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Incapaz de articular o drama, “WandaVision” é vítima do próprio suspense

Episódio final apressado nas resoluções é apenas a ponta de um iceberg de problemas de uma minissérie sobre luto presa ao futuro

por Pedro Strazza

⚠️ AVISO: Contém SPOILERS do último episódio da temporada.

O sinal mais evidente de que algo está fora do lugar no último episódio de “WandaVision” envolve por coincidência o que está no centro de todas as discussões da minissérie, o super-herói Visão – ou melhor, o corpo do super-herói Visão. Depois de oito capítulos, o público é apresentado a um confronto entre duas versões do sintozóide em meio ao grande combate final da protagonista Wanda Maximoff (Elizabeth Olsen) com a vilã Agatha Harkness (Kathryn Hahn): de um lado o Visão “humano”, criado a partir das memórias da heroína, e do outro o “artificial”, fruto dos esforços da agência S.W.O.R.D. para conseguir uma nova arma. O conflito entre os dois seres é resolvido quando o mocinho convence o último de que ele não é o Visão, e após um longo debate o corpo do personagem é aparentemente ressuscitado pelas memórias do primeiro.

Enquanto a versão do herói que o público batizou de “Visão Branco” dispara em direção ao horizonte, desorientado talvez por conta de sua condição que há de se converter numa nova encarnação do personagem dentro do universo do Marvel Studios, é difícil não pensar: o que diabos a produção está pensando ao trazer de volta à vida aquele que em tese é base de uma grande história de luto, ainda mais quando seu retorno acontece sem qualquer consequência ao andamento da narrativa? Depois de nove episódios, o amor da vida de Wanda está de volta, mas mesmo com tanta discussão sobre morte isso não tem qualquer significado aos eventos – e a única justificativa à vista é de que ela não sabe da notícia.

Naquele momento essa incoerência não importa à minissérie ou (pelo visto) ao público, porém, e esta constatação não apenas ajuda a explicar parte das limitações de “WandaVision” como ilustra o funcionamento de sua dinâmica com o público ao longo dos últimos dois meses. Muito se fala sobre como o seriado criado por Jac Schaeffer e dirigido por Matt Shakman aplica na lógica das séries o modelo de contação de histórias do Marvel Studios, cuja raiz por sua vez é a perpétua ilusão de mudança dos quadrinhos, mas pouco se comenta dos efeitos desta estruturação para a trama da minissérie além dos efeitos mais óbvios de amplificação da conexão com outros produtos do estúdio. Se por um lado “WandaVision” nas redes sociais se tornou vítima da antecipação do público pelas próximas histórias do dito MCU, ela também sofre por ter sua narrativa necessariamente inscrita em outras tantas partes – e pior, de precisar focar nisso no curto e longo prazo.

Matt Shakman (à direita) orienta Elizabeth Olsen no set

Embora a estrutura seja uma questão em si, o problema maior desta interconexão mora sobretudo no direcionamento uniforme da produção. Pintada como um mistério, a história de Wanda e Visão (Paul Bettany) aos poucos é revelada considerando-se apenas o arco central da protagonista, cujo luto não apenas é a raiz da criação da versão sitcom de Westville como um norte a ser alcançado. É um entendimento equivocado dizer que o percurso aqui é o ponto da minissérie, pois com o suspense solucionado ele é (e se tornou) um empecilho aos produtores: o importante a Schaeffer e Shakman é chegar ao status da heroína como Feiticeira Escarlate, como o finale bem deixa evidente, enquanto o luto serve de escada para este status.

Neste ínterim, muito se é deixado de lado, até porque todo e qualquer elemento de trama cumpre um papel exclusivamente funcional, e neste sentido o retorno do Visão acaba sendo uma contradição menor porque no fim ele parece pertencer mesmo a outro universo dentro do MCU. Depois de revelar a verdadeira identidade da vilã Agatha, por exemplo, “WandaVision” não se preocupa em explicar suas motivações ou se aprofundar no descontrole dos poderes de Wanda, bastando a contextualização vaga e movida pelo jingle “Agatha All Along”. Mesmo o embate do Visão das memórias da heroína com sua própria condição é empurrado para debaixo do tapete após a revelação de como aquela realidade foi proporcionada, pois a partir daquele momento as prioridades se tornam outras.

Essa condição obviamente se deve ao caráter episódico das produções do Marvel Studios e seu esforço hercúleo de gerenciar um universo de super-heróis, conforme a trama da minissérie está e será conectada a outros filmes e seriados do estúdio. O que frustra tanto no caso de “WandaVision”, porém, é a cegueira que resulta desta consciência. É tudo uma maldição a ser resolvida pelos criadores ao invés de uma possibilidade para as necessidades do drama, e a perpétua ilusão de mudança se torna apenas uma ilusão de movimento.

Muito se é deixado de lado, até porque todo e qualquer elemento de trama cumpre um papel exclusivamente funcional

Enquanto isso ajuda os fãs a se decepcionar com as inúmeras teorias que não ganharam vida na história (de Mephisto a Ultron, passando pelos X-Men), a decepção maior é perceber o quão pouco os realizadores se aproveitam do formato para expandir os temas e personagens. A maior porção do tempo da produção é dedicada ao suspense, com a narrativa geral dividida entre as recriações de sitcoms e as explicações de como todo aquele cenário foi gerado. O pouco que sobra para desenvolver os personagens é feito à base do didatismo, pouco interessado na maneira como aqueles heróis se relacionam com o luto para priorizar o porquê deles estarem naquela situação.

O drama é pífio e as cenas piores ainda. A polêmica das redes sociais em torno dos diálogos ilustra parte do entrave, mas é a cena em que Wanda cria aquele mundo que se reforça a fragilidade do arco, na sublimação do sentimento de dor em prol da compreensão final daquele cenário. Quem diria que um episódio de flashbacks poderia ser tão desinteressado por um momento tão crucial da vida de um personagem?

É claro que “WandaVision” não se estrutura desta forma à toa. Além do engajamento, o suspense de cada episódio ajuda a minissérie também a justificar o detalhismo de suas recriações, que junto das gags pontuais acabam por se tornar o único alicerce discernível dentro de uma narrativa condenada a seguir um modelo de conduta. A produção desperdiça muito neste momento (nada explica o casting de Debra Jo Rupp e Fred Melamed para pontas, por exemplo), mas seu esforço rende pelo menos uma ilusão de profundidade na reta inicial e algum alívio da rotina didática na reta final – em especial porque Olsen, Bettany e Hahn se mostram confortáveis no exercício de emulação, a ver pela perfeita inflexão de Claire Dunphy da primeira no sétimo episódio.

A decepção maior é perceber o quão pouco os realizadores se aproveitam do formato para expandir temas e personagens

O problema é o vazio, entretanto, em especial quando em um tema tão expansivo como do luto. Mesmo que se ensaie como algo mais contido e guiado pela exploração de sua protagonista, “WandaVision” consegue soar mais genérico e levado pelo espetáculo que outros filmes da Marvel situados no trauma da morte, como “Vingadores: Ultimato” e “Doutor Estranho”. Dos discursos à própria trajetória, a jornada de Wanda na série nunca escapa de uma oratória motivacional, cega talvez pela própria ótica de um produto cuja premissa é de recontextualizar um coadjuvante como dono da própria história.

É uma brincadeira constante dizer que os filmes do Marvel Studios existem apenas para vender os próximos capítulos, com a cena pós-créditos sempre servindo de item mais essencial aos fãs nas sessões. Mas depois de nove episódios, o desfecho real de “WandaVision” parece existir mesmo na última cena, com Wanda estudando livros em algum lugar no meio do nada, que na conclusão real da história, com ela se despedindo do Visão e de sua família e assumindo a superação do luto. Em um drama sobre revisitar o passado, a minissérie conseguiu manter-se atenta apenas ao futuro.

“WandaVision” está disponível no Disney+.

nota do crítico

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