A publicidade é política. Nossa presença Trans em Cannes também
Juntos construímos uma visão de futuro para diversidade e inclusão na indústria criativa

Estar em Cannes Lions 2025 foi algo que jamais imaginei que pudesse acontecer. Como pessoa trans e profissional da área de dados, participar do maior festival de criatividade do mundo parecia algo distante.
Fui um dos selecionados pelo programa OcupaTrans, com apoio da Publicis Brasil, para vivenciar essa experiência de perto. Mas, mais do que um momento pessoal marcante, estar ali foi também um gesto coletivo e político. Porque ocupar espaços onde pessoas trans quase nunca aparecem não se resume à representatividade: é sobre transformação.
Segundo o Meio & Mensagem, apenas 0,2% das pessoas que atuam nas agências brasileiras se identificam como trans, e o número de participação em cargos decisórios é ainda menor. Isso evidencia uma questão estrutural grave. Por isso, viver Cannes com um crachá, participando de debates, fazendo perguntas e trocando experiências com pessoas do mundo inteiro foi tão importante.
Entre os momentos mais marcantes do festival, destaco dois encontros que refletem o presente e o futuro da nossa indústria. O painel “New Creative Frontier: AI as Muse & Marketer?!” com Arthur Sadoun, CEO da Publicis Groupe e Shantanu Narayen, CEO da Adobe, trouxe reflexões valiosas sobre como a inteligência artificial está moldando o processo criativo, ampliando fronteiras na personalização, colaboração e storytelling. Um tema especialmente relevante para quem, como eu, atua na área de dados.

Outra ocasião que me impactou foi o meet-up “Creativity as Resistance”, liderado por Andre Gray, Chief Activation Officer da Havas Lynx NY. Juntos, construímos uma visão de futuro para diversidade e inclusão na indústria criativa. Em tempos de retrocessos globais na pauta DEI (Diversidade, Equidade e Inclusão), pensar estratégias de resiliência se torna fundamental. Esse encontro proporcionou ferramentas práticas e conexões reais para seguirmos em frente.
Este ano, o festival reafirmou seu compromisso com a ERA (Equidade, Representatividade e Acessibilidade), um aspecto que considero fundamental. Garantir que a criatividade global seja plural não pode ser apenas um tema de painel — precisa se refletir em premiações, liderança e contratações.
A premiação de Creative Data também foi um destaque. Apesar das polêmicas, ficou claro que o uso ético, estratégico e criativo dos dados pode impulsionar campanhas de impacto verdadeiro. Dados precisam ser autênticos, e a criatividade, contextualizada. Nesse cruzamento, surgem ideias que realmente transformam.
Volto do festival com a cabeça cheia de ideias e o coração transbordando de gratidão. Mas, principalmente, com a certeza de que estar em Cannes foi uma ação política e renovador, uma oportunidade de refletir nossas vivências, nossos dados, nossas pautas e a urgência de uma publicidade mais ética, mais humana e mais verdadeira.

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