TikTok em xeque: desconfiança e tensões políticas ameaçam futuro da rede social nos EUA

A crescente desconfiança em relação ao TikTok tem colocado a rede social em uma posição cada vez mais delicada diante dos legisladores americanos. A propriedade chinesa do aplicativo, controlado pela ByteDance, é amplamente considerada insustentável no Congresso dos Estados Unidos, e a empresa enfrenta um futuro incerto em meio às tensões políticas e às possíveis consequências de uma nova lei (bem) específica.

O CEO do TikTok, Shou Zi Chew, prestou depoimento que durou 5 horas perante o Comitê de Energia e Comércio da Câmara e negou qualquer irregularidade. Chew afirmou que qualquer acusação sobre controle do governo chinês – no que é hoje a rede social mais popular do mundo – não passam de suposições.

Chew focou em defender o chamado Projeto Texas. Trata-se de um esforço de US$ 1,5 bilhão da empresa para hospedar nos EUA os dados e as operações da plataforma. Inclusive, seriam utilizados servidores da Oracle, uma empresa americana. Os anunciantes já estão familiarizados com a ideia, pois o TikTok tem informado agências e empresas a respeito do programa. Uma tentativa de acalmar o mercado publicitário sobre o futuro da rede.

O CEO afirmou que possui 150 milhões de usuários mensais nos EUA e que 5 milhões de empresas dependem do aplicativo para seus negócios. Ainda assim, foi pouco para convencer os congressistas, que levantaram preocupações sobre supostas falhas de privacidade do TikTok e suas possíveis brechas para a segurança nacional.

Há temor de quais dados a ByteDance – e por consequência o governo chinês – possa ter dos usuários. Além disso, o algoritmo da rede social teria o poder de controlar a dieta de informação de milhões de americanos. Na audiência, também foram mencionados comportamentos arriscados incentivados pelo TikTok por meio dos desafios que viralizam na plataforma. Ou seja: nada muito diferente do que já aconteceu com diversas empresas americanas nos passado. Google, Facebook, Twitter, Microsoft. Ninguém escapa.

Mas não importa. A coalizão pra proibir o TikTok é bipartidária. Ainda que parte dos democratas atribua as críticas ao aplicativo à xenofobia, tanto o ex-governo Trump quanto a atual administração Biden desejam provocar a venda forçada da rede social. A China, porém, já afirmou que não vai aceitar qualquer acordo do tipo, segundo o Wall Street Journal.

Implicações globais

Se o governo dos EUA decidir dobrar a aposta obrigando a ByteDance a se desfazer do aplicativo, a resposta chinesa pode ser igualmente dura, possivelmente impedindo a solução de meio do caminho: a separação da TikTok do restante de suas operações no tal Projeto Texas.

E outra: se o Congresso aprovar uma lei que efetivamente proíba o TikTok, seria um marco na regulamentação de grandes plataformas de tecnologia. Não apenas nos Estados Unidos, mas no mundo todo. Como a possibilidade de levar a proibições de aplicativos americanos em outros países, como a Índia, por exemplo.

Nas complexidades geopolíticas e regulatórias que se abrem com o avanço tecnológico, talvez a situação do TikTok seja a mais tensa até hoje. Todas as outras empresas conseguiram um acordo, mas o futuro rede social chinesa deve passar por medidas mais drásticas.