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“Lion”: uma fórmula conhecida para contar uma história extraordinária

O primeiro trabalho de Garth Davis (de “Top of the Lake”) no cinema de ficção entra para o clube de “filmes inexplicavelmente mais convencionais do que a própria história”

por Virgílio Souza

Após embarcar acidentalmente em um trem, um garotinho indiano se perde do irmão mais velho, atravessa o país sozinho e acaba adotado por uma família australiana. Vinte e cinco anos depois, auxiliado pela tecnologia, tenta descobrir o caminho de volta e encontrar o local a que pertence. A história que dá origem a “Lion: Uma Jornada Para Casa” tem vários componentes extraordinários e que parecem ter como único destino possível a tela grande. A maneira como ela é contada, no entanto, segue fórmulas bem conhecidas.

Observações dessa natureza podem ser feitas sobre uma série de produções realizadas a cada ano, variando as motivações para essa postura, digamos, comportada e os resultados obtidos através dela — exemplos aqui e aqui. Assim como o recém-lançado “Estrelas Além do Tempo”, o caso em questão se insere na categoria de “filmes inexplicavelmente mais convencionais do que a própria premissa”, que em geral abarca tanto dramas de superação baseados em acontecimentos reais quanto uma porção de indicados ao Oscar, sendo o subtexto social e a habilidade para fazer chorar dois adicionais importantes. Aqui, não somente os rótulos servem perfeitamente como também é possível enxergar características fundamentais que tornam tudo ao mesmo tempo mais familiar e menos inspirado.

O diretor Garth Davis, à direita

Durante a primeira metade, “Lion” ensaia ser algo mais. O diretor Garth Davis, responsável por comandar episódios da elogiada “Top of the Lake”, estreia no cinema de ficção buscando trabalhar algumas possibilidades mais evidentes do formato, sobretudo em termos de escopo. O longa frequentemente recorre a planos enormes, que ressaltam o contraste entre Saroo e o ambiente, em alternativa aos planos próximos, que aproveitam a expressividade do olhar de Sunny Pawar, intérprete do garoto no segmento inicial.

As interações dos personagens com os espaços se mostram essenciais para reforçar as relações distintas que o protagonista, criança e adulto, possui com aquele mesmo local. No princípio, mesmo quando a câmera desce ao nível do chão e assume seu ponto de vista, o menino não registra muitos detalhes na paisagem. Ele ainda é muito jovem e luta para sobreviver, por isso o que passa diante de seus olhos (e, nesse momento, dos olhos do espectador) são só flashes, muitas vezes borrados e imprecisos.

Os mesmos rastros de memória voltarão mais tarde, quando ele se esforçar para lembrar da infância, de quando as circunstâncias o levaram para longe de casa. Sua reação ao encarar a terra onde nasceu será diferente, assim como seu corpo com relação aos cenários a percorrer outra vez. Sentir-se fora do lugar e não saber para onde ir: essa tensão é o que o filme tem de mais valioso, e ela depende imensamente de demarcar a mudança ocorrida entre os dois momentos, entre a situação de absoluta vulnerabilidade antes da partida e a confiança durante o retorno.

Sentir-se fora do lugar e não saber para onde ir: essa tensão é o que o filme tem de mais valioso

O que ocorre nesse intervalo, porém, deixa a desejar. Como se conhecesse com clareza apenas os pontos de largada e chegada dessa jornada, o roteiro de Luke Davies tem o miolo como segmento mais problemático. Baseado no livro escrito pelo próprio protagonista, o texto apresenta diversas questões para ocupar a vida do personagem na Austrália, erguendo novas barreiras para sua eventual volta à Índia.

O conflito familiar envolvendo os pais (Nicole Kidman e David Wenham) e o romance com Lucy (Rooney Mara) servem a esse propósito em teoria, mas são desenvolvidos de modo artificial e, por isso, soam deslocados, como distrações do objetivo principal. É verdade que os atores se dedicam para dar fôlego aos personagens em interações que pouco têm a dizer, mas o esforço não evita a sensação de que a trama se estica demais na preparação para uma resolução esperada desde o início.

Dev Patel se prova ainda mais digno de nota graças a sua capacidade de preencher tantos anos de vazio deixados pelo filme

Por esse ângulo, a interpretação de Patel se prova ainda mais digna de nota graças a sua capacidade de preencher tantos anos de vazio deixados pelo filme. Não sabemos a dimensão da obsessão de Saroo com o passado nem detalhes sobre sua relação com a própria história, tampouco compreendemos com exatidão como funcionam seus vínculos com os novos familiares. Essas são responsabilidades depositadas nos ombros do ator, mais do que em qualquer recurso usado pelo roteirista, e sua facilidade para transitar entre extremos se mostra imprescindível para sustentar uma trama irregular.

A postura da direção não é muito diferente. Davis não parece muito interessado na maneira como o protagonista tenta desvendar o mistério, ou seja, no processo de descoberta em si. Por essa razão, o filme acompanha a investigação somente acenando para a fronteira entre o digital e o real, sem jamais investir nessa ideia — o que é uma pena, tendo em vista que as transições entre os planos pixelados do Google Earth, a confusão das memórias, e o aspecto cristalino das imagens aéreas são uma das melhores escolhas no repertório do longa.

O que chama a atenção na maneira como o diretor observa essa trajetória é sua dedicação quase exclusiva aos aspectos da narrativa que podem ser programados para emocionar, em contraste com a dificuldade de lidar com os tempos em que nada verdadeiramente impactante acontece em cena. Uma conversa entre Saroo e a mãe adotiva é um dos raros instantes em que “Lion” consegue escapar dessa tendência e capturar algo inesperado, um pouco de serenidade em meio a tanto artifício.

Por mais que o filme seja efetivo em sua proposta, a impressão é de que instantes como esse têm uma força muito maior do que as batidas sequências de manipulação emocional, como aquela dos créditos finais, que reúne os vocais da cantora Sia, um letreiro explicativo e imagens de arquivo dos personagens reais. Ao menos esses trechos que vão na contracorrente da tendência geral soam mais genuínos e criam imagens mais memoráveis, do tipo que um punhado de lágrimas na sala de cinema não consegue levar embora.

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