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Parem de se apropriar da cultura de Internet, diacho

Pois no fim das contas, muito da propaganda e do conteúdo atual não passa de isca pra millennial

por Fabrício Calado
Capa - Parem de se apropriar da cultura de Internet, diacho

Começo esse texto num tom de terapia de grupo: eu fui um troll. Já faz um tempo, mas teve isso. Participava de fóruns de discussão aqui e na gringa – uns cinco, se não me salva a memória – onde todo mundo se zoava, apesar de uns serem mais alugados que outros. Sem dúvida, eu também era zoado, assim como criava nicks falsos pra trollar os fóruns alheios. Hoje, talvez isso se encaixasse no conceito de bullying.

Na época, não pegava nada. Assim como a pirataria não dava sinais de que a música ia ficar grátis, porque era tudo novo. Claro, era roubo, mas não tínhamos noção de que isso deixaria as bandas falidas – havia uma inocência de que só as gravadoras se lascavam nessa. Em nossa defesa, não tinha streaming ainda e era bastante chato levar dias baixando temporadas inteiras de séries.

Desta vida passada pra cá, a Internet cresceu até virar um fórum gigante,com várias seções transbordando pro mundo real. Quem gosta de “Star Wars” pode achar tudo sobre a série na Wikipédia, mas os mais tarados ainda vão se reunir no Reddit ou criar grupos no WhatsApp e Facebook pra falar sobre aquilo e marcar encontros pessoalmente em algum evento ou convenção. Ou seja, houve crescimento, mas certas coisas continuaram nichadas

Justamente porque cresceu a ponto de se dividir, a Internet é (bem antes de) hoje uma cultura, muito mais que um lugar ou uma estrutura (a menos que você acredite no The Atlantic, que diz que a Internet é na verdade um gordinho de óculos numa plantação de cabo duplo #DENÚNCIA).

Talvez seja óbvio dizer, hoje, que a Internet é uma cultura. É algo que hoje faz total sentido, mas não estava claro pra mim naquela época. Estabelecer algo como uma cultura é uma briga de foice que ainda hoje mata muitos antropólogos, sociólogos e intelectuais menos cotados. Por isso, vou usar a definição de cultura do crítico literário Terry Eagleton, pra mim a mais fácil de entender:

(…) A cultura não diz respeito tanto ao que um grupo faz (já que muitas pessoas fazem a mesma coisa) quanto à maneira específica como o faz. Matar pessoas não é exatamente parte da cultura militar americana, mas fazê-lo usando cabelos curtos e um vocabulário bastante restrito, sim. É algo que você aprende não por meio do estudo, mas pela participação. É antes como uma criança aprendendo uma língua do que como um adulto aprendendo a montar uma mesa.”

Nestes termos, Internet também é cultura. Quem tem 30 e tantos hoje sobreviveu aos cd’s de instalação da AOL e bate-papos do ZAZ. Instalamos Napster e Audiogalaxy, ficamos conhecendo um monte de séries e HQs por blogs e, quando não chegavam por aqui, recorrermos ao torrent e Megaupload. Posso dizer que nasci e cresci numa cultura de Internet.

Sempre acho fake uma marca ou empresa tenta usar essa cultura de internet pra me vender coisa

Por isso, sempre acho fake uma marca ou empresa tenta usar essa cultura pra me vender coisa. Nunca parece espontâneo ver um banco incorporar emojis na comunicação, ou um meme ser reciclado pra vender produto. Manja comercial usando “Tá tranquilo, tá favorável” pra te empurrar o que quer que seja? Tipo isso. Pra mim, nunca colou.

Tem sempre gente achando ruim quando um sertanejo ou outro artista se apropria da cultura marginal (pense na joint Lucas Lucco/Mc Bin Laden ou todas as vezes em que a Katy Perry/Miley Cyrus surrupiou traços de outras culturas pruma performance).

Minha encanação com isso é: toda vez que alguém abraça/repassa isso sem tomar conhecimento das raízes da parada, a cultura de Internet pula um tubarão. Um monte de nerd teve de passar perrengue e ser zoado (aí sim, com maldade) pra um filme como “Deadpool” ser um sucesso e quem curte ser considerado cool.

O que esse povo do comercial e do marketing tava fazendo quando a gente lia HQ do “Preacher” em vez de jogar bola? Por que não apareceram quando o Jovem Nerd e o youPix eram coisa de virjão e o B9, um blog com oito pessoas que acompanhavam o Mário, o Publicitário? Esse Mário, quem frequentava o B9 conhecia.

Toda vez que alguém repassa isso sem tomar conhecimento das raízes, a cultura de Internet pula um tubarão

Claro que só posso falar do meu caso, e o que digo é que, pro meu gosto, esse tipo de tentativa de aproximação forçada é um saco. Tá na moda reclamar de apropriação cultural, mas isso não rola só com etnias. Um monte de gente/coisa legal vai sendo soterrada porque o que chega até aqui é o remix do remix do remix, como aquelas músicas que na verdade são a versão brasileira Herbert Richards dum hit gringo, mas ninguém avisa. Vão sempre existir dois tipos de gente que joga “Skyward”: os que têm desejo de grávida de mais “Monument Valley” e os que não conheceram o original.

Até aí, você dirá que é assim na música há oitocentos anos. Ramones se inspirou no The Who que se inspirou em Chuck Berry e assim vai ad infinitum. Ok, mas as primeiras bandas de punk rock formadas após um grupo de moleques escutar o “Never Mind the Bollocks” não entraram nessa (só) pela grana, acho eu. Ninguém tinha noção de modelo de negócios ou ponto de equilíbrio. De novo, era algo inocente. Não sei se dá pra dizer o mesmo dos jogos e produtos que são só clones caça-níquel do último viral.

No fim, muito da propaganda e do conteúdo é isca pra millennial. Talvez não exista mais bobo na Internet, mas isso não impede uma galera que é o contrário dos sabe-de-nada-inocente de se aproveitar dela sem valorizar ou dar o crédito pra quem realmente cria coisas novas.

É uma metatrollagem, que de inocente não tem porra alguma.

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