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Selfie, uma prática que desconhece limites

Ao tentar fotografar a si mesmo, estudante teria quebrado a perna de uma estátua do século 19. Será que devemos começar a nos preocupar?

por Amanda de Almeida
Capa - Selfie, uma prática que desconhece limites

Seria a falta de noção a grande epidemia do século 21? Foi exatamente esta a pergunta que me fiz ao ler a notícia de que um jovem teria quebrado a perna de uma estátua do século 19, na Academia de Belas Artes de Brera, em Milão. O fato ocorreu quando um “estudante de intercâmbio” teria sentado no colo da imagem do “Sátiro Embriagado” para tentar fazer uma selfie, segundo informações da administração do museu. É daí que eu volto a perguntar: seria a falta de noção a grande epidemia do século 21?

Ao longo da história, o mundo foi assolado por inúmeras epidemias: varíola, Praga de Atenas, malária, lepra, peste negra, sífilis, tifo, cólera, Gripe Espanhola, Aids, Gripe Aviária… mais recentemente, até a obesidade passou a ser considerada uma epidemia, por conta do excesso de alimentos processados em nossa dieta.

E se a obesidade pode ser encarada como uma epidemia resultante dos excessos que passaram a fazer parte do nosso cotidiano, então não seria errado concluir a “falta de noção” também se encaixa nesta definição, já que sua ausência nos leva a cometer diversos excessos no dia a dia, muitas vezes levados pelas razões (?) mais absurdas.

As “noções” que temos em relação ao mundo variam muito de cultura para cultura, geração para geração, família para família, pessoa para pessoa

É claro que as “noções” que temos em relação ao mundo variam muito de cultura para cultura, geração para geração, família para família, pessoa para pessoa. Algumas coisas, entretanto, são básicas. Coisas que certamente você ouviu em algum momento da sua vida, como “seu espaço termina onde começa o meu” ou ainda “não faça com os outros o que você não gostaria que fizessem com você”. Elementar, não, meu caro Watson?

Nem tanto. Para uma pessoa conseguir aplicar esses conceitos básicos em sua vida, ela teria de ser capaz de perceber, entender e compartilhar as experiências, sentimentos e emoções das pessoas ao seu redor. Seria necessário ser capaz de exercitar a empatia.

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O “Sátiro Embriagado”, obra da Academia de Belas Artes de Brera

O que a empatia tem a ver com isso?

Digamos, então, que a empatia seria uma espécie de ponto de partida para termos um pouco de noção sobre o mundo ao nosso redor. Seria como perceber que determinadas coisas que fazemos podem afetar o outro de uma maneira muito diferente do que nos afeta. É como quando você faz algum comentário e não percebe que aquilo pode ofender alguém, porque a princípio você não considerou isso ofensivo.

Digamos, então, que a empatia seria uma espécie de ponto de partida para termos um pouco de noção sobre o mundo ao nosso redor

Infelizmente, ninguém está livre de cometer alguns escorregões ao longo do caminho – a mídia está repleta de exemplos e tenho certeza de que todos nós temos alguma história para contar sobre algo desse tipo. O problema é que nem sempre conseguimos perceber isso, talvez porque nossos níveis de empatia tenham passado por um franco declínio nos últimos 30 anos, conforme constatou um estudo conduzido por Sara H. Konrath, na Universidade de Michigan.

A pesquisadora avaliou que a empatia “auto-declarada” por 14 mil estudantes da universidade tem diminuído desde 1980, mas nos últimos 10 anos a queda registrada foi abrupta: 75% dos participantes se avaliaram como menos empáticos do que a média de três décadas atrás. Apesar de não haver uma única justificativa para esse declínio, os estudiosos têm algumas teorias, sendo uma delas o aumento do isolamento social, cada vez mais comum para muitas pessoas.

“Para piorar, durante o mesmo período o narcisismo ‘auto-declarado’ dos estudantes alcançou níveis mais altos, de acordo com uma pesquisa de Jean M. Twenge, psicóloga da San Diego State University”, aponta a matéria publicada pela Scientific American em dezembro de 2010.

No funeral de Mandela, a selfie mais criticada dos últimos tempos

No funeral de Mandela, a selfie mais criticada dos últimos tempos

Narcisismo em alta

Isolamento social, empatia em declínio, narcisismo em alta… E a palavra do ano em 2013 é “selfie”. Mas, será que dá para jogar toda culpa nessa moda?

Fotografar a si mesmo não é uma exclusividade da era digital. Vira-e-mexe aparecem imagens antigas, feitas em câmeras analógicas, e que em tempos mais recentes acabaram recebendo o nome de “selfie”. E, de tão populares, tornaram-se alvo de críticas – Barack Obama e outros políticos no funeral de Nelson Mandela é um exemplo -, mas também de oportunidades – como pudemos ver no Oscar, com Ellen DeGeneres reunindo algumas das principais estrelas da atualidade em uma selfie registrada com um Galaxy, e fazendo Samsung e Twitter rirem à toa.

Ainda assim, a lista de furadas é gigante – algumas das piores estão reunidas em uma página no Facebook chamada Selfie Gone Wrong -, razão pela qual vez ou outra sites como o Mashable reúnem dicas para não errar na hora de se fotografar e compartilhar. Coisas óbvias como olhar ao redor, ser discreto e estar preparado para as reações das pessoas estão ali.

Após a perna quebrada do “Sátiro Embriagado”, na Academia de Belas Artes de Brera, eu incluiria na lista “não se sentar em estátuas do século 19 ou em qualquer outra obra de arte ou objeto histórico”. Mas é só uma sugestão.

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No Oscar, o sucesso da selfie de Ellen

“Você é uma doença. E eu sou a cura”

Piadinhas à parte, apesar de este texto ter sido inspirado por uma selfie, não acredito que o problema esteja na selfie em si, mas sim na falta de noção que as pessoas têm de uma maneira geral, inclusive quando estão tentando fotografar a si mesmas. A selfie é um sintoma dessa falta de noção consequente do nosso narcisismo, que é cada vez maior, e do nosso nível de empatia, cada vez menor. Para variar, tudo se resume ao ser humano, suas decisões e seu comportamento.

A selfie é um sintoma dessa falta de noção consequente do nosso narcisismo, que é cada vez maior, e do nosso nível de empatia, cada vez menor

Por mais que o museu tenha minimizado o fato, pelo menos aparentemente, dizendo que o valor da obra não era muito alto e que ela já foi encaminhada para a restauração, ela tinha a sua importância, ou não estaria em exibição no local – o que me fez lembrar daquela frase atribuída a Oscar Wilde que diz que “hoje as pessoas sabem o preço de tudo e o valor de nada”. E se isso já rolava lá no século 19, imagine o que ele não diria hoje.

Será que a partir do momento em que adota uma política de “shit happens”, o museu não está abrindo um mau precedente? Ou será que de fato não há razões para nos preocuparmos com a crescente falta de noção das pessoas e simplesmente devemos relaxar e aceitar isso como uma consequência do processo evolutivo(?) do ser humano?

Ao meu ver, acredito que o assunto merece, sim, atenção e um pouco de reflexão da nossa parte, independentemente das conclusões que possamos chegar. Afinal, estamos todos interligados e, mesmo que nossa empatia esteja em declínio, isso não quer dizer que o que os outros fazem não nos afete em algum momento. Quem sabe, assim, a gente também consegue recuperar um pouco da nossa noção perdida…

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