Apple usa última narração de Jane Goodall em campanha que celebra criatividade e o poder de começar do zero
A cientista britânica, recém-falecida aos 91 anos, empresta sua voz ao filme “Great Ideas Start on a Mac”, retomando parceria histórica iniciada em “Think Different”
A Apple prestou uma última homenagem a Jane Goodall, uma das vozes mais inspiradoras da ciência e da conservação ambiental. A primatóloga, que morreu em 1º de outubro de 2025, é a narradora da nova campanha global “Great Ideas Start on a Mac”.
O filme marca sua derradeira colaboração com a marca, quase trinta anos depois de ter participado do icônico Think Different.
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Por que importa: mais do que um comercial, o vídeo funciona como manifesto sobre o ato criativo.
Dirigido por Mike Mills (Beginners; Mulheres do Século 20) e com trilha original de Emile Mosseri (Minari), o filme parte de uma imagem simples: o cursor piscando em uma tela em branco. É a metáfora central da peça — o ponto de partida de toda criação, seja ela uma história, um invento ou uma ideia.
“Toda história que você ama. Toda invenção que te move. Toda ideia que você gostaria de ter tido. Todas começaram do nada. Apenas um piscar na tela perguntando: o que você vê?”, diz Goodall na narração.
A campanha foi criada pela TBWA\Media Arts Lab, a mesma agência responsável por Think Different e pelo lendário comercial 1984. Segundo Tor Myhren, vice-presidente global de marketing da Apple, o objetivo é “celebrar o momento mais misterioso e difícil de qualquer ideia: sua origem”.

Entre o passado e o presente
Goodall foi uma das personalidades retratadas na campanha de 1998, que exaltava pessoas que “pensaram diferente”, como Gandhi, Picasso e Martin Luther King. Na época, Steve Jobs ficou pessoalmente honrado com a permissão da cientista para usar sua imagem. A Apple não pagou cachê, mas doou computadores para organizações escolhidas pelos homenageados.
Agora, sua voz encerra simbolicamente esse ciclo.
O filme costura cenas de cientistas, designers e artistas que usam o Mac como ferramenta de criação — entre eles Bruce Strickrott, engenheiro oceânico; Ruchika Sachdeva, fundadora da marca indiana Bodice; Alice Wong, ativista pela acessibilidade; e a equipe da 1X Technologies, focada em robótica e inteligência artificial.
A peça reafirma o DNA da Apple de associar tecnologia à arte e à imaginação humana, mas ganha um significado mais íntimo por ser póstuma. A serenidade da voz de Goodall transforma o comercial em uma espécie de despedida poética, onde a mensagem publicitária se dissolve em filosofia. O resultado é o tipo de narrativa que a Apple domina: emoção controlada, estética impecável e timing cirúrgico.
Tela em branco na era da IA
Mas há uma ironia silenciosa no ar. O comercial celebra o poder da tela em branco, esse símbolo clássico da criatividade solitária, o mesmo que, na era da inteligência artificial, se tornou quase obsoleto. Ainda existe o “começar do zero” quando algoritmos já sugerem palavras, traços, melodias e códigos antes mesmo de pensarmos neles?
O cursor piscando, que um dia representou a coragem de criar, agora também carrega o medo de não ser mais necessário. É justamente essa tensão – entre o humano e o automático – que torna a homenagem de Goodall ainda mais poderosa: lembrar que a curiosidade, e não a eficiência, continua sendo o ponto de partida de toda grande ideia.
A real: “Great Ideas Start on a Mac” é tanto uma ode à criatividade quanto um epílogo digno para Jane Goodall. Uma mulher que passou a vida perguntando o que mais poderia ser possível. A Apple devolve a pergunta, com o cursor piscando na tela: o que você vê quando tudo ainda é nada?

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