito contato com gay, se isso fizesse virar gay, eu e Samir, a gente seria hétero.

Samir: É!

Jessica: Porque minha vida inteira eu vi só casal hetero, só convivi com hétero, nunca tive contato com gay e eu não virei hétero. Entendeu?

Samir: É… exatamente!

Jessica: É justamente isso…

Ju: Você não precisa ter medo.. se seu filho conviver com gays, se seu filho ver gays se beijando, ele não vai ter uma vontade louca de beijar uma pessoa do mesmo sexo. Isso não acontece.

Cris: Eu acho que assim.. as crianças tão expostas a tanta violência, né? E a gente preocupada sobre com quem elas vão demonstrar carinho e amor. A professora da minha filha é casada com outra professora da escola e as duas tem uma filha e outro dia eu fiquei tentando sondar pra saber se ela percebia isso, né?

Samir: Aham..

Bloco 8 (minutos 71 a 80)

Cris: Aí eu “Ah, minha filha, a professora é casada?”, “Sim.”, “Com quem ela é casada?”, “Ai, mamãe, com a Gegê.”, “Ah é, filha. Duas meninas.”, aí ela “Sim.”. Aí eu acho que ela ficou me testando, que ela olhou pra mim ‘Sim’ e ficou esperando pra ver se eu ia falar alguma coisa.

Samir: Pra ver se ia falar alguma coisa, né?

Cris: Aí eu falei “Que que você acha disso?” e ela… Tipo…

Ju: “Que é que tem pra achar?”, né? Você não me pergunta da Tia Ju e do Tio Merigo, que é muito mais estranho. (Risada)

Cris: A minha filha tem 5 anos. Aí ela falou assim “Eu acho ótimo pra ir dormir lá. Que tem duas mamães, a Maitê…”

Samir: (Risada)

Cris: Elas tem uma filha.

Samir: Ah, que legal.

Cris: “Então tem duas mamães. Um dia eu acho que posso ir dormir lá.”.

Ju: Nossa.

Cris: Então assim, a criança, ela não tem isso. Pra ela é carinho, ponto, acabou, é legal pra caramba. Eu só queria encerrar falando só, fazendo um gancho muito rápido, a gente não vai aprofundar nisso, mas muitas pessoas falam da “fé”, frente à ditadura gay, e eu acho que só pra começar a encerrar o assunto, a gente tem visto posicionamentos muito radicais de algumas autoridades religiosas, mas a gente tem visto muitos, muitos e muitos posicionamentos acolhedores. Muitos… Na igreja católica, na evangélica, em qualquer…

Ju: Anglicana sempre, né?

Cris: Sempre… Sempre. Então tem diversos acolhimentos também.

Ju: Inclusive passeata de muçulmano LGBT.

Cris: Doando sangue e tudo mais.

Samir: Ai, que incrível.

Cris: Não, com burca colorida ‘amore’.

Samir: Jura? Que incrível.

Jessica: Acho super superimportante falar disso.

Cris: E eu acho que a gente tem que ficar com uma máxima, uma máxima. O segundo mandamento é ‘Amai o próximo como a ti mesmo’, ele não é segundo a toa. Ele só está abaixo de ‘Amai a Deus sobre todas as coisas’. Então se vocês amar o próximo como a ti mesmo, você tira qualquer coisa ali pra baixo. Porque esse já anula todos.

Samir: É tipo esse é constituição.

Cris: É.

Samir: Os outros são emendas.

[Risos]

Samir: Esse… É assim, se alguém ferir esse é anticonstitucional…

Cris: Eu acho que levando isso em consideração, a gente tá falando sobre tolerância e respeito. Ninguém tá te pedindo pra ser o melhor amigo de um gay e tudo mais. É tolerância e respeito.

Ju: É, e só pra encerrar, a gente não falou aqui sobre a questão de armamento, que foi o segundo debate que foi levantado bastante por conta disso, né? Então, a gente só quis focar nisso agora porque ia ser uma discussão muito grande, mas a gente sabe que isso pé importante também. Isso foi um debate que aumentou muito lá nos Estados Unidos. Se conversou muito sobre isso porque, assim, de um lado você tem pessoas dizendo que ‘armas não matam pessoas, pessoas matam pessoas’ e de outro lado você tem pessoas dizendo ‘OK, mas uma faca mata uma pessoa. Só uma metralhadora seria capaz de matar 50 pessoas.’, né? Então, é uma discussão muito boa e a gente deve voltar no Mamilos exclusivamente sobre políticas de armas, inclusive porque no Brasil tá rolando uma lei, tramitando um lei para voltar o porte de armas. Então…

Jessica: Minha nossa senhora.

Samir: Mais um desastre.

Ju: Então é um debate interessante. Não é que a gente não prestou atenção nisso, e que não dava pra falar de tudo. Falaremos, voltaremos.

Cris: Uma última dica, se você tem alguma dúvida se você é homofóbico, porque às vezes tem aquela linda frase ‘até tenho amigos gays’…

Ju: Uhum.

Cris: Então pra não ficar com dúvida o “Nexo” fez um teste bem legal ali pra você avaliar seu nível de homofobia. Vai estar na pauta. Vai lá, faz o teste. Repense as suas atitudes.

Jessica: Eu só queria deixar claro que o movimento LGBT não é contra a religião, alguma, assim. O fundamentalismo cristão aqui no Brasil, ele mata também 50 gays, né? O fundamentalismo cristão aqui no Brasil quase tirou a minha vida. E então, é muito importante que a gente não pegue esse caso e não trate o ódio com mais ódio a um grupo, né, porque isso é uma pessoa… Aí vai “Ah, não, mas o Estado Islâmico pegou e falou que esse cara, esse Omar, ele declarou durante a vida que ele era de vários grupos terroristas, inclusive rivais, né? Então era um cara desequilibrado de fato e o Estado Islâmico, ele vai pegar autoria porque isso aumenta a força deles, aumenta a publicidade deles. Então é muito importante a gente não pegar esse cara e deixar ele como símbolo de uma religião que é uma das maiores do mundo, né? Que o islamismo aqui no ocidente, tem muita gente que tem muito preconceito, né, com esses caras. Então é importante, nós enquanto LGBTs, enquanto minoria, a gente tem um pouco mais de empatia com outras pessoas que sofrem preconceito. Então deixar claro só que nossa luta é contra o fundamentalismo. Na bíblia, você tem naturalizado o apredrejamento de pessoas, você tem naturalizado o estupro, você tem naturalizado várias coisas que, conforme a sociedade foi caminhando, a gente viu que não era OK. Que isso tirava a humanidade de pessoas, que isso estava errado. Então, eu acredito que de fato, a gente vai um dia chegar no ponto de parar de pegar aqueles dois versículos, sabe? E aliás, Samir, só contra vocês, viu? Só contra os ‘viado’, porque não tem sobre lésbicas.

Samir: (Riso) Só contra os ‘viados’.

Jessica: Eu não vou pro inferno, você vai.

Samir: Levíticus. Levíticus não falou contra vocês.

Jessica: Você encontra com o Cazuza lá e eu encontro com Ana Carolina no céu, tá bom, querido?

[Risos]

Jessica: Então… Então…

Cris: Ele tá melhor amiga.

Samir: A gente tá aqui ó!

[Risos]

Jessica: Eu encontro com Ellen Denegeres, tá?

Samir: Tá.

Cris: Melhorou. É… Eu só queria deixar claro o seguinte: só chama de viado, quem é viado. Só chama sapatão quem é sapatão, ou quem é muito amigo.

Jessica: Eu acho que é intenção.

Cris: Porque isso é uma intimidade entre as pessoas.

Jessica: É intenção. Palavrão é intenção. Se eu estou andando na rua e falam ‘Sapatão’… Imagina, eu tenho maior orgulho de ser sapatona… Falam ‘Sapatão’, eu acho que estão me chamando, né? “Oi, tudo bom?”. Mas se falam na intenção de me ofender, aí eu fico brava. Então eu acho que é a sua intenção ao falar.

Cris: Claro!

Jessica: Eu não me incomodo de maneira nenhuma.

Samir: É, eu também não me incomodo muito, mas tem certos… Às vezes eu sinto o tom da palavra…

Cris: Claro.

Jessica: A intenção…

Samir: Eu falo com… Eu falo com amigo meu, quando ele, ah, sei lá, ele dá um gritinho “Ai, seu viado… ai, viadinho.”… Não sei o que…

[Risos]

Samir: Mas aí eu vejo, às vezes, no trabalho, no lugar se você… “Ou, isso é coisa de viado”. Você já sente…

Cris: É totalmente diferente.

Jessica: Exatamente. Exatamente.

Samir: A entonação, né? Então a palavra não carrega nada. O que carrega é a entonação.
Jessica: E é lindo, é lindo, a gente pegar essas palavras que usam pra nos ofender e…

Ju: E resignificar, né?

Jessica: Resignificar, né? Então, imagina, eu sou sapatão com maior orgulho.

Ju: E nós somos putas, né?

Cris: É.

Samir: É.

Jessica: Isso significa que eu amo uma mulher? Então é isso mesmo.

Samir: Isso aí…

(Fundo musical)

Ju: Vamos pro segundo assunto, pra não deixar monotemático o programa. A gente queria aproveitar o dia dos namorados, que a gente não fez nenhum especial esse ano, pra conversar um pouco sobre o amor romântico. Então, o que a gente tem aqui no ocidente é uma noção moderna de amor romântico conceituada numa sensação mágica, incomparável. Geralmente é descrito como encontro de almas que acontece por pura sorte, é uma predestinação até, talvez. Que responde às nossas angústias e aos desejos mais básicos da vida. Mas essa ideia foi construída ao longo desses últimos dois séculos, principalmente por meio da literatura. Antes disso, casamento, por exemplo, foi criado pra ser uma instituição econômica. Eram alianças forjadas pra fortalecer e concentrar poder ou dinheiro. A idealização do Rousseau reuniu numa só idealização os conceitos de amor, sexo, felicidade e casamento. É bastante coisa, né? Num saco só, né?

Cris: Não tem jeito de dar certo.

[murmúrios de concordância]

Ju: Antes era tudo vendido separado. A propaganda definitiva do amor romântico, idealizado, veio com o surgimento da cultura de massa de televisão e de cinema, que transformou em produto o mito do amor romântico. Isso começa lá por 1940 e bons exemplos são ‘E o vento levou…’ e ‘Casablanca’. Gente, eu sou muito produto disso! Meu Deus do céu! Consumia assim… Mas em massa!

Cris: (Risada)

Samir: Nossa!

Ju: Então, pela primeira vez uma sociedade inteira, a ocidental, passou a acreditar que o amor romântico, culminado em um relacionamento e depois de um casamento feliz, duradouro, monogâmico e sexualmente ativo…

Cris: (Risada)

Ju: Era a forma ideal de se relacionar com outro e, mais eu diria, a métrica da felicidade, né? Fracasso e sucesso você mede… Uma das métricas é essa, você conseguir ter esse relacionamento. Que que vocês acham disso, gente? Isso é uma boa polêmica, não é?

Jessica: Ô!

Samir: Ai, acho complicado.

Ju: Você pensa, Samir, em casar, pra vida toda e encontrar numa pessoa só tudo o que você precisa pra sua vida.

Samir: Não…

Ju: Sabe, alguém que as finanças batam, os filmes batam, os ritmos de vida, de acordar, de dormir, de querer, a rotina de casa, de jeito que…

Cris: Só se você casar com você mesmo.

Ju: De lavar louça, que seca louça, de pintar parede… Sabe, assim, tudo?

Samir: De pintar parede… Você ia aí pintar o nariz um do outro e assim ‘Hahaha’…

Jessica: E fazer aquela cerâmica…

Samir: E aí rola briguinha de tinta que termina numa cena de sexo…

Ju: Isso! Você acredita nisso, durante 80 anos, assim? Uma única pessoa e tudo que você quiser vai ter ali e tá tudo certo, sem esforço… Porque amor romântico é isso, né gente? Não tem esforço porque se tiver esforço, deu errado?

Samir: É! Eu acredito e não acredito. Eu acredito que existem sim pessoas que, talvez você nunca vá cruzar na vida, mas se aquela pessoa estivesse com você, seria a chave correta. Teria toda essa história… Ia ter essa vida de café, de margarina…

Ju: (Risada)

Samir: De… Essa coisa maravilhosa, de café-da-manhã… Mas eu sou muito pé no chão. Eu sou…

Cris: “Ai, Máircia! Né não!”

Samir: Ai, Máircia! Máircia, queria falar um negócio, Máircia!

Cris: Cê não é pé no chão, não, Máircia!

Samir: Eu acho muito fácil você falar, você não sendo, sabia? Mas…

Cris: (Risada)

Bloco 9 (minutos 81 a 90)
Samir: Mas eu acredito que possa ter uma pessoa que você vai viver pra sempre mas por enquanto eu sou pé do chão. Eu sou, tem que ter duas vidas. Você tem que ter essa vida romântica, tem que ter a vida minha só o meu momento.

Ju: E você Jéssica?

Jessica: Ai, eu acho que não existe isso não cara, muito difícil

[Todos riem]

Jessica: Mas eu acho que são duas pessoas vocês vão discordar em alguma coisa com certeza. Não tem como ser perfeito mas, gente, vocês começaram a falar Máircia, Máircia e agora eu tô puxando o erre. (Todos riem)

Samir: Ô Máircia

Jessica: Altamente influenciável

Cris: Você não conhece a Máircia? Você tem que escutar o Milkshake chamado Wanda

Samir: Um Milkshake chamado Wanda. Ouve lá

Jessica: Vou escutar.

O que eu acho é, eu sou uma pessoa super monogâmica, e eu acho que você tem que ir trabalhando, também não dá pra na primeira briga, na primeira dificuldade você desistir do negócio né? relacionamento é igual a uma montanha russa, tem os altos e baixos mas se descer demais você tem que sabe? Tem que seguir a tua felicidade e fazer dar certo então que seja infinito enquanto dure sabe? Essa coisa assim e sempre, sei lá, tentar fazer a pessoa bem e se a pessoa tiver te fazendo bem ótimo se não, essa ideia de amor romântico, ela bota muita culpa na gente assim né?

Ju: E uma expectativa gigantesca

Cris e Jessica: Demais.Demais

Samir: Dificulta a relação né? por que você fica -Ai eu não tô fazendo sexo todos os dias, eu não to fazendo sexo todo santo dia, sei lá 5 vezes na semana depois de 10 anos de casado então Ai meu casamento está em frangalhos.
Não! Isso foi uma ideia que colocaram na sua cabeça. O importante pra mim é que as pessoas sejam felizes, mais felizes do que brigando.

Jessica: É, mas mais que isso ela deixa por exemplo mulheres em relacionamentos abusivos por décadas entendeu? E a mulher não termina porque não é um cara só pela vida. Éele, eu tô casada sabe? Então essa culpa de ter que -Achei sabe? Tô casada. O que eu vou fazer sabe? Então eu acho que é bom desconstruir um pouco isso ai

Cris: Eu acho assim, eu sou muito romântica sempre fui. eu tava lendo um pouco sobre… pra colocar aqui pra gente conversar alguns tópicos eu tava lendo um pouco um neurocientista falando sobre o cérebro quando ele se apaixona e ele fala que a gente solta tantas coisas loucas no cérebro e ele fica tão inebriado que durante um período aproximado de 3 a 4 meses a gente fica num estado de pequena demência.

Samir: Olha.

Cris: Se você for diagnosticado por psiquiatra nessa época ele vai te dar um atestado de loucura. Então assim, é muito gostoso aquela borboleta na barriga, aquele frio, aquele desejo de encontrar pessoas de sabe, dormir juntos todas as noites. Ai a pessoa tem mau hálito e é lindo e atrasou pra chegar você tá morta de saudade. A delícia de comprar presentinhos, deixar pequenos bilhetes E aí você se apaixona loucamente e nesse momento a gente acaba tomando algumas decisões porque você chega a perceber os defeitos da pessoa só que você fala assim: “Eu dou conta.” porquê defeito todo mundo tem. Tem defeitos que você suporta outros não. Só que nesse momento você olha e fala assim: -Eu suporto tudo sabe?

[risos]
Cris: E suporto tudo

Samir: Ahh depois ele muda lá na frente…

Cris: Ai sabe, aquelas noites intermináveis de paixão, café na cama. Gente isso é muito bom, desculpa. E ai como você tem esse estágio de pequena demência, você guarda isso num potinho, num relicário e de vez em quando você visita essas emoções porque as essas emoções dão a sensação de estar vivo. Só que elas não se perpetuam por muito tempo e quando cai a ficha, você tem opções que é ficar tentando buscar esse sentimento o tempo todo ou encarar que você tá construindo alguma coisa do lado de alguém.
E assim olha, quando você trabalha, tem filho, tem que fazer compra, limpar a casa, pagar as contas, abastecer o carro, escolher a viagem, saber o que vai fazer com filhos durante as férias escolares, ai a pessoa engorda, ou outro ronca, o outro tem insônia, o outro briga no trabalho chega e desconta em você, você dorme de pijama furado, tá com preguiça de depilar (Samir ri) o outro tá morrendo de dor de cabeça. Esse sentimento, ele vira uma outra coisa na minha percepção. Como você começa a consolidar uma construção dependendo de como é a base dela, isso também um casamento sem falar que fica no operacional. É um operacional muito forte, tem muito job,tem muita coisa pra resolver e é job, job, job, job, job. é super difícil você colocar a cabeça pra fora e ver o estratégico, que é tentar planejar umas férias, tentar planejar uma noite fora.

Samir: Um filho até, as vezes.

Cris: Até um filho. Mas tipo, depois que você já tem um fica mais difícil ainda entendeu?
E as vezes você quer até transar mas você tá com muito sono, você tá exausta,

Cris e Samir: Risadas

Você tem que acordar às 7:00 horas da manhã então você não vai transar, desculpa, você não vai transar. Não e quando tá muito frio você fala nem a pau (risadas da Jéssica) porque eu vou levantar depois disso.Sai daqui

Ju: Sabe o que eu acho de interessante? Por que assim, eu fui aquele tipo de pessoa que leu todos os romances clássicos

Samir: Sabrina, essas coisas assim.

Ju: Também isso, minha mãe não tinha critério, isso é muito engraçado. Eu tinha controle de TV não podia ver TV, ou tipo tudo o que eu assistia era muito controlado. Era Cultura Tanananananã, mas livro não tinha qualquer filtro, então eu podia ler tudo inclusive Sabrina e aí li todas aquelas: Charlotte Bronte, Emily Bronte, Jane Austin, todos os clássicos, tanãnã. Então assim, o que que a gente está falando de amor romântico que, no final todos os filmes que a gente vai ver acabam mostrando isso, é um amor super idealizado. Então é um amor em que assim, o que você falou sem saber Samir, carrega muito disso que é assim, é um encontro de almas. então quando tiver (barulho de estalo de dedos) vai ter o clique e tudo vai se encaixar, eu não preciso fazer nada entendeu?

A história do amor romântico é: Se você tiver que fazer alguma coisa, já não é. Porque o amor romântico ele é mágico, ele não tem esforço, não tem escolha, não tem trabalho, não tem decisões não tem, sabe, escolhas difíceis. Não, o amor romântico ele é um passe de mágica, as coisas vão acontecendo e é aquela coisa.

Samir: As pessoas se esbarram

Ju: Não, assim, não só s e esbarram. Se esbarram, e aí são felizes,aí tem filhos é isso aí são imensamente felizes.

E tudo é mágico, incrível e tal. tá muito construído em cima da idealização das pessoas. então o seu príncipe ele não peida, o seu príncipe ele não fala coisas erradas, o seu príncipe sempre sabe quando você tá chateada, o seu príncipe sabe seu ciclo antes de você, enfim.

O amor romântico é construído em cima de pessoas que não existem né? E ai você, a dificuldade, que a gente falou nessa introdução, não é nem o amor romântico, por que quando ele existe pra te motivar, seus sonhos tanãnã tá tudo certo.

O problema é que a gente colocou no casamento todas essas coisas idealizadas do mundo dos sonhos junto com as coisas muito práticas do dia-a-dia que é a conta conjunta, é pagar o aluguel, que é cuidar de filho, que é decidir sobre educação, que são um zilhão de micro decisões no dia-a-dia, que é cuidar da sua mãe, do seu pai do seu irmão sabe? Que é profissão, então preciso me mudar por causa do meu trabalho então você vai vir junto, você não vem junto, enfim, é uma série de decisões que são completamente práticas que não tem nada a ver com esse ambiente de sonho

Samir: De sonho

Ju: De idealização, que vão ter que conviver juntas. E mais do que isso o amor romântico diz que se você, se foi tudo aquilo, se foi mágico, se esse encontro aconteceu, ele é pra vida inteira. então como pode uma coisa tão mágica como que a Cris falou. Se bateu tudo, se a gente viu a mágica acontecer, se foi bom por tanto tempo, como que agora pode não ser? Como que a Jéssica falou entendeu?
Se agora tudo me diz que não tá funcionando mas se ele foi, então assim, eu sou obrigada a ficar só com duas caixinhas que é: Ou não foi amor de verdade, por que o amor de verdade dura pra sempre necessariamente e ele é único na vida. Ou é amor de verdade e eu tenho que ficar aqui. É isso que temos pra hoje. Entendeu?

Samir: (risada)

Cris: A gente não trabalha com conceito de ciclos.

Todos: Não

Cris: Você fecha o ciclo e foi bom pra caramba. Não é que não deu nada errado. É que foi um ciclo que se fechou. Estou no meu segundo casamento né? Eu fui casada, me casei super jovem. Apaixonadíssima, apaixonadérrima, super jovem, vamo lá! É o amor da minha vida. E ele também, a gente viveu…

Samir: Se não for esse não vai ser mais ninguém.

Cris: Não, tipo não existe mais ninguém. Como assim mais alguém se não existe mais ninguém? E a gente viveu um amor lindo e intenso. A gente ficou junto bastante tempo e tananá e acabou. Acabou. Um dia acabou, a gente olhou um pro outro e a gente sabia que tinha acabado. E a gente acabou aquilo com muita maturidade. A gente ficou morando junto um tempo, até encontrar outro apartamento. Eu que saí, ele continuou. A gente vendeu as coisas, separou tudo direitinho, nós somos amigos até hoje, a gente se fala sempre. E eu lembro de chegar na casa da minha avó e ela: Ele é um bandido! (Ju e Samir riem) e eu: Não vó, ele era uma pessoa super querida. – Não, olha, ele pegou o carro. Eu: não vó, nós dois compramos o carro então nada mais justo que a gente vender e dividir o carro. E ela não conseguia entender aquilo. É óbvio que tinha que ter tido uma briga, uma traição, alguma coisa.

Ju: Sim

Cris: Não.

Samir: A ruptura

Cris: A gente fechou um ciclo (Ju concorda) Ciclos se fecham. é claro que você não começa um ciclo pensando em quando ele vai se fechar. As vezes ele não vai se fechar, ele vai.
Bloco 10 (minutos 91 a 100)

Ju: É, o que eu acho mais complicado dessas idealizações que a gente tem do amor romântico é que a gente entra num relacionamento de longo prazo que a gente espera coisas muito… assim, construir a base da nossa vida né, família mesmo, completamente despreparado pra realidade do que é, sabe? E completamente despreparado assim, das ferramentas pra fazer a coisa dar certo, entendeu? Então assim, sabendo assim, se eu acho, Samir, que eu vou encontrar o cara e eu vou querer acordar do lado dele todos os dias e tudo vai ser lindo, eu não preciso fazer nada, eu ponho no piloto automático e vai.

Samir: Uma hora…

Ju: Agora se eu souber que relacionamentos não são feitos para durar, que o mais normal seria as pessoas se cansarem e irem embora e se eu quero ficar junto com uma pessoa por pelo menos 20 anos para dar tempo de criar os filhos, então eu sei que eu vou ter que fazer outras escolhas, e eu sei que eu vou ter que fazer outras construções, e eu sei que eu vou ter que fazer outras concessões e aí você vai pra um outro modelo completamente diferente que é de construir. E aí o modelo romântico não abarca isso, porque construir não tem glamour né?

Cris: É, tem trampo.

Ju: Construir, que é você falar assim… cara, eu acho muito engraçado que eu sempre escutava antes de casar, assim “Não, porque todo mundo tem defeito. Você tem defeito, a pessoa tem defeito. Então você tem que aceitar defeitos.” E eu achava que defeito era tipo, sei lá…

Samir: Deixar a toalha em cima da cama.

Ju: É, eu achava que isso era defeito.

[Risos]

Samir: Anram.

[Risos]

Ju: Olha que idiota, gente.

Samir: É.

Ju: Eu… de verdade, eu achava que quando a gente tava falando de defeito, não tava falando de coisas que realmente você tem vontade de atirar a pessoa pela janela, entendeu?

[Murmúrios de concordância]

Ju: E que assim, olha, não vai ter ninguém, nenhum ser humano, porque nem você… que você não vai querer atirar da janela. Então, quê que você vai fazer com isso? Cada vez você vai semi atirar a pessoa da janela e queimando pontes até que…

Cris: Exato.

Ju: … desgaste o relacionamento? A gente vai, de fato, usar as pessoas como a gente usa as coisas, sabe? Então, assim, é consumir vorazmente o sentimento, consumir vorazmente o relacionamento até que ele se exaura, não tenha mais nada pra dar, você joga ele no lixo e começa de novo? Compra um novo? É isso que a gente vai fazer com as pessoas?
Jessica: É, eu acho que é.

[Risos]

Samir: Meio que seja.

Jessica: Eu concordo.

[Risos]

Samir: Eu acho…

Cris: É extremamente doloroso, né? A gente fica com um gosto amargo na boca.

Jessica: É.

Samir: … eu acho que dois valores, assim, importantes num relacionamento que eu busco sempre é: respeito e admiração. Enquanto eu to admirando a pessoa, pode ter o trampo que for, enquanto eu ainda tenho um respeito por ela, ainda tenho admiração, estamos num relacionamento. Eu gosto do que você falou, que sim, é trampo, é trabalho construir, é uma escada a se subir. Mas as pessoas tem que tomar cuidado também pra não achar que tipo, ficar num relacionamento – virar um relacionamento abusivo: “Ah não, não tá dando certo. To, sei lá, to apanhando do meu marido, mas eu tenho que construir, tenho que batalhar.” A partir do momento que a balança vira pro outro lado, e se você só tem a parte ruim, só tá com a parte difícil e aquela parte legal, a admiração por ele, o respeito, não tem mais nada, aí é a hora de partir pra outra. É a hora de…

Cris: Tirando os casos extremos, né, de violência e de abuso, eu acho que a dificuldade tá em saber isso, entendeu?

Samir: É.

Jessica: Então, por isso que…

Cris: Que hora desistir e que hora insistir? Que hora ir lá e investir mais e que hora que você tem que puxar? Então eu acho que isso que é um aprendizado de todo dia e eu acho que você pode casar 10 vezes que você vai ter esse mesmo aprendizado, porque são pessoas diferentes, e você vai ter aprendizados completamente diferentes. E tem uma coisa aí pra colocar na sua conta de respeito e admiração que chama intimidade. Ter intimidade com uma pessoa é também uma construção. Saber quando ela não tá bem, saber quando ela tá gripada, saber quando ela… tudo, sabe? Saber quando ela tá sofrendo. Então, a intimidade também é muito difícil. Tem hora que as coisas se misturam e viram meio uma só. Manter a individualidade ao longo dos anos é muito difícil. Eu sofro com separação de ator.

[Risos]

Samir: Ah é, por quê?

[Risos]

Cris: Às vezes eu vejo e falo assim “Gente, 20 anos junto, nossa é muito tempo”.

Samir: Ah sim, se não deu certo com eles e agora?

[Risos]

Cris: É, não…

Samir: “Gwen Stefani se separou! Como?!”

[Risos]

Samir: E você fala “eu quero ser que nem a Gwen, quero ser que nem a Gwen”. E a Gwen se separou, meu Deus, não existe amor no mundo.

[Risos]

Jessica: Eu boto mais uma palavrinha nessa contagem que é diálogo, gente. Muuuito assim. Porque uma… Eu nunca casei, mas já tive relacionamentos sérios e longos, né, namoros e tal. E eu acho que uma das coisas que eu mais erro em relacionamentos é achar que a pessoa vai adivinhar o que eu quero.

Ju: Mas isso é o amor romântico, você entende?

Jessica: É…

Ju: Essa idealização, porque só pode funcionar assim…

Jessica: Sim.

Ju: Como que ela não sabe o que eu quero? No amor romântico ela sabe!

Jessica: Sim, é é. E aí quando eu ia perceber era uma coisa tão boba que era só eu falar, sabe?

Samir: [Risos]

Jessica: Era só eu falar “Amor, tal tal tal…”

Ju: Mas Jéssica, isso é real. Isso é vida real.

Jessica: É.

Ju: Na vida real você tem que chegar pra pessoa e falar “Então, sabe o que é importante pra mim? Aniversário…”

Jessica: É.

Ju: “Eu fico, assim, eu fico pra morrer se você não lembrar do meu aniversário.”

Samir: [Risos]

Jessica: Exato.

Ju: Então, assim, rodando o jogo a seu favor, tipo, uma semana antes você fala “Meu aniversário, você sabe né?”

Samir: [Risos]

Ju: Então, assim, é aquele dia que, tipo, “Por favor, faz alguma coisa se não eu vou ficar muito chateada”.

[Risos]

[Murmúrios de concordância]

Ju: Três anos que você faça isso, no quarto o cara já vai saber, ele já vai entender. Mas você ajuda, sabe amiga?

[Murmúrios de concordância]

Jessica: Sim.

Ju: Mas é que no amor romântico, sabe qual é o sinal? Por que tudo é mágico.

Samir: A gente se olha…

Jessica: Não precisa, a pessoa faz né…

Ju: É um sinal de Deus, do universo, de que é aquela pessoa, é que ela vai saber do aniversário. Ela é obrigada a saber, Jéssica.

Jessica: É, exato.

Ju: Porque senão não deu o sinal, não deu o clique que o Samir tava procurando.

[Murmúrios de concordância]

Ju: Quando eu falo de construir, Samir, é isso, é falar. Não vai vir de fora, de Deus, um sinal, nã nã nã… Num vai, você vai ter que falar, entendeu?

Jessica: É.

Samir: Exatamente.

Ju: E quando as coisas derem errado e o respeito meio que for pro beleléu, você vai ter que sentar e falar “Mano, olha só, olha quem a gente era”

[Murmúrio de concordância]

Ju: “Olha que legal que a gente era, olha o que a gente já fez”.

Cris: Precisa de um ‘repare’…

Samir: É.

Ju: “Olha o nosso potencial aqui, é isso aqui… é pra esse caminho aqui que a gente vai ir? Porque vai dar tudo errado ai”.

[Murmúrio de concordância]

Ju: Porque o amor romântico é: joga fora, gente, num deu certo né? Perdemos respeito aqui, então joga fora. Porque no amor real, de construção, é tipo: mano, olha aqui, é expectativa vs. realidade, não funcionou. Como que a gente vai fazer funcionar, Samir?

[Murmúrios de concordância]

Ju: Porque, na verdade, a gente não sabe. A gente não sabe como que a gente faz funcionar. E esse negócio às vezes é difícil demais. E toda vez que eu brigava eu pensava assim, cara… Eu lembro que no meu relacionamento anterior eu tinha brigas homéricas, assim, tristes, muito doídas, que eu ficava pra morrer e eu pensava assim “Não é possível, eu sou muito incompetente. Porque pra todo mundo isso aqui é tão fácil, porque que eu to sofrendo assim? Não é possível”. Assim, eu juro que a maior coisa que eu sentia era um fracasso gigantesco, que me paralisava, assim, que eu pensava assim “Eu sou um fracasso, porque só eu não consigo isso, todas as pessoas do mundo conseguem e eu não dou conta”. E aí é por isso, por essa expectativa irreal de achar que ou a coisa já vem pronta ou tem algum erro muito grande, que você não pode ter a maturidade de sentar e falar “Então, o que eu gosto é isso, como eu quero é isso, o que é importante pra mim é isso”, entender o lado do outro, se colocar no lugar do outro, partir de pressupostos bons tipo, por exemplo, não achar que… “Você fez isso, Samir, porque você sabia que…”

Samir: [Risos]

Ju: … Não, pensa assim “Olha, você me ama, né, por isso que você tá aqui, porque você podia tá em um monte de lugares…”

Cris: Tem que partir desse pressuposto.

Ju: “Então, você me ama…”

Samir: É, se você escolheu estar aqui né.

Ju: “Você queria estar aqui, mas você tá me fazendo mal, então como é que essa equação não tá fechando aí? Que que tá acontecendo aí, que… Porque assim, você me ama, você tá aqui pra me fazer feliz e eu to infeliz pra caramba, que que tá acontecendo?”

Samir: Qual que é… Onde que tá dando errado?

Jessica: Por isso que é importante o diálogo. E sem contar que, o que você vai mais fazer no seu relacionamento é conversar, não é transar, não é viajar, não é… é conversar.

Cris: O que é uma pena.

[Risos]

Jessica: Super pena. Então eu, por exemplo, uma das coisas que eu faço… Eu só namorei com pessoas que eu adoro conversar, adoro bater papo, sentar e ficar horas no boteco, sabe? Porque é isso que você vai fazer e você tem que já, já ter essa facilidade assim. Então o diálogo é essencial galera.É sim, eu to aqui construção, né, porque eu to solteira.

[Murmurando uuuu]

[Risos]

Samir: Tamo aí.

Jessica: Então, realmente…

Cris: Tinder do Mamilos.

[Risos]

Cris e Jessica: O Tinder do Mamilos é ótimo.

Cris: Podem entrar, porque só tem gente boa aqui.

Jessica: É, meu Tinder é ótimo.

Samir: Ah gente, vou investir, vou investir.

[Risos]

Jessica: Inclusive, ainda… Eu sempre falo, eu tava num relacionamento super duradouro e tal. E a gente não expõe as partes ruins, também tem isso né, porque você fala “Nossa, eu estou falhando, porque as pessoas conseguem. Como assim? Eu sou um incompetente”. Não, as pessoas só não mostram, porque, lá no quarto… entendeu? Rola aquelas dificuldades né? Todo relacionamento, não tem jeito. E aí eu terminei faz um tempo, e aí as pessoas “Nossa, mas como assim né, que…”

Ju: “Era perfeito, era tudo incrível…”

Jessica: “Perfeito e tal…”

Cris: Nossa, me ajudou muito agora. To me sentindo bem melhor,

[Risos]

Jessica: Não, é incrível, não e as pessoas… A maioria respeitou, porque… Bom, eu postava fotos e tal, e como eu tenho seguidores, as pessoas se sentem parte daquilo e tal. E aí eu falei, eu falei “galera, olha, eu não quero falar sobre, assim, não vou ficar fazendo vídeo, e… sabe? Não, po, terminei, ponto. Superem.”

[Risos]

Cris: “Superem, estou tentando fazer o mesmo”.

[Risos]

Jessica: É exatamente. “Vamos superar juntos”.

[Risos]

Jessica: E eles super respeitaram, foram fofíssimos e tal. E aí eu comecei – eu muito da piadista, né -, eu comecei a sempre que alguém falava isso, né, “Mas como assim??”, comecei a contar uma história, falei assim “‘Gente, se eu trabalhasse com o Canal das Bee (Link: https://www.youtube.com/user/CanalDasBee/featured), ou seja, eu sou super conhecida no meio das sapatões né, e eu namorando esse tempo todo, já querendo casar. Se eu casasse, vivesse monogamicamente com uma menina só, sem aproveitar, eu ia chegar… eu ia morrer, Deus ia falar assim ‘Jéssica, eu te dei essa chance, não aproveitou vai voltar hétero na próxima’”

[Risos]

[Murmúrios de concordância]

Jessica: Aí eu falei “Por medo, eu tive que tomar essa decisão”.

Cris: Boa, boa, boa…

[Risos]

Samir: Isso aí que a Jéssica citou é o… Se antigamente você tinha os livros que construíam o ideal de amor romântico, hoje a pior variável se chama Redes Sociais né?

[Murmúrio de concordância]

[Risos]

Jessica: É um problema.

Samir: Que isso constrói um ideal de amor romântico na cabeça das pessoas…

Ju: É verdade… Muito bom, Samir.

Samir: … que você fica horrorizado. O que eu acho muito engraçado é que assim, quando tem aquele casal maravilhoso, das Redes Sociais, que faz ioga junto na praia…

[Risos]

Samir: … termina, você fala “Ah lá, sabia. Sabia que não amava, sabia que não gostava. Sabia que… Ah lá ó, terminou, não gostava”.

[Risos]

Ju: Não, mas principalmente por que você só compartilha as coisas que fazem parte dessa narrativa romântica.

Samir: [Compartilha coisas] Boas.

Cris: A sua cara toda inchada depois de uma briga você não… [Risos] Chorou horas, aí você posta uma foto.

[Risos]

Samir: Você quer eternizar. Redes Sociais…

Ju: Não, é aquele pedido de casamento espetacular, é aquela foto tudo ótimo, tudo lindo. Então, assim, a narrativa romântica, ela continua viva na cabeça das pessoas como uma coisa que “olha esse casal, eles se dão tão bem, não tem briga, não tem nada, é tudo tão natural né?”

[Murmúrios de concordância]

Cris: Não, é. E pessoas que tão sempre viajando, tão bonitas, tão bem. Eu fico olhando assim, eu queria ser assim.

[Risos]

Bloco 11 (minutos 101 a 110)

Jessica: Mas…é muito… Samir tá de férias né?

Samir: Sim.

Jessica: Então a rede social dele, não vou nem te seguir, porque deve tá um nojo né?

[Risos]

Samir: Só alegria, só felicidade…

Jessica: Aquela coisa que você e falaa.. Mas é isso né! A pessoa só vai postar quando tá…então a gente sempre repara quando o amigo tá de férias, quandoo amigo…quando teve esse pedido de casamento lindo, porque a pessoa posta né! E aí você…, você, é um exercício ótimo! Aí sei lá você pega uma foto lá e tantos anos de casaados, viemos comeer no melhor restaurante! Aí você pensa assim: tá, foi hoje né, porque eu não tenho visto nada.

[Risos]

Jessica: Ultimamente…entendeeu! [risos] A pessoa não vai postar o dia a dia! Olha aqui jantarzinho miojo. Tá ligado…p**é f**..

Cris: Claro que não amiga! Por exemplo, você só posta uma foto bem legal Dia dos Namorados, agora a próxima, só ano que vem.

[Risos]

Samir: É exatamente!

Ju: Gente, eu to casada aa…meu filho tem 4 anos, eu tô casada a 4 anos. É o terceiro ano que quem me lembra do meu aniversário de casamento é minha tia. Que ela me acorda com “ PARABÉNS! Seu ano de bodas de não sei o quê!”

Jessica: É a mesma tia?

Ju: É a outra!

[Risos]

Ju: É que cara eu tenho 14 tias, então assim..

[Risos e murmúrios Nooossa]

Cris: Não tente acertar! Não…eu acho difícil mesmo. A gente….Eu to fazendo 7 anos de casado e dizem que tem a crise de 7 anos né. Eu falei que engraçado, a gente teve de 3, de 4,a de 5, de 6…

[Risos]

Cris: Então foda-se, é só mais uma esse ano sabe!

[Risos]

Jessica: Totaal!

Samir: É…Exatamente!

Cris: É por aí..

Ju: Ah, mas eu acho legal assim…Eu tive uma grande desconstrução, assim..de.., uma grande desilusão, de pensar assim: “Não, se não deu certo com esse. Nunca mais! Nada vai poder ser e nanana..” E quando eu encontrei o Merigo foi muito mais amor real. Muito mais pé no chão. Muito mais…uma experiência assim…já de saber que as coisas podem dar muito errado, mesmo quando elas começam muito certo. E que o não dar errado, depende das escolhas que você faz e não de ser a pessoa certa, Samir, entendeu? Eu não acho que o Merigo é o único cara do mundo que poderia acertar comigo. Eu acho que ele foi um bom cara, um homem bom, um homem que tinha um monte de coisas que eu gostava e que queria as mesmas coisas que eu, que era apaixonado por mim e que eu fui apaixonada por ele. E que a gente decidiu juntos construir alguma coisa. E aí a partir disso a gente faz escolhas todos os dias pra construir. Eu não acho que tem mágica, eu não acho que ele é predestinado, eu não acho que é só ele, eu não acho que se eu perder ele nunca mais vai ter ninguém, eu não acho nada disso! Acho que a minha escolha é por ele. E acho que minha escolha foi muito feliz e eu sou muito feliz com a minha escolha. Mas eu não acredito mais que existe uma pessoooa…um chinelo velho prum pé cansaaaado…

Samir: A tampa pra sua panela…

[murmúrios de discordâncias..]

Cris: Ai que brega…

Jessica: Eu também não acho…Eu também não acho…

Cris: Eu costumo falar que o Agê é a minha casa. Então ele é o lugar pra onde eu volto. É o lugar que eu me sinto segura. É o lugar que eu moro! Tem dia que essa casa tá uma bagunça, [murmúrios de concordâncias] tem dia que eu queria mudar, tem dia que a casa tem goteira, e eu tenho que ir lá dar manutenção, mas ele é a minha casa. Enquanto eu sentir que ele é a minha casa, é pra onde eu vou voltar.

Jessica: Que lindo isso!

Cris: Eee a gente vai tentando todo dia!

Samir: Né…um dia após o outro.

Jessica: Nossa amei isso! Vou usar. Não vou nem dá os créditos

[risos]
Jessica: Foi tão bom que eu quero roubar!
Samir: Vou tuitar sem arroba!
Jessica: Eu queria ter falado isso! Sabe quando você uma coisa genial, que você fala “P** porque que não fui eu que tive essa ideia!” Muito boa, muito boa!
Cris: Gente é isso então! Vamos então pro…
Ju e Samir: Farol Acesso.
[acústico violão]
Cris: Vamos então pro farol aceso? Vamo começar com as visitas?!
Jéssica e Samir: Simm!
Cris: Jéssica, que que você manda de bom?!
Jessica: Além do Canal das Bee?! É…[risos]
Cris: Uuuuh
Jessica: Além do…tem um canal ótimo que chama Gorda de Boa tá gente, eu faço vocês procurem lá depois…. O que eu quero falar hoje é pra quem escutou todo esse papo, e quer entender um pouco melhor desse fundamentalismo prático na vida,do.. o que acontece na vida das pessoas e se você não aceita muito bem a ideia da homossexualidade é um filme que chama Orações para Bob. Que á a história real, de um garoto que..bom assistam! É um menino gay…dentro da igreja e.. aí mostra o que acontece com ele durante a vida, os problemas que ele passa, o que que ele pensa.
Cris: A relação com os pais…
Jessica: Principalmente a relação com os pais! Com a família, a com a mãe principalmente! Eu posso dizer que a minha história, até o segundo ato do filme assim….até o segundo ato do filme é a minha história também e a história de milhaaares, milhares de jovens LGBTs do mundo todo. Então assistam aí Orações para Bob. Tem no youtube!
Samir: Youtube?
Cris: Eu coloquei o canal. Eu coloquei do youtube..safaaada..
[Risos]
Cris: Samir querido…
Samir: Eeee! Tenho dois! Primeiro, “Milkshake chamado Wanda”
Todos: Eeeee!
Samir: Vocês que ouvem o Mamilos, já ouviram falar várias vezes. Mas gente, quando vocês estiverem assim ó estafados do mundo! Cansaado…e só querer ouvir bastante baboseira.. vai lá! Vai lá…
[Risos]
Ju: é frevo! É frevo gente…
Samir: É frevo! É escapismo! É zuação!
Cris: É sequência do Mamilos!
Samir: É sequência do Mamilos!
Cris: É um…é um gole de Mamilos
Ju: É bate cabelo mesmo.
Samir: É. Você ouve Mamilos….Primeiro você se informa, e aí depois você vai lá..
Cris: Se divertir…
Samir: lá é recreio..lá é recreio
[Risos]
Samir: Ai eu adoro! A gente começou muito: ‘Ai vamo vê o que que acontece!’ E hoje em dia a gente…muito feliz. Eu fico muito orgulhoso de ver gente ‘Ai eu sou Wanders!’ [risos] As pessoas criando Fan Pages assim…falando e abordando na rua! E falando que ama! Nossa eu fico muito feliz! E o segundo, é um documentário, que tem no Netflix, que eu amo! Também sempre indico. Eu já falei umas dez vezes no Wanda, mas espero que ninguém tenha falado aqui ainda que é o “Good Hair”. Vocês já assistiram?
Ju: Aaaah a Cris já falou…É muito bom…fala
Cris: Mas fala que é muito bom!
Samir: Que é muito incrível! Fala sobre…o Chris Rock que fez, que ele começou a estranhar quando as filhas dele voltaram da escola assim e começaram a se questionar porque elas tinham o cabelo ruim. Né? Por causa da construção toda.. de que ah..a pessoa tem cabelo ruim.. tem cabelo..né..o crespo é o ruim. E ele foi atrás disso. Estudar isso entender desde porque que tem essa concepção. Valorizar, ver aonde que se valoriza o cabelo .cabelo afro. E é muito engraçado que ele estuda tudo. Até peruca. Aí ele vai entender como que é feito peruca. De onde vem peruca. Aí ele descobre todo o mercado indiano de mulheres que são praticamente fazendas de cabelo. Que corta os cabelo pra virar aquelas ‘wives’ que as americanas colocam porque quer ter o cabelo liso da mulher da noveeela..daa.. fulaninha..aqueles cabelos caríssimos. E foi entender de onde que vem esse cabelo. É muito engraçado! Tem campeonato de cabelereiros que as pessoas fazem os penteados malucões…É bem divertido! É uma desconstrução bem forte sobre cabelo e é muito divertido. É muito engraçado…
Ju: Cabelo é identidade né
Samir: É…cabelo é identidade. É…e ele vê tudo isso. Acho muito legal.
Cris: A parte que eu mais gosto é que os caras falam assim. ‘Encosta no cabelo de uma mulher negra pra você vê se sobrevive!
[Risos]
Samir: É…
Cris: Você pode fazer o que você quiser com ela, em qualquer parte do corpo dela, mas encosta no cabelo dela pra você ver!
[Risos]
Jessica: Tem uma festa ótima aqui em São Paulo que é feita pela galera jovem do movimento negro que chama “ Don’t touch my hair”.
[Risos]
Samir: Ai que ótimo!
Cris: Bom…eu vou ficar com uma dica muito básica, mas pra mim essencial. A gente já citou durante o programa. Assistam ‘Milk’! É um filme muito, muito, muito essencial. Sean Penn tá maravilhoso no filme! Assim, eu gosto muito dele, mas acho que no filme ele tá muito especial. Acho que todos os atores estão bem. Dá vontade de mudar pra São Francisco, dá vontade de viver naquele lugar de pessoas livres, e buscando, correndo atrás politicamente das suas ideologias, das suas liberdades. É um filme pra aprender, então muito recomendado. Quem não assistiu, faça-me o favor. Ju…
Samir: Posso dar o terceiro? Posso dar o terceiro?
Ju: Pooode..Samiir
Cris: Ai gente…chega..
Samir: Chega..achando que eu sou velho…[Risos]
Cris: Chega e vem avacalhar o podcast dos amigos
Samir: Dos amigos né… Porque eu sou tão acostumado com a zueira, com o tipo..regra nenhuma! Que eu chego no dos outros querendo fazer a minha regra!
[Risos]
Ju: Vai Samir pode…
Samir: Não, mas só pra ficar dentro da temática, que a gente falou de homofobia, que é o meu filme favorito da vida chama “Paris is burning”. Fala sobre todo o surgimento. Os gays negros e latinos nos Estado Unidos, nos anos 80, eles eram completamente segregados. Se hoje são segregados, eram mais ainda. E dentro eles criaram um mundo deles, a subcultura, que foi quando surgiu o Voguing é…muitas gírias.. os shades..todas as gírias que a gente usa hoje em dia, tudo surgiu dessas pessoas que não tinham família, e construiu suas famílias em redutos. Ee…o filme é muito incrível! Que você vê sobre sonhos…
Cris: Não vi Samir, vou assistir.
Samir: É muito incrível! Você tem a… uma trans que o sono dela é ser que nem a modelo…é ser modelo! É ser modelo da revista. E você vê ela indo atrás disso e batendo na barreira de que ela era trans nos anos 80. Então…corta o coração assim…Você entende que hoje em dia o…os..gays americanos criam as casas lá né, que eles falam, tipo “House of Labesia”, “House of Estravaganza” e todos tem o sobrenome e como eles em casa não tinham…é…aceitação da família, então eles se juntavam e criavam as suas famílias. Inventavam sobrenome e ali tinha pai, a mãe..
Cris: Desincroquetes.
Samir: É! É..bem isso. Bem desincroquetes. Eles criavam a família deles com o sobrenome deles, e ali eles tinham que respeitar aquela família. E você vê eles falando sobre isso, ensinando sobre construir famílias, e é muito lindo. Você fica horrorizado. E de quebra você aprende que todas as gírias que a gente usa hoje em dia nasceram lá, sabe. É muito incrível esse filme. Agora pode seguir!
[Risos]
Cris e Ju: Obrigada Samir!
Samir: De nada!
Cris: Bicha opressora.
[Risos]

Bloco 12 (minutos 111 a 120)

Ju: Continuando na saga de filmes antigos que todo mundo já viu menos eu…

[Risos]

Ju: Eu to numa leva, Samir, já indiquei vários. Eu assisti essa semana Kramer vs. Kramer (Link do IMDb: http://www.imdb.com/title/tt0079417/).

Cris: Foi longe.

Samir: Nunca vi, gente.

Ju: Cara, presta atenção. Como que eu cheguei aí?

Jessica: Meryl Streep, Sean Penn, né?

Ju: Exato. Não… Meryl Streep. Aí, falei “Okay, eu já dou play”.

[Murmúrios de concordância]

Ju: Meryl Streep: dou play. Não é o Sean Penn, é o…

Ju e Cris: Dustin Hoffman.

Jessica: Dustin Hoffman, exatamente.

Ju: Só que assim, eles super novinhos. Gente, eu desidratei de chorar. Desidratei. Eu acho que muita gente que assistiu, assistiu ainda não era mãe e pai, ainda não tava nessa situação. Eu acho que deveria assistir de novo. É bizarro como ele é atual, cara. Como que eles podem ter feito esse filme naquela época, porque a discussão que eles poem é muito atual. E aí, então você tem, de repente, uma mãe… A história é assim – sinopse do filme, não to entregando nada -, é uma mãe que abandona o filho de 6 anos, aí o pai, que era ausente no modelo normal de paternidade que a gente tinha há 20 anos atrás, era um publicitário que tava sempre muito preocupado com a carreira dele pra poder se preocupar com coisas pequenas como crianças, delegava isso pra mãe. Assim, de uma hora pra outra ele se vê tendo que cuidar de um filho, não era isso que ele queria mas se vira nos trinta, passa a gostar disso, passa a fazer bem esse papel e aí um ano depois ela volta e quer o filho. E aí é uma batalha judicial pra saber quem é que vai ficar com o filho. Essa é a sinopse do filme. Eu achei interessantíssimo como mesmo feminista, mesmo desconstruída, mesmo 20 anos depois que já teve essa conversa, eu assisto o filme do minuto um julgando essa mãe. “Como que…”

Ju e Samir: “… uma mãe abandona um filho?”.

Ju: Mas o tempo inteiro, na minha cabeça, esse diálogo “Juliana, pelo amor de Deus, que você tá falando?” E o tempo inteiro, assim, visceralmente, “Como que uma mãe abandona um filho?” E o filme é muito bem construído, muito bem, de mostrar o sofrimento da criança e de mostrar, assim, “Mano, né, você abandonou seu filho, sabe? Olha essa criança, você sabe com quem que você deixou ele. Você deixou com o pai que era um estranho pra ele. Como que você fez isso, sabe?” A tristeza de uma criança ter que entender que a mãe foi embora e não olhou pra trás, pra ela. Então assim, o filme mostra muito bem isso e quando ela volta eles constroem muito bem. Assim, é um discurso feminista fudido que funciona hoje como se fosse fresco e como se fosse escrito hoje, sabe? De quem ela era e de como ela precisava se construir como além de mãe, como além de esposa, como uma pessoa. Assim, é muito, muito bem feito, os atores são muito bons. E me fez pensar muito sobre isso, sobre… é, eu vi a construção de paternidade diferente, que é uma paternidade que a gente tá falando hoje. Então assim, 2015 o Mamilos fez um programa de paternidade (Link para Mamilos 36: https://www.b9.com.br/60321/podcasts/mamilos/mamilos-36-nova-paternidade/), sobre a nova paternidade e esse cara tava fazendo filme lá, mostrando essa construção de o pai se envolver no café da manhã, se envolver em levar pra escola, se envolver no primeiro machucado, enfim. Uma nova paternidade, tava ali nesse filme. E principalmente me tocou demais, muito, muito mesmo, o absurdo que é a gente, como sociedade, querer que as pessoas criem filhos e ao mesmo tempo sejam profissionais no mesmo pé de igualdade que quem não tem filho, como se nada tivesse acontecendo, entendeu? Então, assim, o filme mostra muito bem isso, ele é zero romântico nesse aspecto de mostrar que o cara pagou um preço altíssimo na carreira dele, por ter filho. E é muito legal porque isso é outra pauta feminista, porque assim, ah, você quer falar de desigualdade, de salário, nã nã nã. Pra mim a discussão muito maior, é que, óbvio, eu tenho um filho. Eu vou faltar pra levar ele pra vacina, pra levar pro médico. Quando ele tiver febre, assim, não adianta eu ter creche. Criança até 2 anos de idade fica doente direto, eu vou faltar. E aí, como é que vai ser? Como é que eu vou ter a mesma performance que quem não falta, entendeu? Então, essa angústia… porque assim, hoje a gente faz isso, a gente entrega a mesma performance do que quem não tem filho. Só que isso é muito desumano, é muito desumano que se cobre que você trabalhe como se nada tivesse acontecendo, entendeu? Assim, o filme mostra em detalhes que são muito atuais, sabe? Do cara saindo e aquela festinha de agência, que se você não for você tá fora do circulozinho, entendeu? Então, como que você nunca vai nos almoços porque você tá dando de mamar? Como que você nunca vai no happy hour porque você tem que ir pra casa, você já não viu seu filho durante o dia. Então, assim, as conversas que tão tramando as alianças dentro das agências são feitas dentro desses happy hours e você não tá. Então, cara, assim, um filme de 20 anos ele é muito, muito atual. Ele falou muito pra mim, pro meu momento de vida, eu aproveitei cada segundo, assim, tudo pra mim foi cheio de significado. Então, assim, se você tem filhos, principalmente, e ainda não viu esse filme, tipo eu…

[Risos]

Ju: … veja! Com atraso de 20 anos mas veja, ele é muito atual, muito bom. E pra encerrar, eu queria deixá-los com uma canção.

[Risos]

Cris: Não começa.

Ju: Eu amo a Susan Tedeschi. Adoro, adoro, adoro, adoro, acho lindo. E eu queria muito que vocês escutassem a música Sweet Forgiveness (Link para vídeo da música: https://www.youtube.com/watch?v=pLNZo5V8Ji8). Então num tempo de intolerância, num tempo que a gente tá muito subindo em pedestais, né? De a gente falar “Porque eu não sou homofóbica”, “E essa gente homofóbica?”, “Porque eu não sou machista”, “E essa gente não sei o que…”, é uma música que fala sobre perdão, ela fala do sentimento bom que é quando você sabe que você tá errado e que, você não merece, mas a pessoa te concede isso e ela paga isso. Porque tem coisas que você faz e que não tem como consertar; e como é bom quando a outra pessoa é maior do que isso e entende e, assim, ela fala de um perdão muito profundo, muito verdadeiro e transformador, que a gente tá precisando muito. Então, indico essa música.

Cris: Temos um programa?

Samir: Temooos.

Ju: Temos. Eu queria, antes de encerrar, agradecer, assim… Se você ficou profundamente ofendido com qualquer coisa que foi dita e escutou até aqui, se você tem qualquer restrição, qualquer dificuldade, uma educação diferente, uma religião que… princípios que vão contra as coisas que a gente falou e você chegou até aqui, de coração, muito obrigada por fazer isso. Muito obrigada por escutar uma coisa que vai contra o que você acredita e por se dispor a escutar. Assim, só o fato de você escutar é muito importante pra gente, faz muita diferença, muito obrigada.

Cris: Estamos todo aprendendo. Beijo gente, brigada.

Samir: Beijooo.

[Sobe trilha

todo tipo
de conversa
para quem quer
sair do raso
Photo by Prince Akachi on Unsplash

transforme sua marca em conversa
conte com o b9

20 anos de pioneirismo digital

Aqui no B9, a gente adora uma conversa. Mais do que uma paixão, elas viraram o nosso negócio. O B9 já produziu milhares de episódios, canais temáticos, eventos, palestras e campanhas que contam histórias, expandem horizontes e criam conexões autênticas com a audiência. Buscando diferentes pontos de vista e com ideias que nos tiram do raso. Através de oportunidades de mídia, conteúdos originais em podcast e projetos multiplataformas, o B9 também coloca marcas e empresas nessas rodas de conversa. Pra conhecer nossos cases e tudo o que o B9 pode fazer pela sua marca acesse o site:

negocios.b9.com.br
  • Logo de parceiro
  • Logo de parceiro
  • Logo de parceiro
  • Logo de parceiro
  • Logo de parceiro
  • Logo de parceiro
  • Logo de parceiro
  • Logo de parceiro
  • Logo de parceiro
  • Logo de parceiro
  • Logo de parceiro
  • Logo de parceiro
  • Logo de parceiro
  • Logo de parceiro
  • Logo de parceiro
  • Logo de parceiro
  • Logo de parceiro
  • Logo de parceiro
  • Logo de parceiro
  • Logo de parceiro
  • Logo de parceiro
  • Logo de parceiro
  • Logo de parceiro
  • Logo de parceiro
  • Logo de parceiro
  • Logo de parceiro
  • Logo de parceiro
  • Logo de parceiro
  • Logo de parceiro
  • Logo de parceiro
  • Logo de parceiro
  • Logo de parceiro
  • Logo de parceiro
  • Logo de parceiro
  • Logo de parceiro
  • Logo de parceiro
  • Logo de parceiro
  • Logo de parceiro
  • Logo de parceiro
  • Logo de parceiro
  • Logo de parceiro
  • Logo de parceiro
  • Logo de parceiro
  • Logo de parceiro
  • Logo de parceiro
  • Logo de parceiro
  • Logo de parceiro
  • Logo de parceiro
  • Logo de parceiro
  • Logo de parceiro
  • Logo de parceiro
  • Logo de parceiro
  • Logo de parceiro
  • Logo de parceiro
  • Logo de parceiro
  • Logo de parceiro
  • Logo de parceiro
  • Logo de parceiro
  • Logo de parceiro
  • Logo de parceiro
  • Logo de parceiro
  • Logo de parceiro
  • Logo de parceiro
  • Logo de parceiro
  • Logo de parceiro
  • Logo de parceiro
  • Logo de parceiro
  • Logo de parceiro
  • Logo de parceiro
  • Logo de parceiro
  • Logo de parceiro
  • Logo de parceiro
  • Logo de parceiro
  • Logo de parceiro
  • Logo de parceiro
  • Logo de parceiro
  • Logo de parceiro
  • Logo de parceiro
  • Logo de parceiro
  • Logo de parceiro
  • Logo de parceiro
  • Logo de parceiro
  • Logo de parceiro
  • Logo de parceiro
  • Logo de parceiro
  • Logo de parceiro
  • Logo de parceiro
  • Logo de parceiro
  • Logo de parceiro
  • Logo de parceiro
  • Logo de parceiro
  • Logo de parceiro
icone de linkCopiar link