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Capa - “Estou Pensando Em Acabar Com Tudo” sequestra filme sobre solidão para papo torto de cinéfilo
Imagem: Im Thinking Of Ending Things. David Thewlis as Father, Jessie Buckley as Young Woman, Toni Collette as Mother, Jesse Plemons as Jake in Im Thinking Of Ending Things. Cr. Mary Cybulski/NETFLIX © 2020

“Estou Pensando Em Acabar Com Tudo” sequestra filme sobre solidão para papo torto de cinéfilo

Em sua primeira adaptação, Charlie Kaufman força temas e anseios de sempre em história que trabalha temor existencial pela finitude da vida humana

por Pedro Strazza

Entre as tantas coincidências geradas pelo tamanho de uma produção industrial de “conteúdo” como a que a Netflix toca nos dias de hoje, pode ser uma constatação divertida quando duas obras de uma mesma empresa, mas de origens diferentes acabam por “conversar” entre si devido às referências similares que carregam.

⚠️ AVISO: se o intuito do leitor é de assistir o filme sem qualquer informação, este texto pode conter leves SPOILERS sobre a trama. Leia sob sua própria conta e risco.

Digo isso porque confesso estar surpreso de me ver escrevendo pela segunda vez no ano sobre os filmes de John Cassavetes – um diretor tão fundamental ao cinema estadunidense, mas pouco referenciado de maneira direta nos tempos atuais – quando no ofício de fazer a resenha de um “produto original” do serviço. É uma surpresa ainda maior por acontecer de maneiras tão distintas: na primeira ocasião, em maio, me vi tratando do cinema de Cassavetes pela perspectiva do estilo, por conta de “The Eddy” e sua inspiração subjetiva tanto na estruturação da história (uma espécie de expansão de “A Canção da Esperança”) quanto no trabalho do elenco, imersos em atuações naturalistas próximas daquilo que o cineasta aperfeiçoou ao longo da carreira.

Já a segunda ocasião, agora com “Estou pensando em acabar com tudo”, acontece no campo mais objetivo possível da referência, não apenas encenada como verbalizada pelo elenco em discussões sobre o impacto inicial de um de seus filmes. “Uma Mulher Sob Influência”, quem diria, se vê “ressuscitado” e usado de peça central em pleno 2020 por Charlie Kaufman, roteirista veterano elevado pelo público e a crítica à condição de autor, que aqui aproveita para recitar um dos textos mais comentados à época do lançamento: a crítica negativa escrita por Pauline Kael, o qual condenava o longa por seus falsos retratos de esquizofrenia e libertação feminina.

Se a cena em questão já dispara para ser um dos maiores momentos de vergonha alheia do cinema em 2020 (o que por si só não é lá muita coisa, dado o estado do mundo), ela também ilustra sem nenhuma sutileza os interesses de Kaufman com a história, seu primeiro trabalho enquanto diretor que se trata de uma adaptação. “Sutileza”, afinal, é um termo que não se adequa ao ato do diretor em inserir inúmeras referências modernas e contemporâneas, vinculadas em especial ao audiovisual, em uma trama de um livro tão despido destas conexões como o escrito por Iain Reid – um ato que reforça um direcionamento do cineasta.

Charlie Kaufman (à direita) conversa com Jessie Buckley no set

Esta reinterpretação da obra é em si o passo mais interessante do filme, que embora tome os próprios caminhos mantém intacto a estrutura e interesses do livro de Reid – incluindo o simbolismo do desfecho e a parte mais crucial da reviravolta. A premissa da garota que vai visitar os pais do namorado pensando em terminar o relacionamento e a temática de solidão que se manifesta nos monólogos e interações são os mesmos, mas desde o início Kaufman já ajusta a trama para o que os admiradores classificam como “kaufmanesco”, dos supracitados diálogos às distorções oníricas da narrativa em torno da casa onde os “sogros” vivem – e o qual ganha maior importância no longa. 

É o maior balanceamento dos protagonistas, porém, que salta aos olhos enquanto mudança mais expressiva da adaptação, dado que o diretor não apenas dá um nome à protagonista vivida por Jessie Buckley – Lucy ou Louise – mas torna o companheiro Jake (Jesse Plemons) mais ativo no curso dos acontecimentos – isso sem contar a solução da subtrama com o zelador noturno da escola, claro. A “jovem mulher” dos créditos continua sendo os olhos do espectador dentro da narrativa, mas o namorado ora ou outra se mostra um recurso para o público espelhar sua tensão sobre o que é mostrado, sobretudo nos constrangimentos da cena do jantar e a já discutida recitação de Kael.

Além da questão do desfecho se dar de outra forma, Kaufman também reescreve a história deste jeito porque tem em vista do princípio os jogos simbólicos de sua narrativa, um traço característico de seus trabalhos enquanto roteirista e que em “Estou pensando em acabar com tudo” encontra espaço para crescer no grande quebra-cabeça de duplos e triplos, que o livro bem ou mal tinha como meta final. O diretor pretende expandir a mensagem do texto de Reid para um cenário mais amplo e para isso acontecer é preciso tornar mais palatável ao público as ligações da obra, uma decisão criativa que explica porque o longa é tão indiscreto na exposição de certos elementos. Neste ponto é difícil não pensar na cena do porão, com os quadros assinados por Jake, e na da sorveteria, com a atendente verbalizando a sua preocupação pela protagonista como uma questão de tempo – ela não tem somente medo “pela protagonista”, mas pelo “caminho” que esta irá seguir adiante.

O diretor não apenas dá um nome à protagonista mas torna o companheiro mais ativo no curso dos acontecimentos

Mas então qual é o ponto de Kaufman com todas estas mudanças? É aí que as referências acrescentadas pelo diretor tornam a narrativa mais nítida mesmo dentro de um filme onde presumidamente o ponto é o mistério de pretensões, pois elas reforçam na história o cerne das questões que o interessam na solidão e isolamento dos personagens. Se o ponto de “Estou pensando em acabar com tudo”, o livro, mora na finitude das coisas e a banalidade da vida passada sozinha, o longa redireciona estas discussões para o campo da arte e em especial o cinema, do espetáculo vazio que a humanidade construiu em torno de si. Kaufman não oculta nada, jogando referências a torto e direito que gritam ao público qual o ponto da narrativa, de Guy Debord, Kael e Cassavetes à piada com Robert Zemeckis, passando pelos diversos musicais lembrados por Jake com destaque ao “Oklahoma!”, visto hoje como a demonstração vazia de otimismo definitiva sobre os valores dos Estados Unidos.

Seria tudo muito interessante de acompanhar se o filme tivesse alguma perspectiva dentro desta nova estrutura, mas como a expansividade do desfecho do material original bem sugere, o ponto é que a partir desta constatação Kaufman não tem mais nada a oferecer ao espectador além do vazio – e o problema é que este vazio já é muito familiar. Depois de 30 anos de carreira montados em cima de roteiros classificados como “mirabolantes” e “complexos”, o diretor se mostra confortável aqui de abraçar o vazio existencial da narrativa não como o princípio de novas explorações, mas das repetições dos velhos temas de sempre. Não à toa, a solidão se confunde enquanto temática e antagonista dentro do longa: se o livro de Reid vê no isolamento o item da discussão, Kaufman toma o material como mais um de seus anseios a serem “expressos” na tela, ao lado do envelhecimento e a relação maternal.

É uma operação típica de cinema de boutique que confunde “estilo” com piloto automático, mas como o vazio estrutural é justamente o ponto da produção é difícil a perspectiva não se deixar levar pelo embaralhamento do todo. A questão é que os autores citados pelo roteiro, em suas contradições e divergências, trafegam na via oposta ao que Kaufman pretende ensaiar, então a miragem construída pelo filme nasce partida: o cineasta reforça suas inspirações para levar o público às questões que interessa, mas com isso também reforça o lado diminuto da própria obra enquanto uma paródia bem intencionada dos valores apresentados.

(Abro um parênteses porque há uma ironia muito fina em toda esse destrambelhamento. O filme recorre às produções de Zemeckis como forma de satirizar o alienamento do cinema hollywoodiano, mas enquanto ele mesmo trafega no mesmo procedimento de “enlatado” para conferir prestígio é divertido pensar que sua referência está defasada. Zemeckis de fato foi uma dessas figuras que resumiram a cultura hollywoodiana dos anos 80 e 90, mas nos últimos trabalhos vem operando exatamente na desconstrução destes valores do espetáculo, e sob imensa crítica. Na prática, “Estou pensando em acabar com tudo” posa de “Bem Vindo à Marwen”, mas está bem mais próximo de “Forrest Gump”.)

Kaufman se mostra confortável de abraçar o vazio existencial da narrativa para repetir seus velhos temas de sempre

Como todas as referências do cineasta também são relacionadas ou provém do cinema, é inevitável pensar que o filme se converte então numa espécie de sequestro temático de fins para lá de risíveis. “Estou pensando em acabar com tudo” deveria trabalhar em cima da solidão, mas soa como uma grande discussão interna e torta de homens cinéfilos que nunca parecem ter se relacionado com uma mulher na vida, ainda mais porque o clímax soa como uma engenharia reversa da apoteose de “Amantes” que não entendeu o filme de Cassavetes. São questões, aliás, que podem reforçar o viés misógino do livro de Reid, embora Kaufman tenha limado a passividade da protagonista e o desfecho seja em si bem menos ridículo em relação ao original.

Ainda no campo da ironia, existe uma que pode passar batida nesta constatação por não envolver os temas principais, mas que no contexto geral da indústria reforça a redundância do longa: em tempos no qual a cultura do fanatismo se tornou a essência do negócio no audiovisual, até mesmo Charlie Kaufman, que é exaltado pela sua originalidade, fez um filme de fã pra chamar de seu.

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