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“Westworld” sucumbe ao peso de seu quebra-cabeça na 2° temporada

Série se entrega ao puro creme da novela em ano ditado por repetições, mistérios sem motivo para existir e um completo desespero para manter a surpresa no rosto do espectador

por Pedro Strazza

No episódio final de sua primeira temporada, “Westworld” fez uma promessa animadora ao público que acompanhou com paciência seus dez primeiros episódios. Depois de um debute que foi marcado por mistérios sucessivos e nós narrativos enlouquecedores, o bombástico ato final da robô anfitriã Dolores (Evan Rachel Wood) contra o fundador do parque Robert Ford (Anthony Hopkins) na primeira parte da história sinalizava que o programa comandado por Jonathan Nolan e Lisa Joy estava disposto a deixar para trás seus rumos labirínticos para seguir um modelo mais tradicional de desenvolvimento de trama, acompanhando uma revolução de robôs que mergulharia a ilha de Westworld em um completo caos – e o capítulo inaugural do segundo ano a princípio confirmava isto com um ou outro senão no meio do caminho.

Mas este bem vindo indício de um rearranjo estrutural mínimo logo se revelou outra das várias cortinas de fumaça promovidas pela série, que nesta nova temporada decidiu retornar aos velhos e desgastados jogos de suspense envolvendo linhas do tempo e grandes reviravoltas para conduzir sua intrincada premissa de um parque onde nada é o que parece. Para os showrunners, esta retomada de raciocínio deve ter soado ideal à sua proposta de manter o público constantemente intrigado e surpreendido com os seguidos quebra-cabeças da história; na prática, porém, esta volta ao velho modelo só expôs as fragilidades da produção, reiniciando um ciclo de truques que não sobreviveriam a uma nova exibição e encaminhando o programa a um colapso narrativo completo.

Essa sensação de retorno já era notável no debute da segunda temporada pela forma como o roteiro de Nolan e Joy parecia forçar seus protagonistas a desempenharem arcos mais ou menos similares aos percorridos por eles no ano anterior, mas ao longo dos novos dez episódios o seriado só agravou esta noção ao ponto do insuportável. Embora o foco da produção tenha mudado e abandonado sua temática de narrativas em prol de questões mais existenciais, “Westworld” praticamente se repetiu sem qualquer frescor para mostrar os percalços de Maeve (Thandie Newton), Dolores, Bernard (Jeffrey Wright) e do Homem de Preto (Ed Harris), protagonistas que aqui mostraram-se perdidos em seus esforços contínuos de disputar espaço com os mistérios ao seu redor afim de serem desenvolvidos com certa propriedade.

Ed Harris no set

Neste sentido, a pergunta que prevaleceu sobre todos os temas e questionamentos da segunda temporada estava distante dos enigmas e próximo do artifício narrativo empregado pelos criadores: afinal, seria possível uma série sobreviver somente à base do suspense, despido por completo de uma trama ou personagens que o sustentassem?

Para o azar do programa e de seu público, a resposta para esta questão foi mais do que negativa. Ainda que Nolan e Joy tivessem à disposição um verdadeiro arsenal de possibilidades para explorar e expandir os conceitos da série neste segundo ano – afinal, não faltaram situações promissoras nesta temporada, fossem aquelas dispostas no finale anterior (como o mundo samurai e a própria revolução de Dolores contra os humanos) ou os contos macabros apresentados ao longos dos episódios – sua insistência em jogar todos estes elementos em uma proposta pautada exclusivamente no jogo de lógica reduziu toda e qualquer proposta mais interessante do seriado a um ponto que só ambiciona a surpresa. Em “Westworld”, o quebra-cabeça existe apenas para ser resolvido, independente daquilo que ele irá promover em consequência de sua resolução.

Bons exemplos desta tendência estão na continuidade dos eventos mais esperados pelo público desde a temporada anterior – mesmo com todos os esforços, nada foi tão frustrante quanto o Shogun World, que se revelou em todos os sentidos uma réplica extremamente preguiçosa do parque original – mas os momentos destacados como de maior “brilho” desta leva de episódios também foram capazes de revelar esta crueldade particular da produção. Embora muito bem resolvidos na forma como abordavam as temáticas existencialistas da série, as partes dedicadas a explorar as vidas do todo-poderoso James Delos (Peter Mullan) e do androide indígena Akecheta (Zahn McClarnon) funcionavam apenas porque se afastavam da seriedade da trama principal, e mesmo esta distância não foi suficiente para evitar algum dano por conta desta necessidade pungente dos criadores pela reviravolta. No caso do segundo, esta consequência prejudicial mostrou-se especial porque seu capítulo “Kiksuya” termina revelando que toda a sua força emocional era na verdade um complemento básico ao arco de outro personagem.

Em “Westworld”, o quebra-cabeça existe apenas para ser resolvido

Os quatro protagonistas, enquanto isso, se perderam em arcos que ora mostravam-se repetitivos, ora se esvaziavam perante a ausência de gravidade de seus atos, ora provavam suas fragilidades perante o peso do mistério que nunca poderiam honrar. Se Maeve repetiu a busca pela filha em uma jornada cuja maior força residia no talento de Newton para dar consistência a um papel cada vez mais confuso, Dolores e Bernard foram as peças-chave dos showrunners em sua missão exaustiva de provocar suspense pelo mero ato do suspense, embaralhando tramas ao bel prazer naquilo que deve ser o ápice da série em termos de austeridade dotada de humor involuntário – a gravidade com a qual Rachel Wood e Wright repetiram cenas e falas, vale acrescentar, talvez mereça prêmios pela capacidade dos dois atores em não descambar pro riso nestas horas tão “cruciais” aos propósitos do programa.

Mas quem mais sofreu neste processo, em caráter literal e simbólico, foi o Homem de Preto. Personagem central aos meandros da trama deste ano – cujas histórias circundaram em torno do “Vale” e sua função enigmática no mundo de Westworld – o cavaleiro que se revelou há dois anos o dono da Delos a princípio teve seu arco reiniciado afim de maior aprofundamento sobre sua pessoa, mas conforme o seriado foi se dedicando a desvendar sua real identidade ela… chegou às mesmas conclusões da temporada anterior. O único diferencial discernível em relação ao mostrado anteriormente, além da exposição visual de seu passado através de flashbacks, foram os diálogos com sua filha Emily (Katja Herbers), outro destes vários coadjuvantes curiosos que não só foi responsável por tentar segurar o grosso da série mas também se mostrou apenas um pivô um pouco mais novelesco para estas cortinas de fumaça promovidas por ela.

“Westworld” construiu uma narrativa tão disfuncional que não demorou muito para ela começar a flertar com o ritmo dos folhetins diários

Esta sensação de novela não se limita apenas à filha do vilão, entretanto. Da relativização da morte e do fim prematuro (pelo visto todo visitante ou anfitrião pode ser assassinado de forma brutal que uma cópia robótica ou digital há de aparecer para “salvá-lo”) às surpresas que ocupam com exclusividade cada vez maior o palco, a segunda temporada de “Westworld” construiu uma narrativa tão disfuncional que não demorou muito para ela começar a flertar com o ritmo dos folhetins diários e sua vocação para a enrolação. A única diferença notável e capaz de separá-lo desta condição é a predisposição de Nolan e Joy para gestos supostamente ambiciosos, uma justificada no orçamento alto do programa e que tenta se confundir com uma posição autoral grandiosa, sacramentada em questões conhecidas do gênero da ficção-científica e alinhadas de um jeito ou de outro aos conceitos ditos “essenciais” da humanidade enquanto identidade.

O problema desta lógica é que mesmo querendo ocupar muito esta posição a série não consegue escapar de um escopo limitado, seja na escala de seus acontecimentos e efeitos (é divertido observar como a revolução de Dolores só existiu de início para salvar seu “pai”, por exemplo) ou nos diálogos que soam como saídos de conversas existenciais de bar nas últimas horas da noite. No fundo, o grande quebra-cabeça do seriado está fadado a entrar em colapso porque ele não existe fora do sentimento de descoberta imediata, algo que falsas promessas de novos reinícios a cada fim de temporada só contribuem para sua ausência de resolução e a perpetuação deste raciocínio perverso.

Conforme a segunda temporada termina entregando outra vez um encerramento que promete abrir os horizontes e promover um novo cenário e desafios estruturais à história, a grande pergunta que não quer calar é: por que devemos nos importar com o futuro de “Westworld”, se seus enigmas e seu presente não importam e seus quebra-cabeças hão de ser desbaratados por outros ainda mais ilógicos? Talvez, a exemplo da própria trama, a série tenha sido criada para ser assistida somente por robôs e algoritmos.

nota do crítico

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