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Em audiência de quase 6 horas, executivos do Facebook, Google e Twitter falam só o óbvio ao Congresso dos EUA

Sessão teve como objetivo tratar sobre como essas plataformas lidam com desinformação e extremismo, mas CEOs só falaram aquilo que a gente já sabe

por Soraia Alves
Capa - Em audiência de quase 6 horas, executivos do Facebook, Google e Twitter falam só o óbvio ao Congresso dos EUA
Imagem: Reprodução/Yahoo

A quinta-feira, 25/03, foi marcada por uma audiência do Congresso dos Estados Unidos com executivos de grandes empresas de tecnologia. Por conta da pandemia de Covid-19, a audiência foi realizada de forma online, e contou com a participação de Mark Zuckerberg (Facebook), Sundar Pichai (Google) e Jack Dorsey (Twitter), que não falaram nada mais que o óbvio nas quase 6 horas de conversa.

A sessão realizada pelo Comitê de Energia e Comércio da Câmara dos Estados Unidos teve como objetivo tratar sobre como essas plataformas lidam com conteúdos de desinformação e extremismo. A preocupação de parte das autoridades com o tema aumentou especialmente após a invasão ao Capitólio em 06 de janeiro, realizada por apoiadores de Donald Trump que não aceitaram a derrota para Joe Biden nas eleições presidenciais.

Ao longo da audiência, os democratas questionaram os CEOs sobre como suas plataformas permitem a disseminação de fake news e discursos de ódio, e o que efetivamente eles fazem para impedir isso. Já os republicanos se mostraram mais preocupados com a segurança das crianças expostas às redes sociais. Todas as autoridades, no entanto, apresentaram a intenção de aplicar uma nova regulamentação às plataformas, embora tenha ficado claro que ainda não há uma ideia comum sobre como fazer isso.

Mea-culpa e tweets

Os executivos, por sua vez, acrescentaram poucas coisas interessantes ao debate. Em sua declaração de abertura, Mark Zuckerberg defendeu reformas na chamada Seção 230, e disse que o Facebook “fez a sua parte” para proteger a eleição presidencial do ano passado. O CEO culpou diretamente o ex-presidente Trump pelo motim no Capitólio: “Acho que a responsabilidade recai sobre as pessoas que tomaram as medidas para violar a lei e causar o tumulto. Em segundo lugar, também [é responsabilidade] das pessoas que divulgaram esse conteúdo, incluindo o presidente, além de outros que usaram uma retórica repetida ao longo do tempo, dizendo que a eleição foi fraudada e incentivando as pessoas a se organizarem. Acho que essas pessoas têm a responsabilidade principal”, disse Zuckerberg.

Com os argumentos sempre lisos dos executivos, muitos legisladores passaram a exigir respostas diretas com “sim ou não” dos mesmo, o que não mudou muita coisa. Jack Dorsey, que manteve um certo ar de deboche durante a audiência toda, chegou a twittar uma enquete sobre “sim ou não”, em referência aos pedidos de respostas das autoridades.

Dorsey, no entanto, foi o único a admitir desde o início da audiência que o Twitter teve seu papel na invasão ao Capitólio, resultado de conteúdos extremistas que circularam ao “escapar” da moderação da plataforma. Zuckerberg e Pichai evitaram falar do papel de suas plataformas na situação, embora o CEO do Facebook tenha admitido quase no fim da sessão que sua plataforma “hospedou conteúdos problemáticos de alguns dos manifestantes”.

Alguma mudança deve acontecer?

Apesar dos discursos politicamente corretos, é visível que os executivos têm pouca ou nenhuma intenção de mudar o funcionamento de suas plataformas. Ao longo da audiência, o congressista Mike Doyle apontou que quase 550 mil americanos morreram até agora por conta da Covid-19, e ressaltou como as plataformas permitem que conteúdos com desinformação sobre a doença cheguem ao público: “Minha equipe encontrou conteúdos no YouTube dizendo às pessoas para não tomarem vacinas e foi recomendado [pelo algoritmo] para vídeos semelhantes. O mesmo aconteceu no Instagram, onde não só foi fácil encontrar desinformação da vacina, como a plataforma também recomendou postagens semelhantes”, disse Doyle. “A mesma coisa aconteceu no Facebook, exceto que eles também tinham grupos antivax para sugerir. Com o Twitter não foi diferente”, continuou.

Doyle foi direto aos CEOs: “Vocês podem remover esses conteúdos. Vocês podem reduzir essa visão. Vocês podem consertar isso, mas optam por não fazer”. Os três, no entanto, ressaltam que suas plataformas têm removido milhares de conteúdos com informações enganosas sobre a Covid-19. “Temos políticas para remover conteúdo”, disse Pichai, que acrescentou que “parte do conteúdo é permitido, se for a experiência pessoal das pessoas”.

Essa questão da “experiência pessoal” parece ser o caminho que os CEOs pretendem seguir em suas argumentações, indicando que a moderação, em última análise, é de responsabilidade de cada um, e não das empresas. Jack Dorsey falou bastante sobre o projeto Bluesky, iniciativa do Twitter para a criação de um modelo decentralizado que permitiria uma “maior inovação em torno de modelos de negócios, algoritmos de recomendação e controles de moderação que são colocados nas mãos de indivíduos, em vez de empresas privadas”, disse Dorsey.

Dificilmente as autoridades vão aceitar essa ideia de automoderação dos usuários, tirando a responsabilidade das empresas. No entanto, como será feita qualquer tipo de regulamentação ainda é mistério.

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