Transcrição Mamilos 62 • B9
Mamilos (Transcrição)

Transcrição Mamilos 62

Capa - Transcrição Mamilos 62

Jornalismo de peito aberto

Locutores: Cris Bartis, Ju Wallauer, Caio Corraini, Oga Mendonça e Mariana Della Barba

Vinheta de abertura: “Este podcast é apresentado por: B9.com.br” seguida por música instrumental no ritmo de jazz de Mulatu Astake, um compositor nascido na Etiópia que mescla jazz, salsa e funk com toques arábes e indianos.

Ju Bem vindos ao Mamilos. Eu sou a Ju-ba Lauer (risos) e essa é a:

Cris: Cris Bartis

Ju Estamos aqui para discutir polêmicas com gentileza e empatia. Bora conversar?!

Cris: Gente, foi muito bom isso. (risos) Na verdade não foi a primeira vez isso, né, Ju?

Ju Não.

Cris: Ju é: Juliana Wallauer. Então eu falo: Ju-Wallauer. E um cara disse: “Não! Eu tenho certeza que é Juba Lauer.” (risos) E eu fiquei a semana inteira chamando ela de Juba Lauer.

Ju Pode ser, pode ser! Para vocês tudo pode ser!

Cris: Vamos então ao som do Mamilos? Caio, pode ser pedido especial?! Diz que sim, diz que sim, diz que sim…! Faz aquilo que a gente combinou?!

Caio: Olá, personas! Corraini mandou robô falar por ele novamente porque a casa estava barulhenta demais neste feriado. Lembrando sempre que se você quiser colaborar com conteúdo musical deste programa, pode nos recomendar bandas ou artistas independentes no e-mail: [email protected] . E hoje nós vamos ouvir a Mulatu Astake! Um compositor da Etiópia cuja música é pontuada por jazz, salsa e funk. Então, fiquem aí com Mulatu Astake no som do Mamilos.

Sobe som da trilha instrumental e vai diminuindo até ficar como som de fundo.

Ju E o beijo para:

Cris: Rio de Janeiro, Rio de Janeiro.

Ju Santa Cruz do Capibaribe, Pernambuco.

Cris: Abelardo Luz em Santa Catarina.

Ju E para o Twitter, que fez 10 anos.

Cris: Beijo, Twitter!

Ju Um beijo para todos os ouvintes que estão se marcando no mapa dos mamileiros. Tá muito legal, não é, Cris?

Cris: Muito! Eu descobri dois ouvintes na minha rua. Fiquei toda emocionada!

Ju Ai que legal! Já pensou você passeando com o cachorro e encontra um mamileiro?

Cris: Eu passo com o rosto bem levantado para ver se alguém… (gargalhadas). Gente, sou eu! Vou sair com uma plaquinha. É muito legal!

Ju Fale com Mamilos! Vem falar com a gente, escolhe o canal! Pode ser pelo Facebook do Mamilos.

Cris: No Twitter, Periscope, Instagram e Pinterest com perfil @Mamilospod.

Ju Pelo e-mail: [email protected]

Cris: E não esqueça que tem a página do Mamilos no B9, onde vocês podem comentar.

Ju Vocês também podem contribuir com este projeto lindo pelo Patreon. Patreon.com/mamilos. Vem ser o nosso patrono.

Cris: Tem merchan esta semana?

Ju Tem, gente! Finalmente! Eu prometi que ia fazer, mas estava muito apertada de costura (risos). Sempre ficava para a semana seguinte, para a semana seguinte, para a semana seguintes… Foi. Vai sair, é a última turma de Love Brandis. O dia é 30 de abril, é um sábado, último sábado de abril. Numa casa muito fofinha, um espaço super gostosinho na Vila Leopoldina. Corre para fazer inscrição! Da última vez as vagas esgotaram em duas semanas. O link vai tá na pauta.
Vamos então para o “Fala que eu te escuto!”.

—–
Sobe trilha instrumental.
Quadro: “Fala que eu te escuto!”

Cris: Gente, tem uma galera fazendo maratona Mamilos. E uma galera escreve. Sabe uma coisa interessante, às vezes a pessoa escreve “Olha, lá no programa 07 vocês falaram…”. Caramba! Eu não lembro! Então tem uma galera escutando. Só esta semana foram mais de 14 mil pessoas escutando programas mais antigos. Então o que a gente queria fazer? Algumas playlists com assuntos relacionados para que as pessoas soubessem e, com interesse em determinado tema, ouvissem ele na sequência. E como não poderia deixar de ser, o primeiro que gente elencou aqui é sobre: Política! Então tem o Mamilos 05 sobre os desafios da democracia. O Mamilos 16, que sobre protestos. O Mamilos 25 sobre jornalismo. Mamilos 27 sobre reforma política e o Mamilos mais recente, o 60, sobre a Lava Jato. O link de cada um deles vai estar na pauta. Faça a sua playlist também, manda aí para a gente, dentro de temas relacionados que vocês entendem que possam no mesmo grupinho. Façam até taxonomia. (risos)

Ju É que é muito bacana porque, às vezes, uma coisa que a gente falou lá está construindo o que a gente está falando. A gente não se dá conta disso, mas está, né! Porque para a gente é a mesma conversa. A gente está a todo o momento falando juntos. Mas tem muita gente que foi chegando no meio dessa caminhada, então, quando você volta nesses programas que nos ajudaram a construir o raciocínio que a gente tem hoje, ajuda bastante, as coisas ficam mais claras.

Cris: Isso! Você pode acessar essa playlist sobre política no link específico.

Ju soundcloud.com/mamilospod/sets/política.

Cris: Então vai tá na pauta! Clica lá, ouve na sequência. Bem legal!

Ju Muito bem, o que que teve de e-mail essa semana, Cris?

Cris: E-mail para mais de metro, né?

Ju Muito, muito e muito. E o que mais pegou foi a questão do vegetarianismo, né?

Cris: É. Eu fiquei surpresa e você não, né?

Ju Não!

Cris: Você já sabia que era um tema sensível.

Ju Eu sabia muito bem… Sei muito bem como as pessoas gostam de falar sobre esse assunto e como provoca, realmente, polêmicas. Merece uma discussão mais
aprofundada, Cris?

Cris: Tá na lista, a gente tem que fazer uma teta sobre isso.

Ju Tá prometido! E aí? Vamos para o primeiro e-mail? Da Dani Mônica: “Olá, meninas. Meu nome é Daniela Mônica, me alimento de qualquer coisa, o lance é não passar fome. Eu sou de um ‘país’ que se chama Pará. Sou engenheira florestal na Amazônia. (Ai, que clichê!). E gostaria de fazer algumas observações sobre o episódio 61, aquele sobre o incidente com o Rodrigo Hilbert, que vocês bravamente chacoalharam os ouvintes citadinos ou falsos moralistas de que a carne não surge na bandeja do supermercado. Meninas, o assunto de comer carne não encerra nos vegetarianos e veganos, o assunto termina nas áreas desmatadas na Amazônia que viram pasto. Sabe, Ju e Cris, me choca ver o quanto um assunto tão importante para a soberania nacional, a Amazônia, fica invisibilizado. E fico mais triste quando lembram dela, mais frequentemente, quando se falta água no Rio de Janeiro ou São Paulo, como se a culpa fosse só da Amazônia. Mas o assunto não é esse. ‘Comer ou não comer carne, eis a questão!’ Não. Não. Não. Não é essa a questão agora. A questão é: de onde esta carne está vindo. Como foi manejado o animal? A carne que eu como é de situação análoga à escravidão? Esse bife recolheu o ICMS? Esse churrasco aqui, trouxe algum benefício para a comunidade ao redor do abatedouro? O ossobuco desse restaurante chiquérrimo, feito por um chefe fresquíssimo, desmatou quanto? Maninhas, essa temporada do Tempero de Família está falando de agricultura familiar, e dentro dos inúmeros programas de culinária que existem hoje, esse é o que mais se assemelha a uma vida real de uma parcela enorme da população brasileira. Quando escutei o programa, estava no barco que me leva todo dia para o trabalho. Olhei ao redor e está é a agricultura de hoje. Não é de uma vó, onde passei a infância, ou de um parente distante, também deles. Somos a região norte, nordeste, o centro-oeste, o sul e muito do sudeste maravilha que trabalhamos e vivemos com agricultura familiar daquele jeitinho. Se eu quiser comer, eu vou no meu quintal e vou matar um animal. Se quiser sopa, vou colher e por aí vai. Quando finalmente tem um programa que dedica uma temporada inteira sobre isso, acontece essa celeuma toda. É querer fechar os olhos para o Brasil. Meninas, façam como o rio Amazonas, corram para o Pará.”

Cris: Leandro Aleixo disse: “Querida Cris e Ju, sou estudante do sexto período do curso de zootecnia, cursando na Universidade Federal Rural da Amazônia, ouvindo Mamilos 61, me senti profissionalmente incomodado. Desde que entrei no curso, ouço e pratico os princípios para promover o bem estar animal, não apenas para deixar a carne do animal macia, e sim, como respeito ao recurso que estamos utilizando. Não que não seja verdade a relação entre o stress animal e a produção de ácido lácteo e sua deposição no músculo, o que realmente deixa sua carne mais dura. Então, peço, humildemente, que pesquisem mais um pouco sobre bem estar em produção animal, realmente fiquei ofendido com a colocação do Marco Túlio: ‘Imagine que tem uma profissão em que a pessoa é paga para pensar em formas eficientes de matar animais’. Sim, eu penso em maneiras de ele morrer sem dor e sem stress. Mas não pensando apenas na qualidade da carne, mas também pensando em não dar sofrimento ao animal que está servindo de alimento para o ser humano. O quanto o pus do leite… Oi?! Uma vaca com uma mastite, que é a inflação da teta, não vai para a ordenha por conta de uma normativa do Ministério da Agricultura e Pecuária e Abastecimento. O que posso dizer é que a política de controle da qualidade do leite é uma das mais bem executadas quando se trata da vida pecuária. E a multa não compensa a lactação e uma ou duas vacas doentes. Muito obrigada pelo espaço e por abrir aos poucos a cabeça desse peão do mato aqui.”.

Ju Fofo, né??

Cris: Muito. Peão do mato desse, hein?

Ju O que a gente mais gosta é o quanto vocês contribuem com a discussão e o quanto a gente aprende com isso, né, Cris?

Cris: Muito.

Ju Que a gente começa e depois vocês nos abrem e descortinam universos mais ricos dos que a gente conhece.

Cris: Tem um comentário muito interessante. Muita gente questionando, muita gente trazendo informação nova, eu li um negócio superinteressante de uma pessoa que nos escreveu, a gente só relacionou alguns mesmo, mas eu achei esse ponto muito bom, falando “Nem todo mundo pode se tornar vegetariano.” E questionando isso, falando, inclusive, de lugares onde não existem alimentos que perdurem, que não seja animal. Então é muito rico esse universo.

Ju Eu achei interessante o quanto o interesse pelo vegetarianismo. Que não era essa a discussão que a gente estava tendo. A discussão era sobre a polêmica do programa e fim. Mas vale sim, muito a pena, a gente expandir isso pra ir a fundo na questão do vegetarianismo. Tanto a questão ética, quanto as implicações de produção, quanto às implicações ambientais disso, dessas escolhas.

Cris: Eu acho que muito do que… Quando Marco Túlio fala que é impossível defender o pró-carnívoro. É porque a gente está falando de sustentabilidade.

Ju Ele estava falando bastante da questão ética também, mas aí, vale um programa para conversar sobre ética. Eu acho que teve gente que reclamou que não teve contraponto na mesa, mas não era isso. (risos)

Ju: Bom, a Mama, a Marleide, falou “Querida, só queria comentar que a licença paternidade é um item do marco legal da primeira infância, esse marco não foi criado do nada, foi amplamente discutido em comissões, seminários, entre diversos ministérios e sociedade civil e a ciência vem provando que investir na primeira infância traz retorno, inclusive econômico para o país, existem diversos estudos de Harvard que provam isso, com um deles o Heckman ganhou inclusive o Nobel de economia” a gente vai colocar o link na pauta.

Cris: Vamos então para o Trending Topics?

(Trending Topics)

Cris: Vou começar apresentando os nossos cheirosos colaboradores.

Ju: Primeiro a voz mais conhecida, a voz que um ouvinte escreveu para a gente dizendo que assim a voz dele é tão maravilhosa, mas é tão maravilhosa, que se o ouvinte tivesse essa voz iria passar o dia narrando seu próprio dia só para ficar escutando essa voz…

Cris e Ju: (risos)

Ju: Muito bom cara! Fala.

Oga: Se eu pudesse ficar vermelho eu estaria agora.

Cris e Ju: (risos)

Oga: É isso, a pessoa elogia sua voz aí você pigarreia tudo no microfone, é o “anti-marketing”.

Cris e Ju: (risos)

Oga: Olá, eu sou o Oga Mendonça, sou designer de formação, mas atualmente eu produzo conteúdo em vídeo, em várias plataformas.

Ju: Qual o conteúdo mais maravilhoso que você já fez Oga?

Cris e Ju: (risos)

Oga: É, assim, pensando como…

Ju: Tem uma resposta certa e tem uma resposta pra mim (risos)

Oga: Tá bom, o clipe do Rico Dalasam, riquíssima …

Todos: (risos)

Oga: Mas para mim foi um dos mais legais mesmo.

Cris: Ai, é uma delicia.

Ju: Gente, o Oga me deu o melhor presente de aniversário, uma mensagem do Rico Dalasam de feliz aniversário pra mim, vocês não tem ideia de como eu fiquei feliz…

Cris: “Oi Juliana”

Ju: é muita exclusividade né gente.

Cris: bem isso né, é foi muito legal.

Todos: (risos)

Ju: Quem mais está na mesa? Pela primeira vez como colaboradora do Mamilos mas vocês já conhecem essa voz deliciosa por um programa que é muito famoso no Mamilos, Mari, se apresente.

Mari: Bom eu sou a Mari, Mariana Della Barba, eu sou Jornalista e mãe do Theo e da Liz, muito importante esta informação.

Cris e Ju: (risos)

Ju: Muito Bem!

Cris: Quase uma correspondente internacional né.

Ju: Eu diria que é uma correspondente internacional, é mais uma representante do grupo de jornalistas dos Mamilos, está forte este grupo né.

Oga: É verdade.

Mari: Meio perigoso isso (risos).

Cris: tá “profissa”!

Todos: (risos)

Cris: Vamos fazer aqui rapidinho o giro de notícias então, a primeira delas, nº 3: Projeto que permite transferência de passagens aéreas é aprovado pelo CCJ e pode seguir para Câmara. Uma resolução da ANAC estabelece que bilhetes de passagens aéreas é pessoal e intransferível, mas isso pode mudar com a aprovação por 16 votos a 0 pela comissão de constituição justiça e cidadania do projeto de lei 394/2014 do senador Ricardo Ferraço, o projeto será submetido agora ao congresso.
Parece óbvio, mas é difícil né?

Ju: Então, assim, eu sei que isso não quer dizer nada porque ainda tem que passar pelo congresso e tal, eu só coloquei aqui porque isso é tão relevante pra gente né, e é o tipo de coisa que não vai andar até o impeachment sair, mas assim eu nunca entendi, por que você não pode por exemplo, se no dia acontecer alguma coisa comigo eu não posso falar “Cris, vai no meu lugar”, não dá!

Cris: Tem algumas questões que são colocadas pelas companhias aéreas que estão sendo questionadas por este projeto de lei, e tem um ponto e contraponto, mas sólido o suficiente ele não é, então está indo pra frente esta discussão vamos torcer para dar certo.

Ju: Segundo: Sexismo e racismo derrubam presidente global da JWT. A agência JWT, do gigantesco grupo global WPP, anunciou no dia 18, que Tamara Ingram é a sua nova presidente global em substituição ao Gustavo Martinez, que enfrenta acusações de racismo e sexismo por parte da ex-chefe de comunicação da empresa, Erin Johnson. Erin o acusa ainda de anti-semitismo, uma vez que o foco do que ela classificou de “constrangedoras” piadas de Martinez invariavelmente giravam em torno de negros e judeus, um exemplo é que ele dizia “malditos judeus”, “macacos negros”, “macacos que não sabem usar computadores”, além de sugerir que estava em dúvida sobre em qual mulher da sua equipe poderia estuprar. “Leve” né.

Cris: Fica a dica que não passarão né, porque a Erin entrou com processo e apesar dele se defender, as provas que ela coloca, as declarações dela no processo, eu tive a oportunidade de ler bastante coisa, em reuniões com cerca de 60 pessoas ele falou isso, então assim não tem como você colocar uma colocação dessas nos altos sendo que 60 testemunhas… Não é possível 60 pessoas estão mentindo, então ficou aquele meio saia justa “ ah não ele preferiu se afastar” mas na verdade a gente sabe que não foi bem isso, e o fato de assumir uma mulher no lugar dele é bem forte, assim, manda uma mensagem muito forte que a imprensa não quer ser conivente com este tipo de situação, e ultrapassa bullying né, vira crime isso, é um crime que ele estava cometendo.

Ju: É, para quem trabalha neste mercado sabe que isto é muito comum e que apenas agora foi o primeiro sinal contundente de que gente, vocês vão começar a ser criminalizados por isso e uma coisa que eu inclusive falo na minha agência, assim, cara os teus novos subordinados são milênios, não brinca com essa galera, eles não estão devendo para ninguém e eles vão te processar.

Cris: Isso aí. Tópico nº 1 agora, vamos fazer só um “wrap up” dos últimos acontecimentos desde o programa da lava jato, que nós fizemos o programa no número 60, no programa 61 a gente falou “gente não tem como a gente falar, está acontecendo uma coisa atrás da outra” pois para vocês não perderem o fio da miada a gente vai colocar aqui uma colocação rápida do que tem rolado esses dias. Então dia 16, a Dilma anunciou o Lula como ministro da casa civil e Sérgio Mouro divulgou grampos ilegais de autoridades com a prerrogativa de fórum, no dia 17 a comissão de impeachment foi instalada, Lula tomou pose como ministro e na sequência a sua pose é suspensa após decisão judicial, Lula divulga carta aberta e pede justiça pelo estado de direito, manifestantes contrário ao governo acamparam na Avenida Paulista em frente à FIESP para protestar, no dia 18, manifestações em defesa da democracia e do governo levaram cerca de 1 milhão de pessoas as ruas, em protestos realizados em diferentes cidades do país, o ministro Gilmar Mendes suspendeu a pose e a nomeação de Lula e determinou a volta das investigações para as mãos de Sérgio Mouro, no dia 20 a advocacia geral da união pediu novamente ao STF liminar para a nomeação de Lula, 6 dos mais respeitados juristas do Brasil juntos com os advogados de Lula impetraram Habeas Corpus no STF contra a decisão do ministro Gilmar Mendes, dia 22, como os ministros do STF então reagiram a esse pedido que chegou? O Fachin se declarou suspeito para julgar, o Luiz Fux e a Rosa Weber negaram o pedido para a anulação da decisão do Gilmar Mendes e o Teori Zavascki determinou que Mouro envie pro STF as investigações da lava jato que envolvem o ex-Presidente Lula, a PF também deflagrou a 26ª fase da operação lava jato, que é a operação Xepa, e na Odebrecht foram encontradas a lista de pagamento de mais de 200 políticos. O que vai acontecer agora na próxima semana? Tá claro que não existe um acordo no STF se vão acatar a decisão de não permitir que o Lula tome pose, então os 11 ministros vão se reunir numa plenária para analisar as decisões e chegar em uma conclusão, aguardemos.

Ju: Vamos para os Trending Topics então, enfim? Primeiro tema: o Presidente mais midiático de todos os tempos, o Presidente que faz amor com a mídia…

Cris: (risos)

Ju: “Obaminha paz e amor” vai para Cuba, e aí Cris, “Colé que é”?

Cris: Então, é muito, muito legal isso tudo que está acontecendo né, viver a história é complexo e divertido. Desde 1961 quando foi… Cuba ficou do lado da União Soviética na Guerra Fria a ilha vem sofrendo embargo econômico, comercial e financeiro dos Estados Unidos e dificultando isso também acaba inviabilizando muitas vezes o comércio que deveria existir entre os dois países, são 90 anos de afastamento, condenado por diversos setores como as Nações Unidas e agora o Obama faz mais um passo visitando o país rumo a derrubar este embargo, aconteceu agora no domingo. A ideia do Obama é terminar com o embargo de vez e reestabelecer as relações comerciais, principalmente turísticas com Cuba, aos poucos ele tenta avançar neste sentido e a visita à ilha é crucial, como Obama só tem mais um ano, que aquele né, está nos 45 do segundo tempo, a visita dele é muito simbólica e ela também é necessária para continuidade do processo depois que ele sair, é tipo eu vou aí não tem volta, pode até estancar mas voltar não vai voltar. Aí o discurso dele foi claro né, maravilhoso, num lugar super representativo com o Che Guevara ao fundo, assim, foi… foi foda, e ele falou palavras como “os jovens deste país precisam construir algo novo”, “eu acredito no futuro porque eu acredito que o povo Cubano pode tomar as decisões certas”, então foi muito emblemático mesmo.

Ju: Eles podem tomar… tem direito a voto? Eles vão votar? Eles podem tomar decisões certas? Tô perdida aqui gente (risos), perdi alguma coisa da história? Mas foi, não sei, foi um cutucão, ou foi um…

Cris: Não, foi muito nesse sentido sim, porque tem um contexto nessa história toda que foi: desde que o Fidel se afastou para cuidar da saúde em 2008 e o Raul, dito irmão do Fidel, assumiu tem acontecido aí uma série de pequenos passos para diminuir este embargo, principalmente começaram a surgir pequenas empresas privadas em Cuba, até então isto não existia, principalmente ali na área de turismo e começaram a também, a surgir trabalhadores autônomos, quando eles come… a… Estados Unidos bobo sou eu né, começaram a perceber estas sensíveis mudanças Obama decidiu reestabelecer relações diplomáticas com o país, porque claro está de olho no mercado lá que está começando a existir fortemente. E aí gente o que vocês viram sobre isso? O que vocês entendem desse embargue, essas ótimas intenções de Obama, Mari?

Mari: Eu acho que o que é bem importante do que você falou foi que ele está na reta final, o Obama ali né, então ele tem algumas pendências tipo a gente né, tô aqui no último momento de qualquer coisa preciso ver o que dá pra resolver, e ele tem…

Cris: o legado né.

21-30 minutos
Mari: (…) É, ele tem, sei lá, Oriente Médio, Palestina que tá mais complicado (risos) (…)

Cris: (Simulando o raciocínio de Obama) “Vou pro que tá mais fácil”…

Mari: É! E então, daí ele tem Cuba, né? Guantánamo também, então acho que aí ele resolveu atacar essa frente… E claro, o Obama sempre arrasa, né? Esse discurso dele foi super retransmitido e tal… Eu acho que não dá pra falar ainda o que vai acontecer, óbvio, mas é um passo sem volta e a gente viu.. Teve alguns protestos lá.. As damas de branco foram presas, não sei o que, teve um protesto, mas foi tudo muito… Saiu tudo muito conforme o esperado e tal… Então agora eu não sei, vamos ver…

Cris: Há quem diga que o embargo, inclusive, foi melhor pro Fidel. Acabou ajudando, porque, como fechou a ilha, tudo que ali foi feito não foi questionado, porque não existia luz sobre isso. Então assim, a população como um todo ficou extremamente prejudicada, porque você acaba perdendo qualquer chance de crescimento sem a troca, né, de compra e venda com outros países, com fronteiras fechadas. Mas enquanto regime, foi mais fácil manter o regime fechado do que seria se ele fosse aberto. Principalmente por tanto tempo, né? Mas vocês conseguem entender por que que os EUA conseguem manter relações com outros países socialistas, como a China – Inclusive a China agora já é o terceiro maior parceiro comercial dos EUA – Eles também tão super fortão lá com o Vietnã… Mas Cuba continua (…)

Ju E com outros países que não são democráticos, né? Porque, assim, isso pra mim pega muito… A aproximação romântica em relação a Cuba para mim é super difícil por causa disso. A gente vai bater, em todos os programas, em direitos humanos, em liberdades, em liberdade de expressão, bá bá bá… Não tem como passar pano pra país em que nada disso existe, em que nada disso é respeitado. E não tem contexto histórico, pra mim, que vai justificar. Pra mim, Juliana, não. E aí é engraçado isso, porque assim, essa não é a limitação que os EUA têm, porque tem relação comercial e relação diplomática com muitos outros países que são ditaduras também e que “direitos humanos, pero no mucho”, enfim, todas essas coisas. Então, qual é a diferença de Cuba? Não é democracia, não é direitos humanos e não é socialismo. Não é isso que tá mantendo eles afastados dos EUA.

Oga: A gente não pode esquecer que tem um movimento de cubanos nos EUA que são completamente contra, principalmente os republicanos, mesmo agora, na segunda, terceira geração de refugiados… Eles ainda são muito contra essa Cuba, ao regime… Então eu acho que ainda tem muita dor nisso. E aí também tem essas coisas que são meio… Assim, acho que uma zeitgeist do momento, né? Porque assim, Cuba tá querendo se abrir, tanto que adiou o show dos Rolling Stones, sabe? Pra não ter dois eventos em Cuba na mesma época, né? O Obama chegou, os caras empurraram o show dos Rolling Stones uma semana depois. Eu acho muito difícil comparar com China, porque assim, os EUA não poderia ignorar China, de forma alguma (…)

Ju Sim, não é uma opção, né?…

Oga: Se China criasse um outro sistema, tipo… Não teria como, assim. Não dá pros dois existirem no mesmo planeta. É uma relação em que eles dependem um do outro, e pronto, assim. Então, assim, Cuba era mais fácil ignorar e tinha uma pressão interna para que se ignorasse e pra tratar Cuba como vilão.

Ju Mais simbólico também, né?

Oga: Justamente! Tem um detalhe que eu acho bem… Puta, vai adiantar quase a minha dica no final do programa, enfim. Entrevistando alguns cubanos e brasileiros que foi fazer escola de cinema em Cuba, tudo é muito relativo também. Quando você conversa com um cubano, a relação que eles têm do regime, da falta de liberdade é muito delicada. Eu não vi nenhum dar um depoimento tão doloroso… Eu lembro que uma vez veio um grupo… Eu sempre caio para essa coisa da minha experiência, eu nunca fico citando muito livros, mas eu lembro que veio um grupo de rap no Brasil, tocar aqui. E aí eu falei “Pô, são grupos de rap. O que que esses caras vão falar?” Só que eles são autorizados pelo governo para vir. E tinha caras que tinham músicas, músicas que não questionavam tanto o governo, era uma coisa meio esquisita, assim. E eu fiquei conversando com um dos meninos… O cara ficou extremamente chocado com criança na rua! Isso que a gente tava no SESC Pompéia. Tipo assim, não tem criança… Não levei ele pra cracolândia. Ele viu uma criança passando! Então ele ficava fazendo umas pontes, umas relações que eu achava meio engraçado, porque pra ele a maior agressão era ter criança na rua! E eu falando “Pô, foram uns amigos meus fazer grafitti em Cuba, mas os caras também não tem comida.”… Ele falou “Mas todas têm pai. Se não tiver pai, alguém cuida. Não tem uma criança que dorme na rua”. Porque ele ficou chocado quando viu dormindo na rua. Então assim, eu sei que não é muito o foco da questão, mas eu fico pensando muito nesse, nessa visão (…)

Ju Não, Oga, mas não pode ser a escolha entre “Eu te dou comida ou liberdade”, né? Desculpa, mas a escolha não pode ser essa…

Oga: Não, não, sim, sim, sim! Mas eu digo assim: às vezes o jeito que a gente vê a relação com o capital, ele também é uma prisão. Então se você não tiver dinheiro, você não é livre! Em Cuba, eles desenvolveram um jeito, uma moeda muito diferente da nossa, então isso é muito complicado mesmo! Ao mesmo tempo em que o Estado é o provedor… Eu entendo. Eu acho que se eu fosse um cubano, eu seria um rebelde, mesmo achando, né?…

Ju Com certeza!

Oga: Eu acho que sim. Mas eu entendo assim: essa visão maniqueísta que a gente tem daqui, sem ler sobre Cuba, sem estar lá, eu acho que é muito complicada e muito perigosa. É a mesma coisa da China. Eu conversando com um amigo chinês, eu falando “Puts, mas tem essas coisas, né? De os chineses comerem criança…” Ele falou assim “ A China é um império que é o império que nunca diminuiu de tamanho. Até hoje eles retomaram Hong Kong. Assim, como você vai fazer para manter o império? Tipo assim: o pior século da China foi o século passado. Eles tão do mesmo tamanho, eles retomaram todas as terras que eles perderam. Na visão do chinês, é “Cara, como você alimenta tantas pessoas assim?” E aí ele me explicou numa lógica que eu falei “Cara, eu nunca pensei por esse aspecto.” (…)

Cris: E tem muito a ver com cultura…

Oga: Porque assim, a gente tem uma visão muito ocidental, então pra gente é sempre opressor: Rússia, China… E quando você conversa com esses caras, é muito maluco. Eu conversei com um alemão do leste, enfim, antes da queda do muro, um cara de quarenta e poucos anos, ele falava: pra ele uma visão de tecnologia era Rússia, Moscou! Tipo monitor tela verde. Ele acha incrível. Aquilo era tecnologia para ele. E a gente na visão de país super tecnológico: EUA. Então eu acho que tem esse momento da empatia, mesmo concordando “prefiro a liberdade até de morrer na rua de fome, eu prefiro ter a liberdade”, eu consigo entender porque muita gente admira Cuba, assim, né? Aí, depois, na dica do final eu complemento (risos).

Mari: Não tem a questão também de muita gente admirar, isso que você tava falando… Sem saber muito bem (…)

Oga: Justamente…

Ju Eu acho…

Mari: Porque também… A gente fala (…)

Oga: Tem o romantismo dos dois lados…

Mari: Ah, a medicina em Cuba é incrível… Realmente, em muitos pontos é incrível, mas. é… Quando eu fui pra lá, eu lembro que muita gente pedia “Você não tem remédio pra deixar aqui pra gente?” E tipo assim “Quê? Que remédio?” “Ah, qualquer remédio!”. Então, daí você fala “Ué… Mas aqui não é tudo de graça e tudo certo?” E quando você vai ver não é bem assim, né?

Oga: É que não é sempre que tem remédio, né…

Mari: É, então… Para tudo acho que também essa visão romantizada já não é assim há muitos e muitos anos lá, né? Então a mesma coisa com as crianças na rua, eu realmente não lembro de ter visto nenhuma criança na rua, mas eu lembro que todas vinham me pedir alguma coisa sempre, em todos os momentos que eu andava pelas ruas, então também é um meio complicado…

Cris: A população foi sempre a mais prejudicada, né? Com esse tipo de embargo… E o ponto mais delicado da visita era com respeito aos presos políticos, né, que era tipo muito torta de climão (…)

Oga: Guantánamo, né, gente…

Cris: Então foi muito complicado. Eu quero falar a frase que ele disse. Ele foi questionado sobre o assunto, né? “E os presos políticos?” O cara da CNN… E aí ele respondeu “Se há presos políticos, eles estarão soltos antes da noite chegar.” Então, assim, sabe? Tipo: me entrega a lista! Mas os EUA ao longo dos anos tem feito listas sendo entregues pra eles hoje e estima-se que há mais ou menos 89 presos políticos, mas toda vez que é afirmado sobre isso eles falam que as pessoas estão presas por outros motivos e apresentam esses outros motivos. Tem furto, tem desvio de verba, tem… Sabe? Coisas assim, meandros… Cê não sabe até que ponto quem tá falando o que que é verdade… Mas (…)

Ju É só ter transparência pra você saber, né, gente? Porque assim, né? Anistia internacional: tem que ter julgamento, tem que ter prova, tem que ter direito a defesa. Todas as coisas que a gente pede em qualquer lugar do mundo também servem pra lá. Não baixa. E assim, acho que é isso que o Oga quis dizer: que nos EUA tem as pessoas que conseguiram atravessar pro outro lado e elas têm voz pra clamar e falar assim “Não! Tá errado, tá ruim e tem gente lá dentro que tá sofrendo e só não tem como saber porque ela não pode falar!”. Essa visão romântica, ela só sobrevive porque não existe transparência para que as pessoas falem o que elas pensam, né?

Cris: Eu não sei até que ponto tem gente também que não percebe e tem gente também que não sente. Tem quem não percebe, quem não sente e quem não pode falar. Eles falam muito que algumas leis que tipificam… Tem umas leis lá de desordem pública, de desacato, falta de respeito, perigo e agressão, que é um negócio totalmente dúbio, né, “do que você está falando?” que eles usam para manter essas pessoas presas.

Oga: Eu lembro de um caso que aconteceu assim: um pai brigou com a mãe e matou a mãe por acidente numa briga física. Eles foram lá e em teoria mataram o pai. E aí cê fala “Gente, é o jeito de resolver?” O cara tinha três filhos, e aí tipo meu, pensa as coisas que entram em cheque. Porque assim, na ilha, se você matar alguém você é morto, e por fuzilamento. Então realmente, eu tô fazendo mais o contraponto do que defendendo exatamente, mas eu acho que é isso! Assim, se a gente não souber dessas pequenas histórias… Por exemplo, eu sempre achei que fosse muito fechado. Um amigo meu foi a três anos atrás, o Ênio, e ele tirou foto dos emos! Quando tinha o fenômeno de emo, tinha emo na ilha! Então assim, é muito louco! Eles piram em Djavan, todos os músicos pedem… Eles têm essa coisa, realmente, de pedir sabonete, algumas coisas de primeira necessidade… Aí um amigo meu que levou um monte de sabonete que falou “Puta, eu vou ficar trocando por fita dos músicos cubanos…” Ele falou que ele deu sabonete por cara, o cara tava vendendo! E aí começa esse lance, por isso que eu falo assim, meu, os cubanos são muito parecidos com a gente! Então fica esse lance que você nunca entende exatamente, por que aí você vai falar com o cara, tem cara que fala mal do regime, mas o cara conseguiu ir três vezes pra França… Né? Tudo do jeito dele…

31 a 40’

Ju Ai gente não né? Não… ta tudo errado…

Oga: É isso que é louco!

Cris: Não é tão brasileiro? risos…

Oga: Mas o ser humano se adapta a qualquer situação. E aí quando voce confronta o cara e fala “meu o que que é melhor o que pior voce?” comeca a ficar um pouco com dó. Aí eu lembro de um músico cubano que eu entrevistei num projeto meu, ele adorava passear pela Teodoro Sampaio porque ele nunca viu tanto instrumento musical, só que ao mesmo tempo o cara tinha aula de música clássica na escola quando era criança tipo assim era o projeto então por isso que ele virou musico. Mas ao mesmo tempo que ele tinha isso ele aprendeu a tocar num piano que era muito ruim, só tinha um piano para todo mundo. Então quando o cara desce a Teodoro Sampaio e vê todos aqueles instrumentos ele fica muito feliz. Então pra mim é muito díficil falar sabe…

Ju Entendi… um regime te dá instrumentos e outro te dá as aulas. Seria legal se eu pudesse ter os dois né galera?

Oga: Aqui no Brasil a gente tem, quer dizer, se você não tiver grana você pode estar numa situação pior do que um pobre em Cuba mas pra mim isso sempre me deixa em cheque. Eu sei que a gente não vai ter a resposta hoje.

Cris: Mas pra piorar assim a situação e deixar isso ainda mais sensível pouco depois da entrevista coletiva de segunda-feira Antonio Rodiles líder do grupo dissidente cubano foi preso em Havana logo depois da entrevista então há de se continuar os questionamentos.

Ju Eu acho lindo que a mesma galera fala sobre, que cobra tanto a legalidade aqui no Brasil e que é tão defensora dos direitos e da constituição e da divisão dos poderes né? Fecha os olhos quando a gente vai falar de Cuba e assim é isso eu realmente não consigo entender então acho que tem que ser as mesmas coisas mesmas regras e assim só respondendo o que a Cris falou no início de por que que é tão difícil a relação com Cuba que foi essa pergunta assim se não é a questão de socialismo e não é questão de não ser democrático porque eu acho que é porque virou um espantalho. Então por um momento é muito importante pra nações ter um inimigo em comum que vai eu unir a nação, então assim por um tempo Cuba foi isso e foi muito interessante politicamente ter esse inimigo. Quando deixou de ser, você não desconstrói na cabeça das pessoas isso, você fala gente aperta outro botão de Desligar e fala beleza eles são só uma ilha eles não fazem diferença nenhuma não é assim então o arcabouço é pras pessoas que passaram por esse tempo de macartismo e tal desconstruir isso não é fácil pros jovens já não têm isso mas uma grande parcela da população o simbólico disso ainda é muito forte, desproporcional ao papel de Cuba na história, nas relações comerciais, poder político mesmo enfim completamente desproporcional e porquê fazer esse gesto a mesma maneira é o simbólico de construir uma ponte acho muito legal que assim eles chamam o Obama, o presidente no seu último ano assim de lame duck que é tipo ele não vai fazer mais nada sabe ele não tem mais poder nenhum, ninguém vai fazer nada e o Obama tá de todo jeito tentando mostrar que cara eu não… No que eu puder fazer eu ainda vou eu vou usar até o último segundo que eu puder fazer…

Cris: Vou ficar aqui até o final.

Ju Porque uma coisa super interessante né, porque seria muito interessante pra gente resolveria muitos problemas eu imagino hoje é que nos Estados Unidos depois que você é presidente você não é mais elegível pra nenhum cargo público você não pode mais ser nada então são os últimos minutos do Obama tipo pensa assim se você sempre dedicou sua vida a política né a construir as coisas e tal ele não vai mais poder fazer nada depois disso então ele não vai sair desperdiçar esse uma ano e é muito simbólico ele justamente construir essa ponte com Cuba né então acho que por isso esse movimento.

Oga: E é bom pro portifa dele né?

Ju Pô!

Oga: Só rapidinho… Um outro aspecto que eu acho muito interessante eu não vi nessa abordagem é a questão de ser um presidente negro num país negro né imagina que meu os cubanos devem tá muito felizes com essa relação Porque mesmo Cuba não tem um presidente negro então é muito interessante nesse aspecto né?

Cris: Que não tem um presidente… risos

Oga: Então… Presidente… Ato falho! Mas enfim não tem um chefe.

Música da banda Mulatu Astake

Cris: Vamos então pro tema 2. Vamos falar um pouquinho do terrorismo em Bruxelas?

Ju Pelo menos 31 pessoas morreram e dezenas ficaram feridas em explosões no aeroporto e no metrô de Bruxelas na Bélgica na manhã desta terça-feira. Duas bombas explodiram no saguão de embarque do aeroporto perto do check-in da companhia aérea norte-americana American Airlines por volta das 8:00 da manhã pouco mais de uma hora depois um explosivo foi detonado na estação de Malbec, um bairro que abriga as instituições européias. O incindente ocorreu no segundo de três vagões de um trem antigo. O grupo que se auto denomina estado islâmico assumiu a autoria dos ataques em comunicado oficial. Nele os extremistas alertam para mais ataques que estão por vir nos estados aliados contra o estado Islâmico.

Cris: E aí?

Ju Assim, tem várias polêmicas que eu queria suscitar em relação a isso. A primeira que eu acho que a gente tem que falar é por que a Bélgica? Por que que a Bélgica tem a ver? Por que a gente tá acostumado mais a ver atentado em Paris, em Londres na Espanha né? A Bélgica parece fora desse eixo, parecia um país super pacífico, por que eles agora?

Mari: Eu acho que tem alguns motivos. Acho que o primeiro e mais importante é que a Bélgica é o país que mais manda militantes pro estado islâmico dos países europeus. Acho que é a Bélgica, a França…

Ju Eles chamam de combatentes estrangeiros. Jovem com nacionalidade europeia que abandona o lugar de origem pra se juntar à guerra Síria, eles tem 500 pessoas que têm algum momento viajaram pro Iraque ou pra Síria.

Mari: É, então.. Acho que é…

Ju É o maior número de jihadista.

Mari: É. Eu acho que é Bélgica, Françadepois vem Holanda e depois Inglaterra, uma coisa assim. Então acho que esse é um dos principais motivos e eles já estavam esperando né dessa vez eles todos já sabiam que ia acontecer alguma coisa e…

Ju Eu não sabia porque eu não tava acompanhando tão de perto mas que já tinham, na investigação já tinham chegado que o atentado da França, o último atentado da França todinho foi arquitetado lá em Bruxelas então eles já tavam inclusive prendendo pessoas os líderes prenderam na sexta-feira o líder do atentado da França lá em Bruxelas, então assim, sabiam que era uma célula terrorista superativa né que não só desse atentado da França mas dos últimos anos.

Cris: Eles prenderam né esse final de semana o Salah Abdeslam que foi envolvido nos atentados de Paris. Eles interrogaram o cara por horas por dias de terça para domingo, tiveram acesso a todos os locais onde ele esteve, então eles já sabem o bairro em que tava sendo articulado, sabiam os locais que estavam alta visibilidade pra acontecesse esse atentado e nada foi suficiente pra que eles conseguissem realmente deter ali o que aconteceu.

Mari: É eles sabem se foi tipo uma revanche ou se já tava sendo planejado antes mas aparentemente estava sendo planejado antes e foi apressado o plano pra…

Ju É eles não conseguem arquitetar uma coisa desse tamanho em tão pouco tempo mas provavelmente foi apressado.

Mari: É então… mas esse lance da Bélgica é isso e daí tem alguns motivos que mostram porque que a Bélgica virou esse centro, alguns falam de ‘ah é a capital jihadista da Europa’ uma coisa assim, há uns anos, umas décadas foi permitida a construção de uma mesquita lá e isso teria trazido líderes radicais e isso é uma particularidade de lá mas eu acho que de resto o que a gente tem é a mesma coisa que acontece em outras cidades da Europa principalmente na França se você for ver fica uma população que já tá lá, não é que nenhum deles era dessa onda de imigrantes isso que eu acho que algumas pessoas confundem, eles já moravam lá eles eram belgas eles já tavam lá há muitos anos né.

Cris: Pra conhecer todo o sitema você não acabou de chegar

Mari: É difícil né, então… É uma população que já fica marginalizada esse bairro aí é um bairro conhecido, outro cara tinha sido preso lá também então é isso também um pouco do que acontece nos banlieues lá perto de Paris a mesma coisa fica no meio do caminho não é francês não está inserido na população, na sociedade de uma maneira ou de outra e daí vem a pobreza e tudo mais e daí e são pessoas que normalmente você olha o perfil desses caras não era assim ‘ah minha família era de radicais’ não é nada disso normalmente cometiam pequenos crimes alguma coisa assim e daí fica um alvo fácil pra pessoas que cooptam do estado islâmico ou de outros grupos sei lá. Então tem um perfil meio parecido acho que isso tudo vai somando pra mostrar porque que dessa vez foi lá.

Ju É… o que eu achei interessante, o que deixou mais grave daí é uma outra camada é que assim um outro motivo pra Bélgica ser alvo é que simbolicamente é muito importante porque é a capital da união Europeia então você pega líderes importantes ali, você mira exatamente não no país Bélgica mas na União Europeia como entidade né, e o que eu achei interessante sobre a gravidade é que assim foi muito ousado o ataque à medida que eles foram justamente nos únicos lugares de Bruxelas em que a segurança é mais pesada prevendo um ataque terrorista, então assim, diferente de outras capitais europeias, Bruxelas não tinha um nível de segurança tão alto mas especificamente esses pontos, o aeroporto e essas estações de metrô que são do lado da saída da União Europeia tem toda uma segurança reforçada para evitar ataque terrorista…

40’59”

Ju Então assim.. Ele não pegaram qualquer alvo. Eles pegaram aqueles para mostrar que assim, você estão vulneráveis até onde vocês acham que vocês já se protegeram, entendeu?

Mari: É, mas o que é muito criticado também é que a polícia lá é muito segmentada, né? Situação bastante familiar pra gente..

Ju (risos)

Mari: Tem 6 tipos de polícia, alguma coisa assim, então.. Não se compara o que tem de gravação de câmera de segurança.. Não se compara com sei lá.. Londres, Paris.. Mesmo eles estando em alerta desde Paris, desde os ataques do Bataclan e dos Stade de France.. Eles estavam em alerta, não sei.. Agora acho que eles não estavam mais em alerta máximo mas logo depois eles estavam, depois eles voltaram depois dessa pirsão e mesmo assim os caras conseguiram entrar no aeroporto com 2 malas de bomba, né? Então..

Ju É, uma coisa que eu falei para a Cris que eu achei curioso.. Que eu vi um vídeo que foi feito de dentro do aeroporto momentos depois da explosão das bombas e assim.. É bem desesperador e demora MUITO para chegar alguém falando o que fazer, sabe? Então, porque assim, o que você pensa, e pode até ser que não seja assim.. Mas que em Londres se acontecer isso, tipo, o pessoal do metrô já tem orientação do que fazer em caso de tumulto, atentado.. Já tá meio que no manual, eu acho do que fazer, sabe? Pra onde correr. Eles não sabiam pra onde levar as pessoas.. Eles não sabiam, tipo, “sai pra rua, vai pra lá, vai pra cá”. Não sabiam o que fazer, demorou mais de 10 minutos pra alguém aparecer, primeiro. Depois que alguém apareceu, não sabiam pra onde levar as pessoas. Sabe, tipo, qual é a rota de fuga? Gente, é o aeroporto.. O alvo prioritário, alvo número 1.(..)

Mari: Tanto que o cara brasileiro..

Ju (..) Não sei se fosse aqui a gente saberia.. Vamo lá. Vamos deixar bem claro isso. Só pra tirar isso da frente.

Mari: Eu também não sei também se em Londres todo mundo saberia não.

Oga: Todo mundo no Waze.

Ju Não, não, não.. ALGUÉM, alguém apareceria para falar (..)

Mari: Um segurança, né? Isso com certeza.

Ju Não, o que eu to querendo dizer é: Nós, pessoas (..)

Mari: Sim..

Ju Eu to falando assim, sabe a brigada de incendio? Que aqui no prédio tem uma brigada de incêndio que se pegar fogo os brigadistas tem que falar pra onde você vai.

Mari: É.

Ju Se imagina que no aeroporto tem algo semelhante a isso. A primeira resposta.

Cris: Principalmente pra quem tá de sobreaviso, né? É bem preocupante mesmo.

Mari: Tanto é que o cara brasileiro.. O que tinha nacionalidade brasileira que era jogador de…

Oga: Basquete.

Mari: De basquete.. Ficou lá 1 hora quase pra chegar a ajuda.. Ficou sangrando. A foto dele foi bem impressionante até.. O pai dele viu a imagem.. O pai dele mora lá nos EUA e viu a foto, foi uma das primeiras que começou a circular e ele ficou lá um tempão com a perna sangrando, assim.. Dá pra ver na foto bem deprê.

Ju Uma coisa que.. Eu teho duas polêmicas que eu queria jogar pra vocês que eu acho.. A primeiras a gente conversou um pouco aqui, que é sobre resolver como país ou resolver como bloco, sabe? Porque assim, de uma certa maneira isso tem sido falado desde que começaram, que teve essa nova onda, digamos assim, de atentados, de que assim, não é um problema da França, não é um problema da Espanha, não é um problema da Inglaterra.. É um problema do bloco. Ou a gente resolve junto ou a gente não vai resolver de jeito nenhum. Mas agora essa resposta tá tomando um certo coro, né? O coro tá engrossando, eu diria isso.. Tá ganhando força, né? Que isso não é um ataque à Bélgica.. É um ataque à união européia e a gente tem que responder como um bloco.

Mari: É.. Tá num momento bem complicado, inclusive na Inglaterra hoje vai ter um referendo, né? Pra ver sobre a permanência ou não no bloco e tal. E hoje já muita gente criticou e muita gente, enfim.. Foi a favor de usar a politização do ataque, né? E isso seria um argumento pra Grã-Bretanha como um todo sair do bloco ou não.. É muito complexo..

Ju Olha, o François Hollande falou “Os terroristas atacaram Bruxelas mas foi a Europa que foi o alvo e todo mundo que tá envolvido”. Então tem vários líderes que fizeram discursos falando isso, que isso não é um problema local, não é uma problema belga, isso é um problema NOSSO.. A gente tem que resolver.. Eu achei interessante ele falando assim, um dos artigos que eu vi falava assim “Se o velho continente pretende ganhar a guerra contra o terrorismo jihadista terá de superar as diferenças nacionais e colocar em ação um plano autenticamente europeu que faça frente ao maior desafio que tem adiante”.

Cris: Eu fico pensando que mesmo sendo um problema de bloco e pra mim tá claro que é, imagina a pressão em cima da Bélgica por ter ocorrido isso lá agora, nesse momento depois desse tanto de alerta, depois deles terem sido acusados de permitir uma operação do tamanho que aconteceu em Paris ser desenvolvida lá. Então, assim.. Cara! Como assim vocês deixam isso acontecer de novo? Traz o chefe! Então assim, não era um bom dia para ser o chefe de segurança de Bruxelas porque eu tenho certeza que a pressão tá muito forte.. Rolando por lá mas é isso aí.. Enquanto eles não conseguirem se organizar como bloco e essas polícias.. Se num país daquele tamanho tem mais de um tipo de polícia já é estranho, 6 eu nem vou comentar. Então se eles não se organizarem e agir como bloco pra mim também não adianta a Grã-Bretanha sair, sabe? É tipo largar o barco mas você vai afundar, porque você acha que o Estado Islâmico vai falar “Ah, não.. Agora eles saíram” (risos)..

Ju (risos) Tudo bem! Tá tranquilo, tá favorável.

Mari: Hoje eu li uma.. Alguma.. É que eu não tô lembrando direito onde eu vi mas comparando a situação da Europa nesse tema com aquele cubo, que..

Ju Sim! Como que é aquele todo colorido..

Oga: Cubo mágico, né?

Ju Cubo mágico.

Mari: Cubo mágico, enfim. Que não tem como você mexer um lado sem mudar tudo.

Ju Perfeito.

Mari: Então você vai lidar com o que? Vai atacar a Síria? Vai atacar qualquer que seja o outro alvo.. Isso vai mudar alguma coisa? Ou isso vai impedir que a onda de refugiados chegue na Europa, né? Que agora não é mais um problema lá.. É um problema na Europa, né? As pessoas estão sentindo na pele isso.. Não é mais uma coisa que você vê no noticiário.

Cris: É uma migração.. Uma grande migração territorial.

Oga: Mas é isso que é complicado, né? Porque, assim, eu lembro de ficar vendo muito o lado do Putin, né? Nessa história toda porque eu falava assim, eu lembro de alguns depoimentos do Putin que eram bem interessantes que ele falava assim “Cara, a Síria tem que resolver democraticamente dentro. A maioria do Estado Islâmico tem muito mercenário aí ganhando dinheiro, tem muito país da Europa que tá comprando petróleo que vai pra Turquia que o ISIS tá vendendo”. Então, assim, eu acho muito complicado, mesmo assim, a Alemanha não vai se indispor com o Putin mas, se a gente for pensar isoladamente na Europa tem muitos países que tem outros interesses então, assim, se eles não resolverem como um bloco mesmo e primeiramente, se eles não entenderem que tem gente morrendo na Síria e esses caras vão.. Eu fico pensando muito na saída mais humanista assim, sabe? Tipo assim, resolve o problema dos caras que você vai resolver o seu. Agora parece que cada país tá pensando isoladamente, aí eles fecham a fronteira, né? No começo tava todo mundo aberto e depois cada.. Olha, a Romênia fechou, todo foi fechando e aí os refugiados não conseguiam andar prla Europa e tinham que dar voltas muito maiores pra conseguir chegar na Alemanha. E aí eu fico pensando se a Alemanha, que é quem manda na Europa agora, se a Alemanha não se posicionar, eu acho que não vai resolver, nem com a França, nem com a Bélgica. Então, assim, se a Alemanha não.. Não doer para a Alemanha de verdade acho que isso não vai ser resolvido. A impressão que eu tenho é que é o único país que vai conseguir fazer a Europa inteira como bloco se mover. E só que ao mesmo tempo, assim, a Alemanha tem uma relação relativamente delicada com o Putin.. Então ficam meio.. A Merkel fala russo, né? Ela tem uma certa admiração e aí fica uma situação meio estranha assim, porque..

Ju Não.. Aí é a pergunta.. A próxima pergunta é, tipo, primeiro passo a gente falou “Tá, não.. Então se a gente fez uma união européia e baixou fronteira, baixou moeda.. A gente vai ter que também ter uma política externa conjunta e tal. Beleza, porque os problema vão ser nossos porque se não vai ter fronteira aqui dentro o problema de um é problema de todos”. Enfim, se a gente entendeu isso, uma segunda pergunta é: Pra onde vamos? Porque daí a conversa que vem de novo à tona como toda vez que a gente fala de terrorismo é aquela velha tensão entre segurança e liberdade, né? Porque de novo começa a vir pessoas falando justamente do que a Cris falou assim, “Bom, se eles sabiam de tudo isso e não conseguiram prever o ataque então dá mais poder para os sistemas de informação pra eles poderem ir na casa desses caras e poderem previnir o ataque antes que ele aconteça”. Então é aquela coisa de você abrir mão (..)

Oga: Eu não acredito nisso..

Ju (..) Eu também não mas que tá acontecendo, tá.

Cris: Que é aquilo, eu te dou mais poder e começo a cercar de todos os lados para tentar prevenir sendo que na verdade tem coisas muito no meio disso tudo que tá acontecendo, das próprias pessoas como a Mari falou que chegam no país e vivem numa situação muito a margem da sociedade e são facilmente cooptadas para dentro de movimentos radicais.

Ju Olha, eu vou só dar um post para vocês verem: “Acima de tudo é preciso aperfeiçoar os sistemas de inteligência e definir as regras do jogo da união européia para investigar os milhares de cidadãos potencialmente perigosos sem violar o princípio da presunção de inocência mas também sem nos fazermos de inocentes e amarrarmos as nossas mãos nas costas num momento em que a Europa inteira sofre uma ameaça nítida e clara”. Na hora que eu li isso, sabe? Você lembra daquele documentário do Snowden, você vê sobre, tipo, o poder já tá tão na mão deles e é tão cômodo usar essas situações para você falar “Não, gente, se isso tá acontecendo ainda eu tenho como te proteger.. Abre mais a sua vida aí e me deixa entrar na sua casa sem pedir licença.. Não preciso mais bater na sua casa, entendeu? Eu posso te levar sem dar muita explicação porque é para o bem de todo mundo” e quando você ver, você abriu mão de todos os seus direitos em nome de proteção, em nome de segurança. Aquela velha charge da liberdade levando para passear um cachorrinho que é a segurança e depois na charge seguinte o cachorro é muito maior que, né? A segurança enorme e a liberdade lá bem pequenininha.

Oga: Eu entendo porquê eles pensam assim, né? Porque quando eles começaram a passar a ficha das pessoas que tavam envolvidas, ‘cê falava: “Gente, mas era pra esse rapaz tá preso”. O cara tava “tráfico de droga”, “assalto”, “estupros”… falando assim: “Gente, nem é só pelo terrorismo, assim…”. Por eles terem conversado com os caras do ISIS, ir muito pra esse lugar em guerra. Né? Quem vai fazer turismo na Síria em guerra, né? Mas eu acho assim, o que às vezes me pega é: não é mais fácil a gente começar – é um pouco minha política anti-drogas – assim, o combate direto tá dando errado. Então não é mais fácil chegar e conversar com o Bashar al-Assad e falar assim “Ó, a gente não gosta de você porque você é um ditador. Mas, aparentemente, você é o cara que consegue resolver isso. Como a gente faz? ”. Me parece que em nenhum momento a gente teve essa conversa direta, sabe? Todo mundo sabe… tem dinheiro da Arábia Saudita financiando lá… financiando esse grupo… A gente sabe desse jogo inteiro, mas parece que ninguém quer resolver ele de verdade, sabe? E aí vão atacar a liberdade individual de cada um. Porque a gente sabe que é assim – que é o que aconteceu também, né? Na França – tinham várias pessoas brancas, elas não têm nada a ver com árabe. Tem um documentário que passou, acho que na Globo News, que mostrava como que eles convenciam adolescentes a ir pra lá. ‘Cê fala assim: “Meu, essa menina não tem nada a ver árabe, ela não nasceu num bairro pobre… Ela recebeu uma ligação no telefone e recebeu um chavequinho ali, ela não entendeu direito e comprou a causa.”. (…)

Mari: Na internet, né, hoje…?

Ju Na internet.

Oga: É. Então por isso que eu fico com medo desse lance de, tipo, tentar vigiar. E ao mesmo tempo a gente vê o problema nos Estados Unidos com o Lobo Solitário. Isso não tem como ‘cê vigiar. Esse tipo de ataque não tem como vigiar. Que é, foi o caso dos dois meninos em Boston, que explodiram lá. Eles eram americanos, eles piraram. Eles, né? Que eles nem tinham tanta ligação com grupos islâmicos… O irmão mais velho é que viajou, o irmão mais novo nem foi pra algum país árabe pra receber treinamento. E ao mesmo tempo os caras piraram e explodiram ali. Tudo bem, matou duas pessoas, mas fez um atentado em Boston. Às vezes eu fico com um pouco de medo, assim, sabe? Acho que, meu, essa discussão é de cachorro grande. Então bota os cachorro grande numa sala e começa a discutir. E aí depois fica a gente como sociedade discutindo, né? Conjecturas… e larara… E ‘cê fala assim: “Meu, esses caras não querem resolver porque eles sabem que eles vão perder dinheiro.”. E sempre me parece como uma discussão de “eu não quero gastar meu dinheiro com isso”. Me parece que a Europa inteira tá assim, ó “Quem tem dinheiro é a Alemanha. Alemanha, resolve isso pra gente aí.”. (…)

(risos)

Cris: É por aí mesmo.

Ju Ô, Mari, eu queria te perguntar sobre os 5 atentados que aconteceram na semana anterior. E que não tiveram toda essa comoção e tal. E que fazem parte sim do panorama, pra gente construir o panorama. Como é que a gente chegou aqui nesse atentado, né? Tipo, esse atentado não está sozinho no vácuo, ele existe num conjunto de 5 atentados antes dele.

Mari: Eu acho que – a gente tava comentando disso – eu acho que primeiro a gente tem que ver, essas notícias chegam pro restante da população? Eu acho que não, de uma certa maneira não, não chega mesmo, por diversos motivos. Primeiro, na Arábia Saudita, por exemplo, em outros países que têm ataques, sei lá, mensais, semanais, eles param de ser notícia. É muito triste, mas é a verdade. Na Turquia foi um carro bomba e foi noticiado e tal, eu vi bastante coisa sobre isso. Mas também, a Turquia tá bem mais próxima, né? A Turquia é na Europa, né? Então, por causa disso. Eu acho complicado, assim, a gente dizer “é um lado”, “é um outro”. Porque é como você tava falando, não é um lado ou outro, tem muitas coisas envolvidas e… Mas eu acho que, de uma certa maneira as pessoas que querem saber o que é que tá acontecendo tá fácil de ver, assim…

Ju O que me deixou assustada é que assim, tudo bem, a gente sabe que os outros atentados viram background pra gente, sabe? Você tá ouvindo o noticiário, você tá vendo a home do portal de notícias que você segue, e uma notícia menor é “aconteceu um atentado em tal lugar”. Você não conhece as histórias, você não sabe quem foi, porque você não se aprofunda e nem a notícia não se aprofunda porque sabe que você não tem interesse. Enquanto o atentado de Bruxelas você vai conhecer cada unha encravada e cada história da vida de todas as pessoas envolvidas nesse atentado. Né? Então, assim, tudo bem, isso a gente já sabe. Mas o que eu fiquei mais chocada foi que, quando eu vi essa notícia, era assim “Ah, 37 mortos na Turquia, 19 mortos na Costa do Marfim… 24 mortos na Nigéria…. 5 mortos em Istambul, na Turquia”. E aí, no meio desses 5 atentados, um, que foi no Iémen, morreram 119 civis, faça as contas. Pode somar os outros 5, incluindo aí o de Bruxelas e não dá isso. Com 22 crianças, num ataque aéreo num mercado público. Ou seja, atacar um mercado público, um ataque aéreo num mercado público é bem equivalente em termos de terror, de terrorismo, ao que aconteceu num aeroporto, né? Tipo, a pessoa tá lá comprando o seu peixe, o seu pão, sua coisa, e de repente cai uma bomba em cima dela. Eu chamaria isso de terrorismo, tranquilamente. E foi feito dessa vez pelo lado de cá, foi um ataque aéreo coordenado pelos sauditas e apoiado pelos Estados Unidos. E aí, isso que eu acho que não tem o mesmo peso, que é de falar (…)

Cris: Nem é chamado de terrorismo, fala-se ataque aéreo.

Ju Pois é, né, gente?

Cris: Ninguém fala.

Ju Assim, eu não sei, mas isso pra mim… Porque assim, eu tava conversando com a Mari que eu acho diferente, por exemplo, quando a inteligência diz que numa determinada casa é um quartel general e aí você explode a casa, e depois você vê que a inteligência tava errada e, na verdade, era a casa de uma família. É grave? É grave, mas isso não é terrorismo, isso é erro. “Puts… como assim, ‘cê chama de erro?” Eu entendi, mas isso é uma coisa, outra coisa é você bombardear uma praça pública com gente, que ‘cê tá vendo que são civis, gente! Entendeu? “Ah, eu não tava vendo, porque…”, pô, mas aí já complicou, né, amigo? Uma praça, ‘cê bombardeou uma praça.

Cris: A gente nunca ouve falar que é terrorismo pro lado de lá, né? Terrorismo só pro lado de cá.

Oga: Eu queria muito ver o Datena da Al Jazeera. (risoso ao fundo) Eu queria assistir, assim, traduzido, só pra entender o que é que o cara acha. Porque é isso. Eu acho que lá eles noticiam, eles falam assim “mais um drone do maldito Obama destruiu outro casamento”, sabe? Tipo, acho que pra eles, eles não entendem que eles tão em guerra, né?

Ju Isso é uma fábrica, né? Porque eu imagino que isso é uma fábrica também de motivação que não para, né? De falar assim “mano, a gente não tem nada a perder, então…”(…)

Mari: Sim.

Ju E quem não tem nada a perder é o cão raivoso mais perigoso. (…)

Mari: Isso é, com certeza.

Ju Né? Então, assim, tem muita coisa pra mexer pra que você consiga ver um fim nessa disputa e nesse terror, assim. Porque você vê esse vídeo aí do aeroporto, cara, é muito triste, assim… Porque assim, é diferente você tá numa zona de guerra e acontecer uma tragédia e você tá na sua vida cotidiana. Por isso é tão chocante, sabe? Mano, eu tava só fazendo check-in, não tava esperando isso. E de repente seu mundo vira de cabeça pra baixo.

Oga: Mas ao mesmo tempo eu lembro de quando o Boko Haram – acho que foi na Somália – atingiu um shopping e matou gente pra caramba. Eu vi o vídeo de um shopping, é a mesma coisa. Só que é isso (…)

Ju É sim, mas aí é shopping, né…?

Oga: Não, e a gente espera que na– Que a gente volta praquela discussão do “a imprensa e o que ela entende como extraordinário”, né? Porque assim, bom, morreu um monte de gente num shopping, era a classe média da Somália… e assim, a gente não tem essa identificação. Porque a gente não vai pra Somália nas férias, né? (…)

Ju (risada abafada)

Oga: ‘Cê não vê a torrezinha. Então às vezes é complicado, eu entendo que tem todos esses aspectos. É difícil julgar a cobertura jornalística porque eu entendo que a Bélgica chama mais atenção (…)

Mari: Só falando dessa questão jornalística, não entrando no mérito de “o que é melhor, o que é pior, o que é terrorismo, o que é que não é? ”. Mas a questão da Bélgica, eu acho que a gente não tem que – nesse ponto só, analisando, jornalisticamente falando – não é a questão de números, quantas pessoas morreram, é as implicações desse ataque. Era exatamente isso que a gente tava falando de como tá dentro da Europa, como é diferente por tá dentro da Europa. E também a gente tem que ver de onde são as nossas fontes, né? As nossas fontes são europeias normalmente, ou americanas, não sei.

Oga: A Reuters é de, né…

Mari: A Al Jazeera mandou um monte de jornalista embora recentemente, então…

(risos)

Mari: …desculpem.

Oga: A Al Jazeera tá em crise. (risos) E a RT da Rússia não dá pra confiar, porque eu já vi umas coisa absurda lá, mano.

Ju Então vamo pro próximo, Cris?

Cris: Vamo lá.

(Sobe a trilha sonora)

Cris: Vamos falar de uma questão polêmica dessa semana aí com tanta coisa no Brasil.

Cris: Liberdade de expressão versus respeito à obra. O que que aconteceu… o tumulto foi agora nesse sábado dia 19, quando Claudio Botelho incluir um caco, que é um improviso, no meio de uma peça que se passa pelas canções dos musicais criados por Chico, a cena polêmica mostrava o grupo teatral chegando numa cidadezinha “era a noite do último capítulo da novela das 8, era também à noite em que um ladrão ex-presidente também tinha sido preso ou presidente ladra recebeu o impeachment? ” Isso que Claudio Botelho disse na peça (e ele dono da companhia teatral), a plateia então veio abaixo, começou a gritar e gritar o nome do Chico, que é um artista historicamente alinhado à esquerda, e repetiram na frase “não vai ter golpe” o negócio começou a ficar enorme espetáculo então não pode continuar.

Ju Eu acho que tem várias polêmicas nesse caso. No dia seguinte vazaram uma conversa super acalorada que ele teve nos bastidores com a co-protagonista do espetáculo Soraya Ravenle, ele tava muito alterado, visivelmente alterado, e ele falou várias coisas super polêmicas e a gente vai conversar um pouco sobre isso.
Ju A primeira coisa que eu queria perguntar pra vocês é sobre a questão mais óbvias que é um dos primeiros pontos que causam indignação é o cara foi alterar… esse caco que ele fez é um caco que um pouco descaracteriza uma obra por essa obra ser do Chico Buarque, então assim… primeiro, ele pode fazer isso né?… tipo sei lá… “quem conta um conto aumenta um ponto” eu tô fazendo uma releitura da obra, então eu tô botando a minha visão sobre a obra, então não precisa respeitar, isso ou tipo… Pelo menos você tem que saber o contexto em que aquela obra foi feita e respeitar, digamos, a alma da obra. Que vocês acham? Oga, você como artista…

Oga: É, então… eu acho que você tem que saber, principalmente quando você pega a obra de alguém pra se basear e ele já tinha pego um espetáculo, “Ópera do Malandro” do Chico…

Ju Acho que já era a quarta obra

Oga: então ele já sabe mais ou menos… acho que o Chico se sentiu um muito traído, porque ele falou “eu já confiei em você algumas vezes e você tem na sua releitura, mas você não foi contra uma das minhas convicções pessoais”, o Chico não é um artista que se posiciona, tipo, eu não sei o que o Roberto Carlos pensa, eu não sei o que o “rei” pensa, agora senhor sei o que o Chico pensa, porque ele sofrer… já foi alvo de uma polêmica recente porque o Túlio Dek (rapper super conhecido)com os amigos dele abordou ele na praça xingando de “petralha”, então assim eu entendo que o Cláudio tava fazendo esses cacos, ele tinha feito uma agredindo o Eduardo Cunha mas ai até agredir o Eduardo Cunha, eu entendo que tá dentro do espectro que o Chico poderia fazer. Agora o que eu acho mais estúpido, pensando de um jeito bem capitalista, porque ele botou esse raciocínio capitalista no final, falando o que ele investir dinheiro e que ele te dê dinheiro… arte existe pra provocar, OK… você levou as pessoas lá com uma preguiça e você dá uma coisa que as pessoas não querem… tipo, não sei acho que faltou uma malandragem, né? Faltou um jogo de agradar ali, eu não sei se essa provocação assim, se ele tá tão posto numa bolha tão grande tão indignada, na bolha dele de empreendedor do teatro, que as coisas tão difícil de ficar mais que ele não conseguiu pensando no público-alvo, cara… você tá fazendo uma obra que é pras pessoas… cara não sei, acho que você tem que agradar ou pelo menos tentar fazer provocações mais inteligentes. É o que eu falo… se fosse uma piada bem feita, se fosse uma convocação inteligente e muito bem colocada, talvez as pessoas não se chocassem tanto, assim… foi panfletário, foi bobo… ele tem o direito de mexer, tem… mas ele tem que perguntar pro autor, se ele aprovasse esse texto com o chico… (se aprovasse o caco? Não da pra aprovar caco porque você faz na hora) tenho certeza que chico não aceitaria, então na visão ele foi desleal, na minha visão por mais que ele tenha a liberdade artística, ele foi desleal por não conversar com o autor da obra, assim, você tá mexendo original do cara, você não conversou com ele, aí você faz algo oposto disso, sabe… eu acho bem esquisito, assim… você conta a história do Martin Luther King chama o pessoal da Ku Klux Klan… é um “caco”… não! Martin Luther King não iria concordar com isso, eu tenho certeza, essa provocação é um pouco estupida.

Cris: É o gerenciamento de expectava, né? A pessoa sai de casa esperando receber uma determinada coisa e quando ela chega lá não é aquilo.

Oga: você não conhece o público-alvo nem um pouquinho?

Cris: Eu entendo a provocação, eu entendo o Respeito a arte… o que eu não entendo é a falta de crítica sobre todo o contexto envolvida ali, principalmente sendo ele uma pessoa muito experiente nisso, né? E assim eu fico triste com o vazamento do áudio porque… gente, a gente perdeu o privado? Que que tá aconteceu?

Ju E assim… é muito canalha você pegar um áudio num momento em que a pessoa… assim … ele ficou muito espantado com a reação das pessoas, porque assim… é fácil analisar depois que você tá de cabeça fria você não tá emocionalmente envolvido né? mas o cara tava fazendo a peça dele… não é que as pessoas não gostaram e vaiaram, porque isso ele tava levando de boas… é que as pessoas levantarem não deixaram ele continuar e tinha muitas pessoas, dá pra ver pelo vídeo, que queriam continuar assistindo a peça, não é que essas pessoas indignaram e foram embora essas pessoas pararam na peça dele… e assim ele tava no auge da indignação dele de falar assim “em que momento que passo ao ser OK você acabar com uma peça porque você não gosta do conteúdo dela” tipo, em que momento a gente tá? então estava assim, tão puto ele não tava enxergando as coisas objetivamente, não tava fazendo uma análise… ele tava possuído! E ele vai falando coisas pra ela, que é óbvio que hoje ele não deve pensar isso, que é óbvio que não deve pensar, mas na hora ele tava botando tudo pra fora, tanto que ela não tá tomando mal aquilo, ela tá tentando acalmar ele baixar pra…

Cris: Inclusive, que pessoa, né?

Oga: acho que uma pessoa que ouve mamilos, né? Porque ela foi muito empática…

Ju Muito!

Oga: Quando ela falou assim: vou falar assim com você do lugar do amor…

Ju “eu te amo”

Oga: vou mandar um coraçãozinho pra essa moça, porque ela teve um sangue frio…

Ju O que ela tava tentando era conter danos, ela tava tentando que ele não se prejudicasse mais, então tipo… baixa a guarda, você só tá piorando, se você espernear você só tá se machucando e machucando as pessoas, então calma. Só que assim… uma pessoa vazar isso é tão calhorda, mas é tão calhorda…

Oga: Eu não sei…

Ju não sabe? Oga, em que mundo isso tá certo você vazar esse áudio?

Oga: Eu acho absurdo vazar, mas eu imagino a indignação de quem é do teatro e vê o patrão fazendo um puta absurdo e fala “ai meu deus, olha o que eu tenho aqui na minha mão, eu vou me vingar desse cara!”, eu entendo que tava todo mundo com raiva.

Cris: isso é uma coisa que a Soraia fala pra ele, ela quando ele fala assim “mas a peça é minha e eu falo o que eu quiser”…

Oga: cara, tem um monte de gente que não concorda na peça.

Cris: … ela fala, “não, nós somos um grupo, nem todo mundo concorda com o que você disse”

Oga: Tá todo mundo dando a cara!

Cris: ela tenta muitas vezes trazer ele pra razão

Oga: eu acho que esse vazamento também foi uma coisa discutida entre eles, eu não acho que foi uma coisa assim… eu volto a dizer… eu acho que eu ia respirar fundo, antes de mandar pro Pablo Capilé, pro pessoal do Mídia Ninja… e vrum… não vou mandar! Eu acho que eu teria essa cabeça… é isso… eu entendo quem se indignou em ver o cara falando daquele jeito “eu sou um rei no palco” eu achei de uma escrotidão…

Ju foi

Oga: e assim… o que eu fiquei pensando antes foi… assim… eu tô ensaiando a peça, até caco… ele pode não ter falado com aquelas palavras, mas ele já devia ter dado a entender… eu achei engraçado que não tem nenhum cara pra falar assim… “miga, sua louca! Não fala isso! ” Tipo, não tinha nenhum cara? Tipo, a Soraia, nossa “truta” (risos), por que ela não falou antes?

Mari: mas não foi uma coisa ali no momento?

Ju tudo dá a entender que ele não respeitaria mesmo que ela tivesse falado

Oga: justamente, porque ele estava muito convicto

Ju O que ele falou foi “eu sou o produtor, a peça é minha e eu faço o que eu quiser! ”, ela falou, “mas não é sua! Tá todo mundo aqui botando a cara a tapa”, ele falou “então sai, se não gostou sai…”

Cris: e ela (querida) falando “eu não quero sair, não é esse o ponto”.

Ju eu espero fundo do meu coração que não tenha sido ela que tenha vasado, porque se ela sabe, se ela apoiou o vazamento, ela é uma escrota.

Oga: acho que não, acho que nem dava pra ela fazer, se não ela seria realmente a melhor atriz, eu dava Óscar pra ela na hora! Ela tipo, consolando o cara e gravando com Iphone atrás da cintura, assim… fala, fala, fala… (risos)

Todos: risos

Oga: Não, mas as vezes eu fico na dúvida disso, eu entendo quem ouviu isso da primeira vez e quem já vinha ouvindo, porque o cara já tinha uns posts no facebook meio esquisitos, vai ver que uma galera já estava vendo… então acho que já tinha uma galera de lá de dentro do teatro que já achando ele mega escroto, e falando “meu… se esse cara der uma brecha…”

Cris: não, eu acho assim… eu concordo que você está muito nervoso e xingar impropérios…, mas uma pessoa que fala “eu sou o rei! ”, “essa peça é minha! ”… Isso não é do nervoso, isso é dele.

Oga: Então, é isso que eu acho, eu acho que no nervoso você fala muito o que você é, sem filtro.

Ju mas gente, mas calma… olha o que é a exposição, você só sabe tudo isso por que vazaram uma coisa mega intima… tomar no cu, sabe!

Oga: eu tô adorando fazer o contraponto, mas eu tô entendendo o que você está falando, é muita mancada mesmo…

Ju Tá tudo errado, gente!

Oga: tem um monte de coisa que você não falaria se você…

Cris: eu não tinha pensado nisso, que pode ser alguém que estava ali, que já vinha aguentando o cara e que falou “todo mundo vai conhecer quem é esse babaca! ”

Mari: Tava só esperando um paço em falso dele…

Oga: teve chefe meu que eu queria ter vazado áudio… muito chefe que eu queria ter vazado áudio, mas eu acho que… é me botar no lugar dele e falar… cara, eu já liguei pros meus Brothers e falei coisas que se alguém vazasse sem entender o contexto iria ficar bem complicado…

Ju cara, assim… todo mundo tem uma história de agencia em que um email que você trocou dentro da agencia vasou pro cliente, e isso é por escrito. Imagina se cliente ouvisse coisa que você fala na hora que cancela o job, que você fez as “quinhentas e vinte dez” refações, né? Aquele Frankenstein que ele já montou, já ficou aquela coisa horrorosa e mesmo assim cancela… se ele escutasse as coisas que as pessoas falam… sabe… tem momentos pra isso… eu acho que é uma traição mesmo

Oga: também não quer dizer que você odeia o cliente, né?

Ju não! Zero!

Oga: na verdade é aquela, você tá virando a noite ali de novo, comendo a pizza de novo… e tu fala… esse filho da puta, pediu mais uma alteração!

Ju exato!

Oga: no outro dia você ganha o prêmio junto e acha o cara mó cliente legal…

Ju isso, exatamente

Mari: vocês acham que o fato de ter vazado tem a ver com esse momento que a gente tá?

Oga: eu acho que sim (risos)

Mari: esse momento insano que tudo você tem que se posicionar e de tudo virar motivo…

Ju eu queria falar sobre isso, sobre “arte em tempos de cólera”

Oga: ela achou de um jeito tão bonito pra falar… tipo, eu só queria vazar porque todo mundo tava vazando (risos)

Ju porque não é só isso, não é só o vazamento, é o comportamento da plateia e a conversa mesmo que ela teve, porque, por mais assim que eu entenda Soraia foi muito mais equilibrada e tal, as coisas que ela fala também são assustadoras porque ela defende como sendo completamente normais coisas que na minha cabeça não são, entendeu? Então assim, do alto da loucura dele do stress que ele tava e da escrotidão do jeito dele se posicionar, tem coisas que ele fala que eu concordo, então ele fala assim “quer dizer então que as pessoas tem direito de porque elas não querem ver a peça, ninguém mais vai ver? ”, que tempo maluco é esse que a gente tá vivendo, entendeu? E ele fala, “pararam a peça lá na ditadura e tão parando a peça agora de novo”… é uma mania de grandeza que ele tá querendo se colocar no mesmo patamar que as pessoas… tá posto que não tem. Mas assim… vocês não acham que também houve um abuso aí? Vocês acham que foi tudo bem a reação das pessoas e a onde isso levou e a exposição que ele tá hoje… tá tudo bem? Ele é o único escroto dessa história?

01:11 – 01:20

Cris: Eu acho que tem uma resposta ao público muito de tá ferindo a obra do Chico. Eu acho que porque tipo assim “oh pára agora, pára agora que você não vai mais representar isso porque você tá ferindo o que isso que você tá representando”. Eu sinceramente não sei como seria numa outra situação tá?! Se fosse, sei la, a Alice no País das Maravilhas e o cara falasse alguma coisa assim no meio, eu não sei se teria a mesma repercução.

Mari: Ou se fosse uma obra do Chico há dois anos ou há um não há um ano sei lá quando não tinha…

Oga: É isso que eu acho, a Soraia, nossa amiga, ela fala isso, ela fala: – Meu, você tocou numa ferida que está aberta a semana inteira. Então eu acho que é assim, o problema foi esse porque se ele falasse mal do Corinthians com plateia do Palmeiras, eu acho que a galera ia receber no máximo um xingamento e ficaria normal. Agora sim, hoje em dia a gente tá sendo obrigado a se posicionar nas coisas mais bobas possíveis, assim sabe?! Se eu sair com uma camisa vermelha eu viro um petralha na rua. Tipo assim, a camisa nem era bem vermelha, era tinham uns detalhezinhos, era bordô, então as pessoas estão cobrando esse posicionamento de todo mundo.

Cris: Mas é meio que cutucar a onça com vara curta, né?! Tá todo mundo nervoso, tá uma coisa atrás da outra.

Mari: Então é por isso que perguntam né, se a platéia tinha o direito de parar a peça? Eu não sei, talvez sim, talvez tocou numa ferida tão grande pra eles que talvez tenham falado: – Não, eu acho que é plausível continuar você fazer isso porque não só você está ofendendo o Chico, mas você está ofendendo tudo que a gente acredita. E daí volta naquela expectativa totalmente frustrada que a platéia foi assistir uma coisa e tinha lá o oposto né?! Então eu não sei…

Ju Uma parte da platéia gente. Não se esqueçam disso! Uma parte da platéia. Tinha uma grande parte da platéia que queria continuar assistindo.

Cris: Ele fez a manifestação dele e parte da platéia fez a dela.

Oga: Eu acho assim, se ele toma essa posição de provocar, ele tem que aceitar a reação.

Ju Isso eu também acho.

Oga: Eu nem quero discutir proporcionalidade disso, mas assim, ele quis provocar, então ele recebeu uma reação.

Mari: Eu acho que é exatamente isso né, se fosse sem esse contexto de hoje, se fosse há seis meses e ele fizesse essa provocação, a platéia ia reagir, beleza e ia continuar. Só que nesse momento ele fez essa provocação, eu não sei.

Cris: Faltou empatia.

Mari: Porque agora é isso né?! Saiu com a camisa vermelha… Hoje mesmo a BBC fez uma matéria que uma criança saiu com uma camisa da Suiça, vermelha com uma cruz branca.

(Risos)

Mari: Entendeu? Então a gente tá nesse nível né… Daí é isso.

Cris: Eu queria passar rapidamente por um tema que não é o foco dessa discussão, mas a gente tem que falar porque foi principalmente o titulo com que o áudio foi vazado e ele foi muito chamado de racista, porquê ele fala e a gente ouviu o áudio várias e várias vezes e a percepção que eu tive é que ele fala: – Um “nego” não pode me peitar, eu to no palco… Recentemente, a gente teve um meme que era: – “Eu não sou suas nega”. E era aquele Um Nego Qualquer e a gente ouve isso muito: “O que neguinho tá falando?”; “Quem é neguinho pra falar?”; “Eu não sou suas nega”. A gente ouve muito essa expressão. Oga, eu queria que você falasse um pouquinho sobre a expressão em si.

Oga: Assim, eu acho que nesse caso em si ele tem o benefício da dúvida. A gente não sabe se levantou primero um homem negro da platéia e gritou: – Para isso agora. Aí seria uma agressão direta e aí eu acho que seria um crime de racismo, passível a enfim, entrar na lei ou ser processado. Nesse caso ele sou esse termo que a gente sabe que tem um cunho preconceituoso né, mas aí voltamos àquela discussão de outros mamilos atrás de racismo estrutural. Então pra mim é muito complicado dizer. Eu acho que esse tipo de expressão é legal a gente ir diminuindo. Tipo denegrir. Até Ju tinha citado sobre judieira ou judiação. É uma expressão que ela tem um fundo antisemita, mas eu não acho que um judeu vá ficar extremamente ofendido. Eu não fico extremamente ofendido quando a pessoa usa esse “nego” como um nego qualquer, como uma pessoa sem valor, como um cara que não é respeitado na sociedade, mas assim…

Ju Mas não é né… A gente usa “‘nego’ não vai vir aqui”, é “‘a pessoa’ não vai”, não é pessoa qualquer no sentido de sem valor.

Oga: Mas quando você fala “neguinho” é pra uma coisa negativa né: “Neguinho” veio e pegou, você nunca fala; “neguinho” veio e ganhou uma fortuna, sabe?! É sempre pra coisas negativas

Cris: É o folgado…

Ju “Neguinho” tem a manha.

Oga: É, nunca é com algo positivo. Você nunca fala: “Neguinho ganhou a olimpiada. Eu entendo que é um caso. Tem amigos meus que tiveram essa leitura, sim, de uma coisa preconceituosa porque eles enxergam com um peso muito maior esse tipo de palavras que trazem esse conteúdo preconceituoso, tipo pra denegrir enfim, tem uma lista imensa. Também não posso individualizar. Isso é uma opinião minha, não é do movimento, não é de todos os pretos do planeta. Eu entendo que pra mim não é o que me ofende mais e deixo ele ter esse benefício. Eu vi escrito em umas matérias ele falando: – “Nego” filho da puta. Então devia ter algumas coisas meio maiores, mas enfim, voltando ao eixo. Eu acho que nesse caso ele está praticando racismo estrutural. Ele, eu acho, não tinha o foco num cara só.

Ju Se é que a questão nem era essa. Ele não tava mirando numa pessoa negra.

Oga: Não, ele estava puto com o branco que levantou, com o ruivo que levantou, não com o negro porque é negro. É o que me parece ser.

Ju Eu até te falei, se, por exemplo, a pessoa que tivesse levantado fosse um negro, continuaria sendo uma questão política, continuaria sendo… E além de tudo teria um outro layer que seria a questão do racismo porque ele teria se sentido ainda mais ultrajado por ser um negro parando o espetáculo dele. Então, mas, eu acho que seria um outro layer. Nem um layer principal, continua sendo.

Oga: Discutir se isso é principal ou não é, eu acho que depende muito do ponto de vista. Eu, enquanto artista e negro, eu ia me ofender mais talvez pelo “nego”, mas é minha visão, entendeu? Talvez a nossa discussão aqui seria outra. Eu não passaria a mão na cabeça dele, agora só deixo claro nesse ponto que ele tem o benefício da dúvida. Ele logo se posicionou. Ele falou no O Globo: – Tipo, meu, não é racista o que eu falei ne…

Ju Pessoa né.

Cris: Dentro do contexto que ele falou e eu vi várias vezes epra mim ficou muito claro ele querer substituir por: – Uma pessoa qualquer não pode levantar e falar assim comigo.

Ju Até porque ele está se dizendo rei. O contraponto é uma pessoa e público né, uma pessoa comum e eu. Um ator que no palco sou rei.

Cris: Quem é você platéia?

Mari: Plebe.

Oga: E nem quis polemizar mais porque a imagem da maioria das pessoas sobre um petista é um cara negro porque a maioria dos petistas são pobres enfim, eu vou dar o benefício da dúvida pro rapaz.

Cris: Isso não tira toda a coisa que aconteceu, mas quando ela é divulgada com esse layer como sendo o principal, o negócio fica muito mais aquecido ainda.

Oga: Justamente.

Cris: Fora que eu vi a chamada e falei: – Eu não acredito.

Oga: Eu também. Eu vi primeiro por causa disso, talvez eu nem tivesse me importado tanto, porque tinham noticias muito mais quentes no House Of Cards, mas quando eu vi ali, eu falei: – Gente…

Ju Eu odeio isso. Pra fazer a pauta eu tive que pesquisar, porque eu não sabia do que se tratava e assim, tinham dez links podres e um link decente. E assim, eu nem clico. Não dou nem o clique, sabe?! Você busca e você vê só pela manchete, você já vê que é nojeira, que é gente que não tem o menor comprometimento com a informação que está passando, com as reputações que está destruindo. Porque assim, quanto mais grave é a acusação, mais sério você tem que ser ao fazer essa acusação pra uma pessoa, entendeu? Então assim, quando você vai falar que a pessoa é pedófila ou quando você vai falar que a pessoa é racista, saiba do que você está falando. A gente já discutiu aqui que todos nós temos atitudes racistas, a gente reproduz coisas sem pensar, sem ver. Então por exemplo, isso de usar essa palavra tem peso, uma conotação racista forte, então vamos parar, não vamos fazer, mas enfim… Daí é você colocar como uma manchete, manchar o nome do cara que o cara é racista. Quando você coloca numa manchete: “Claudio Botelho racista de merda”. O que você está falando? Que esse cara acha que negros são inferiores, acha que eles valem menos, acha que eles têm menos potencial, que eles devem receber menos oportunidades, esse cara trata as pessoas diferente pela cor da pele. É tudo isso que você tá colocando, associando a esse cara quando você faz uma manchete dessa. Eu acho que a gente tem que ser mais responsável, sinceramente.

Cris: Eu acho importante a gente passar por isso, justamente porque é uma expressão que muita gente usa e é legal questionar, é legal saber o que está por trás disso. Se você vai substituir “nego” por “pessoa qualquer” ou “pessoa com menos importancia, use essas expressões. Já é bom o suficiente.

Oga: Eu quero saber o que a Bela Gil vai falar. Ela vai substituir pelo que? Porque ela é a rainha da substituição.
(risos)

Cris: Eu acho que nesse caso a gente está sendo muito simplista. Ele não foi racista, ele foi só um babaca mesmo.
(risos)

01:20:15

Ju Olha,só pra dar um contraponto,ele é um cara que só porque aqui na mesa foi muito mal representado,e o lado de quem acha que ele falou uma coisa que é,inclusive,obvia: “atualmente causa estranheza o artista que ousa criticar quem está no poder. Mais de uma década de PT no poder e a classe artistica,quando não elegeu o governo,se cala diante dos fatos nefastos que o carcam. Mas essa submissão sempre foi a essencia do artista: trovadores medievais,os bobos da corte,em qualquer lugar sempre a origem do artista foi contestar o poder,então nada demais dele estar fazendo isso. E,por fim, só para encerrar a gente viu vários quotes de pessoas … muitos artistas de pronunciaram sobre ela celeuma né,porque é do mesmo meio e conhecem e tal. Eu achei muito bom o que o Camilo Pelegrine falou: “Senta lá,Cláudio!”

Oga: E para finalizar isso,teve uma polemica parecida quando,ano passado,ele também fez uma peça utilizando black face,tem acho que no site do Itau,e deu uma discução bem grnade sobre isso.

Ju Sim,a Eliana Drum fez um texto sobre isso …

Oga : Sim,fez um texto incrivel …”quatro” páginas (risos)

Ju Sempre né,pra ela é normal

Oga: Mas a palestra era de 3 horas então deu uma resumida e acho que foi bem legal,porque ficou muito claro sabe,assim: cara,estuda o seu objeto,sabe? Se você tá fazendo uma peça sobre Chico,estude o Chico, entenda-o. Não faça uma gafe. O pessoal do grupo,eles tavam fazendo black face porque era uma coisa que tem no teatro circense,é a pesquisa deles, mas gente … vocês estão ferindo uma sociedade sabe,tipo …Não deixa acontecer … Você vai no grupo e não tem um negro no grupo e você fala assim “Gente,vocês também estão jogando a bola do playcenter quicando (risos) Me ajuda meu,deixa eu te ajudar mas não tá rolando.

Cris: Sabe,eu não acho que exista erro algum em criticar governo …

Oga: Não,mas faz isso de um jeito inteligente.

Cris: O problema pra mim é que os nervos estavam muito a flor da pele. E ele foi lá com ferrinho de dentista e tocou no nervo. Já foi uma semana tensa demais e foi uma situação muito especifica ele tava muito muito pontual.

Oga: Foi,ele deu azar.

Mari: Mas também tem uma visão meio Pollyanna assim … Não é bom,que finalmente que todo mundo está debatendo …

Ju hmmm,desse jeito eu acho que não … mas tudo bem! O NBW me fez acreditar que isso é um passo pra gente chegar num lugar melhor.

Mari: Não,mas eu acho sim,porque né,a gente tava falando ha um tempo atras e tal,ninguém falava sobre as noticias,ninguém se pronunciava …

Cris: Ninguém falava de politica em hora nenhuma.

Oga: É o nosso jeito brasileiro de lidar com as coisas,assim … A gente não fala … A gent fala “puts, o cara falou umas merdas no jantar ali” ou você vai jantar com o casal,entra no carro e fala “meu Deus,cê viu aquela merda que o cara falou … Não,naquela hora eu tava quase pulando no pescoço dele”.E a gente é amigo. Brasileiro é meio assim (risos)

Mari: E o Duvivier que fez agora uma palestra tava falando justamente das ruas que ficaram vazias,por isso ficaram tomadas dessa maneira né,então sei lá,se essa foi a maneira da classe artistica se posicionar,de repente foi pro bem né …

(risos)

Ju Eu não sei … a escalonada da intolerancia me assusta bastante… que você não consiga debater de outra maneira que seja a pau e corda tudo e sempre eu acho que tá bem ruim.

Cris: Eu acho que a gente tá aprendendo ..

Oga: A pau e corda foi meio regional,né? (risos) Não é nem a pau e ferro. Isso é coisa do Sul (risos)

Mari: Eu acho amendontrador,muito assustador.

Ju Eu acho que tá tóxico. Não tem muito espaço de manobra pra conversar,tá tudo muito absoluto. Então assim,pra ele,ele usou palavras de baixo calão porque assim,ele não enxerga um erro porque ele vê assim “eu posso falar assim porque ela é e é muito pior”. E a menina,da mesma maneira,fala assim “não,você não pode!” Porque para ela também é um absurdo tamanho. Então assim,não existe …

Cris: Mas também tem gente que não acredita,então assim eu acho que é uma curva de aprendizado todo nosso. Primeiro a gente não faz nada e depois a gente faz demais,e depois a gente chega no meio termo. Oremos!

Mari : É, a gente ainda está num momento em que as crianças estão xingando nas ruas. Assustador! Vamos ver os próximos passos …

Ju Oremos é otimo (risos)

Cris: Oremos muito!

Ju É,oremos!

(risos)

Cris: Vamos então para o farol aceso?

Mari: Vamo embora!

(Musica)

Cris: Vamos então para o faról aceso! Deixa eu falar uma coisa antes de começar o faról aceso: Gente, Karol Conka . Eu falo todo os nomes errados,eu tenho um problema com isso. Eu tô até rindo,que não é “Ôga” é “Óga”, mas eu só consigo falar Ôga!

Oga: Nãao! Esse você conseguiu falar certo!

Ju É Ôga! (risos)]

Cris: É Ôga e eu lá no Óga. E é Karol “Conká” e eu ouvi a mulher a semana inteira. Ai eu chego aqui e falo “Cónka” Muito obrigada!

Oga: E eu achei engraçado que é “com a letra K”

Cris: É!!! Karol Han han han (risos) Karol Conka!! Então agora sim : Farol Aceso! Vamos começar com a Ju?Diz ai!

Ju Eu queria indicar o Código Aberto,o segundo programa. Eu fiz uma entrevista com o Ricardo Laganaro,da O2,e assim,cara! Que conversa deliciosa,né Oga? Que Delicia de conversa! (Oga :Eu amei!) Ju continua: É muito legal quando você conversa com uma pessoa que não tá ali para se promover e dizer “Nosss! Eu sou o cara! Olha tudo o que eu já fiz!” Não! A gente conversou de verdade sobre realidade virtual,sobre o que já se tem,sobre porque agora vai,quais são as possibilidades que tem com isso,quais são os desafios,o que é dificil e tal. Assim,uma pessoa deliciosa,super didático de conversar,não há nem o que editar do que ele fala porque ele fala muito bem. Foi uma delicia,eu recomendo pra todo mundo. Além disso,como a gente recebeu muito muito muito agradecimento pelo programa da semana passada,justamente por não ter falado de politica porque as pessoas estão um pouco saturadas, o que eu pensei é que a gente tá precisando,todo os ouvintes estão precisando,de uma ajuda para lidar com esse combo da angustia que é,a situação de crise no Brasil e crise politca e tal,somando com o Trump nos Estados Unidos e o que isso quer dizer sobre os corações e as mentes dos americanos, somando com essa semana de terrorismo ai. Então tudo isso,quando você fica lendo as noticias,é um coração apertado,horrivel né. Então o que eu recomendo,que é que a gente fez …

Cris: Bebe (risos)

Oga: Isso que eu ia falar! Drogas!

(risos,muitos)

Cris: Depois de tudo isso que ela falou,cê só pensa nisso!

Oga: Só pensei em daime! (risos)

Ju Eu respondi isso para vários ouvintes que conversaram com a gente e eu acho que vale a pena falar no ar. O que eu prescrevo para esse combo do terror é perspectivo. Então quando você tá numa situação e você tá mergulhado nela,e você não consegue sair dela,não consegue ver alternativas,não consegue ter forças para combater,não consegue olhar adiante e enxergar como vai ser a vida depois que isso passar,então perspectiva te ajuda nesses momentos de crise. Perspectiva você consegue,por exemplo,perspectiva histórica,então para falar sobre Brasil e toda essa discução que a gente tá. Eu já falei aqui sobre o Saga Brasileira,que foi um livro que me mostrou assim,que cara,a gente já passou por crises maiores e piores e as pessoas casam,têm filhos e vivem. Dá para viver. Vocês podem fazer uma perspectiva histórica sensacional e com uma ficção deliciosa que é a série O Imperador do (?) para te falar de como a democracia é isso ai mesmo, que o que a gente tá passando agora aqui,nos Estados Unidos,na Europa são justamente os desafios,os entraves da democracia. Então é muito legal ver que isso sempre foi assim e que estão a muito tempo tentando resolver isso e essa perspectiva pode te ajudar. Segundo passo,outras abordagens. Então,procurar,além da questão histórica,procurar como as pessoas fazem e como elas vivem e lidam com esses problemas em outros lugares,porque as vezes,elas tem respostas e olhares que você as vezes não está tendo. Então,um jeito de fazer isso é escutando O Nome Disso É Mundo de Cabo Verde,para você ver pessoas que vivem com muito menos e com uma realidade completamente da nossa,como vivem e como se alimentam. E eu falei aqui,do livro que eu li,semana passada eu falei do 11º Mandamento,que é um livro que se passa todo na Africa em condições infinitamente piores que as que estamos passando ou passaremos nos proximos anos . Então,só pra ter uma perspectiva de outras vivencias,de como se vive,bem,de outra maneira. E por ultimo,outros assuntos. Que é,você parar. Não é escapismo,mas é você parar de falar só sobre um assunto e escutar sobre esse um assunto e olhar para outras coisas que são muito importantes pra você. Então,ok. O momento é crítico,tem toda essa questão politica super critica,mas, quando você dá um passo para trás e olha para as outras coisas que são importantes pra você,musica,familia,enfim …o que você quiser. Dedique toda sua atenção,todo seu foco para outras coisas para limpar a cabeça,se refazer e então voltar fortalecido para se debruçar sobre essas questões e eu prometo que tudo vai parecer possivel e a gente vai sair dessa.

De 1:29:44 a 1:38…

Cris: Bom, eu vou falar o meu aqui. Tá recheado esse farol hoje! Vou falar rapidinho.
Eu li uma matéria muito interessante no Nexo essa semana , chamada “O que acontece quando você só vê opiniões parecidas com as suas”, que fala muito dessa ‘se você se informa por redes sociais, seja Twitter, Facebook… vc é vítima’ né?, vítima eu não sei mas, funciona por meio de algoritmos e, você vai ver aquilo que mais combina com aquilo que você também diz, o perigo desse filtro, né?, que a gente falou aqui da ‘bolha do Claudio’, né?, eu acho que cada um tem a sua bolha aqui!, então por a cabeça pra fora é importante, ter os diferentes é importante. E o artigo questiona muito essa polarização que a gente tá hoje ser muito fruto de só ler aquilo e só conversar com quem realmente concorda com você. Tá super mamileiro o artigo, tá bom, lê aí!
Outra coisa que eu queria falar é sobre um projeto, alavancado pela iniciativa *uten?*, que a Olga tem uma iniciativa do “Entreviste uma mulher”, que é muito legal pra trazer mulheres pra falar e agora a nova iniciativa é “Entreviste um negro”, que é pra colocar em pauta aí pessoas negras falando sobre diversos assuntos, eu vou colocar aqui o link pra vocês conhecerem um pouco mais sobre o projeto, que é alavancado pela Elaine Martins, que é jornalista. Então ela tá utilizando o mesmo sistema, que é uma mini-bio, o nome da pessoa, cidade, então…, sobre o que que ela tá apta a conversar. A lista tá crescendo!, eu peço por favor a todos os nossos ouvintes, tem muitas pessoas interessantes que nos ouvem, que podem trazer mais negros pro espaço de discussão, então eu peço encarecidamente: vejam o link, entendam o projeto e participem. Eu quero muito, muito, muito ver o nome de um monte de gente lá, pra falar sobre uma diversidade enorme de assuntos. Vamos colocar esse pessoal aí na pauta.
E por último, eu nem sei, eu acho que eu até já indiquei isso aqui, mas eu acho o momento tão propício, principalmente dessa pauta de artes, né?… Há um tempo atrás eu assisti o documentario “Dzi Croquetes”, eu não o conhecia, eu morri de vergonha, sabe quando acaba o documentário que você acaba de assistir e que você fala: “Gente! Eu não conhecia isso” e o “Dzi” ele aconteceu na época da ditadura, era um grupo performático. Eu não consigo nem definir. É uma coisa extrasensorial, onde eles transgrediam todas e quaisquer normas e, aquilo era tão surreal, aquilo era tão diferente, era tão mágico, que nem as pessoas que eram pagas pra deter os artistas e ficar de olho nas obras entendiam aquilo, os caras não conseguiam entender pra deter… e aí ver aqueles homens travestidos de mulheres, com barbas e dançando magicamente… E a narração do documentário é de uma das filhas de um dos caras que participou do grupo. Então é tão próximo, é tão delicado, é tão carinhoso, e aí ela vai construindo a narrativa mostrando como aquele grupo existiu… E eu fiquei particularmente apaixonada por *Lemim?*, é aquela figura que eu sinto muito não ter conhecido antes, eu nunca vi uma expressão corporal tão incrível como a dele e assim, eu recomendo “Dzi Croquetes” porque eu acho que faz a gente entender um pouco mais a arte, entender o que que é uma arte inteligente, questionadora e mais atual do que nunca. Então, “Dzi Croquetes” na cabeça!
E eu vou passar agora pra Mari! E aí, Mari, o que que você manda?

Mari: Eu tô num momento muito apaixonada por newsletters legais, tô meio viciada. Então eu queria indicar a newsletter que chama “Lenny”, que é feita pela Lena Dunham, que é aquela atriz do Girls. Ela tem uma newsletter que eu acho que eu nem sou a faixa etária da newsletter, eu desconfio que seja pra meninas mais novas, vamos dizer assim, mas eu acho incrível e os textos são sempre… tem colaborações incríveis. E a dessa semana particularmente…. quem puder buscar… Tem um texto da Jane Fonda, falando como o feminismo chegou tarde na vida dela, como ela se descobriu ‘feminista de verdade’ (vamos dizer assim) quando ela já tinha 60 anos, e como isso foi uma libertação pra ela. Eu achei um texto que dá reflexão pra uns três programas, eu acho.
Tem uma outra newsletter que chama “This”, que é (soletrando)-t-h-i-s-ponto-c-m, que vai ter o link… Que também é um projeto bacana, não é só uma newsletter. Eles selecionam 5 textos por dia de… e você se cadastra e você só pode indicar um texto incrível que você leu naquele dia, e daí eles fazem essa curadoria, vamos dizer… E eu acho muito importante, justamente porque ele traz textos de lugares que você não tá acostumado a ver. Então se você sempre acessa os mesmos meios… de repente chega na sua caixa postal textos de lugares que você nunca ia pensar de sozinho ir lá, ver e procurar esse site que você nem conhecia, talvez… E isso dá uma visão diferente… pra outros assuntos, seja (Donald) Trump ou seja qualquer outra polêmica do dia-a-dia, ou textos pra você se divertir simplesmente. Porque eu acho que a gente tá precisando!

Oga: Bem, eu tenho algumas dicas.Primeiro, o disco novo da Céu tá na rua, chama Tropix, e é incrivel! Ela tá mais eletronica, assim… Achei um puta disco ‘de agora’, assim… A segunda dica é o “Entre muros da escola” que é um filme, baseado num livro. Ele até tem uma coisa que eu achei legal, quando eles fizeram o professor dando aula pra varios alunos, crianças, na França, e aí ele tem alunos que tem origem africana, eu não lembro qual país exatamente…

Cris: E tem asiáticos…

Oga: É, tem asiáticos…

Cris: …tem o Oriente Médio, tem de tudo.

Oga: Justamente! E ele vai mostrando bem essa questão que tem na Europa, que tem esses cidadãos dos outros lugares do mundo, das colonias, na maioria das vezes, que não se identificam como europeu. E a perspectiva que dá dessa coisa da cultura, que ela meio… dessa civilização, sabe?… “Por que que o europeu só entende que o cara é um cidadão quando ele assimila a ‘cultura européia’…?” É muito interessante, porque esse debate é feito com crianças. E tem uma coisa, quando eles fizeram o filme, falou que não tinha diálogos, né?… Tinha vários diálogos em que realmente os alunos falavam com o professor, então você percebe esse frescor, assim… Você percebe que em alguns momentos, principalmente os dois alunos mais rebeldes… Você vê que realmente os moleques que tinham aquela provocação, eles queriam falar aquilo pro professor. Tem um momento… Ai! Não posso dar spoiler, gente… Mas tem uma cena com a mãe do menino, que é incrível, assim… enfim. “Entre muros da escola”… ouvi dizeeer que tem no youtube… (Oga diz em tom de brincadeira/fofoca…)

Todos entram na brincadeira, entre risos:

Cris: Na biblioteca…

Oga: …ouvi dizer…

Ju …você procura na biblioteca do…

Mari: …a prima da minha vizinha…

Oga: …procure saber! (risos) Mas acho que vocês acham fácil.O outro é o livro “A Ilha”, que é “A Ilha – Um repórter brasileiro no país de Fidel Castro” que é do Fernando Morais. Em 76 o Fernando Morais foi pra lá e viu ‘a ilha’ funcionando da forma que, enfim…. Parecia ser a forma mais plena do comunismo, socialismo, enfim… lá na ilha. E ele faz um relato… ele ficou 3 meses pra fazer uma reportagem, tanto que ele é um livro de jornalismo literário, né? Ele ficou lá e contou um pouco como era o funcionamento da ilha naquela época. Tem muita gente que acusa o livro de ser muito ‘panfletário’ e ‘apaixonado’… ‘defendendo esses esquerdistas malditos, esses petralhas!’… Mas eu acho que é legal ter essa perspectiva. Saiu uma edição mais nova que até tinha umas atualizações, enfim… Mas eu acho que é um…

Cris: Menos de presidente!

Risos

Oga: É… er… justamente. Mas assim, enfim… Tirando esse lado panfletário eu acho um livro gostoso de ler, mesmo… assim, é bem… bem divertido. Ah!, e a última é um documentário também, que chama “Sob a névoa da guerra” que ele é bem legal, ele é uma entrevista com o Robert McNamara, que ele foi o ex-Secretário de Defesa dos Estados Unidos, na época do Kennedy e do Johnson. Ele é bem legal, assim, pra quem gosta do House of Cards… é o House of Cards da vida real, porque assim até tem uma linguagem meio de youtube, né?, porque é uma câmera o tempo inteiro parada na cara do velhinho, ele falando pra câmera… E contando todos os absurdos que era o cara que era da defesa dos Estados Unidos… numa época que teve a ‘crise dos mísseis’, em Cuba. Então assim, ele vai contando uns momentos da história que assim faltou pouquinho pra alguem apertar o ‘botão vermelho’ e explodir a porra toda, sabe?, de voar mísseis por cima das cabeças. E assim, esse cara foi um dos caras que conseguiu barrar isso, porque ele não era um militar. Um militar quer ver a coisa explodir… guerra, enfim. É muito legal você ver pela perspectiva de alguém que teve dentro. Então é assim… é quase um vazamento, só que autorizado (risos). Então eu achei muito, muito, muito legal.

Cris: Temos um programa?

Ju Temos.

Cris: (risos) Temos um programão! Fica a gostosa sensação então, de fazer mais um Mamilos pra vocês. Obrigada, Oga, Mari… bem vinda de volta.

Mari: Obrigada vocês por terem me chamado…

Cris: A gente vai se falando… Um beijo!

Sobe a trilha musical.

(1:38:36)