O comediante Trevor Noah e a aclamada psicoterapeuta Esther Perel se reuniram no palco Vox Media Podcast durante o SXSW. Você vai poder ouvir tudo no episódio do Where Should We Begin que vai ao ar em todas as plataformas de áudio, então aqui vou destacar apenas o que mais me emocionou.
Eu sei, a gente já viu muito essa discussão, ainda mais na pandemia. Mas a gente se perde nos tombos da vida, a gente se debate com o quanto de imprevisível e de incontrolável tem essa jornada. Dá medo, dá raiva, bate aquele sentimento de impotência. Aí você tá trabalhando em um festival de tecnologia e jogam na sua cara que o que a gente REALMENTE tem é o poder de interpretar o mundo. E que quando a gente RI na cara do perigo, ele perde um pouco da sua força. A raiva não vai fazer isso por você. O medo também não. Adivinha… nem a tristeza.
Esse podcast merece o seu play só pra ouvir a metáfora que o Trevor faz entre sexo e humor. O cara BRILHA. Mas o que importa aqui é que a gente não tá se irritando mais com coisas pequenas. A gente tá é sendo jogado no meio de conversas sem ter estabelecido uma relação de confiança e afeto com quem tá falando. Não tem espaço pra interpretação generosa. Faz sentido…
Esse tapa na cara eu levei junto com o Trevor. Escutar é um ato que compreende todo o corpo. É como a gente olha pra pessoa. São as expressões que a gente faz. É como a gente move o corpo reagindo ao que foi falado. É óbvio? Então por que a gente acha que tá escutando quando ouve alguém enquanto responde (rapidinho) uma mensagem no celular? A grande ficha caindo foi entender que o jeito que a gente escuta influencia o que a pessoa é capaz de dizer. Com certeza você já se pegou falando coisas que nunca tinha pensado antes, que não estavam claras pra você antes de uma conversa. É porque a escuta de coração aberto produz alguma coisa. Porque a gente tá sempre respondendo a estímulos, sempre adaptando nossas emoções, falas e pensamentos à interação com o outro. E a Esther Perel deu até um nome pra essa frustração que a gente sente com essa comunicação meia bomba, meia atenção, que estamos nos acostumando a dar e receber: PERDA AMBÍGUA. Fica com isso. Senta com esse conceito. A pessoa tá ali, e ao mesmo tempo não tá. Não dá pra reclamar que ela não ouviu se ela consegue repetir tudo o que você disse. Mas ao mesmo tempo, tem alguma coisa fundamental da conexão que se perdeu. A audição tava ali, e ainda assim você não se sente ouvido.
Dá pra imaginar uma mulher experiente como a Esther Perel com PÂNICO de subir num palco? Pois o que torna essa conversa adorável é que ela estava genuinamente tentando aprender alguma coisa, tentando tirar desse comediante extraordinário algum insight poderoso que ajudasse a turnê, que ela tá começando, a não ser tão sofrida. E ele entrega. Qual é o terror de todo comediante? Contar uma piada que não cola, que não faz ninguém rir. Qual é a saída? Ir pro palco com a missão de entender as pessoas que estão ali, naquela noite. Cada pessoa é diferente, cada audiência se comporta de um jeito. Pode ser aterrorizante, pode ser emocionante, infinitamente instigante. Entrar no palco com expectativa restringe toda experiência a dois finais apenas: dá certo ou não. Entrar com curiosidade abre múltiplos caminhos. Porque cada reação leva para várias perguntas. Vocês acham isso engraçado? E se eu disser assim? E se eu mudar o tom? E se complementar com outro assunto? Essa perspectiva abre caminho pra uma reação inesperada da audiência não precisar ser uma ofensa pessoal e sim um novo desafio, o início de uma jornada.
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