Omnicom aposenta DDB, FCB e MullenLowe e corta 4 mil cargos após comprar a IPG

A Omnicom oficializou a reorganização pós-aquisição da Interpublic Group (IPG) e, no processo, está aposentando três das marcas mais icônicas da história da publicidade: DDB, FCB e MullenLowe. Elas serão absorvidas por outras redes do grupo enquanto a holding corta cerca de 4 mil empregos desde o anúncio do negócio e redesenha sua estrutura global.

A nova configuração criativa fica assim:

  • BBDO passa a incorporar a FCB;
  • TBWA absorve DDB e MullenLowe (o nome DDB some, mas “Bernbach” batiza a equipe global dedicada a Volkswagen);
  • McCann é a única grande rede criativa da antiga IPG mantida como global.

Ao todo, a Omnicom diz que cerca de 23,2 mil pessoas já saíram ou sairão da base somando cortes anteriores em Omnicom e IPG, desinvestimentos e a nova rodada de demissões – algo próximo de 8% do quadro combinado. A estimativa é ficar com 105 mil funcionários no mundo depois de toda a integração concluída. A meta declarada: atingir US$ 750 milhões em “sinergias de custo” (eufemismo pra corte de gastos).

O que muda na prática

A holding passa a se organizar em grandes “blocos”:

  • Omnicom Advertising: BBDO, TBWA e McCann como redes globais, além de coletivos de agências como Goodby, The Martin Agency, Deutsch, Lola, a brasileira Africa, Carmichael Lynch, entre outras boutiques que seguem com marca própria.
  • Omnicom Media: OMD, PHD, Hearts & Science + Initiative, UM e Mediahub, com a promessa de criar o “maior grupo de mídia do mundo” em faturamento e poder de negociação.
  • Omni / Flywheel Commerce Network: o coração de dados, identidade, commerce e IA, agora turbinado pela integração da Acxiom, comprada pela IPG em 2018 e tratada como peça-chave do novo sistema.
  • Omnicom Production, PR, Health, Precision Marketing, Branding: unidades especializadas que seguem com CEOs próprios, mas plugadas ao mesmo stack de dados e à mesma infraestrutura de IA.

Segundo a AdWeek, um ponto central do discurso é o OmniPlus, evolução da plataforma Omni, que mistura dados de Acxiom, dados de varejo e um framework “agentic” de IA para ser um “sistema operacional” de ponta a ponta: da estratégia criativa à mídia, passando por commerce e mensuração de vendas em tempo (quase) real, tudo ligado a um “single consumer record” por marca.

Fim de três gigantes – e do romantismo das redes

Do ponto de vista simbólico, o movimento é enorme:

  • DDB, agência de “Think Small” para Volkswagen, “Wassup?” para Budweiser e uma das redes mais premiadas dos últimos anos em Cannes, deixa de existir como marca global.
  • FCB, que vivia uma fase de renascimento criativo com cases como “Whopper Detour” e “This Girl Can”, é absorvida pela BBDO.
  • MullenLowe, herdeira de Lowe e dona de campanhas históricas como “Reassuringly Expensive” para Stella Artois e “When I Grow Up” para Monster.com, também some como rede.

A leitura é direta: clientes querem cada vez menos “alfabeto de siglas” e mais soluções integradas da holding, com times montados sob medida, pouco importa se no crachá está DDB, FCB ou qualquer outra marca histórica. Num mundo em que WPP já aposentou JWT e Y&R, e a Publicis engoliu Leo Burnett dentro de uma arquitetura maior, a decisão da Omnicom é mais um passo nessa mesma direção: menos fetiche de marca de agência, mais arquitetura de plataforma.

Demissões, eficiência e IA no centro

A Omnicom deixa claro que os 4.000 cortes diretamente ligados à fusão são focados em funções duplicadas e camadas de gestão consideradas redundantes. Mas, somando os ajustes que IPG e Omnicom já vinham fazendo desde 2024, o número total se aproxima de 10 mil pessoas impactadas – mesmo com o discurso de que isso representa “uma eficiência de dígito único” em relação ao total.

Ao mesmo tempo, a companhia vende a narrativa de que está “construindo a agência do futuro”.

O que isso significa para o mercado (e para o Brasil)

Algumas leituras rápidas:

  1. Campo de batalha Omnicom x Publicis
    Com WPP ainda em processo de reorganização, a briga imediata pela narrativa de “holding mais preparada para o futuro” fica entre Omnicom e Publicis. Ambas apostam em mega-plataformas de dados, identidade e IA; a diferença é que agora a Omnicom passa a ter Acxiom sob o guarda-chuva de Omni, enquanto a Publicis empilha Epsilon, Sapient e companhia.
  2. Era dos “squads de holding”
    Para clientes globais e regionais, a tendência é ver menos pitch “BBDO x DDB x FCB” e mais proposta “New Omnicom” com times que misturam talento de várias agências, plugados a OmniPlus. As marcas de rede passam a ser, em muitos casos, mais um tema interno do que externo.
  3. Pressão por eficiência em toda a cadeia
    A justificativa oficial dos cortes é a economia de US$ 750 milhões em custos. Na prática, isso tende a significar estruturas mais enxutas, menos camadas, mais centralização de operações (mídia, produção, dados) e maior pressão de produtividade sobre quem fica – inclusive no Brasil.
  4. Legado criativo x máquina de dados
    A morte de DDB, FCB e MullenLowe como marcas levanta a pergunta: até que ponto a indústria está disposta a abrir mão de símbolos históricos em nome de escala, dados e IA? Para muitos criativos, a resposta dói. Para investidores e grandes CMOs, a conta é outra: eficiência, performance e capacidade de orquestrar campanhas globais com consistência e velocidade.

A real

A nova Omnicom é, antes de tudo, uma declaração sobre para onde os grandes grupos de comunicação estão indo: menos romantismo de agência, mais arquitetura de plataforma; menos paredes entre redes, mais equipes modulares; menos glamour de “nome na porta”, mais obsessão por dados, IA e a chamada “sinergia financeira”.

Para quem trabalha dentro dessas redes – ou para quem concorre com elas – a mensagem é clara:
o jogo está cada vez menos na fachada da agência e cada vez mais em quem consegue combinar criatividade, dados e tecnologia em escala, sem desmanchar a cultura no meio do caminho.

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Publicador por
Carlos Merigo

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