Transcrição: Mamilos 54 - Zika vírus e microcefalia • B9

Transcrição: Mamilos 54 – Zika vírus e microcefalia

Jornalismo de peito aberto

por Mamilos
Capa - Transcrição: Mamilos 54 – Zika vírus e microcefalia

Transcrição Programa 54

Esse programa foi transcrito por: Andrey A., Angelica Amaral, Fernando de Paulo, Letícia Lourenço, Henrique Tavares
Luana Rosa, Tati Criscione, Lu Machado

Transcrição Programa 54

Início da transcrição:
Ju: Mamileiros e Mamiletes, estamos de volta com o seu exercício semanal de tolerância e empatia. Eu sou a Ju Wallauer e essa é minha parceira no crime:
Cris: Cris Bartis.
Ju: Vem matar saudades!
Cris: Chega chegando… E vamos começar com o Som do Mamilos 2016. Quase que nem lembro o ano… Caio, diz aí, amigo, o que vai estrear, vai chegar brilhando no primeiro programa do ano?
Caio: Olá, personas, eu sou o Caio Corraini aqui novamente depois dessas longas férias para trazer para você o que nós vamos escutar no Mamilos dessa semana. Lembrando sempre que você pode enviar a sua contribuição, recomendando para a gente um artista brasileiro, de preferência que esteja começando e ainda não recebeu o espaço que merece na mídia. O objetivo aqui é apresentar coisas novas, e não ficar babando nas duplas sertanejas que já ganham milhões em show, ok?
Então faça sua parte no email: [email protected].
E nesse edição, por recomendação da chefa Ju, nós iremos ouvir o rapper Rico Dalasam.
O Rico é daqui de São Paulo, e tem por objetivo unir a cultura gay com o movimento hip hop, então fiquem aí com o Rico Dalasam e o Som do Mamilos.

[Trilha Sonora]

A vida é leilão e meu lance ninguém cobre
Eu sou provocativo igual Kylie Minogue

E aí, bi?
Ficou rica de uns anos pra cá
E aí, bi?
Botou aquele lá pra andar
E ouvir, não paro mais de viajar
Um beijo, mar
Tá riquíssima

[Trilha Sonora]

Cris: Tem beijo, manda beijo.

Ju: Beijo para Aucicléia, no Rio de Janeiro.

Cris: Para a Tânia, mamãe do Otávio.

Ju: Para o Guarujá e todos os nosso ouvintes queimados de sol.

Cris: A gente tá morrendo de inveja.

Ju: Gente, eu tenho um recado aqui no beijo, que não é um beijo, é um beijo ao vivo. Que é assim… Tô cansada de ver gente falando “eu acho que eu te vi”, “ah, eu te vi”. Pessoa, é o seguinte: São Paulo tem 11 milhões de habitantes, segundo o SoundCloud nós temos 9 mil ouvintes na cidade. Então, assim, eu tô de boa numa rua, num cinema, num restaurante e simplesmente encontrar alguém que é apaixonado pelo Mamilos do mesmo jeito que a gente é quase acertar na Mega Sena. Então, pelo amor de deus, se você me encontrar em qualquer lugar, faça escândalo! “Eu adoro o Mamilos!!!!” Sabe, é o mínimo que eu espero de você. Eu vou apertar a sua bochecha, eu vou te abraçar, cê vai me falar qual é o seu programa preferido. É muita sorte encontrar um mamileiro na rua, então por favor parem de falar no Twitter que você me viu.
Cris: Eu sou um tipo comum, mas assim, se alguém quiser falar comigo eu vou ficar muito feliz. Às vezes eu estou num lugar público e alguém dá umas encaradas assim… E eu sempre penso: será que essa pessoa me conhece?
Ju : Isso me incomoda.
Cris: Será que tem alguma coisa errada com a minha roupa; eu olho para ver se não estou cagada ou se não caiu nada em mim, sabe? E a pessoa me troca com olhar, e sabe, uma troca de olhar do tipo: uhuuuuuummm… Gente, o quê é isso? Então assim, pode se aproximar, pode conversar que eu sou de prosa, chega mais. Tem merchant?
Ju: Tem.
Cris: Já assim, chega e tem merchant?
Ju: Tem, a gente na volta agradece o apoio dos patronos:
Rodrigo Cruz,
Cris: Paulo Gomes.
Ju: Andreza Cabreira,
Cris: Guilherme Honorato,
Ju: Mariana Ruggeri,
Cris: Claudia Matsukuma,
Ju: Tiago Rezende,
Cris: Jaqueline Costa,
Ju: Paulo Patux,
Cris: Lu Pereira,
Ju: Clarice Scotti,
Cris: Helio Paiva Neto,
Ju: Marina,
Cris: Alexander Dekker,
Ju: Alex Vila Verde,
Cris: André Dorte,
Cris: Danilo Yamakishi,
Ju: Silvia Gurgel,
Cris: Livia Rodrigues,
Ju: Erik Égon,
Cris: Gus Mendonça.
[trilha sonora]
Cris: E vamos para o Fala Que Eu Discuto?
Ju: E tem uma leva de gente nos agradecendo pela nota no Enem, um leva… A gente escolheu alguns para representar essa galera.
Cris: Estamos falando de todo mundo. O Mateus Nunes falou que era o ano de 2014, cursava o segundo ano do Ensino Médio e ele fez o Enem somente para testar seus conhecimentos. Mas assim mesmo, ele ficou chateado por ser o único a não ficar por dentro dos 10% a tirar acima de 600 na redação. Esse ano, 2015, ele faria o Enem pra valer, agora valendo. Faltando mais ou menos um mês pro exame, ele estava preocupado, pois no decorrer do ano ele não havia praticado a redação como gostaria. Só que pra sorte, surpresa e alívio, o tema da redação foi a persistência da violência contra a mulher na sociedade brasileira, ele não conteve o sorriso. Dias atrás (ele não sabe precisar direito o tempo exato), ele tinha escutado o Mamilos 41 sobre a violência contra a mulher na internet. “Trinta linhas não seriam suficientes pra transcrever tanta informação, todos os argumentos que vieram à mente. Pude selecionar os melhores argumentos e graças aos Mamilos, pude melhorar minha nota em mais de 200 pontos. Ficou um belo de 800. Oitocentos é lindo, é cheiroso, o oitocentos que me deixou com uma média de 725 e me garantiu a minha tão sonhada vaga no Bacharelado em Física. Muito obrigado, Cris e Ju.”
Ju: Muito bem. Também tivemos a Guizu falando: “Eu, super mamilete, tirei 840 e estou muito, mas muito feliz, obrigaduuuu Ju e Cris, eu amo vocês!”
Cris: Teve a Alê também, que é uma pessoa genérica, né? É homem ou mulher, é Alê… “720, obrigado pelo help!” Na verdade assim, se você souber escrever, os argumentos nem precisam ser tão fortes, desde que você tenha uma boa narrativa. O que eu gosto dos agradecimentos é que mostra que as pessoas realmente fixaram o tema, entenderam o que estava sendo discutido e foram lá e colocam o ponto de vista de tudo que elas aprenderam daquele conteúdo. Então, quando ele fala “aquele 800 cheiroso” é porque é consistente, ele ficou contente com o que ele escreveu.
Ju: O Arthur Giglio mandou, falando: “Eu só quero agradecer pelo episódio do Mamilos 41 citando a Malala, pois além de ser o episódio que ajudou bastante o pessoal do Enem, também me ajudou no Enade. Vejam só, na minha prova de Administração caiu uma pergunta discursiva sobre ela e lembrei bastante de coisas citadas no cast. Vocês arrasam, conseguem acertar antecipadamente e duplamente, continuem assim, sou fã incondicional do trabalho de vocês e um grande recrutador de novos ouvintes.”
Isso é sempre importante, né, Cris?
Cris: É…
Ju: Espalha a palavra!
Cris: É, espalhar a palavra, não guarde pra você, que a gente está aqui pra todo mundo.
Ju: Sobre o episódio de meritocracia, ele gerou muitos e-mails e comentários. Uma das coisas mais comum foi as pessoas falarem ” Ah, por quê que pra questionar a meritocracia tinham três convidadas e enquanto que para defender a meritocracia só tinha um convidado?”
E aí é uma questão de roteiro, o que a gente fez foi um roteiro de conceito, acusação (que é a crítica de por que não dá conta da realidade imperfeita que a gente vive) e de defesa (que é que embora falhe a meritocracia, ainda é a forma mais eficiente que reduz a pobreza e melhorando toda a qualidade de vida do restante da população).
A gente dividiu a acusação em três argumentos centrais; cada um foi defendido por uma convidada. A defesa respondeu todos esses argumentos só com uma pessoa mas com o mesmo tempo.
Então assim, como a gente sempre fala, essa é uma forma de abordar o tema de milhares possíveis, a gente nunca vai esgotar o assunto em um só programa. Mas a gente colocou, levantou a bola, para vocês começarem a pensar e discutir e formar a opinião de vocês.
Outra coisa que eu achei muito curiosa, é que a gente teve muitos comentários fortes e apaixonados em relação aos convidados e às ideias. Principalmente falando assim, eram exatamente os mesmos comentários, com as mesmas palavras, com as mesmas expressões de pessoas com visões diferentes. Então por exemplo:
Cris: Apaixonados pelos dois lados [risos]
Ju: “Como é que pode falar isso?”, “Essa pessoa não sabe de nada!”, “Essa pessoa não sabe o que tá falando…” E assim, do mesmo tipo de comentários por lados opostos.
Qual é a minha resposta (que tem sido a minha resposta pra todo mundo que tem falado isso)?
O nosso objetivo não é falar o que você já sabe, você veio aqui pra escutar o que você não concorda e não entende de uma outra maneira, e procurar entender qual é o sentido que tem essas pessoas que acreditam em coisas diferentes de você. Eu acho assim, todas as pessoas que falaram no programa foram muito coerentes, elas têm razão em algum ponto. Não é possível, se você escutou o programa e não concordou em nada com o que uma pessoa falou, então escuta de novo. Porque elas têm um ponto, você pode não concordar com o jeito que ela falou, você pode não concordar com um argumento que ela deu, mas ela tá enxergando alguma coisa que é importante e que agrega e tem a visão do todo. Se você não concordou em nada com que as pessoas falaram, você tá sem uma peça do quebra-cabeça.
Cris: Ou então já chega com uma visão tão pré-formatada que aí não se dá a possibilidade de ver o outro lado, que é justamente o convite que a gente faz toda vez que você vem nos ouvir. O programa foi legal, teve uma repercussão ótima, né, Ju?
Ju: Exatamente.
Cris: Então aí, mais um ponto pro Mamilos.
[sobe trilha]
[desce trilha]
Ju: Vamos então pra Teta. Esse mês a gente vai falar no tema que vocês tanto nos pedem pra falar desde dezembro, que é o assunto que tá em todas as manchetes, que é o Zika vírus e os casos de microcefalia.
Pra nos ajudar nesse assunto que é tão espinhoso, temos na mesa o Átila, que é biólogo, doutor em microbiologia e comunicador científico. Autor do blog Rainha Vermelha e do canal Nerdologia, que vocês conhecem muito melhor do que conhecem a gente.
Átila: Conhecem como Átila, biólogo, pesquisador e qualquer coisa…
[risos]
Ju: O Átila do Nerdcast.
Átila: Também, também.
Ju: “Vocês vão levar o Átila do Nerdcast? Meu deus!”
Átila: [risos]
Ju: A gente foi pra Liga dos Campeões.
Cris: Subimos de nível, né?
Bem vindo.
Ju: A gente tá jogando com os adultos… É isso?
Átila: Não que eu seja muito adulto.
Ju: Subindo o nível de celebridade: Dra Joelma Andrade, ginecologista e obstetra, especialista em medicina fetal, médica assistente da clínica obstétrica da Faculdade de Medicina da USP. Bom, antes da gente entrar no assunto de zika, vamos rapidamente fazer um giro das notícias com as 5 notícias mais importantes que entraram no nosso radar e que a gente acha que, embora a gente não consiga falar nesse programa, vocês precisam procurar saber, se já não tá no radar de vocês.
Cris: 1: Petrobras vai cortar pelo menos 30% do número de funções gerenciais. É o dito “muito cacique pra pouco índio”?
Ju: É o dito barril do petróleo mais baixo dos últimos anos, que tá gerando um mexe-mexe no mundo inteiro, não só aqui no Brasil, somado a todas essas questões de Lava-Jato. Imagina o coquetel que isso não dá na Petrobras.
Cris: Tem muito sobrinho perdendo o emprego, então.
Ju: Que mais?
Cris: Trabalho escravo: mais de 1000 pessoas foram resgatadas em 2015.
Ju: O que é importante a gente falar: a gente… Já pediram… A gente vai fazer uma Teta sobre o assunto da escravidão, porque é muito legal assistir o 12 Anos de Escravidão e pensar “Meu Deus! Como a humanidade pôde, algum dia, conviver com a escravidão?”, negando o fato de que debaixo dos nossos narizes a gente tem escravidão em cidades como São Paulo, por exemplo; utensílios que a gente usa comumente como a nossa roupa, o celular que a gente usa, o sapato que a gente usa, usam mão-de-obra escrava.
Cris:[Sendo produzido em condições análogas]
Ju: E querendo ou não, porque é… Isso tá noticiado, a gente sabe disso, isso não muda comportamento. Então aguardem uma Teta sobre o assunto.
Cris: Moradores da Ilhas Gregas serão indicados ao Prêmio Nobel da Paz.
Ju: É muito interessante isso, porque não é comum uma população ser indicada ao Prêmio Nobel; pra acontecer isso eles vão ter que conseguir indicar uma organização, como por exemplo uma ONG que esteja lá, ou…
Cris: Alguém pra ir receber, né.
Ju: Pra em nome… Receber em nome deles, né.
Cris: Representar.
Ju: Representar eles, né. Então é bonito, porque assim, na mesma época que a Suécia está avisando que vai expulsar um monte de imigrante, um monte de refugiados, na verdade, 80 mil imigrantes, você tem a gente reconhecendo uma população que não é rica, que não tem uma super estrutura mas que tá indo além do que poderia, além de qualquer limite, ter assim… São histórias lindíssimas da dedicação que o povo comum tá tendo pra atender uma emergência, uma calamidade humana, né.
Cris: Inclusive a Grécia tá correndo o risco de ser expulsa de um tratado que inclusive pode influenciar na presença dela na União Europeia, porque ela não tá conseguindo registrar todos os refugiados que entram via Grécia, até porque ela não consegue vigiar todas as fronteiras. Então assim, é um prêmio, né… Porque as pessoas estão ali unidas, tentando sobreviver, a Grécia já não passando uma situação não muito boa já tem bastante tempo.
Átila: E não é como se não tivessem procurando uma desculpa pra tirar ela da União Europeia, né.

Cris: Barbie faz sua maior mudança em 57 anos de história, temos Barbies para todos os gostos!

Ju: Eu achei isso muito emblemático, não pela Barbie, não por eu querer uma boneca diferente, mas assim… Quando um ícone de um modelo de pensar, um modelo de fazer, um modelo de vida muda, quando você é escutado por esse ícone, então quer dizer que não há retrocesso mais, não há como retroceder. Essa conversa de padrões, essa conversa sobre todos os questionamentos de objetificação que a gente traz com o feminismo… Elas não são coisas mais de nicho, elas não são coisas de moda, são demandas reais, são demandas que já atingiram uma parcela grande da população e têm uma tendência de crescimento e não de diminuição.

Cris: Pra quem ainda não viu, tem Barbie branca, preta, amarela, baixinha, gordinha, então tem Barbies…

Ju: [Com pé maior, com pé menor…]

Cris: …com todos os tipos de corpos aí, e é um ícone até pouco tempo atrás muito criticado por representar essa repressão toda de um corpo inatingível. Então acho que quando um ícone cede, eu acho que a tendência é todo mundo refletir um pouco sobre isso. 5: São Paulo registra taxa anual de homicídios de 8,73 por 100 mil habitantes, a menor desde 1996. Devemos comemorar, Juliana?

Ju: Isso é manchete gigantesca na Folha, tipo: “Gente!!! Olha só, vivemos num estado realmente muito bom, São Paulo tá de parabéns! Eu quero todo mundo que escuta esse podcast, que não mora em São Paulo, sofra por não estar em São Paulo, porque ô estado que tá de parabéns!”. Conta pra gente, Átila, como é que São Paulo conseguiu esse número tão maravilhoso, tão lindo.

Átila: É… Eu acho que é uma coisa em que a gente é muito bom, brasileiro é muito bom em atender métricas e números. Então qual que é a métrica que a gente precisa? É a de brasileiros alfabetizados. Ótimo. Se você sabe assinar o nome, você tá alfabetizado. Pronto, do dia pra noite todo mundo é alfabetizado. Precisamos diminuir o número de sequestros no Rio de Janeiro: “Não, mas se for por menos de dois dias é assalto, não é sequestro”. Pronto! Resolvido o problema de sequestro. A gente é muito bom nisso.

Ju: E como foi a mágica em São Paulo?

Átila: É só você contar o valor do atacado como varejo. Matou 40 pague um. Olha que fácil.

Ju:É, não… Eu não tô brincando, é assim. A conta é: chacina é uma morte. Se foram 30, se foram um, se foram dois… É uma morte. O que mais que não vale como morte? Se foi morto por policial não é assassinato, gente, foi morto por policial, é outra coisa. O que mais?

Cris: [Mesmo em qualquer tipo de situação.]

Átila: E desculpa, isso é uma métrica pro Brasil, que se não me engano é uma vez e meia mais provável você morrer… Em geral; claro que isso não é distribuído pra todo mundo igualmente, né… Por classe e tudo mais o número é bem diferente, mas no total é uma vez e meia mais fácil morrer no Brasil por morte policial do que por assalto.

Ju: Mas isso não conta como morte na estatística de homicídio, pode ficar tranquilo, tá, Átila, você morre mais tranquilo porque cê não atrapalha o número do governador. O que mais que não vale como morte?

Átila: Discussão, não é?

Ju: Não. É assalto. Assalto seguido de morte, latrocínio, aí não é morte. Cê foi assaltado, não queira ter dois crimes aqui, a gente só pode contar uma coisa. Cê vai estragar dois índices meus? Não, cê só vai estragar o índice de assalto, não estrague o índice de morte.

Cris: Na verdade o grande problema que a gente tem com isso é não ter os números reais, não conseguir combater a realidade, cada um pedala do jeito que consegue, né. Então a gente tem uma maquiagem muito séria, porque não tendo os números, a gente não consegue nem cobrar providências e a gente fica com uma percepção de que as coisas estão melhorando e na verdade elas não estão. Então assim, além de ser uma irresponsabilidade, é mentira, né. E tem uma coisa que a Juliana fala que é muito sério: “Se você não pode confiar nos números, em quem que cê vai confiar?”.

Ju:Como é que você toma decisão?

Átila: Isso não é exclusivo daqui viu, eu lembro de que nos Estados Unidos uma das maiores discussões que eles tinham é que você tem os números de tiros disparados, de quantos desses tiros atingiram pessoas, de quantas dessas pessoas foram internadas, mas você não tem o número de quantas pessoas morreram por causa dum tiro de um policial. Nos Estados Unidos inteiro. Você tem qualquer outro número, de qualquer coisa que você quiser em volta, até quantas balas o policial carregava no dia, e quantas ele disparou, e quantas acertaram o alvo. Mas…

Cris: [Da até pra medir se ele é bom de mira]

Átila: Mas não quantos alvos morreram.

Cris:É terrível. Vamo, então?

Ju: [Vamos]

Cris: Pra Teta do mês.

Ju: Bora pra Teta.

Cris: Voltando com Teta.

Ju: Vamos lá, vamos começar perguntando pra Dra Joelma o que é microcefalia, pra saber se esse problema é grave ou não, ou qual é a gravidade.

Joelma: A microcefalia é um problema muito grave, né. É muito importante na realidade; seria… É a medida da cabeça, do polo cefálico, abaixo do limite esperado pra cada idade e para o sexo. Então você tem o recém-nascido que a gente considera, né… Que ficou estabelecido… Considerada dois desvios-padrão abaixo da tabela de normalidade pra menino ou pra menina, e na vida intra-útero, no pré-natal, o diagnóstico a gente mede também abaixo de dois desvios calculados praquela idade gestacional em semanas.

Ju: Mas o que isso quer dizer? Qual a consequência disso? O fato da criança ter a cabeça menor, dois desvios-padrão menor do que…

Joelma: O que a gente imagina… O quê que acontece: a microcefalia nessa situação relacionada atualmente, ela é muito ligada à malformação do sistema nervoso, são alterações dentro do cérebro, né. Então, por que que a cabeça é pequena? Porque existem defeitos no interior do polo cefálico e lá a cabeça ficou pequena, quer dizer, não houve o crescimento adequado, o polo cefálico ficou pequenininho.

Átila: Quem dá o tamanho da cabeça também é o cérebro, né. O osso, ele se conforma depois, né.

Joelma: É o cérebro, é o conteúdo. Então o que que aconteceu com muitas dessas crianças, durante a vida intra útero, à medida que o conteúdo do sistema nervoso não foi adequadamente formado e não foi ocupando o espaço da calota, a cabeça… o osso, né… o contorno… ele vai se deformando, se reduzindo. Você vê que no polo cefálico dessas crianças estão meio deformados, né.

Átila: Enquanto a grávida tá sendo acompanhada e até quando o bebê nasce a gente tem uma medida feita ao longo dos anos pra qualquer população, de qual é o tamanho médio da cabeça de uma criança, e essa distribuição, ela é uma distribuição que parece um sino. Você tem crianças que nascem com a cabeça de um tamanho médio, algumas crianças nascem com uma cabeçona, eu provavelmente fui um desses, e tem umas crianças que nascem com a cabeça menor. Então você tem o quanto você espera que a cabeça da criança meça. Se ela cair dentro dessa distribuição, ela tá dentro de uma distribuição normal. Se ela é muito menor, ou muito maior, mas nesse caso muito menor do que isso, você fala que ela tá fora da distribuição. Ela está dois desvios abaixo do erro padrão. Então tem um desvio abaixo do erro padrão, alguns desvios abaixo do erro padrão é quando a cabeça é menor do que você espera mesmo dada essa distribuição. Se ela é dois desvios quer dizer que ela é muito menor do que o esperado praquela população. Então mesmo que as cabeças das crianças possam nascer pequenas de vez em quando, essa é tão pequena que está muito fora do que você esperava encontrar.

Ju: Como é que é feito o diagnóstico?
Joelma: Oh sim, em relação ao prognóstico, é muito difícil você falar, né. O quê que acontece, essas crianças têm nascido até bem, elas têm nascido, têm chorado, têm mamado, né. Têm conseguido mamar. A grande maioria nasce até com a notinha, aquelas…=
Ju: Apgar!
Joelma: =Apgar normal, até razoável, mas tem umas que nascem já com situações mais graves do que as outras. Então isso vai depender muito da evolução de cada um.
Cris: Tem graus diferentes?
Joelma: Vai ter graus diferentes de acometimento. Agora, sequelas a gente acredita que a microcefalia é um diagnóstico sério, é uma doença grave, então sequelas essa crianças vão ter. Algumas talvez vão conseguir andar, né. Seguir uma vida relativamente independente. E tem crianças que vão ter sequelas mais graves.
Cris: Faz diferença ter um tratamento diferenciado logo no início, logo quando nasce?
Joelma: Eu acho que o tratamento, o que mais chama a atenção, não é tanto o tratamento, são as alterações que estão dentro do cérebro. Porque nós temos crianças que têm um pólo cefálico pequeno com poucas alterações. E tem crianças que têm o pólo cefálico pequeno e têm alterações importantes, então isso vai definir muito o que vai marcar a evolução. O reconhecimento dessas alterações precoce, vai possibilitar o diagnóstico, a aceitação da família e começar já a reabilitação né, o estímulo dessa criança, e isso ajuda.
Cris: Como não tem cura, a gente tá falando aí é de fisioterapia de =
Joelma: Estímulos diferenciados =.
Cris: = Estímulos diferenciados
Joelma: É, vai ser estímulo mesmo de meio motor, intelectual, auditivo, visual e que essas crianças vão ter necessidades especiais, com certeza.
Ju:Tá, é muito importante a gente também falar sobre quais são as causas comprovadas de microcefalia hoje, que a ciência conhece hoje?
Joelma: A microcefalia, ela é bastante estudada. Ela é esquecida, de uma certa forma, porque nós tínhamos no Brasil aí notificados eram, 150, 160, 170 casos por ano, né. Então era uma taxa muito baixa. E com esta explosão de casos, né, chamou muito a atenção. Mais uma das causas importantes que a gente tem sempre foram as doenças infecciosas. Rubéola, citomegalovírus, então isso são causas que na obstetrícia a gente sempre relacionou isso.
Ju:HIV.
Joelma: O HIV, mesmo a sífilis, as infecções de uma certa forma. Agora, agora temos outras doenças, temos doenças genéticas, temos alterações cromossômicas, temos outras malformações do sistema nervoso central que podem cursar com o pólo cefálico menor. E às vezes, crianças que não consegue definir uma causa. Criança nasce com o pólo cefálico menor e você às vezes não encontra uma causa definida.
Ju: Também, exposição a drogas.
Joelma: Exposição a drogas.
Ju: Álcool.
Joelma: Álcool.
Ju: Depressão severa da mãe.
Joelma: É, ou uma restrição de crescimento importante do feto, você pode ter o pólo cefálico pequeno. Uso de drogas, né, ou de álcool. Isso também pode ser.
Ju: É só importante porque como ainda tá sendo questionado essa correlação =
Joelma: É!
Ju: = Então é importante a gente saber =
Joelma: De outras coisas.
Ju: = Pra poder comparar se tem alguma coisa que possa ter aumentado tanto assim a casuística.
Joelma: A casuística, né!
Cris: Átila, explica pra gente, o quê que é o zika?
Átila: O quê que é o zika. O zika, ele é um vírus, e ele é um vírus parente do vírus da dengue. É um flavivírus. Flavivírus é uma família inteira de vírus, como febre amarela, febre do oeste do Nilo, encefalite japonesa, e o Zika vírus.
Cris: Que família da pesada!
Átila: É uma famíla do mal, não tão do mal, existem famílias piores, como a família dos filovírus que é a família do Ebola. Que ali pegou, morreu.=
Ju: Sim, claro.
Átila: = Os flavivírus não, eles são vírus que são conhecidos por infectar primatas e humanos. Então, macacos e pessoas; no final humanos também são primatas, e artrópodes. O quê que é artrópode? Principalmente mosquito, pernilongo e carrapato. Então eles são capazes de circular em mamíferos que nem a gente, e ainda infectar o mosquito ou o carrapato e ser transmitido pelo mosquito ou carrapato pra uma próxima vítima. Isso são os flavivírus em geral.
Cris: Então é assim que eles se propagam?
Átila: Exato.
Cris: Não tem transferência de humano pra humano?
Átila: Da família inteira, dos mais de cem conhecidos, noventa por cento deles quase não são transmitidos pra humanos ou não são transmitidos para humanos. O zika, por exemplo, é um destes. Até 2007, se você me perguntasse o quê que é o zika, eu ia te falar: é um vírus de macaco, é um vírus que circula na África entre macacos, transmitidos por vários mosquitos selvagens.
Cris: Inclusive o nome zika é porque foi descoberto numa floresta na África =
Ju: Floresta africana
Átila: Isso, exato
Cris: = Não é uma brincadeira, =
Átila: Não, não.
Cris: = a floresta chamava Zika
Átila: O que acontece, sendo bem breve. Como que a gente sabe que doenças que podem atacar a gente? A gente vê o quê que ataca macaco, como a gente é próximo do macaco, aquilo pode atacar a gente depois. Então eles colocam macacos na floresta pra ver com quê que eles são infectados. Pra ver que vírus têm chance de pular para as pessoas que vivem ao redor daquela floresta. O primeiro ser vivo que a gente sabe que foi infectado, foi o macaco na floresta de Zika, que tava enjaulado e colocado lá para servir de sentinela.
Cris: Inclusive há muitos anos, foi na década de 40.
Átila: 47, isso!
Cris: Então assim, a gente já conhece esse vírus há muito tempo.
Cris: Já!
Átila: Já, então naquela época, de lá até dois mil e pouco, tudo que a gente sabia era que algumas pessoas foram infectadas por zika e não desenvolveram nada mais sério do que uma dengue. Coceira, vermelhidão no corpo, um pouco de febre, mas só isso. Até 2007, a gente falava que os casos em humanos eram só na pessoa infectada. Então, o pernilongo pica o macaco, pega o zika, pica alguém, passa o zika pra essa pessoa e essa pessoa não passa o vírus adiante.
Ju: Tá!
Átila: De 2007 pra cá que o vírus conseguiu circular o mundo inteiro.
Cris: Esse mosquito, então, ele só pega o vírus. O vírus não é nativo do pernilongo? Ele pega em alguém infectado e transmite?
Átila: Exato! Nesse caso não é nem o pernilongo, é só o mosquito por que é o Aedes, e o Aedesnão é pernilongo. Sendo bem chato como biólogo.
Ju: risos.
Cris: É que faz coçar, aí você sabe!…
Átila: [Interrompe] Não, eu concordo…
Cris: = …gente chama de pernilongo.
Átila: …eu vou chamar de pernilongo também.
Ju: É, mas é interessante que a Organização Mundial de Saúde já reconheceu o caso de zika isolado em sêmen humano.
Átila: Então, o que que acontece. Do nada, de 2007 pra cá, do nada, e a gente sabe agora o que que foi, esse vírus conseguiu circular em pessoas, ele provavelmente se adaptou ao Aedes aegypti, que é um mosquito que infestou o mundo inteiro. É o grande culpado do podcast inteiro que a gente vai discutir hoje é o Aedes aegypti. E o Aedes albopictus, que é um outro mosquito parecido com ele, que também tomou conta do mundo. Os dois conseguem transmitir o zika. E com tanto Aedes aegypti, o vírus conseguiu ser transmitido entre pessoas e pra fora da África. Aí ele circulou pela Ásia e pelo resto do mundo. É conhecido um caso de um americano, que ele tava em Uganda coletando ou em Burundi, eu não lembro qual país lá, coletando mosquitos. Ele foi contaminado com zika, voltou com zika pros Estados Unidos e passou para a esposa dele. É o único caso que a gente conhece. E não tinha Aedes lá, não tinha mosquito que pudesse transmitir, então a única explicação que acharam é transmissão sexual. E pra corroborar essa transmissão sexual encontraram o zika em sêmen. Mas isto é um caso, não comprovado. Não se sabe a importância que este tipo de transmissão tem e dada a infestação que a gente tem de Aedes aegypti em qualquer lugar que o zika tá circulando, provavelmente o zika é o grande responsável.
Cris: Tá então, fica simples a gente entender como chegou no Brasil. Qualquer pessoa infectada que tenha vindo pra cá, acaba sendo picada por um mosquito que acaba passando pra outro, certo?
Átila: Exato! Então, não só fácil saber como chegou, como a gente viu a rota dele. Porque o vírus circulava na África até dois mil e pouco. Em 2007 ele causa um surto na Micronésia, que já é no meio da Ásia, quase Oceania. E depois ele foi causando na Polinésia Francesa e em outros lugares que tão ali através do oceano inteiro. Em 2014 ele causa o primeiro surto na Ilha de Páscoa, que é na costa do Chile, então o mais provável é que ele tenha feito este outro trajeto. Aí perguntaram, ah, será que ele veio pro Brasil com a Copa ou não? Talvez; as datas até batem um pouco, mas a gente não tem um tipo de teste que poderia explicar isso bem. Mas ele ia chegar aqui de qualquer jeito. Porque ele já tomou conta das Américas e basicamente do mundo todo.
Ju: Qual é a relação que o zika tem com a microcefalia?
Átila: Difícil responder isso de maneira direta. Assim, até 2014 o zika não tinha causado um surto sério o suficiente em um país que tivesse um sistema de saúde bom o suficiente pra notar o que ele causa. Foi só na Polinésia Francesa que ele foi um pouco mais acompanhado. Mesmo assim, lá não foram acho que vinte mil casos. Que é menos do que a gente teve na Bahia aqui. E nesses vinte mil casos, ninguém viu outro sintoma que não uma dengue leve. Conjuntivite seca.
Ju: Conjuntivite.
Cris: Conjuntivite.
Átila: É, foi uma dengue leve com conjuntivite. Então pra a Europa inteira, até ontem e pros Estados Unidos…
Ju: [Interrompe] É uma doença desimportante.
Átila: É uma dengue leve.
Ju: E oitenta por cento dos infectados são assintomáticos.
Joelma: Foram assintomáticos, lá foram.
Átila: Pois é!
Ju: Então realmente você não vai nem se dar conta disso, né.
Átila: Não!
Joelma: Mas eles avaliando os dados, agora, eles observaram que lá também houve [Átila: Isso!] um aumento no número de malformações na Polinésia Francesa. Né, após o surto. É porque como ela é uma população pequena, não chamava tanto a atenção. Mas aqui é então, mas olhando retrospectivamente, aumentaram.
Cris: Isso é bem interessante porque saiu uma matéria hoje de um especialista do Centro Europeu de Prevenção e Controle de Doenças e ele falou que foi graças ao Brasil que descobriram a ligação entre microcefalia e zika.=
Átila: Então, na Polinésia =
Cris: = o tamanho da população, né.
Ju: Ainda tem várias publicações que ainda falam assim: não pode ser estabelecido como causa…
Átila: [Interrompe] Então!
Joelma: Não pode!
Ju: Mas o Brasil já…
Joelma: [Interrompe] Porque nós tivemos dois casos que já foram publicados numa revista médica. Foram fetos que tinham alteração ultrassonográfica, microcefalia, que eles colheram líquido amniótico e detectaram o vírus no líquido. Então, está associado, não dá pra garantir que aquilo foi a causa, mas a presença do vírus no líquido amniótico associa muito, né. Reforça muito. E os casos de fetos que morreram, que são natimortos, que foram estudados do Rio Grande do Norte que encontram o vírus no material analisado. Então esses fetos que tinham malformação, a presença do vírus nesse material também reforça a associação.
Átila: Na Polinésia, tudo o que se sabia até 2014 é que eles tiveram um aumento de casos de paralisia, que é uma outra complicação [Joelma: Complicações do vírus.] que é a síndrome de Guillain-Barré. Que é uma resposta imune exagerada que a gente tem que ataca o sistema nervoso e pode dar formigamento do braço, perna e dificuldade respiratória em alguns casos. Geralmente passa em menos de um ano. Aumentou em vinte vezes os casos de Guillain-Barré na Polinésia Francesa, mesmo assim são pouquíssimos casos não é uma complicação tão frequente. Quando esse vírus veio para o Brasil e a gente começou a ver ele na Bahia, em abril e maio do ano passado, eu trabalhei com o zika entre 2007 e 2014, enquanto ele era um vírus de macaco, a gente tava trabalhando com o vírus isolado de mosquitos no Senegal. A gente tava preocupado, em 2014, quando ele chegou aqui, com casos de Guillain-Barré. Que é essa paralisia causada provavelmente por quem pegou zika e em conjunto com outros vírus. Porque onde o Zika circula tem mosquito, onde tem mosquito também circula dengue e também circula chikungunya, que é o que a gente tem agora.
Ju: Sim!
Átila: Então se imaginava que era uma reação a pegar um, depois o outro, depois o outro que causasse essa paralisia. A gente não sabia dos casos de microcefalia e nem esperava. Ninguém no mundo estava esperando isso. Isso foi detectado aqui no Brasil porque em regiões em que tava tendo, na verdade a coisa começou em Pernambuco, porque uma médica que trabalhava lá começou a ver casos muito acima do número esperado de microcefalia. E ela relatou primeiro isso, que ela tava tendo um aumento dos casos de microcefalia e aí podia ter todas aquelas causas que a Doutora já falou, que podia ser, e umas das coisa que suspeitaram que fosse, que tava acontecendo ali na época era o zika. E depois viram que em todas as regiões que estavam tendo surtos de zika, tinha o aumento de microcefalia também. Mesmo assim, tudo que a gente tem de evidência é que o vírus foi encontrado no líquido amniótico; ele foi isolado agora, uma semana atras de tecido de placenta de um feto abortado. Então se mostrou que o vírus consegue atravessar a placenta e infectar os tecidos do bebê. Ele foi encontrado em tecido nervoso de bebê natimorto ou que nasceu com complicações e ele parece, por todos os testes que foram feitos até agora, ter uma preferência por tecido nervoso que nenhum dos outros flavivírus tem. Dengue, por exemplo, não faz isso. Não pelo menos em fetos.
Ju: Sim.
Átila: Como eu disse, até 2014 era uma dengue leve.
Ju: E aí vem aquela pergunta, aquela que você quer responder. Risos.

Átila: Risos.

Ju: Se até agora, se em todos os outros países na Ásia ele já tava disseminado, na Ásia a gente tá falando de uma concentração populacional gigantesca, a maior do mundo. Se não aconteceu nada lá, por quê que que agora resolveu acontecer?

Átila: Então, problemas. Na África, por exemplo, nos países em que tem casos de zika, até pouco tempo atrás eram poucos casos, que não iam adiante e o índice de microcefalia lá, já é cem, duzentas vezes maior do que o nosso. Por infecção de citomegalovírus, por desnutrição e por uma série de outras complicações. Então, você primeiro só vai perceber isto num país que tá desenvolvido o suficiente pra ter um bom sistema de saúde, pra diminuir os casos esperados de microcefalia naturalmente, como é o nosso caso. A gente tem um bom sistema de saúde e um bom acompanhamento pra isso. Depois, você depende de um bom sistema de saúde pra ter um acompanhamento suficiente para notar um aumento de casos, tá!

Cris: Não é que não aconteceu lá, é que talvez não tenha sido [Joelma: Não tenha sido notado.] detectado.

Átila: Quando voltaram. Assim, primeiro não notaram o zika circulando. Ele provavelmente tava sendo detectado como dengue nesses lugares, a gente só descobriu o Zika aqui porque a gente tem um teste de dengue. Então, as pessoas tavam sendo diagnosticadas com dengue e na hora que fazia o teste ele dava [Joelma: Não reativo.] não reativo. Então, dengue que não é dengue e aí…

Cris: [Interrompe] Tem outra coisa aí!

Átila: você também tem que ter um sistema de saúde avançado o suficiente para descobrir que vírus novo é esse. Então, até onde ele circulou até 2014 não se sabia disso. Na Polinésia Francesa, que tem um bom sistema de saúde, tem um sistema de saúde francês, eles voltaram pra analisar os dados e viram que dentro dos quatro casos em média que tinham tido de microcefalia nos últimos anos, em 2014 eles tiveram 18 casos de microcefalia. Então, foram mais casos do que o esperado, só que é um lugar pequeno e isso não foi grande o suficiente pra chamar a atenção.

Cris: Falando um pouquinho aí com a Doutora Joelma, quais são os sintomas, o quê que a pessoa sente quando ela é infectada por zika?

Joelma: A pessoa quando adquire, o que ela normalmente tem? Ela tem uma febre, né, normalmente começa com febre, só que é uma febre um pouquinho mais baixa do que a da dengue, né. O que chama a atenção da infecção por zika é o rash cutâneo, vermelho, que vai pelo corpo todo.

Cris: A pele fica avermelhada.

Joelma: Avermelhada, pruriginoso, coça, né, o prurido. Chama atenção, o que mais chama a atenção é o eritema, é a vermelhidão na pele com prurido, e a conjuntivite. Uma inflamação nos olhos que não é purulenta, é só a vermelhidão mesmo nos olhos. É o que mais chama a atenção.

Cris: Então não tem secreção?

Joelma: Não, não tem secreção. É só uma vermelhidão mesmo. E aquilo desaparece em torno de cinco a sete dias, é rápido. É um quadro leve, a pessoa tem aquilo e desaparece sozinho, né. E isso é que chama a atenção, porque às vezes as pessoas referem, “eu tive uma vermelhidão e um pruridozinho e sumiu”. Não valoriza.

Cris: Uma febre intermitente, né.

Joelma: Uma febrezinha que não chega a ser tão importante quanto a dengue, e desaparece.

Cris: Não dá dor no corpo igual a dengue?

Joelma: Dá, pode dar uma dor no corpo, dor articular, pode dar. Só que é menos intenso às vezes do que na chikungunya, que dá muito mais artralgia do que a dengue, dá um mal estar, uma dor no corpo muito grande. A zika é um pouquinho menor.

Cris: A gente tem caso de óbito por zika?

Joelma: Tem, já foi registrados alguns casos. Acho que foi registrados casos de óbito. Um acho que foi no Ceará, mas com um paciente masculino, e teve já uma paciente também, feminino.

Cris: Mas se a gente tem esses sintomas que não são tão graves assim, o quê que leva a óbito?

Joelma: Normalmente, nesse paciente que foi a óbito, ele era um paciente com imunidade… ele era um paciente que tinha lúpus e tomava corticóide. Então, são pacientes que usavam imunossupressor. Né, agora o paciente…

Ju: [Interrompe] Mas tem uma adolescente que morreu.

Joelma: Ah, e têm uma adolescente também. Então, porque é um quadro leve em uma pessoa, mas em algumas pessoas aquele quadro pode ser mais importante.

Átila: E se você tem meio milhão de infectados ou se você tem duzentos mil infectados, eu nem sei dizer os números, eu acho que ninguém consegue dizer os números aqui no Brasil, que não tem testes para dizer quem pegou zika. Vai ter um caso ou outro de gente com complicação e às vezes nem seria uma complicação por causa do zika, que morre por coincidência. Porque tem tanta gente infectada que aconteceu alguma coisa assim.

Ju: Como é o diagnóstico de zika?

Joelma: O problema do diagnóstico do zika são os testes. O quadro clínico. Muito frustro, muito leve numa pessoa e não faz o diagnóstico ou confunde com um quadro de dengue. Então normalmente a pessoa vai procurar o hospital como dengue. O diagnóstico, seria por: você fazer a sorologia, que ainda não está disponível, né. Você vai pesquisar anticorpos contra. Ou você faz a pesquisa do vírus mesmo, no sangue ou na urina do paciente. Que agora está sendo padronizado, agora que está sendo liberado, ainda tá no início. Quando chega o paciente com suspeita, ele chega com essa com essa suspeita. Ele vai, vai colher os exames e ele colhe o exame de sangue. No exame de sangue eles fazem primeiro dengue, depois eles fazem chikungunya e se der tudo negativo eles fazem o zika. Porque é um procedimento mais difícil, mais caro, então se for dengue eles já param por ali, né, que é um teste mais fácil.

Cris: Mas isto é feito na sequência? Tipo=

Joelma: É na sequência.

Cris: =num mesmo dia você chega lá, vai um, vai outro?

Joelma: Não, não sai tudo no mesmo dia. Demora pra sair o resultado.

Cris: Entendi!

Joelma: Não tem como fazer esses exames. Porque cê faz a pesquisa do vírus e a gente usa uma técnica de PCR. São exames mais, são demorados, são mais caros, então você colhe o exame e você vai ter aquele resultado. Como não faz diferença para o tratamento, você já vai acompanhando o paciente, depois você faz, aí você confirma o não diagnóstico.

Átila: Funciona mais ou menos assim: Você pode detectar o vírus ou você pode detectar a resposta do corpo contra o vírus. Pra dengue e para a chikungunya, que já circulam há mais tempo, a gente já tem testes feitos até, distribuidos pela FIOCRUZ e por outros lugares, que detectam a resposta do corpo ao vírus. E isso dura anos. Então você se sentiu mal, ficou com dengue ou chikungunya, tem suspeita, eu posso pegar o seu sangue e testar a reação do seu corpo contra aquele vírus que você pegou. E vira um teste como teste de gravidez, sabe? Você pinga uma gotinha, ela sobe no palitinho, e se aparecer o tracinho azul é porque você tava com aquilo ou não. Isso é o teste contra a imunidade e ele funciona por muito mais tempo. Como o zika é muito novo, a gente ainda não tem este tipo de teste desenvolvido. E então a gente tem que fazer o teste em laboratório mesmo. Não é um kitzinho que qualquer posto de saúde pode comprar. Pra você pegar o vírus, você tem que pegar a pessoa enquanto ela tá com o vírus no sangue. Ou agora, se descobriu que esse vírus pode durar um pouco mais na urina ou no sêmen, então tem até outros lugares que você pode tentar coletar por mais tempo. Mas o intervalo é de dias só.

Ju: Cinco.

Joelma: Cinco dias…

Cris: [Interrompe] Então quer dizer que eu posso…

Joelma: …no sangue, na urina você pode até o oitavo dia.

Cris: Então, isso quer dizer que muitas pessoas podem ter zika e não serem diagnosticadas porque já…

Joelma: A maioria.

Átila: Absoluta maioria! Um teste desses custa por volta de R$ 500,00. Demanda um técnico especializado, demanda que o sangue seja coletado, mantido refrigerado, mandado pra um laboratório e tudo aquilo. Então, é o tipo de coisa que não se faz de rotina. Dengue e esses outros que você tem o palitinho, é superfácil. Você chegou no posto de saúde, eles vão lá pingam a gotinha, testam, fica tudo ali… [Ju: Teste rápido.]
teste rápido e é barato. O zika não tá neste ponto. E o que tá sendo procurado, é o vírus ainda. Não é o anticorpo contra o vírus. Então, ou você pega a pessoa nesse intervalo de dias ou você não sabe se ela já teve o zika ou não. Então quantas grávidas pegaram o zika e não tiveram complicações?

Joelma: Ninguém sabe.

Átila: Não sei! Ninguém sabe, porque a gente não tem como testar as grávidas todas para saber quem já teve zika ou não.

Ju: É, o que eu achei interessantíssimo nessa palestra que a médica tava dando é assim, super preocupada em passar para os médicos que estavam fazendo este controle e tal e que iam replicar pra outros, e assim, a janela é muito curta.

Joelma: Ela é muito curta!

Ju: São cinco dias só. Então assim, se o paciente demorar pra ir pra o hospital, se ele não perceber o sintoma, se ele for depois, ou por exemplo: a grávida ela vai chegar para acompanhamento para o pré-natal dela. Vai fazer ultrassom e vai pegar uma diferença. Pra correlacionar com o zika ela vai ter que lembrar que no início da gestação… [Cris: Teve um mal estar.]ela sentiu um mal estar, aí eu não posso mais comprovar, porque já passou.

Átila: Exato!

Ju: Então uma das dificuldades que a gente tem de fazer essa correlação entre: Ok, a criança nasceu com microcefalia, eu consigo comprovar que é zika?

Átila: Não!

Ju: Não. Porque se eu não consegui naqueles cinco dias, eu não consigo mais.

Átila: E eu não tenho o número controle que é: quantas grávidas tiveram o filho normal, tiveram a resposta contra o zika, eu não tenho como fazer esse número ainda.

Cris: Eu acho que aí, doutora Joelma, que aí a gente começa entrar no porque que é importante notificar, né.
Joelma: A importância da notificação, por isso que hoje a recomendação é que você notifique toda gestante com o rash cutâneo, então a paciente que chega no pronto socorro com o rash, ela é notificada como rash cutâneo na gestação. Que é a dengue
Cris: Que é a vermelhidão pelo corpo.

Joelma: Então, febre com vermelhidão e a conjuntivite, a gente notifica o rash cutâneo na gravidez, é notificado os casos de dengue, chikungunya, então esses casos são notificados e também são notificados hoje os casos de microcefalia, tanto no diagnóstico pré-natal quanto no pós-natal. Mas durante o pré-natal, se a gente diagnóstica no ultrassom a gente também já tá notificando.
Cris: E assim, a gente começou a perceber que existe um problema com as crianças nascendo, quer dizer que a infecção aconteceu há nove meses.
Joelma: Normalmente no início da gravidez.
Cris: Uma grávida que passou dos três primeiros meses, se ela foi infectada, ainda tem chance da criança ter microcefalia?
Joelma: Como não é uma doença completamente conhecida, a gente não pode dizer para uma gestante que é só o primeiro trimestre que tem riscos, então a gente orienta a tomar cuidado a gestação inteira, mas comparando com as outras infecções, a gente acredita que sejam os casos mais graves os do primeiro e do segundo, início do segundo trimestre, até vinte semanas, até quando tá desenvolvendo o cérebro.
Átila: Isso com base em coisas como rubéola
Joelma: Isso, rubéola, citomegalovírus, mas a gente orienta sempre tomar muito cuidado na gestação toda.
Átila: Um problema que eu vi que tava acompanhando, por exemplo, é que a grávida quando já está no sétimo/oitavo mês, como o cérebro do bebê já tava formado e o crânio também, ela pode ser infectada por zika, o Zika pode causar lesão no cérebro do bebê em desenvolvimento, mas isso não altera mais o formato da cabeça, então não vai nascer com microcefalia, não vai ser detectado pelo diâmetro da cabeça, mas pode ter complicação neurológica, ou surdez, ou cegueira causada pelo vírus sem a causa aparente.

Cris: E eu acho que assim, de tudo que a gente tá falando, tem uma responsabilidade muito grande em fazer os registros corretos, porque enquanto a gente não fizer os registros a gente não tem números suficiente nem pra combater, né. As pesquisas em busca de soro, de facilitação do próprio diagnóstico, mesmo com as expectativas mais otimistas, em 2017 que a gente conseguiria fazer os primeiros testes, então assim, quanto mais notificação a gente tiver, melhor o panorama.

Ju: Aí a gente tá falando com você, Geraldo. Eu quero te perguntar, Átila, é sobre: qual é a previsão dessa epidemia, porque se a gente considera que a gente tem um milhão e meio de casos de dengue, São Paulo tendo uma explosão da doença e o vetor sendo o mesmo, sabendo o estrago que a dengue fez, sabendo que são o mesmo vetor, qual é a previsão, mas o quê que a gente pode esperar, qual tamanho da preocupação, ou o quê que a gente vê pela frente aí?
Átila: Eu vou fazer uma coisa que não é típica minha fazer. Quanto teve o surto de Ebola, eu fiz um Nerdologia sobre Ebola e no meio do surto, do desespero, eu tava falando, quem quiser ver o vídeo vê, inclusive as datas. Não vai acontecer nada aqui, porque o Ebola depende de um sistema de saúde falido, que o inexistente que é o que tá acontecendo na África, que não é o que a gente tem aqui, foi o que aconteceu. Não sou uma pessoa de fazer alarmismo, mas a dengue é uma doença que a mesma dengue dificilmente consegue reinfectar uma mesma pessoa, o que eu quero dizer com isso: São Paulo já teve surtos de dengue em anos anteriores e mesmo assim teve um milhão e meio de infectados com dengue no ano passado. Isso quer dizer que mesmo a parte da população tando imune contra a dengue, tinha mosquitos suficientes para um milhão e meio de pessoas ficarem contaminadas. Ninguém tem imunidade contra zika, e os mosquitos não foram embora. Então eu não sei de nenhuma justificativa além de conseguirmos distinguir o Aedes, que eu francamente não sei responder se é o que tá sendo feito, espero que sim, mas nada que me diga que essa epidemia vai ser menor do que a epidemia de dengue anterior.
Cris: A minha pergunta que tenho pra você, é que você citou em algum momento, você já vinha fazendo um estudo sobre a migração da doença e a gente já sabia que ela ia chegar e isso é muito apavorante, isso não acontece de um dia para o outro. Tem aí uns cinco ou seis anos que a coisa vem caminhando e vem, e vai chegar, e a gente não se antecipa. Tudo bem que não somos um povo de planejamento, mas aí já é demais.
Átila: Então, assim como o zika e o dengue, tem outros trinta, quarenta vírus que causam o mesmo tipo de febre. A febre hemorrágica, tem o Mayaro, a encefalite japonesa, tem Barkedji, que tá na mesma categoria que tava o zika pra mim, é um vírus que a gente trabalhou em 2007, porque foi isolado de mosquito na África. Se a gente tem Aedesno Brasil suficiente para transmitir dengue, chikungunya e zika, é mosquito suficiente para transmitir qualquer uma dessas viroses, se elas conseguirem se adaptar a humanos. E isso é um panorama mundial, porque o Aedesse urbanizou muito mais agora do que antes, lembra que a gente falava que ele se reproduzia somente em água limpa e parada – o caramba, tem Aedesse produzindo na água acumulada na geladeira dentro de casa. Geladeira frost free, sabe, ela junta um pouquinho de água em cima do rotor ali, ele consegue se reproduzir ali, no apartamento no décimo-quinto andar, tá desse nível o mosquito. Ele tá totalmente urbanizado e ele invadiu o país inteiro e boa parte do mundo inteiro, então já tô te contando, em câmera lenta você vai conseguir assistir pelos próximos anos, se o Aedes não for combatido, qualquer um com os vírus circulando, igual o zika. O Zika era considerado como uma dengue leve, e a gente já tinha assumido que dengue era ok, “tamo aí e a gente pega uma denguezinha”, e o zika veio no embalo.

Ju: Ó, eu vou dar alguns números pra gente ter uma noção do quê que o Átila está falando. Anualmente nascem três milhões de bebês no Brasil. Em três milhões de bebês, tem reportados mais ou menos cento e cinquenta casos de microcefalia por ano. Esse ano foram reportados três mil oitocentos e noventa e três. Então, considera o seguinte, a gente tem subnotificação, nem todo mundo notifica, então dobra isso, e vamo pra duzentos e noventa e quatro seriam os casos razoavelmente normais no Brasil, que geralmente estão ligados a subnutrição, tão na região Nordeste, mais região Norte, tudo bem. Se a gente tem três mil oitocentos e noventa e três casos de microcefalia já reportados, em quatro meses…

Átila: São as pessoas que tavam grávidas no começo da epidemia.
Ju: Você tem a Fiocruz, que aí o Átila vai dizer se é confiável ou não, dando uma previsão de que o tamanho do problema é de registrar, nesse ano só, dezesseis mil casos de microcefalia, pra gente ter noção do que é isso, a gente tá falando no mundo inteiro a talidomida atingiu dez mil crianças em todo o período, a gente tá falando dezesseis mil só no Brasil em um ano, esse é o tamanho do que a gente tá falando.
Cris: A talidomida é uma má formação causada por um remédio, nasceu uma série de crianças com má formação.
Átila: É um remédio…
Cris: Foi quando isso? Anos 80?
Joelma: Não, foi antes. Não lembro a década, mas foi antes.
Átila: É um remédio que na configuração certa ele corta o enjoo e na configuração errada, que o laboratório não sabia o que tava fazendo, ele impede a formação de vasos sanguíneos, então o feto não desenvolve membros periféricos, braços e pernas.
Ju: Eu achei muito interessante pelo menos a resposta do Ministério da Saúde, foi bem rápida, né, porque as coisas aconteceram, né, a progressão, a rapidez do que aconteceu, então assim, tá saindo semanalmente um boletim pra não gerar o pânico, né, eu achei interessante que tá sendo transparente, tão colocando isso, então quantos são os casos que são reportados, quantos que foram confirmados, quantos que foram descartados, e tal. E essa semana pela primeira vez o número de casos confirmados reduziu, né, pela primeira vez. Então a gente tinha na semana anterior, o aumento tinha sido de dez por cento, e nessa semana foi de sete por cento, na verdade não é que reduziu o número, o aumento é que foi menor, o que daria a entender que a gente já teria passado pelo pior e que a epidemia estaria diminuindo. Confere, Átila?
Átila: Depende dos estados que tão reportando isso e depende de onde na estação de chuvas que eles tão reportando, o que a gente tem que fazer e olhar=
Cris: Se os números são reais.
Átila: =A gente vai chegar nos números reais. Mas assim, isso vai variar pelo país inteiro. O Nordeste já passou pela estação de chuva e dengue; a gente aqui no Sudeste tá tendo trovoado todo dia. A nossa estação de dengue aqui é maio, então o esperado se baseando em dengue é que os casos subam janeiro, fevereiro, março, abril, maio.
Ju: É, na verdade, você tem que contar pra trás, né, então o quê que eu vi de análise dessa notícia, é que se você contar nove meses pra trás, os bebês que tão nascendo agora em janeiro, as mães engravidaram mais ou menos em abril, certo, então em abril cê já tá terminando o verão, que é a época do mosquito lá, então, ou seja, que é o que puxou, né, puxou a reportagem de casos. A questão é: vai diminuir as grávidas de inverno, e quando voltar, porque assim, a gente não tá falando de casos de quem engravidou neste verão, porque só vão aparecer no final da gestação.
Átila: E tem um outro detalhe, porque como depende do mosquito pra ser transmitido, nunca é o começo do surto que é o mais grave, porque você tem que ter vários ciclos de uma pessoa infectada, passa pro mosquito, que infecta outras pessoas, que passa pra outras, que passa pra outras, então a tendência é do próximo surto, até no Nordeste, é ser maior do que desse ano.
Cris: É que ele passa por ondas.

Átila: Ou você contém o mosquito, mas assim, imaginando que não foi contido o mosquito, e eu acredito que tá tendo combate muito mais sério agora lá, mas se não tivesse o combate, o primeiro… a primeira onda de zika, o primeiro ano com zika, é o começo. Depois você tem um segundo, terceiro, quarto, quinto ano com muito mais gente infectada.
Cris: Eu vou fazer uma pergunta super boba assim, mas é que eu me lembro de combate à dengue, é aqueles carrinhos de fumaça que passava na rua…
Átila: [Interrompe] Isso.
Joelma: Sim, fumacê.
Cris: …e eu não vejo isso já há muito tempo.
Átila: Ele deixou…
Joelma: Ele parou de….
Cris: Aquilo ainda combate? É eficiente? Não é?
Átila: [interrompe] Ainda combate, é eficiente, mas a gente assumiu a dengue como um problema que acontece e parou de combater.
Cris: Ah, tipo todo ano ainda rola….
Átila: A gente: o país.
Ju: Tem o Natal, tem o Ano Novo e tem a dengue, é isso… tá no calendário.
Átila: Isso, o país assumiu como normal.
Ju: O quê que… essa é a próxima pergunta. O quê que a gente tá fazendo pra… porque assim, a gente mostrou o tamanho da epidemia, agora a gente precisa saber o quê que a gente tá fazendo pra conter essa epidemia. Acho que antes a gente precisa falar assim, tá, a gente mostrou o tamanho da epidemia, agora qual é o impacto que isso tem, né, qual é o impacto dessa epidemia de se ter 16 mil casos de microcefalia…
Cris: Começando a falar do impacto, a gente tem uma ouvinte que tá com zika, veja bem. Ela é patrona, então ela tem direito a participar do programa e, assim, não sei explicar, sabe explicar, Juliana? Não sei explicar.
Ju: Não.
Cris: Justo na semana que ela ia participar ela está com zika. E a gente tá falando aqui que tem uma série de pessoas falando e todo um combate ao pânico da população, mas nem sempre todo mundo fala o que devia. E a pergunta dela vem justamente aí sobre o impacto. Então vamos ouvir a Andreza.
Andreza: Eu gostaria de saber em relação à declaração do ministro da saúde que torcia pra que as mulheres engravidassem antes da idade fértil, dando a entender que a pessoa, uma vez contaminada, estaria imunizada. E a médica que me atendeu e o médico que atendia o meu pai disse o contrário, disse que na verdade não existe isso. Eu queria saber exatamente em quem eu devo confiar, porque eu tô em idade fértil, tô com zika e tô preocupada.
Cris: Então, depois dessa pérola, haha, né, do ministro da saúde aí, a gente já consegue afirmar, Doutora Joelma, se a pessoa fica imune ou não?
Joelma: Não se tem certeza se a infecção causa imunidade definitiva, se leva a imunidade definitiva. Se a gente imaginar a dos outros vírus, provavelmente sim, mas não dá pra garantir. Eu não posso dizer uma pessoa que teve zika não vai ter mais zika.
Cris: A gente nem tem estudos suficientes…
Átila: [Interrompe] Não.
Cris: … de tudo que a gente falou até agora…
Joelma: [interrompe] Não tem estudos porque não tem sorologia, né. Nós ainda não temos grandes estudos de pessoas com IgG/IgM que produziram anticorpos, e quanto tempo esses anticorpos permaneceram, se isso é suficiente pra evitar uma nova infecção.
Átila: Pra dar dois exemplos próximos, um favor e um contra… Febre amarela, que é um parente, é um flavivírus, a gente só pega uma vez na vida. Pra muitos é a última vez porque…
Cris: Primeira e única.
Átila: É, primeira e única. Mas tanto que a gente tem vacina contra febre amarela. Se você for para algumas regiões do Brasil ou da África você toma uma vacina que te protege contra o vírus. Então nesse caso a imunidade é protetora. Você pega uma vez só e a vacina funciona muito bem contra, ok. Dengue também é um flavivírus. Tem quatro tipos dentro de dengue. Se você foi infectado por um deles, dengue do tipo 1, você ainda pode pegar 2, 3 e 4. Inclusive você pode ter complicações piores, se você pegar o 2, o 3, e o 4 em seguida. Por isso que até hoje não tem vacina contra dengue.
Cris: [interrompe] Principalmente se não for na ordem?
[risos]
Joelma: Inverter a ordem.
Átila: Pra quem tem TOC se inverter a ordem pode ser pior. Mas então a gente…
Cris: [Interrompe] Ninguém merece…
Átila: …não sabe onde o zika tá nesse meio do caminho, se ele é protetor ou não, ou o quão protetor ele é.
Cris: Falando mais sobre o impacto, o quê que representa na vida da população hoje, quando a gente começa a ouvir alguns governantes falar sobre “olha, vamos adiar a gravidez aí”, outro falando: “ah, vamos pegar antes de ficar grávida”. Como que funciona a cabeça da população diante disso?
Joelma: A gente imagina que um governante, um ministro, jamais poderia dar esse tipo de informação, né, que não ajuda a população. Acho que não ajuda de forma alguma. O que a gente orienta ou o que a gente imagina, é que se a pessoa, ela deseja engravidar, ela engravide. Só que durante a gestação ela vai ter que tomar cuidado, né. Evitar uma exposição exagerada, usar roupas que protegem de picadas, usar os repelentes, que pode ser usados na gravidez e que ajudam na… é, diminuir a exposição. E também combater o Aedes, o vetor na… na casa, na redondeza onde ela mora. Mas se falar que ela não deve engravidar, se ela for uma paciente muito jovem tudo bem, mas uma paciente que programou a gravidez, que tá com a idade já mais avançada, ela deve engravidar. Porque nós não podemos garantir pra ela que o ano que vem vai estar melhor, que daqui dois anos vai estar melhor. Não temos condições de dar esse tipo de informação.
Ju: Quando escutei a primeira vez um médico falando que não era pra engravidar, eu achei um absurdo tão grande, que assim, como é que você pode falar uma coisa dessas? Pensando assim, o impacto não é só pra quem tá ouvindo e vai pensar que não pode engravidar e vai desfazer todos os planos de vida e cê não sabe como que é o amanhã. O impacto é pior ainda pra quem acabou de ficar grávida, sem querer, sem saber, e tá todo mundo falando que não é pra engravidar, tipo… ou pra todo mundo que tá grávida, fico pensando em todas minhas amigas que estão grávidas, e são muitas… como que a pessoa recebe um ministro da saúde falando “não é pra ficar grávida”? Bom, aí eu fui estudar pra essa pauta, tá, eu vi tudo que tá envolvido, e eu entendo o desespero que eles tão. Porque daí eles não tão falando com a minha amiga, com a Cris, com a doutora Joelma. Eles tão pensando em grandes números. Estão pensando assim: “a gente precisa reduzir o grupo de risco”. Eu imagino a cabeça dele, desesperado, porque assim…
Cris: [Interrompe] o número, né.
Ju: o que eu estava falando é: 16 mil casos de microencefalia [microcefalia] no Brasil, pra quem tinha cento e poucos, a gente tá falando de um cuidado de um sistema de saúde que é caríssimo, [Joelma: Caríssimo…] tá? Então eu…
Átila: [interrompe] Posso ser o advogado do diabo aí? [Ju: [Pode.] E defender essa… ser o homem insensível da mesa que defende a noção de que quem puder não engravidar não engravide…
Ju: Sim.
Átila: A gente fala microcefalia e entende-se que o bebê nasceu com complicações, ok. [Ju: Isso.] Mas muito pouca gente sabe de fato o que que essas complicações vão significar pra essa família em seguida.
Ju: [interrompe] Isso. Era disso que eu tava falando quando falei de impacto, entendeu?
Átila: [interrompe] O quê que é nascer um bebê que é cego, surdo, que não tem condições de se alimentar sozinho, que muitas vezes não consegue se mover, que precisa de assistência 24 horas. É o trabalho e o esforço envolvido nisso. Eu garanto, não sei até quanto a gente pode se aprofundar nisso, que pra muitas dessas famílias, principalmente pras famílias mais pobres, isso é a garantia de que a mãe vai ter que largar do trabalho, vai cair a renda familiar, o pai vai ter que comprometer a renda da família pra pagar comida, cuidado e assistência pra criança. Que… e isso com certeza vai afetar a vida dessa família inteira.
Ju: [interrompe] [Não só da criança…
Átila: Não só da criança.
Ju: mas de todos os outros filhos da família.
Átila: [interrompe] E pra dar o exemplo, né, a gente tem aquela fundação aqui em São Paulo, a Fundação Cruz Verde.
Ju: É a única que tem atenção exclusiva para pessoas com paralisia cerebral grave, no Brasil inteiro.
Átila: Que é…
Joelma: [interrompe] Não existe um…
Ju: [interrompe] Então imagina 16 mil casos e a gente não tem nenhum lugar preparado pra atender essas crianças…
Joelma: [Interrompe] Não tem nada.
Ju: ou assistência pra essas famílias…
Joelma: Não tem pra nenhuma má-formação.
Ju: Nada.
Átila: E o quÊ que é esse centro? Fala qual que é a infraestrutura que eles tem pro número de pacientes que eles têm. Cê quer quer que fale?
Ju: Sim.
Cris: Quatro mil atendimentos …
Átila: [interrompe] São pouco mais de 200 crianças com microcefalia, acompanhadas 24 horas. Pouco mais de 200.
Ju: Isso.
Átila: O centro custa, por ano, 15 milhões de reais.
Ju: Pra duzentas…
Átila: [interrompe] Pra duzentas crianças. Boa parte delas foi abandonada…
Ju: Exato. 80%…
Átila: porque os pais não tinham tinham condições de cuidar.
Ju: [interrompe] 80% das famílias…
Cris: [interrompe] É, e você nem sabe de onde elas são também, né.
Átila: Não.
Joelma: É porque já…
Cris: [Interrompe] Porque recebe criança do Brasil, aí tem uma infra pra dar assistência…
Átila: Isso.
Cris: e essas crianças são esquecidas ali.
Ju: [interrompe] E elas não recebem nem visitas.
Átila: [interrompe] Agora retrocede essa conta. São 200 crianças, tá. 4 mil casos de microcefalia…
Cris: A gente tá falando de 16 mil.
Átila: Vamo… vamo por baixo:
Ju: Sim, por baixo.
Átila: 4 mil casos confirmados que os bebês sobrevivem ao primeiro ano, porque eu nem sei quantos desses vão sobreviver, depende muito da severidade. 4 mil vezes 20, são 300 milhões de reais, por baixo, pra essas crianças. Isso, assim, por baixo.
Cris: Isso falando que a gente vai dar tratamento, né.
Joelma: É, isso considerando que essas crianças vão receber…
Cris: [interrompe] Vão receber tratamento.
Ju: Então, mas só pra falar do impacto…
Átila: [Interrompe] Pernambuco…
Ju: assim, o impacto pra família, [Joelma: [É imenso.] pruma mãe que vai, assim, vai devotar a vida dela pra cuidar dessa criança, pruma família que os outros filhos que não vão ter nem a renda e nem a atenção da mãe, pruma uma sociedade que tem o custo que o Átila fez pra gente, e essa questão social de abandono dos bebês, porque assim…
Átila: [interrompe] Isso é o lugar que já tem infra-estrutura. [Ju: Isso.] Pernambuco tá tendo que construir agora centros de assistência, construir do zero, e eles tão sendo visionários porque eu não tô ouvindo isso dos outros estados. Não tô dizendo que não é o caso, que não tão fazendo, mas precisa-se disso, a gente nem tem como receber essas crianças. Como foi construída, por exemplo, a APAE e a AACD [Ju: Sim.] pra receber, acho que no caso da AACD foi construída pra receber as crianças com pólio.
Ju: Sim.
Átila: Então assim…
Cris: [interrompe] A gente tem o problema e depois cria a estrutura.
Joelma: É, depois é que vai atrás.
Átila: Dentro da discussão do ministro falar “não engravide”, “se você puder não engravidar, não engravide”, e já entra aí toda uma discussão que a gente vai tendo nos últimos anos de se deve-se ter ou não nas escolas no ensino de anticoncepção e orientação sexual. Quer dizer, se você até hoje não defendia (não tô dizendo que é o caso do ministro, mas muitas entidades defendem isso, que você não devia ensinar nas escolas sobre sexo, reprodução e anticoncepcionais), como você espera que essas mulheres agora tenham condições de escolher como engravidar ou não?
Cris: É, a gente parte pra um caso aí de… [Ju: Perfeito.] informação que falta como um todo. E a gente tem visto alguns grupos se organizando pra pedir a inclusão dos casos comprovados de microcefalia pra aborto, né. Como hoje só é possível pra fetos… [Joelma: Anencéfalos.] anencéfalos. E essa discussão é uma discussão profunda, porque apesar da gente estar vivendo um surto, né, pode-se chamar de surto já, a microcefalia, a gente tem outras más-formações acontecendo. E aí acaba que a conversa fica mais ampla. Vocês conseguem entender que a gente vá discutir isso nesse momento?
Joelma: Eu acredito que não, o aborto no Brasil é um tabu, né. Todo político, todo deputado, senador, ministro que falar uma coisa dessa no Brasil, ele vai ter dificuldade de reeleição. Então eu acredito que não seja um momento pra gente tocar nesse assunto. Foi muito difícil a gente evoluir na possibilidade de interrupção da gestação nos casos com anencefalia. Discutir isso nesse momento eu acho que é difícil, porque ainda, na sociedade, ainda tá aceitando essa situação, que é chocante. Agora, o que se pode discutir a partir daí é a interrupção da gestação nos casos de fetos com malformação importante, que às vezes não é incompatível com a vida (como a gente quase às vezes consegue interromper a gestação quando é comprovadamente incompatível com a vida aquela situação), mas há crianças que são altamente sequeladas, que vão ter uma uma qualidade de vida muito ruim. Mas eu acho que no Brasil, é um país que tem uma religião muito… muito forte, acho muito difícil você passar isso, né, mas…
Ju: [Interrompe] Mas é só importante pra gente colocar…
Joelma: [Interrompe] lembrar a discussão, acho que vale discutir, mas…
Ju: Que assim, é, a crueldade de…
Joelma: [Interrompe] não é o momento.
Ju: você falar pra uma mulher que ela vai comprometer a vida dela e a vida da família dela, que ela vai precisar de uma renda que ela não tem, e que a sociedade não vai ajudá-la a cuidar do filho ou a dar condições pra família dela, nada desse tipo. E ela também não pode optar por interromper. Porque assim, deixando muito claro, uma vez que se abre essa possibilidade, não se quer dizer que você tenha que interromper a gravidez. Então, por exemplo, [Joelma: É uma opção.] eu, Juliana, sou contra o aborto, então se a gente legaliza o aborto essa mulher que está desesperada e com quem eu não tenho contato algum, ela pode fazer a escolha dela. Digamos que eu queira que esse bebê tenha alguma chance de vida, eu posso construir um Centro pra que crianças com microencefalia [microcefalia] vivam muito bem, e falar pra todas as grávidas que estão desesperadas e pensando em abortar: “não precisa abortar, venham pro meu centro que eu garanto…
Cris: [Interrompe] …tenho uma infraestrutura.
Ju: que eu cuido desses bebês pra vocês. Se vocês não podem, eu posso”. Isso eu acho que é uma escolha humana, é uma decisão humana. Eu não posso decidir que você vai ter um problema que eu não estou te dando saída.
Átila: Posso te contar o que aconteceu na Polinésia?
Ju: Pode.
Átila: Dos 18 casos que eles resgataram depois de microcefalia, 12 foram diagnosticados ainda durante a gestação.
Joelma: Interromperam.
Átila: Então doze grávidas que descobriram que tinham, nove optaram por interromper a gestação, três resolveram ter as crianças. Das três que tiveram, uma delas perdeu o bebê depois, ele não se desenvolveu. Mas duas tiveram o bebê. Nove, dentro da legislação francesa, podiam fazer o aborto em estágio avançado da gestação (porque não é no começo da gestação que você vai detectar isso), optaram por abortar. Mas também tem essa complicação, são vários problemas aí. Imagina o seguinte: imagina que o aborto fosse legal aqui no Brasil.
Ju: Sim.
Átila: A gestante teve coceira no quarto mês, ou no terceiro mês: você não tem como detectar aí se o bebê que tá se desenvolvendo lá tem microcefalia ou não. Ela vai detectar isso, quando? No sétimo mês?
Joelma: Tem casos, os casos que eu ouvi, de Pernambuco ou em Recife, tem diagnóstico com 16 semanas, com 18, com 20, de malformação do sistema nervoso. Agora… e aí evoluíram para microcefalia, mas o diagnóstico é tardio mesmo. É…
Átila: De quatro a…
Joelma: Então pra você interromper, seria aborto aí até vinte e duas semanas, seria… você acaba ultrapassando esse limite, chegando numa [idade gestacional mais avançada…
Átila: [Interrompe] Porque o que se discute…
Ju: É difícil.
Joelma:Então tem essa diferença. É difícil.
Átila: o que se discute na França, na Polinésia Francesa…
Ju: [Interrompe] Mas eu acho que é uma escolha que a mulher tem que fazer. É uma escolha difícil dela, não do Estado, não minha. Eu não posso impor a minha consciência pra ela. Porque eu acho, depois de 3 meses, aborto muito complicado. Já acho de qualquer maneira, mas tudo bem. Mas de qualquer maneira, é uma escolha complicada dela, não minha, né.
Átila: Então…
Cris: [interrompe] E aí sendo um pouco mais racional ainda, a gente está falando de uma conta gigantesca pra saúde pública que ela não tem como pagar, né, que a gente já tá vendo uma série de dificuldades acontecer. Então assim, talvez não seja o momento… a gente não vá tomar uma decisão, né, muito difícil tomar decisão sobre isso, mas é um momento bom pra discussão, pra voltar e falar “E aí, se você não vai dar suporte, se não vai dar nada, se não tem dinheiro pra pagar a conta, mas eu também não posso escolher isso”.
Átila: Então é um momento que infelizmente a gente pode mostrar as consequências de não ter essa discussão.
Ju: Sim.
Átila: Como o caso de anticoncepção. Então ok, você não acha válido ensinar sobre anticoncepção nas escolas. O preço que a gente paga é que agora alguém que escolhe não ter uma criança a essa altura, pode não ter orientação necessária pra poder fazer isso. Então eu consigo apontar hoje qual o problema de uma política de ensino adotada há alguns anos atrás.
Ju: Perfeito.
Átila: A mesma coisa o aborto. Quer dizer, se você é a favor ou contra, eu te aponto agora: a gente vai ter um gasto tranquilamente na casa de bilhões com esse prejuízo que a gente tá tendo agora. Porque lembra: são 15 milhões por ano, que 200 crianças com microcefalia, e outras complicações do sistema nervoso, geram. A gente vai ter esse gasto por uma geração, tranquilamente. Isso sendo totalmente frio, calculista e apontando os números…
Cris: [Interrompe] É, pensando em números…
Átila: sem falar na situação dessas famílias todas, e o que leva uma mãe…
Ju: Do sofrimento, né.
Cris: Do emocional.
Átila: o que leva uma mãe abandonar uma criança como foi 80% dos casos.
Ju: [interrompe] 80% é muito, sabe por quê? Porque a fábula que a gente constrói na nossa cabeça é a da mãe sem instinto materno, da mãe egoísta, “comé que uma mãe abandona um filho?”. Quando é 80% você entende que isso não…
Joelma: [Interrompe] Ela não daria conta de cuidar.
Ju: Independe de mãe, isso é…
Joelma: Independe…
Ju: Depende da situação e não da mãe, né.
Joelma: Sim… Se ela deixa a criança nesses locais, elas acreditam que a criança vai estar melhor cuidada lá do que com ela. Talvez o instinto maternal é mais forte, ela deixa pensando…
Átila: E provavelmente vai estar, né…
Joelma: Vai estar com certeza, ela não teria condições de cuidar.
Cris: E aí cê fala: “mas por quê que ela não vai visitar?”. Gente…
Ju: Olha a dor, preste atenção na dor…
Cris: [interrompe] A dor e, olha, ela provavelmente tem outros filhos, e ela tem uma casa pra cuidar, e às vezes ela mora muito longe. Tem muita dor envolvida nesse tipo de conversa. Então assim, eu acho que trazer o debate à tona de novo é muito importante porque a gente consegue mostrar o resultado, né. Tá aqui ó, olha o resultado da gente não amadurecer.
Joelma: [interrompe] Mas eu não acredito que podemos discutir aborto baseado em dinheiro. Não se justifica. Eu acho que nós temos que discutir as malformações, como nós temos duas situações que permite. Temos os anencéfalos, que são incompatíveis com a vida, talvez teríamos de discutir o abortamento nas situações em que a qualidade de vida do recém-nascido é muito ruim. Porque o anencéfalo não vai viver, quer dizer, é fácil de eu justificar uma criança que não tem cérebro, não vai sobreviver. Mas um feto com trissomia do 18, com trissomia do cromossomo 13, são casos extremamente graves, que às vezes a gente tem dificuldades pra essa gestante interromper. Uma microcefalia muito grave, um hidrocéfalo com praticamente, né, alterações extremamente importantes no sistema nervoso que a qualidade de vida desse recém-nascido é muito ruim. Então nesse caso talvez pudesse ser discutido a interrupção da gestação. Não é obrigar, é permitir, se a gestante [Ju: Exato.] desejar, ela tem[essa opção.
Cris: É, hoje não existe…
Joelma: Isso é uma opção.
Átila: E não é uma decisão preto no branco, né, eu tô falando dos números aqui só pra chocar um pouco, mas…
Cris: [interrompe] Não, é, e quando agente fala em volume também, porque quando a gente conversou aqui exclusivamente sobre aborto, uma das coisas que a gente levantou também é o gasto que se tem pra cuidar das mulheres que acabaram fazendo um aborto mal… [Joelma: aborto mal-sucedido.] tentando um aborto mal-sucedido dentro de casa, que custa um valor altíssimo [Joelma: Altíssimo.] pro sistema de saúde. Então, sabe quando em último caso cê tenta pegar pelo bolso? Que é assim, a gente já tem situações emocionais envolvidas, mas [existe uma situação econômica também.
Átila: É, e não é uma decisão econômica, né, e…
Joelma: Não é uma decisão fácil, né.
Cris: É.
Átila: Mesmo que a gente discuta, né, e fale “ok, então pode, ah, foi permitido aborto pra esse tipo de malformação porque vai ter um comprometimento do desenvolvimento da criança, ela não vai ter uma qualidade de vida [Cris: [Não tem qualidade de vida.] minimamente razoável”, mesmo assim, você tem que pensar que isso é uma decisão que vai ser tomada entre o quarto e o sétimo mês…
Cris: É muito difícil.
Ju: Não, é muito difícil.
Átila: …de gestação.
Cris: Muito difícil, nossa!
Ju: É muito difícil. Agora, vamo lá, já entendemos o quanto é difícil, já entendemos o tamanho do problema, o quê que a gente tá fazendo para combater essa epidemia? Não pode chamar de epidemia, surto? Do que pode…
Átila: [interrompe] É uma epidemia. Pode chamar de pandemia [se você quiser…
Ju: Pandemia… tá.
Átila: porque já pegou vários países em diferentes continentes.
Ju: Tá.
Cris: O nosso ouvinte, o segundo ouvinte que vai participar com a gente, que é patrono e também tem direito de participar, que é o Paulo, que está…
Ju: Tá nos Estados Unidos!
Cris: [interrompe] Nos Estados Unidos, em algum lugar! Não é por causa da zika, mas ele já tava por lá mesmo e ele mandou uma pergunta justamente sobre isso: “E aí, o que estamos fazendo?”. Fala aí, Paulo.
Paulo: Mais uma curiosidade do que uma pergunta polêmica ou qualquer coisa do tipo, assim. É mais uma pergunta pra saber se tá sendo tomada algum tipo de medida pra eventos de grande porte, que nem o carnaval e as Olimpíadas, em relação ao zika vírus. E qual é a chance real de que aconteça um… tipo um surto muito maior do que simplesmente local, em outras partes do mundo?
Átila: O quê que se faz normalmente para combater um vírus? Você tem várias opções. Você pode ter um medicamento antiviral, que impede o vírus, como um antibiótico impede uma bactéria. Você pode ter o soro contra o vírus, então antiviral, é o caso do HIV. Cê pegou HIV, você pode tomar um medicamento que combate o vírus. Funciona pro HIV porque ele é um vírus que você vai ter pelo resto da vida. No caso de zika, dura só alguns dias até a pessoa ter o diagnóstico, o remédio já não ia funcionar pra ela. É muito difícil de você tomar alguma coisa se você vai estar infectado por poucos dias. Não existe medicamento contra o zika, mas se existisse, o intervalo é muito pequeno pra você tomar, então nem vale a pena. Cê tem soro, como a gente tem o soro contra raiva. Por quê que o soro contra raiva funciona? Porque você foi mordido pelo cachorro e você tem, dependendo de onde você for mordido, até 40 dias pra desenvolver raiva. É tempo suficiente pro soro agir. No zika, quando você descobrir você já tem sintomas, já tá com vírus, o soro também não adianta. Sobra vacina. O tempo para se desenvolver uma vacina contra o zika, se ele for um vírus para o qual a resposta imune é 100% satisfatória, então… Febre amarela, é um vírus que você vacinou contra ele ninguém pega, ótimo, a gente ainda tem aí pela frente entre 5 e 10 anos de desenvolvimento de uma vacina dessa até ela ser fabricada e distribuída.
Cris: Que dirá pra Olimpíada, né, que é daqui a 90 dias.
Átila: Não. Se ele for um vírus…

Cris: Mas nem o carrinho de fumaça vai voltar, gente? Nós temos que combater o mosquito!
Átila: O quê que a gente pode fazer, outro ponto: se a gente combate o zika, ok, conseguimos combater o zika. Se a gente ainda tem o mosquito, entra o próximo da fila e vambora. Chikungunya, dengue, Mayaro, febre do oeste do Nilo, daqui a pouco eles vêm.

Cris: Não, eu tô horrorizada com esse negócio.

Átila: Então o quê que a gente tem que fazer? Combater o mosquito.

Ju: Sobre a vacina, o Instituto Butantã já tá pesquisando há 8 anos a vacina da dengue, agora tá em fase final, fase de teste, mas assim, só pra dar um timeline de quando a gente conseguiria essa vacina do zika.
Átila: O Pasteur, que é o concorrente, 20 a 25 anos tentando desenvolver essa vacina contra a dengue, porque a imunidade contra a dengue não protege 100%, mesmo essa que eles têm agora, ela protege em 60% dos casos, também não é 100%.

Cris: Paulo, eu acho que cê não vai vir pra Olimpíada, Paulo.
(risos)
Átila: Combater o mosquito não tem jeito, não tem jeito.
Ju: Mas e aí, sobre combater o mosquito, tem aqueles estudos que já foram feitos com relativo sucesso, de transgênico, de esterilizar, entre aspas, tô fazendo coelhinhos voadores aqui, o macho, soltar esses machos estéreis pra que eles diminuam a população. Isso deu certo teoricamente na Bahia, não deu?
Átila: Primeiro ponto, não foram esses machos transgênicos que transmitiram zika…
Ju: [Interrompe] Ai tudo bem, chegaremos aí (risos)
Átila: Preciso falar isso, já (risos)
Ju: É só assistir Nerdologia, gente. Por favor, tá?!
Átila:Eu nem tinha falado disso lá porque eu não concebia que as pessoas fossem falar…
Ju: [interrompe] Ah, o Pirula que falou, foi o Pirula, tá certo.
Cris: [interrompe] Beijo, Pirula!
Átila: Porque o macho não pica, certo? E a fêmea que se reproduz com o macho ela não tem prole, não tem filhote, não tem como passar isso adiante e o mosquito transgênico não tem nada a ver com isso. A gente sabe de onde o vírus vem. Mas desculpa, passando pelo desabafo, sim, machos transgênicos controlam a população da região onde eles foram soltos…
Ju: Tá… Tá bom.
Átila: Porque ele copula com a fêmea, a fêmea copula com vários machos, mas ela geralmente favorece o primeiro, e se ele for esse macho transgênico que é estéril, quando o ovinho da fêmea passa pelo espermatozóide desse macho, ele continua estéril e não germina, não tem larva, não tem nada. Controla, só que você tem que pegar esses mosquitos transgênicos e soltar eles regularmente, quadra por quadra pra monitorar. É aquele tipo de esforço de secar gelo, funciona, ajuda, mas não é o que resolve; isso daí…
Cris: [interrompe] E fica cheio de pernilongo!
Átila: Macho que não pica, tranquilo.
Cris: Ah, então tá bom.
(risos)
Átila: Mas esse é a última medida de controle, tá, por quê?
Ju: Ah, eu achei que era nossa salvação…
Átila: Antes disso você já teve que revirar qualquer pote que tinha água parada e acumulada, você já distribuiu…
Ju: [interrompe] Gente, mas isso não me parece viável, porque ainda que a gente cuidasse de todos os potes, não, digamos que a gente acabou com os potes, o que humanamente é possível. Cara, é num côncavo de uma árvore, em qualquer coisa tem água…
Joelma: [interrompe] Numa folha seca…

Ju: Numa folha, gente

Cris: [interrompe] Bromélia, lembra…
Átila: Eu moro no décimo andar, no décimo andar aqui no Butantã, tenho tela de mosquiteiro em todas as janelas por causa de pernilongo à noite, porque é um inferno lá, falei, bom, aqui não vai ter Aedes, eu não tenho nada a ver com isso. Fui regar as plantas na varanda, virei o regador, tava cheio de larva lá dentro, no décimo andar, falei, não é possível, num apartamento cheio de tela mosquiteiro, no décimo andar eu tinha um criadouro no meu regador, tô eu aqui falando de zika, é isso. Mas é isso que a gente vai ter que fazer mesmo.
Ju: Não, mas isso não é viável, gente, isso não é uma solução. Desculpa, mas cê me falar “olha pra resolver o problema a gente vai ter que acabar com água parada”, assim, isso não é inteligente, desculpa, você como cientista não pode me falar isso, não pode, é verdade, você não pode me falar isso.
Átila: Eu tô te dando ordem de impacto das coisas, o que tem mais impacto.
Cris: O que é mais fácil de fazer? Não deixar água acumulada.
Átila: Assim, não deixar água acumulada, espalhar larvicida, que é o pozinho ou o veneno que mata as larvas, existem pozinhos diferentes, já tem um centro que tá desenvolvendo uma bactéria que ela só mata mosquito, então você pode colocar inclusive na água potável e aquilo só mata a larva do mosquito, eles devem distribuir esse ano por aí, aí a gente começa a conversar… [Ju: Aí sim, aí a gente começa a conversar.]ela tem um… Eles fizeram um comprimidinho de argila que solta essa bactéria que você coloca ele no vaso e por meses aquele vaso tá protegido. Você pode regar, aquilo vai se diluir na água que você regou e vai continuar combatendo, então, a gente começa a ter soluções mais inteligentes e…
Ju: [interrompe] Mas e a sua geladeira, o cantinho da geladeira, entende?
Cris: Não, no nosso filtro de barro deu.
Ju: Olha que surreal!
Cris: Em qualquer coisa, olha o que ele tá falando, se duas gotas de água da geladeira já é o suficiente…
Átila: [interrompe] A canaleta de escoamento de água do ar condicionado.
Ju: A gente nunca vai conseguir acabar com tudo isso, Átila, presta atenção…
Átila: Não, pra acabar com essas coisas tem mosquitos modificados, tem o mosquito transgênico, que o macho fica estéril, tem o mosquito que ele tá infectado com bactéria que não deixa ele ser infectado pelo vírus da dengue, e por similaridade a gente imagina ele também não pegue zika, e tem outros tipos desses mosquitos modificados que vão ter que ser feitos nessa base de ser solto bairro por bairro durante muito tempo pra gente acompanhar, mas isso, cê primeiro combate de outra forma, depois solta…
Cris: [Interrompe] Então, eu entendi que são várias frentes, nenhuma totalmente eficiente.
Ju: Não, tudo bem.
Átila: Se você quiser que eu te diga o pior (risos). Se você for pro porto de Santos, Guarujá, ao qualquer porto do Brasil, e a gente quase não tem litoral, você vai ver navios cheios de contêiners parados. Cada contêiner daquele tem, cada canaletazinha de cima, você já viu que ele é todo onduladinho?
Ju: Sim.
Átila: Cada ondinha daquela tem um buraquinho ali cheio de água, cheio de ovinho de mosquito, de qualquer canto do mundo por onde aquele container passou. Então mesmo que a gente zerasse de mosquito aqui hoje…
Cris: [interrompe] Amanhã chega mais (risos)
Átila: Amanhã chega mais pelo Ali Express.
Cris: Pelo AliExpress (risos)
Ju: Ou seja, cê vai fazer um protocolo zumbi novo, agora? (risos) É isso? É isso?
Átila: Eu não vou partir pra esse tipo de humor aqui (risos), mas por aí, sim.
Ju: É isso!
Cris: Eu tava comentando que 70% dos criadouros são em terrenos vazios, casas abandonadas, terreno “nanana”… E a maioria das prefeituras conseguiu já uma liberação para entrar nesses lugares porque eles precisam ser inspecionados e colocar o pozinho e tudo mais, e não tem chaveiro, não tem quem abra o portão…
Ju: Que desesperador, gente, pelo amor de Deus…
Átila: Então, a essa altura onde a gente tá agora nessa epidemia, mesmo com tudo o melhor que a gente faz é isso, é combater o mosquito, desculpa, não tem jeito.
Cris: E repelente, né?
Joelma: Repelente.

Ju: [interrompe] É isso que eu ia perguntar, então agora vamos falar só assim, vamos fazer um bloco só de… Beleza, já que a gente não vai controlar o mosquito, deixa eu te falar aqui, a gente não vai, a gente não vai!
Átila: Você já abriu mão…
Ju: Vamo falar sério, a gente não vai. Então essa epidemia não vai parar de chegar, os mosquitos estarão aqui, a doença estará aqui, como que a gente faz pra tentar evitar de pegar a doença?
Joelma: A gestante, o quê que a gente orienta, ela usar roupas que cobre um pouco mais, né, braço, perna,
Cris: [interrompe] no verão.
Ju: No verão, no Brasil, que é ótimo.
Joelma: Infelizmente (risos) e usar o repelente, usar repelente, a gente orienta passar 3 vezes ao dia porque eles vêm escrito em que dura 10-12h, mas a gente sabe que não dura aquilo, esse tempo todo.
Átila: [interrompe] Ponto sério, receita caseira não funciona.
Ju: Isso.
Cris: Passar canela no corpo…
Átila: E se funciona, funciona por meia hora, uma hora, então assim, não tem repelente caseiro, citronela, suco de laranja, álcool com canela, gengibre, carqueja, escolha o que você quiser…
Ju: [interrompe] Cânfora, cânfora com óleo Johnson…
Joelma: Citronela também.
Átila: Cânfora, nenhum deles funciona por mais de uma hora. O repelente funciona por várias horas.
Ju: [interrompe] Fala mais desse negócio da cânfora, por favor, é pra minha mãe.
(risos)
Átila: Cânfora, o que você quiser, isso pode até funcionar, mas vai funcionar por muito menos tempo do que o repelente que foi feito pra isso.
Cris: A gente tá falando de qualquer tipo de repelente?
Joelma: Não, a gente orienta usar os que têm caridina que são os que funcionam melhor e que a gestante pode utilizar sem problema, mas a gente não fala pra tomar banho de repelente. Tem gente que fala “ah, vou tomar um banho de repelente”, não, a gente pede que passe nas áreas expostas, na realidade.
Ju: Não é pra passar embaixo da roupa?
Joelma: Não, não precisa passar embaixo de roupa, se ela tá de camiseta, de blusa de manga comprida ela vai passar nas áreas expostas, só.
Ju: Pode dormir com repelente?
Joelma: Pode, ela pode, mas não há necessidade, o que ela pode fazer é ligar o ar condicionado e fechar a janela, mas não precisa pra ela dormir…
Cris: Não, e a gente tava falando que a galera tem dinheiro pra comprar, né? É isso que a gente tá falando…
Joelma: É, o ministério…
Ju: [interrompe] Não, e que tem. Porque você sabe que não tem, não tem esse repelente, está esgotadíssimo.
Átila: Não, assim, põe a tela mosquiteira, pra começar.
Joelma: É, põe a tela em casa.
Cris: Não, a gente tá falando que todo mundo tem dinheiro, né? Tela mosquiteira, aí vem o repelente e o ar condicionado.
Joelma: Ou o ventilador também, né, que ele ajuda.
Cris: É brincadeira.
Ju: É, o que eu tenho, assim, de não usar hidratante ou cosmético com perfume, porque que atrai mosquito, de preferir roupa clara, manga longa e calça comprida, evita a roupa escura porque também atrai o mosquito, evitar roupa colada ao corpo…
Átila: [interrompe] A gente tá culpando as vítimas agora, é isso? Não se veste assim pra cê não ser…
(risos)
Ju: Exato! Exato. Mas aí é isso, não dá pra, diferente dos homens, não dá pra conversar com mosquito, né, então assim, não dá pra convencer o mosquito de não te picar, então não usar roupa colada no corpo, preferir roupa mais solta, porque não permite a picada, outra coisa, que a gente comentou aqui sobre resfriar o ambiente, né, colocar ar condicionado e ventilador porque espanta o mosquito, repelente elétrico também ajuda se você colocar perto das portas e das janelas. Importante, qual elétrico? Agora cê fala pro Merigo, é aquele que faz barulho que me irrita? (risos) Aquele? Aquele ajuda? Não ajuda, pessoal! Tira da tomada aquele que faz barulho, não tem comprovação.
Cris: Ela tá cheia de indireta hoje.
Átila: Eu tenho alergia ao de tomada normal, então eu já tentei o de barulho e também não funciona, é verdade.
Ju: (risos) Não funciona!

Átila: A gente ainda tem a ideia do mosquito pré-urbanização, quando a gente fala de Aedes, as pessoas ainda pensam “ah, o mosquito que fica em água parada limpa e pica de dia”. Não. Ele tá urbanizando e ele tá mudando os hábitos. Ele já pica mais à noite, ele já não pica só pelas manhãs e fim da tarde. Ele tem mais preferência por humanos e ele reproduz em água suja, sim.
Ju: Tá. O importante: bloquear janela e porta. Então assim, tudo bem que ele vai te atacar em qualquer hora do dia e da noite, mas normalmente se concentram no entardecer, né? E no período da manhã, então se possível, se a gente tá falando pra gestante, então evitar esses horários, até se você puder não sair nesses horários, até melhor, né?
Átila: Fica de olho na canela. Que é onde eles mais vão, sem brincadeira. Eles não voam tão alto quanto o pernilongo.
Ju: Aqueles aparelhos de luz, que emitem luz também não têm eficácia científica. Então assim, o que vai resolver é o repelente, é a roupa, e aqueles de tomada que a gente já até conhece.
Átila: E revirar qualquer potinho que possivelmente junta água em casa.
Ju: Não crie! Não alimente os mosquitos da sua casa! Né? Não alimente os trolls, não alimente os mosquitos.
Joelma: E nada de viagem pra regiões altamente… Por exemplo, nós temos muita grávida que me pergunta se vai pra Recife, Salvador.
Átila: Vai pra Curitiba. [risos]
Joelma: Eu falo pra eles: vão pra Porto Alegre. Por exemplo, São José do Rio Preto, aqui região de Campinas tem uma concentração maior de casos, então não precisa ir pra essas regiões. A vida toda você vai ter essa opção, não vá gestante. Espera o nenê nascer, depois cê vai.
Ju: É, até teve, como que é… Ribeirão Preto declarou no início de janeiro estado de emergência, e Barretos também.
Joelma: É.
Ju: Só pra gente saber, já que…
Átila: Com base no que eles já tiveram de dengue.
Ju: É, então só pra saber que assim, porque teoricamente São Paulo não tá no surto, eu estou ouvindo das pessoas que aqui não é problema, que o problema é só lá no Nordeste.
Joelma: Não.
Ju: Não é, tá, pessoal? Vamos saber, tá.
Joelma: Não é assim não.
Cris: Aqui tá descendo. Espera que vai chegar aí.
Ju: Já chegou.
Átila: A gente já tem 200 casos detectados, não necessariamente reportados, de microcefalia em São Paulo.
Ju: Isso aí é o seguinte: dos infectados, tem, abre o funil, é muita muita muita muita gente. Das pessoas que a gente soube que tavam infectadas, são pouca gente. Das pessoas que gente soube que estavam infectadas e estavam grávidas, menos ainda. Microcefalia, menos ainda. Então 200 casos de microcefalia. Esse zika tá aqui em São Paulo [estala os dedos] já nadando de braçada, tá, ele tá bem tranquilo aqui.
Cris: Então, vamo pra faixa bônus agora, hein. A pergunta final, valendo um milhão de mosquitos.

Átila: [risos] Dispenso, obrigado.
Cris: A culpa é de quem? A, a culpa é das estrelas; B, a culpa é das vacinas; C, a culpa é dos transgênicos; D, a culpa é do PT. [risos]
Átila: Não tem “nenhuma das anteriores”?
Cris: Nenhuma?!

Átila: A culpa é dos mosquitos. Ou melhor, a culpa é da nossa displicência em aceitar conviver com esse tanto de mosquito.
Cris: Concorda, Dra. Joelma?
Joelma: Concordo, eu acho que a culpa é de todos nós, né. Eu acho que nós fomos aceitando várias doenças, várias doenças, e a dengue veio como um sinal. Veio a dengue, mais tranquila. A gente poderia ter combatido o mosquito e controlado a dengue há muitos anos, e a gente foi aceitando a dengue. Morre-se muitas pessoas por dengue no Brasil todo, e isso foi sendo negligenciado. E agora veio um vírus mais…

Átila: Veio o chikungunya.
Joelma: Veio o chikungunya.
Átila: Que já é uma dengue mais séria.
Joelma: Mandaram vários alertas, “tomem cuidado, tomem cuidado”, e agora veio esse vírus e podem vir outros vírus. Que a gente sabe que, na saúde pública, negligência é um problema, porque surge casos importantes, e agora surgiu aí esse como pode surgir outros, então tem que estar sempre no combate.
Ju: A última pergunta que eu queria fazer é só pra gente derrubar mais uma polêmica, que o Átila já derrubou várias é, que também tá circulando bastante: não acho que é o zika, eu acho que foram as vacinas.
Joelma: [risos] Isso é um absurdo!
[Átila ao fundo]: Ah, as vacinas vencidas.
[Ju ao fundo]: Olha, eu levantei a bola, eu levantei a bola, corta.
Joelma: Isso é um absurdo ouvir e passar. E repetir isso, né. Que as vacinas foram criadas justamente pra prevenir várias doenças e você responsabilizar uma vacina da rubéola de causar alterações tão importantes é desconhecimento total de como é produzida uma vacina, a segurança que essas vacinas têm antes de ser aplicada na população. Isso é um absurdo, as pessoas não podem falar isso. A gente tem que incentivar as pessoas a vacinar.
Átila: Resposta curta: rubéola causa microcefalia. Vacina contra rubéola não se dá em grávidas. Se dá em quem pretende engravidar ou quem já teve a criança. A vacina contra rubéola é feita com o vírus da rubéola inativado. Se isso vence, ele só deixa de imunizar, mas ele não é capaz de causar doença. Vacina contra rubéola que já foi dado sem querer para mulheres que não sabiam que estavam grávidas, em nenhum dos casos teve nenhuma complicação documentada.
Ju: Perfeito.
Átila: Pronto. Resposta mais longa: a gente, junto com os alunos de biologia da USP, que tão fazendo curso de licenciatura, eu coloquei esses alunos pra preparar o material pra desmentir boatos, principalmente pros professores da rede pública e privada ensinarem os alunos a desmentir. Não é nem o professor chegar lá e falar “não é verdade”. É o professor chegar na sala e falar “vocês vão procurar na internet se isso é verdade ou não”. Então, pra quem quiser, tem uma wiki do curso, que vai estar disponível aqui embaixo. Eu não tô no YouTube pra falar isso, né? [risos]
Ju: É, no link.
Átila: No link, pra quem tiver curiosidade desses e outros boatos, de como desmenti-los e quais informações são verdade ou não, tá tudo explicado lá, inclusive pro professor que quiser levar isso pra aula.
Ju: Perfeito.
Átila: Mas já adianto que não. Não foi mosquito transgênico, não é a vacina vencida, não é uso de droga, não é consumo de álcool, e se você tá se se informando com vídeo no WhatsApp…
Ju: Apenas pare.
Átila: Pare. [risos] Acho que se você dormir no sereno, porque você dormiu de bêbado com a janela aberta, atrai bastante.
Cris: Não, é o que eu falo, o fato de deixar de dar a vacina, além da gente lidar com a zika, aí a gente vai lidar com a coqueluche, com a rubéola…

[Joelma ao fundo]:Sarampo.
Cris: Com o sarampo. Então assim, já tá bom de desgraça, não precisa mais.
Ju: Como dizia o ET Bilu, busquem conhecimento.
Cris: Busquem conhecimento. Temos um programa?
Ju: Temos um programa.
Cris: Sabemos tudo agora de zika? Sabemos nada, né, ninguém sabe.
Ju: É, a última coisa que ficou faltando foi: o que não sabemos sobre zika, porque tem muita coisa que a gente não sabe…
Cris: [interrompe] A gente não sabe quase nada!
Ju: Sobre o zika, essa é a questão. Na pressa, tem se falado coisas, como por exemplo o que o ministro da saúde falou, que são inverdades porque simplesmente a gente não sabe, porque é muito novo.
Átila: Agora eu vou dar uma de biólogo oportunista. [risos] O quê que a gente não sabe sobre o zika, por exemplo: como o zika causa, se causa, microcefalia. Como a gente descobre isso? A gente não pode pegar grávidas e infectar elas com zika pra ver o que acontece. Mas a gente pode pegar camundongos e ratos e infectá-los pra ver o que acontece. Então, desculpa, não sei, trazendo mais polêmica pra cá…

Ju: Deixa o Merigo ouvir isso.
Átila:… mas é a hora em que esse tipo de experimentação animal é importante até pra resolver isso. A gente precisa saber como o zika causa isso, o quê que ele causa, em que período que ele causa, quantas das grávidas que foram infectadas por zika, quantas foram e não tiveram complicação, quantas foram e tiveram.
Joelma: É o que a gente chama de transmissão vertical. Se você imaginar que temos 3 mil, pode ter sido um milhão de casos, só 3 mil pacientes tiveram…
[Cris ao fundo]: É isso que é interessante, cientificamente falando porque uma tem, outra não.
Joelma:… então nós não sabemos, né, quanto passou… quanto passou e quais foram os fetos que foram alterados, e por que foram. Isso somente com estudos populacional e também experimental pra chegar a essa resposta.
Átila: Isso tá sendo acompanhado, tá? O que o Brasil mais fez recentemente, isso eu posso falar de dentro da academia, imagino que a doutora também possa, isso tá sendo financiado pra ser pesquisado, quantas pessoas tão, esses testes diagnósticos todos que tão saindo não são testes de praxe, são testes que tiveram que ser inventados e feitos aqui no Brasil e são feitos na marra.
[Ju ao fundo]: Incrível, assim. A gente teve uma resposta muito rápida, sério.
Átila: É um tempo de resposta rápido.
Ju: Tudo que eu li sobre isso, é incrível.
Joelma: Tiveram ajuda, vieram pesquisadores internacionais pra ajudar na elaboração desses testes.
Cris: Pra não levar pra lá também.
Átila: Inclusive, o pessoal de Senegal mandou pra gente, pra estudo, só o material genético do vírus, nem o vírus, até 2007, 2010, tava aqui até semana passada dando treinamento pras pessoas aqui de como diagnosticar, como fazer o teste imunológico, e por aí vai.
[Cris ao fundo]: E são trocas super importantes.
Átila: Tem pesquisadores virando noites aí desde que isso foi detectado pra descobrir o quê que tá acontecendo, as respostas vão vir o mais cedo possível.
Cris: Eu fico imaginando a gente na pressão pra fazer campanha, e o cara pra fazer uma vacina.
Ju: Assim, tá, mas explica que assim, pra isso vale a pena virar a noite, né, pessoal? Não porque você precisa de um título novo.
[Cris ao fundo]: Não, e eu fico imaginando a pressão.
Átila: E uma das primeiras respostas e mais importantes, além das grávidas, qual é a chance de você ser re-infectado pelo zika.
Cris: Exato, tem bastante coisa pra pesquisar. Fica a gostosa sensação que tem que pesquisar um tantão, eu acho.
Ju: Não, e que assim, a gente de fato tem muito pra conversar ainda. A gente tem que sentar e conversar, porque assim, o tamanho do problema é gigantesco, e temos algumas decisões difíceis pela frente pra tomar.
Cris: E acho que a população pode pressionar também a volta da fumacinha, como cês viram aqui, né…
Átila: A volta da fumacinha, a discussão sobre contraceptivos, a discussão sobre o aborto, e uma série de outras coisas.
Cris: E a gente não se acostumar a ter uma doença todo ano e não combater. Que é muito errado.
Ju: Vamos pro Farol?
Cris: É isso, vamos pro Farol.

[Sobe trilha – Rico Dalasam]
Cris: Vamos começar com a Ju?

Ju: Vamo!

Cris: Manda!

Ju: Como eu tava de férias, então eu tenho várias dicas…

Cris: [interrompe] Cê vai gastar tudo de uma vez assim?

Ju: Eu tô ostentando! Eu tô ostentando… [RISOS] Eu tenho várias pra semana que vem também. Assim, todo ano quando saem os indicados pro Oscar o Merigo tem uma meta na vida, que é assistir todos os filmes indicados a melhor filme, melhor ator, melhor atriz e melhor roteiro, essa é a meta de vida. Se der tempo a gente assiste também melhor filme estrangeiro, se der tempo. E aí então nessa maratona do Oscar eu assisti Perdido em Marte que eu achei divertido mas assim, não era um filme pro Oscar…

Cris: Gosto demais do Matt Damon, sô. Qualquer coisa que ele faz eu assisto, eu queria ser amiga dele. Eu queria que ele viesse aqui.

Átila: [interrompe] Cê não cansa de tentarem resgatar ele?

Cris: Não, ele fica perdido direto.

Ju: Todo mundo morre e a gente quer… tudo bem

Cris: Eu queria que ele viesse no Mamilos. Tá convidado viu, Matt.

Ju: Tá convidado!

Átila: Sem camisa ou…

Cris: Não… Eu gosto dele, eu gosto da pessoa dele.

Ju: Não… Do jeito que ele quiser, não tem problema. Eu assisti Spotlight, que lembrou muito o Mamilos que a gente fez sobre jornalismo, impossível não assistir esse filme e lembrar. Esse é um filme que eu não sei se é uma ode ao jornalismo ou se ele é um réquiem, sabe, se ele é um lamento, é tipo, olha como era legal o que a gente tinha que chamava jornalismo, que as pessoas nem sabem mais como é que é, crianças, então assim é sensacional o Spotlight, eu gostei bastante já deixo claro aqui o Mark Ruffalo não tinha nada que estar indicado ao Oscar…

Cris: [interrompe] Ah, mas ele é o Mark Ruffalo.

Ju: É Mark Ruffalo fazendo Mark Ruffalo, tem gente que merecia bem mais, mas tudo bem, o filme é ótimo, vão lá ver, vão pensar sobre isso, conversem com a gente sobre isso. Assisti A Grande Aposta, que eu como sempre não queria assistir porque entalei “nossa filme de mercado financeiro, não, muito obrigada, né”, que sinopse sem graça, gente é sensacional é engraçado, é divertido, tem ritmo, é incrível e só tem homem bonito, meu Deus… E por fim…

Cris: Que o fator inclusive que pesa mais…

Ju: Não… Eu tava preocupada na história, eu tava vendo a história. Eu assisti Creed e esse pra mim foi O filme, eu AMEI Creed. Ele é a passagem de bastão do Rocky, né, então de passar do Rocky pra uma nova franquia, ele é tudo o que Star Wars é, então tudo o que foi de bom no Star Wars que ele recuperou a franquia é tudo isso. É um filme de luta, então quem gosta de boxe vai gostar bastante, mas quem não gostas também vai gostar bastante, ele é simples sem ser simplório, extremamente emocionante…

Cris: [interrompe] E tem o Stallone, eu gosto do Stallone. Eu sempre acho… Eu olho pra ele… Alguém podia reconhecer esse homem. E eu acho que ele vai ganhar o Oscar esse ano.

Ju: Talvez ele ganhe.

Cris: Eu vou ficar tão… Eu assino por isso né, que eu torço pras pessoas como se eu conhecesse as pessoas…

Átila: Mas vai tirar di Caprio, coitado?

Cris: Não, é coadjuvante… É coadjuvante.

Ju: Por quê? Porque essa é a indicação que o Oscar faltou, desculpa, Leo, eu sei que você tem que ganhar por conjunto de obra mas o Michael B. Jordan tinha que estar indicado, é ridículo ele não estar indicado, é ridículo assim como do Beast of No Nation o …

Cris: Idris…

Ju: Idris Elba, um momento de silêncio pro Idris Elba, também foi uma injustiça não estar indicado. Então assim, mas Creed, se você não gosta de filme de boxe vai ver porque eu indiquei, e vem falar comigo, e me xinga no Twitter porque é sensacional, cê sai querendo correr, cê sai querendo lutar, é incrível. Que filme incrível. Átila, o quê que cê tem?

Átila: Pra quem quiser saber sobre o tema, pra quem quiser saber sobre epidemias tem vários livros legais, tem Zona Quente, que é sobre um quase surto de Ebola nos Estados Unidos, é muito emocionante, é bem forçado, eles levam aquilo…

Cris: [interrompe] É americano!

Átila: É um thriller de epidemia, sabe aquela coisa meio exagerada, porque não foi bem aquilo, mas é legal e acho que é o primeiro contato que muita gente tem com virologia, com epidemia, essas coisas, conta sobre o Ebola, acho que ainda é editado aqui no Brasil. Pra quem quer uma coisa mais técnica aqui no Brasil saiu A Próxima Peste, que é um livro só sobre pragas e pestes e por quê que elas estão aumentando e por quê que a gente vê essas coisas acontecendo…

Ju: Ah, quero ler esse!

Átila: É muito bom, muito bom, ele fala sobre o surgimento do HIV, fala sobre cólera, fala sobre várias doenças…

Cris: Como que é o nome?

Átila: A Próxima Peste. Eu acho que ele não é mais editado, você vai encontrar em sebo só, infelizmente. Em inglês, pra quem topa ler em inglês, o melhor livro sobre epidemias que eu li em tempos recentes, e eu curto bastante a área, chama Spillover, de derramar, que ele conta justamente comé que acontece os derrames de doenças pra humanos que é bem legal, e pra quem quiser saber mais sobre o zika tem o material pra professores que a gente colocou na Wiki. E em geral a gente falou do caso do Pirula, eu recomendo demais o canal do Pirula e canais na linha de pessoas que falam sobre ciência de maneira razoável, então por exemplo o fisiculturista, que é do Caio Gomes que é…

Ju: Que tá aqui, quer vim dar oi, vem aqui dar oi.

Cris:A gente tá tão, a gente tá tão célebre…

Caio Gomes:Oi! Brigado.

Cris:Eles combinaram, eles combinaram.

Átila: Mas assim, são canais de pessoas razoáveis discutindo ciência de maneira razoável no YouTube, e o Pirula tá sendo foco de uma onda de amor…

Ju: Mas ele é, ele é demais, não há como não amar.

Átila: É, não é bem amor que tão mandando pra ele…

Cris: Não é bem isso…

Ju: Sério? Ele tá sendo trollado?

Átila: Não, não, ele tá sendo odiado!

Ju: Não! A gente ama ele! Mamileiros amem o Pirula, vão lá prestar seu amor pra ele. O Pirula é demais. Ele presta um serviço incrível.

Átila: Pra quem não ouviu falar do Pirula, pelo Pirula, mas de pessoas falando mal dele, vejam quem é o Pirula, que é uma pessoa extremamente razoável, bem articulada, falando sobre coisas de maneira muito inteligente.

Ju: Não, ele presta um serviço.

Átila: Totalmente.

Ju: Quanto das pautas dos Mamilos não se devem ao Pirula. A gente sempre busca ali na fonte do Pirula.

Átila: E Pirula que é o podcaster de YouTube, né?

Ju: Isso!

Átila: Não sei quanto a vocês, mas a grande maioria das pessoas que eu conheço dá um play e vai louça e deixa o Pirula falando. Mas ouçam essas pessoas razoáveis falando porque tem ciência sendo discutida de maneira legal no YouTube. Eu não vou puxar a sardinha do Nerdologia,

Ju: Eu puxo!

Cris: Eu tô pondo aqui, azar é seu!

Átila: Quem quiser ver veja!

Ju: Eu puxo! Vão lá no canal que tem inclusive um vídeo sobre o zika que já estava linkado na pauta.

Átila: Generalidades, bem generalidades mesmo eu reassisti recentemente One Punchmam, que é o melhor anime que eu vi em tempos recentes assim. É um anime anti-anime, é o anime que tira sarro de anime e é muito bom, recomendo demais, ri demais e minha esposa que não assiste anime normalmente começou a assistir por causa de um anime de culinária chamado Food Wars que é maravilhoso, também se divertiu muito, então assim agradou todo mundo.

Ju: Muito bom! Dra. Joelma.

Joelma: Um filme pra relaxar, tranquilo, Carol, que eu sugiro, que é muito bom também.

Ju: O quê que têm de bom no Carol?

Joelma: Ah, mostra o sentimento entre duas pessoas maduras que chegam no fim de uma forma sutil, mas um filme muito interessante.

Ju: Tá na minha lista porque obviamente eu tenho que assistir por causa do Oscar, né? Então… Carol está na minha lista. E você, Cris?

Cris: Então eu não fiz nada de interessante igual você, tá?

Ju: Você fez reforma, cê fez mudança.

Cris: Mas eu sei falar tudo o que tá acontecendo na Leroy, na C&C, mas tá no fim gente inclusive hoje, a gente… Olha o nível…

Átila: [interrompe] Recomenda a promoção de cimento.

Cris: Exatamente. Eu só queria dizer pra vocês o nível meu e da Juliana hoje, esse retorno assim, conturbado, ela saiu da reunião de pais e mestres do filho…

Ju: Na metade… Mãe de merda, né?

Cris: E eu larguei a mudança, inclusive embalaram a comida do cachorro e eu não consigo achar e ele está faminto, é isso!

Ju: É isso.

Cris: E então, mas pra não ficar louca eu assisti um documentário no Netflix que tem me feito pensar todos os dias nele. Chama Iris, que é o nome da personagem, que é Iris Apfel, e ela é uma senhora de 94 anos que ela tem uma vitalidade, ela percebe a vida de uma forma que te dá uma certa vergonha ser você, porque ela é uma mulher que viveu com uma intensidade, ela tem uma intensidade de vida, ela sai e vem dar dois tapa na sua cara e fala “ooou faz alguma coisa”. E la é uma executiva, ela criou uma grande marca de decoração, decorou lugares poucos, tipo Casa Branca e alguns tribunais e tudo mais, criou uma linha de estampa que fez sucesso no mundo inteiro, vendeu esse negócio e começou a se dedicar à curadoria de moda, moda e decoração. E ela é casada há 76 anos, ela se casou superjovem e ela é o marido dela cê fica assim “caramba, que sensacional essa dupla”. E enquanto ela é, ela é linda né, ela é uma mulher muito atraente e fala sobre isso no filme, e o senso estético que ela tem é absurdo, porque ela olha várias coisas diferente, o olhar dela é tão clínico, ela bate o olho e fala “isso combina com aquilo, combina com aquilo”, ela monta um visual que cê fala “caramba”, aquilo vira uma personalidade. E eu fico imaginando aquela mulher na 25, ela ia ficar louca, porque ela vai de cadeira de rodas, óbvio que ela fica cansada, ela tem uma vida muito agitada, ela vai no Brooklyn, ela vai em tudo ocupando é lugar, ela sai garimpando coisa, então nos armários dela tem Valentino e tem 25 de lá, entendeu. Tem de tudo e a história de vida dela com o marido e como ela percebe o mundo da moda, como ela percebe as culturas através da forma como as pessoas se vestem, e tudo o que a danada põe fica ótimo, aí cê fala “gente eu ficaria ridícula com isso e essa mulher tá deslumbrante”, então Iris é um exemplo de vida, no filme se comemora o aniversário do marido dela e no bolo dele tá escrito ‘Feliz Primeiro Centenário’.

Átila: Caramba.

Cris: Sabe? Bem vindo ao seu segundo centenário. Então isso faz toda a diferença. Assistam porque é muito inspirador, vale muito a pena.

Ju: Temos então? Muito obrigada aos convidados…

Cris: Opa, chegamos lá, gente. Obrigada, queridos, foi muito legal.

Átila: Um prazer!

Ju: Átila, cê aprendeu o caminho, então agora esperamos sempre!

Átila: Facinho! Eu sou peste de podcast.

Cris: Dra. Joelma muito obrigada pela disponibilidade, a correria, marca horário na agenda, muito querida…

Ju: Eu acho muito impressionante que uma médica venha aqui, porque meu pai não viria de jeito nenhum.

Joelma: É interessante a gente ver o outro lado, né? É uma geração de informação que eu, no meu tempo não existia isso. Quando eu vi o convite me chamou a atenção de ‘como isso é construído, né?’ Você lê aqui, você fala ‘como isso é construído?’ Eu nunca nunca imaginei que seria assim, né?

Ju: Não, e com certeza as pessoas que nos escutam também não imaginam que isso é muito engraçado, porque o áudio… Se fosse visto, todo mundo saberia exatamente como é, mas o áudio tem gente que acha que a gente tá em casa gravando de calcinha, tem gente que acha que a gente tá num super mega estúdio…

Átila: Eles não sabem, né?

Ju: Ninguém sabe! RISOS

Joelma: Ninguém tem ideia de como é.

Cris: Então tá, gente, beijo, beijo e até a semana que vem!

[sobe trilha]

[desce trilha]

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