Festival do Rio: 9 filmes que podem concorrer ao Oscar • B9

Festival do Rio: 9 filmes que podem concorrer ao Oscar

O complicado caminho de “Bingo: O Rei das Manhãs” por uma vaga na categoria de Filme Estrangeiro

por Virgílio Souza
Capa - Festival do Rio: 9 filmes que podem concorrer ao Oscar

O Festival do Rio reuniu alguns dos longas selecionados para representar seus respectivos países na próxima edição do Oscar. Como já sabemos, o candidato brasileiro ao troféu de melhor filme estrangeiro (conquista inédita para nosso cinema) será “Bingo: O Rei das Manhãs”. Abaixo, confira um pouco mais sobre 9 possíveis concorrentes e saiba como/quando poderá vê-los no Brasil.

“Zama” (Argentina)

A escolha de “Zama” como representante da Argentina é uma das mais interessantes da atual seleção. Lançado no Festival de Veneza, o longa de Lucrecia Martel (de “O Pântano”, “A Menina Santa” e “A Mulher Sem Cabeça”) tem rendido discussões importantes sobre cinema, política e história desde então, sem que jamais se perca o filme de vista. As entrevistas concedidas pela diretora ao site Notebook e à revista Film Comment, por exemplo, são das melhores do ano.

Na tela, acompanhamos a desgraça de Dom Diego, funcionário da coroa espanhola que acumula frustrações no novo continente durante o século 17. Sem conseguir retornar à metrópole nem confirmar sua transferência para uma cidade maior na colônia, ele vive de encontros passageiros e falsas esperanças enquanto busca “ser alguém na vida”. A câmera observa a queda de perto, dos corredores das residências oficiais aos acampamentos no meio da mata, e encontra seus grandes momentos quando se deixa levar pelo desconhecido, tornando reais seus pesadelos.

O principal trunfo de Martel é enquadrar o protagonista (vivido por Daniel Giménez Cacho) de modo a fugir de padrões do hemisfério norte, que têm a figura do colonizador aventureiro e virtuoso no centro de grande parte de suas narrativas. Co-produção brasileira, “Zama” conta com nomes do cinema nacional na equipe e no elenco, incluindo um ótimo Matheus Nachtergaele, e tem estreia prevista para 25 de janeiro do ano que vem. A Argentina já faturou o Oscar de melhor filme estrangeiro em duas ocasiões e segue como o único país latino-americano premiado na categoria.

“A Ciambra” (Itália)

Outro concorrente com participação brasileira é o escolhido dos italianos, fruto de uma parceria da nacional RT Features com o americano Martin Scorsese. A produção tem gabarito internacional, mas a história não poderia ser mais local e específica: “A Ciambra” segue o jovem Pio, que cresce numa insegura comunidade romani no sul da Itália. A trama central corre como se espera, testando o amadurecimento do menino ao colocá-lo no mundo do crime e levá-lo a tomar decisões complicadas. O aspecto mais marcante do filme, no entanto, é sua proposta estética.

Na direção, Jonas Carpignano mantém o interesse vivo com um estilo documental, que reúne câmera na mão, foco no cotidiano e um elenco de atores locais — muitos dos personagens, incluindo o protagonista, Pio Amato, mantém os nomes de seus intérpretes. A abordagem não é particularmente original, mas tem sucesso sempre que a câmera adentra, sem condescendência, esses espaços marginalizados também pelo cinema.

De acordo com a distribuidora, “A Ciambra” deve estrear nos circuito comercial entre dezembro deste ano e janeiro do próximo. No Oscar, a Itália segue recordista de troféus entre os estrangeiros: são 14 prêmios, o último conquistado por “A Grande Beleza” em 2014.

“120 Batimentos por Minuto” (França)

Se chega apenas em segundo na quantidade de conquistas, com 12 estatuetas, a França fica no topo do pódio quando o assunto são indicações. Foram 39 na história, sete a mais que os vizinhos italianos, mas os franceses não vencem na categoria desde 1992. Quem tenta mudar o panorama recente é Robin Campillo, outro jovem diretor representando uma escola tradicional, com seu drama sobre a epidemia de AIDS em Paris no decorrer dos anos noventa.

Antigo ativista da Act Up, organização retratada pelo filme, o diretor dedica boa parte do tempo às discussões do grupo. É num desses encontros que conhecemos Nathan, e também  ali que ele conhece Sean, com quem desenvolve um relacionamento. A partir daí, “120 Batimentos por Minuto” segue ao lado do casal até o fim, protesto após protesto e noite após noite.

O elenco é numeroso e competente, e os diálogos carregados funcionam para dar voz a suas histórias particulares, que são a base da narrativa. Como em “Eastern Boys”, seu trabalho anterior, Campillo tem força para lidar tanto com questões mais gerais, debatidas coletivamente, quanto com a intimidade dos personagens, recolhidos em  silêncio dentro de seus apartamentos. O resultado é um filme que oscila no ritmo, mas demonstra força de todos os lados.

Vencedor do Grande Prêmio do Júri no último Festival de Cannes, “120BPM” ainda não tem previsão de estreia no Brasil.

“Em Pedaços” (Alemanha)

Também saído da mostra competitiva de Cannes, o alemão “Em Pedaços” carrega boas credenciais na disputa por uma indicação ao Oscar. A primeira delas é Diane Kruger, que conquistou o prêmio de melhor atriz no festival francês e interpreta uma das personagens mais complexas da carreira. Na trama, ela é Katja, uma mulher que tenta retornar à normalidade após um atentado terrorista vitimar sua família.

O segundo grande trunfo é a direção de Fatih Akin, que não trata o luto como um simples fato na vida da protagonista e dá atenção a elementos rotineiros (mas não menos poderosos) que costumam ser deixados de lado em histórias do tipo. Adorado no circuito arthouse no início dos anos 2000, quando lançou “Contra a Parede” e “Do Outro Lado”, ele tem em mãos um excelente material para retomar o apreço da crítica e conquistar novas fatias do público.

Para completar a série de elementos a seu favor, “Em Pedaços” lida com temáticas socialmente relevantes, sobretudo em seu país de origem. O foco é sempre voltado para a protagonista, mas aqui e ali transparecem discursos mais amplos, sobre intolerância e racismo, extrapolando o drama pessoal e proporcionando um desfecho memorável.

A Alemanha tenta sua terceira vitória após a reunificação. O filme (assim como “Tschick”, outro trabalho de Akin em cartaz no Festival do Rio) ainda não tem previsão de lançamento no Brasil.

“Thelma” (Noruega)

Essa é a segunda vez que Joachim Trier representa seu país no Oscar. O diretor havia sido escolhido por “Começar de Novo” em 2006, quando não conseguiu passar das eliminatórias iniciais da categoria. Agora, mais experiente depois de realizar “Oslo, 31 de Agosto” e “Mais Forte Que Bombas”, ele tenta a sorte com um filme bem diferente dos demais e busca um troféu inédito para os noruegueses, já indicados outras cinco vezes.

No longa, Thelma é uma garota que deixa a casa dos pais ultraconservadores para ir à faculdade, onde tem contato com um mundo completamente novo. Sua passagem à vida adulta, que já seria conturbada pelo contraste entre a rigidez da criação religiosa e a liberdade que o relacionamento com a colega Anja proporciona, se torna ainda mais complicada quando ela começa a sofrer convulsões violentas. Daí em diante, acontecimentos estranhos começam a se acumular e levam a protagonista a descobrir mais sobre a própria história.

“Thelma”, o filme, acerta em especial nos momentos em que investe no suspense psicológico, provocando pequenos choques para alimentar a tensão. O mistério ao redor da jovem é interessante o suficiente para sustentar as duas horas de duração, e é curioso observar as dinâmicas próprias de uma sociedade em que a religiosidade é exceção, mas o que realmente importa são os trechos em que o sobrenatural ganha a tela. O longa tem estreia marcada para 30 de novembro nos cinemas brasileiros.

“Rastros” (Polônia)

Questões semelhantes aparecem em “Rastros”, o candidato polonês do ano. Vencedor do Urso de Prata de melhor direção no Festival de Berlim, o filme de Agnieszka Holland  (de “O Jardim Secreto”) observa o impacto de eventos extraordinários num vilarejo na fronteira com a República Tcheca. Animais aparecem mortos misteriosamente, ataques contra os moradores acontecem no cair da noite e explicações místicas passam a ser cada vez mais aceitáveis: tudo isso faz parte do imaginário do longa.

Aqui, contudo, a perspectiva não é religiosa. Seria uma vingança da natureza contra a população local, formada em sua maioria por caçadores? Ou a senhora Duszejko, protagonista da história, tem razão em desconfiar de seu vizinho violento? Enquanto considera as alternativas, a direção tem sucesso ao usar as paisagens como uma ameaça constante pela sensação de isolamento que criam. Por outro lado, a condução da trama deixa a desejar, e o filme acaba se alongando demais quando finalmente decide oferecer explicações.

Ainda não há previsão de lançamento para “Rastros”. A Polônia já conquistou o Oscar de melhor filme estrangeiro uma vez: “Ida” foi o primeiro vencedor do país, em 2015.

“Verão 1993” (Espanha)

O escolhido da Espanha também fez sua estreia em Berlim. “Verão 1993” levou o principal prêmio da mostra Geração, dedicada a obras ligadas, temática ou esteticamente, ao período da infância e da adolescência. Estreia de Carla Simón em longas, o filme tem como personagem principal a garotinha Frida, de seis anos, que passa a morar com o tio após a morte da mãe.

A mudança não atinge só o núcleo familiar: natural de Barcelona, a menina agora se vê numa casa de campo longe da realidade que conhecia e, tão cedo, precisa se adaptar em diversos sentidos à nova condição. Os melhores momentos são resultado de um trabalho de câmera que coloca o espectador na altura dos olhos da protagonista, cheia de carisma e energia. A experiência só é tão marcante, de todo modo, porque o texto de Simón e da co-roteirista Valentina Viso também reflete o ponto de vista infantil, sem receio de dar destaque para suas dúvidas mais inocentes.

“Verão 1993” segue sem previsão de estreia no Brasil. Caso chegue à fase final da categoria, será o 20º indicado da Espanha, que já conquistou quatro prêmios na história.

“Tom of Finland” (Finlândia)

Mundo afora, as sessões de “Tom of Finland” tem sido animadas pelo próprio público, que comparece vestindo figurinos inspirados nas criações do artista que dá nome ao filme. Dirigido por Dome Karukoski, o longa é bem menos expressivo e funciona mais como uma cinebiografia tradicional do que como algo capaz de refletir a coragem e a inventividade da figura retratada. A impressão é de que vários aspectos valiosos de sua história estão reunidos, mas dispostos de uma maneira que tira deles qualquer especificidade ou profundidade.

Parece difícil extrair do filme o peso da arte de Tom (capaz de influenciar gente de renome, como Freddie Mercury e o grupo Village People) ou mesmo compreender melhor seu processo criativo, suas próprias referências. Ao mesmo tempo, o diretor também não oferece grandes revelações sobre sua biografia e, embora dedique maior atenção à ideia de ser homossexual num país extremamente conservador em meados do século 20, registra tudo sem grande envolvimento emocional, como se seu interesse fosse apenas informativo. O destaque fica por conta de Pekka Strang no papel principal, por sua capacidade de delimitar momentos cruciais da trajetória do artista com poucas expressões e palavras.

“Tom of Finland”, que pode se tornar apenas o segundo indicado ao Oscar de melhor filme estrangeiro da história de seu país, não tem previsão de lançamento no Brasil. O próximo trabalho de Karukoski, no entanto, deve chegar por aqui: ele está atualmente filmando “Tolkien”, cinebiografia do autor de “O Senhor dos Anéis” e sua estreia em língua inglesa.

“Conversa Fiada” (Taiwan)

Escolhido como representante de Taiwan para a próxima edição do Oscar, o longa tenta quebrar tabus desde o início. A diretora Huang Hui-chen usa o filme para compreender a história da mãe, que ainda jovem se divorciou do marido agressivo, passando a criar as filhas sozinha e a se relacionar apenas com outras mulheres. Os longos silêncios dão a entender a gravidade dos assuntos abordados pela primeira vez na família e em voz alta, enquanto a forma de filmar remete a vídeos caseiros, com entrevistas que mais parecem conversas longas e sem direção aparente entre familiares. Pelo caminho, cabe a Anu (a mãe) provocar riso e surpresa ao oferecer respostas inesperadas ou se desviar dos tópicos mais sensíveis. Assim, os relatos vão se enfileirando calmamente até resultarem em momentos de emoção genuína.

“Conversa Fiada” foi o vencedor do Teddy de melhor documentário no último Festival de Berlim. No prêmio, dedicado a obras com temática LGBT, o filme fez dobradinha com outro pré-selecionado para o Oscar, o chileno “Uma Mulher Fantástica” (que discutimos nesse podcast). Caso faça sucesso entre os membros da Academia, o filme de Hui-chen será o primeiro taiwanês entre os finalistas desde a vitória de “O Tigre e o Dragão” em 2001 — a única do país até hoje. E, pelo visto, será preciso isso e mais um pouco para que o filme chegue aos cinemas brasileiros. Até o momento, não há sequer previsão de estreia.

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