SXSW 2024 - "Tudo em todo lugar ao mesmo tempo": uma receita para a criatividade • B9

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SXSW 2024 – “Tudo em todo lugar ao mesmo tempo”: uma receita para a criatividade

Como o processo de criação dos diretores do premiado filme também pode ser uma síntese do que é o SXSW

por Lucas Madeira / Brand Strategy Manager da Creditas

Daniel Kwan e Daniel Scheinert, também conhecidos como The Daniels, abriram seu processo de criação do filme “Everything everywhere all at once” naquela que pra mim, até agora, foi a palestra mais criativa do SXSW. Isso não quer dizer a que teve mais conteúdo, a que trouxe mais inovação ou a que mais me emocionou. Mas sim aquela que mais gerou inspiração e faíscas criativas, contagiando a plateia com uma vontade de criar.

A dupla frequenta o festival desde 2012, quando ganhou o SXSW Grand Jury Award for Music Videos com o vídeo Battles, “My Machines”. Em 2015 eles ganharam o mesmo prêmio com o hit viral “Turn Down for What”. Em 2016 eles estrearam no festival como diretores de cinema com o filme “Swiss Army Man” e no SXSW de 2022 eles fizeram a pré-estreia mundial de “Everything everywhere all at once”.

Ou seja: parece que os caras entendem de SXSW. Ou quem sabe o próprio SXSW possa ter inspirado eles a chegarem na ideia do filme que ganhou sete Oscars.

O SXSW é onde tudo acontece ao mesmo tempo e em todo lugar. O festival, que não é de marketing ou de negócios, como já ouvi nos corredores por aqui, é de Inovação. E a premissa é que a inovação vai surgir a partir dessa complexidade de conteúdos e convergência de pontos de vistas diferentes, muitas vezes com uma tensão paradoxal entre eles. Uma maneira de pensar criatividade similar a da dupla de diretores.

O Ikigai é a base de como os diretores encaram seu processo criativo. O conceito japonês é uma ferramenta que se tornou popular nos últimos anos para ajudar as pessoas a encontrarem seu propósito na vida (o termo Iki significa “vida” ou “vivo” e “gai” quer dizer “benefício” ou “valor”). Uma ferramenta que à primeira vista pode soar clichê e até meio piegas, mas o papo passou longe disso.

O framework trabalha entre aquilo que você ama fazer, aquilo em que você é bom em fazer, aquilo que o mundo precisa e aquilo que você pode ser pago para fazer. Na interseção de todas essas áreas é onde nasce a realização e satisfação completa.

Imagem: Lucas Madeira

E foi a partir da intersecção de cada uma das áreas do Ikigai que Daniel Kwan começou a revelar a complexidade do pensamento da dupla, que fez com que eles chegassem em uma linguagem autêntica e um conteúdo com muita densidade.

Alguns exemplos dessas intersecções (e tensões) que eles levaram para o filme: a dupla sempre gostou de referências de filmes com muita violência, muito sangue e muito kung fu. Mas o mundo precisa de mais violência e mortes? Assim eles criaram uma linguagem que usava os socos e filmes de kung fu de maneira bem humorada e como parte de um contexto maior por trás.

Eles amam um senso de humor bobo e simples, estilo Debi e Loide e típico dos memes das redes sociais. O que eles achavam que o mundo precisava? Histórias profundas que tocam e emocionam as pessoas ao mesmo tempo que as fazem dar risada (o famoso kkkrying). Resultado: uma estética da internet com um conteúdo com camadas de complexidade e sutileza.

Eles sempre foram muito bons em ler e surfar na onda dos algoritmos, criaram uma série de virais em cima disso ao longo da carreira. O que chamou atenção de muitas marcas, que foram procurá-los para fazer comerciais que nem sempre eles gostariam de ter feito. Mas o mundo precisa de mais comerciais? É claro que não, mas isso deu dinheiro para investirem em projetos em que eles realmente acreditavam que poderiam ter um impacto na vida das pessoas.

O grande insight para a dupla fazer o filme foi quando eles percebem que são, por essência, maximalistas, amam uma linguagem exagerada e querem falar dos problemas que acontecem no mundo todo. Mas eles perceberam que quando quiseram abraçar tantas coisas assim, acabaram se tornando minimalistas. Foi nesse conflito que nasceu o filme.

Essa busca pelas contradições, a princípio, pode parecer que não vai fazer sentido, mas é exatamente isso que torna o processo e o resultado final diferenciado. É esse conflito que faz as pessoas se conectarem e contarem boas histórias.

E boas histórias vêm movendo a sociedade há milhares de anos. De acordo com o escritor Philip Pullman, “depois de comida, um abrigo e a companhia de outras pessoas, histórias são o que mais precisamos no mundo“. Histórias podem reconciliar paradoxos, transcender binarismos, revelar falsas dicotomias e lidar com as incertezas. Elementos fundamentais nos dias de hoje. E a arte faz isso melhor do que qualquer outra coisa.

Você não vai fazer boa arte preenchendo caixinhas ou círculos. Nós geralmente usamos esse método quando sentimos que estamos travados, perdidos ou sentimos que estamos perdendo alguma coisa naquilo que estamos trabalhando. Tem sido uma ferramenta poderosa pra gente se colocar em lugares interessantes, em que nos sentimos mais verdadeiros, mais honestos e mais realizados“, explicou Daniel Kwan.

E por que o processo para encontrar a realização (fulfillment) é tão necessário? Porque é praticamente impossível encontrar esse preenchimento e a realização pessoal sob o atual sistema. “O sistema trabalha melhor quando você não está preenchido. O que me leva a falar sobre AI“, disse Daniel Kwan, fazendo a plateia entrar em delírio e marcando uma reviravolta na apresentação.

Por que nós fizemos ‘Everything Everywhere All at Once’ da maneira que fizemos? Nós fizemos para nos salvarmos. Toda história que contamos é um ato para salvar nós mesmos e nossos valores de um sistema que quer diminuir o nosso valor e o valor das pessoas que a gente se importa“, afirmou Kwan.

A AI é mágica. Provavelmente vai descobrir a cura do câncer, vai resolver problemas climáticos. É algo muito poderoso. Mas estou realmente com medo de qual nova história nós vamos ter que contar para nós mesmos para aceitar essa nova conveniência, esse novo progresso. É algo assustador. Imagine o que essa tecnologia pode fazer com o sistema atual. Esse mesmo sistema que criou a crise climática, que criou desigualdades sociais e trouxe a nossa própria falta de entendimento do nosso valor na sociedade. Eu não estou dizendo ‘não use AI‘. Eu não acredito em dogmas, isso não funciona. AI está aqui e vai ser implementada em todos os aspectos da nossa vida“, continuou Kwan.

A outra parte da dupla, Daniel Scheinert, concordou e adicionou: “você está usando AI para tentar criar o mundo em que você quer viver? Você está usando para aumentar produtividade na sua vida e poder focar nas coisas que realmente importam pra você? Ou você está apenas fazendo mais dinheiro para os bilionários?” Se alguém te disser que ‘usar AI não traz efeitos colaterais, é algo ótimo, entre nesse barco’, eu quero dizer que isso é um besteira absurda. Isso não é verdade. E nós deveríamos estar discutindo de maneira profunda e muito cuidadosa sobre como deveríamos implementar isso em nossas vidas.”

Com essa crítica afiada e uma visão de mundo muito clara, a dupla terminou sua apresentação e foi aplaudida de pé, na única sessão em que vi isso acontecer. Um momento marcante e emblemático do festival.

Um talk inesquecível e que contou com diversos ingredientes diferentes: um framework para as pessoas tirarem foto (ikigai), química entre os palestrantes, bom humor, ritmo, profundidade, credibilidade, conflito, polêmica e é claro, AI.

Elementos que aparecem ao longo de todo SXSW, em diversas palestras da programação. Mas não necessariamente todos esses elementos juntos, em um só lugar. Muito menos ao mesmo tempo. Parece que só mesmo os Daniels pra conseguirem tal façanha.



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