SXSW 2023: Austin continua weird? Nem tanto

Estar no SxSW depois de um intervalo de três anos tem sido uma experiência diferente. Percebe-se muitas mudanças, desde o crescimento da cidade, com muitos edifícios sendo erguidos, o perfil dos participantes mais corporativos e uma certa pasteurização do conteúdo. A esquisitice de Austin está se perdendo aos poucos. Pode ser uma impressão pessoal, a partir do meu olhar, já que neste período tanta coisa mudou na minha perspectiva de análise. Tornar-se empreendedor e pai deslocam o nosso olhar para questões mais práticas.

De todo modo, em uma primeira análise, percebo que os ballrooms do Convention Center agora dão espaço para temas mais “vendedores”, que não trazem tanta tendência, mas sim análises corporativas sobre como navegar na complexidade do mundo.

Separei algumas percepções das sessões que acompanhei e valeram a pena.

O ódio é financiado pelas marcas? 

No painel Media Profits by Amplifying Hate: Can We Fix It? a discussão sobre o modelo econômico das empresas de mídia e das plataformas foram colocados na mesa de forma bastante direta. Embora não estivesse na lista de sessões em destaque e não tenha formado uma grande fila, o debate permeia grande parte dos desafios que enfrentamos hoje. Desde as ameaças trazidas pela desinformação, os riscos ao futuro da democracia e a segurança de crianças e de grupos minorizados.

Jade Magnus, da ONG Color of Change, trouxe fatos que demonstram como mulheres negras são atacadas com mais frequência nas plataformas. Lauren Krapf, da ONG ADL, organização que combate o ódio desde 1913, por outro lado, explicitou como as plataformas insistem em não olhar para o uso das redes como canais de organização de grupos violentos como neonazistas e antissemitas.

Steve Rosenbaum, do Sustainable Media Center, foi um pouco menos direto em sua análise, pois parece entender que as adaptações fazem parte da evolução da mídia, precisam ser debatidas, mas também precisam de tempo para se adaptar.

Em linhas gerais, o grupo concorda que são dois os caminhos para a mudança: mobilização da sociedade civil e pressão dos anunciantes para que as plataformas garantam um ambiente seguro para todos.

Lauren acredita que os governos devem regular de alguma forma o conteúdo e que este debate precisa envolver toda a sociedade, uma vez que o impacto vai além da economia.

Existe um caminho para adiar o fim do mundo?  

O tão esperado painel com o CEO da Patagônia, Ryan Gellert, realmente valeu a pena. É sempre bom ouvir que uma empresa entendeu que os problemas enfrentados pela humanidade hoje são, em sua maioria, responsabilidade das empresas.

Ryan parece ser gente como a gente, com uma história genuína de vida, conectada com suas raízes caiçaras e amor pela natureza. Embora Ryan seja muito direto e parece deixar claro que a empresa realmente decidiu colocar o combate ao aquecimento global como prioridade de negócio, ficou sempre em dúvida se o mundo corporativo realmente se mobilizará para este lado e não teremos apenas discursos vazios e marcas isoladas atuando de forma genuína.

O vídeo dos 50 anos da marca deixa aquele nó na garganta:

Identidades respeitadas no ambiente do trabalho

No painel Building Trans-Inclusive Workplaces for the Future, o desafio de garantir espaços seguros para pessoas trans deixou meu dia mais melancólico. Dani D’Amico contou sua história como profissional na McKinsey e o caminho para se sentir valorizada como profissional, sem colocar a sua transgeneridade como questão na relação com colegas e clientes.

A McKinsey parece estar fazendo um trabalho sério para mitigar os desafios da comunidade LGBTQI+ no mundo do trabalho, mas certamente ainda estamos apenas começando a jornada para garantir segurança e pertencimento real para todes.

Continuo o meu terceiro dia de SxSW, agora buscando trilhas mais positivas, depois de dois dias nem tanto otimistas.

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