O Oscar 2021 foi correto, mas ainda pagou o preço por isso • B9

Comentários

Sua voz importa aqui no B9! Convidamos você a compartilhar suas opiniões e experiências na seção de comentários abaixo. Antes de mergulhar na conversa, por favor, dê uma olhada nas nossas Regras de Conduta para garantir que nosso espaço continue sendo acolhedor e respeitoso para todos.

Capa - O Oscar 2021 foi correto, mas ainda pagou o preço por isso
Imagem: Getty Images

O Oscar 2021 foi correto, mas ainda pagou o preço por isso

Cerimônia cinematográfica ressaltou o clima melancólico do último ano e termina marcado por um erro grosseiro de estratégia da produção

por Pedro Strazza

A tarefa do Oscar em 2021 era muito simples: existir. Além da sombra projetada pelo resultado histórico da cerimônia do ano passado, a edição deste ano da principal premiação de Hollywood já nascia sob o peso de ser a “celebração” de um ano terrível para a indústria – e arrasador para a humanidade. Os cinemas seguem sofrendo com bilheteria pela lentidão da vacinação, os estúdios mantém uma indecisão sobre o streaming e (para coroar) os Estados Unidos não mais são os reis da arrecadação no mercado. A última década pode ter sido marcada por tensões e reformas internas, mas 2021 sem dúvida já seria o Oscar da crise de qualquer jeito.

Essa constatação claramente norteou os rumos da produção da cerimônia, que optou acima de tudo pelo caminho mais correto possível. Com dois meses a mais de planejamento e uma ideia geral de mudar o “estilo” da premiação, o trio formado por Steven Soderbergh, Stacey Sher e Jesse Collins na medida do possível reenquadrou a apresentação da 93° edição como algo mais íntimo e com poucas explosões para além das decisões estéticas da filmagem (desta vez em 24 fps e CinemaScope). Ao contrário do Emmy, o Oscar descartou o Zoom, relegou ao pré-show as performances musicais, multiplicou os palcos e se transportou para a Union Station de Los Angeles, aproveitando o maior espaço para materializar um salão onde convidados podiam se sentar em mesas e conversar sobre o cinema. Foi um tom adotado inclusive nas introduções das categorias, com apresentadores elogiando o trabalho dos indicados no lugar dos tradicionais clipes, e nos discursos de vitória – os oscarizados foram incentivados a agradecer por quanto tempo quisessem suas estatuetas, na contramão dos últimos anos.

(Créditos: ABC)

Em termos práticos, a solução era elegante e de certa forma refletia a lista de indicados. Com oito candidatos orbitando o posto de vencedor de Melhor Filme com menor bilheteria da história, 2021 era o ano no qual os títulos elegíveis eram todos sobreviventes da lista de prioridades dos grandes estúdios, que foram descartando trabalhos “menores” e baratos em favor da manutenção da expectativa do enorme faturamento sob os blockbusters de sempre. O discurso de agradecimento de Frances McDormand no prêmio principal serviu de síntese ao clima da noite: “assistam todos os filmes indicados na maior tela possível”, clamou a atriz antes de uivar em homenagem a Michael Wolf Snyder, homem responsável pelo som do campeão “Nomadland” e falecido em março.

A vitória de Chloé Zhao na noite também coroou uma premiação equilibrada, vale acrescentar. Em um ano de sobrevivência, os votantes da Academia preferiram contemplar da forma mais igual possível todos os grandes nomes da temporada, fugindo de qualquer favoritismo maior para além das dez indicações de “Mank” – um filme bastante sóbrio no olhar das engrenagens da indústria que, depois de confundido como “candidato de Hollywood” com 10 indicações, acabou com duas estatuetas. Como a cerimônia, correção foi o nome do jogo aqui, a ver pela multiplicação de duplamente premiados. Além do longa de David Fincher, “O Som do Silêncio” foi contemplado pela precisão técnica do som e montagem, “A Voz Suprema do Blues” foi lembrado pela recriação histórica dos figurinos e da maquiagem, “Meu Pai” foi elevado pela qualidade do texto e de seu principal ator, “Judas e o Messias Negro” acabou marcado pelo talento de Daniel Kaluuya e sua canção tema. “Nomadland”, não por acaso, deu dois prêmios para sua dupla principal, a cineasta Zhao (a segunda diretora contemplada nas categorias principais) e a produtora McDormand.

Chris Pizzello-Pool/Getty Images

A poesia de tudo é linda, mas não vem por livre e espontânea vontade. Enquanto Hollywood procura um jeito de processar as dores do último ano, a produção do Oscar no fundo estava atrás mesmo da melhor forma possível de tornar a edição deste ano surpreendente e cativante ao público, e a resolução encontrada por Soderbergh, Sher e Collins foi obter o maior controle possível da cerimônia sem interferir no que era natural. Em outras palavras, privilegiou-se a emoção do discurso em detrimento de todo o resto, o que explica não apenas a curta duração de 3 horas da apresentação (e para a alegria de muitos brasileiros, a premiação terminou pouco depois da meia-noite este ano) como a monotonia crescente em torno do evento. Uma consequência inevitável, de novo: depois de anos tão politizados pelos desmandos do governo de Donald Trump nos EUA, o Oscar 2021 seria melancólico pelos efeitos da pandemia e um desejo de escapismo – algo que a lista de indicados já sugeria de forma sutil, aliás, no distanciamento dos grandes temas dos filmes de qualquer urgência maior.

Não que não tenha havido emoção nos discursos de agradecimento, mas no fim houve apenas espaço para este tom e os vencedores que se saíram melhor na apresentação foram justamente aqueles que melhor abraçaram esta lógica. Enquanto Kaluuya celebrou a vida e rendeu algumas risadas por citar o fato dos pais terem transado na noite anterior, o dinamarquês Thomas Vinterberg aproveitou o justo tempo livre de discurso para se emocionar pela morte da filha, falecida quatro dias depois do início das filmagens do campeão de filme internacional “Druk”. A coreana Youn Yuh-jung, por sua vez, entregou o agradecimento mais doce da noite ao brincar com as imagens hollywoodianas de Brad Pitt e Glenn Close e lembrar do duro caminho da carreira até a consagração pela Academia por seu trabalho em “Minari”.

Richard Harbo / Getty Images

Obter controle da própria cerimônia e entregar um belo show cronometrado é algo que a Academia busca de forma incessante nos últimos anos, falhando miseravelmente a cada tentativa porque, bem, o Oscar é destes raros eventos que se fazem mesmo nos momentos improvisados. Talvez seja uma ironia bem vinda, então, o fato de que na edição de rédeas mais curtas a principal premiação de Hollywood tenha errado justamente no grande clímax, vítima das próprias ambições.

Depois de uma cerimônia ritmada e com pouco espaço para surpresas (até a rebolada de Close foi ensaiado), a produção optou por quebrar a tradição e inverter o prêmio de Melhor Filme com as categorias principais de atuação, tornando Melhor Atriz e Melhor Ator na atração final da noite, e ainda desfez o jogo narrativo clássico do último vencedor masculino entregar a estatueta para nova incumbente feminina e vice versa. A jogada era óbvia: com o grande prêmio previsível para “Nomadland”, Soderbergh, Sher e Collins quiseram terminar a noite numa nota doce, acreditando com todas as forças que Joaquin Phoenix anunciaria o falecido Chadwick Boseman como grande vencedor e entregaria a estatueta à viúva Simone Ledward, na sequência da climática revelação da campeã da disputada categoria de atuação feminina.

O que aconteceu, porém, foi o pior anticlímax da história das últimas décadas do Oscar. Eleita pela terceira vez Melhor Atriz e logo após receber o prêmio principal, McDormand contrariou expectativas e deu um discurso morno; em seguida, Phoenix apresentou a categoria de Ator sem muita pompa e revelou que os votantes da Academia preferiram contemplar Anthony Hopkins pela segunda vez, uma decisão que acarretou num vácuo de celebração pois o ator não pode comparecer à cerimônia, por estar de quarentena para um projeto e pela impossibilidade de participar via Zoom. Um desfecho sem pé nem cabeça, como um belo poema que termina esquecendo por completo qual era a rima a ser feita no último verso.

Na última semana, a produção do Oscar 2021 fez questão de afirmar a todos os principais veículos que o objetivo final era aproximar a cerimônia da sensação de se assistir a um filme. Considerando que o prêmio reflete o status da indústria, a imagem final da edição deste ano parece vir mesmo como síntese dos últimos meses: um palco vazio, um vencedor ausente e aplausos feitos ao vento.

Confira a lista completa de vencedores aqui

todo tipo
de conversa
para quem quer
sair do raso
Photo by Prince Akachi on Unsplash

transforme sua marca em conversa
conte com o b9

20 anos de pioneirismo digital

Aqui no B9, a gente adora uma conversa. Mais do que uma paixão, elas viraram o nosso negócio. O B9 já produziu milhares de episódios, canais temáticos, eventos, palestras e campanhas que contam histórias, expandem horizontes e criam conexões autênticas com a audiência. Buscando diferentes pontos de vista e com ideias que nos tiram do raso. Através de oportunidades de mídia, conteúdos originais em podcast e projetos multiplataformas, o B9 também coloca marcas e empresas nessas rodas de conversa. Pra conhecer nossos cases e tudo o que o B9 pode fazer pela sua marca acesse o site:

negocios.b9.com.br
  • Logo de parceiro
  • Logo de parceiro
  • Logo de parceiro
  • Logo de parceiro
  • Logo de parceiro
  • Logo de parceiro
  • Logo de parceiro
  • Logo de parceiro
  • Logo de parceiro
  • Logo de parceiro
  • Logo de parceiro
  • Logo de parceiro
  • Logo de parceiro
  • Logo de parceiro
  • Logo de parceiro
  • Logo de parceiro
  • Logo de parceiro
  • Logo de parceiro
  • Logo de parceiro
  • Logo de parceiro
  • Logo de parceiro
  • Logo de parceiro
  • Logo de parceiro
  • Logo de parceiro
  • Logo de parceiro
  • Logo de parceiro
  • Logo de parceiro
  • Logo de parceiro
  • Logo de parceiro
  • Logo de parceiro
  • Logo de parceiro
  • Logo de parceiro
  • Logo de parceiro
  • Logo de parceiro
  • Logo de parceiro
  • Logo de parceiro
  • Logo de parceiro
  • Logo de parceiro
  • Logo de parceiro
  • Logo de parceiro
  • Logo de parceiro
  • Logo de parceiro
  • Logo de parceiro
  • Logo de parceiro
  • Logo de parceiro
  • Logo de parceiro
  • Logo de parceiro
  • Logo de parceiro
  • Logo de parceiro
  • Logo de parceiro
  • Logo de parceiro
  • Logo de parceiro
  • Logo de parceiro
  • Logo de parceiro
  • Logo de parceiro
  • Logo de parceiro
  • Logo de parceiro
  • Logo de parceiro
  • Logo de parceiro
  • Logo de parceiro
  • Logo de parceiro
  • Logo de parceiro
  • Logo de parceiro
  • Logo de parceiro
  • Logo de parceiro
  • Logo de parceiro
  • Logo de parceiro
  • Logo de parceiro
  • Logo de parceiro
  • Logo de parceiro
  • Logo de parceiro
  • Logo de parceiro
  • Logo de parceiro
  • Logo de parceiro
  • Logo de parceiro
  • Logo de parceiro
  • Logo de parceiro
  • Logo de parceiro
  • Logo de parceiro
  • Logo de parceiro
  • Logo de parceiro
  • Logo de parceiro
  • Logo de parceiro
  • Logo de parceiro
  • Logo de parceiro
  • Logo de parceiro
  • Logo de parceiro
  • Logo de parceiro
  • Logo de parceiro
  • Logo de parceiro
  • Logo de parceiro
  • Logo de parceiro